SECRETARIA DE EDUCAÇÃO DO ESTADO DE GOIÁS
COORDENAÇÃO REGIONAL METROPOLITANA DE EDUCAÇÃO DE
GOIÂNIA
COLÉGIO ESTADUAL DEPUTADO JOSÉ DE ASSIS
ENSINO MÉDIO E PROFISSIONALIZANTE
EaD – EDUCAÇÃO À DISTÂNCIA 2020
TERCEIROS ANOS e EP3
FILOSOFIA – PROF. JOSÉ ANTÔNIO BRAZÃO.
AULA ZOOM DE 28 DE OUTUBRO DE 2020.
TEMA:
ESTÉTICA – A INDÚSTRIA CULTURAL e WALTER BENJAMIN – UM BREVE ESTUDO (Prof. José
Antônio Brazão.)
Walter
Benjamin (1892 a 1940), filósofo alemão, foi um dos expoentes da Escola de
Frankfurt, um grupo de filósofos e outros intelectuais que se reuniam, para
debates e estudos em torno de diferentes temáticas, no Instituto para Pesquisa
Social, da Universidade de Frankfurt, na Alemanha, na primeira metade do século
XX. Entre as temáticas estudadas por alguns membros desse grupo encontra-se a
ARTE, com destaques para Theodor Adorno e Max Horkheimer, bem como Walter
Benjamin.
Adorno
e Horkheimer, ao deparar-se com a arte dentro do
capitalismo, observaram que esta foi transformada em uma mercadoria posta à
venda. Chegaram a chamar a indústria de produção de objetos artísticos e de
lazer de INDÚSTRIA CULTURAL. Essa indústria, que tem vários ramos, produz e
reproduz cultura e a mercantiliza. Entre os exemplos daquele tempo (primeira
metade do século XX), por exemplo: o rádio, os radiofones (vitrolas), discos de
vinil, revistas, livros de literatura, músicas de diferentes tipos e para os
mais variados gostos, o cinema que ia se despertando, etc.
Hoje
a indústria cultural continua firme: as empresas cinematográficas ganham
bilhões de dólares, anualmente, com novos e aprimorados filmes; a indústria
musical, com a produção de CDs (Compact Discs, Discos Compactos), musicais para
a televisão, DVDs (Digital Video-Discs, hoje em decadência) e Blue Rays de
bandas musicais, megaeventos (festivais Rock In Rio, Lollapalooza, entre outros
pelo mundo afora), etc.; a televisão ainda mantém uma programação contínua,
produzindo novelas, reproduzindo filmes, elaborando filmes nacionais, programas
de comida, futebol, além de muitos outros tipos de entretenimentos
audiovisuais; empresas que são verdadeiras locadoras de filmes via TV (ex.:
NETFLIX, Amazon Prime e outras); a indústria de jogos (videogames), com a
obtenção de bilhões de dólares anualmente; a INTERNET, o Facebook, o Whatsapp,
o Instragram, e assim por diante. Tudo para o entretenimento, para a alta
obtenção de lucros e, com certeza, para o desvio de atenção dos públicos em
relação a problemas sociais e políticos dos mais diferentes tipos. É claro, há
pontos positivos, como se poderá ver adiante, ao falar de Walter Benjamin.
Outro
ponto: as empresas da indústria cultural, com o uso de computação de ponta,
aprenderam a levantar perfis de pessoas de países e do mundo inteiro na busca
de padrões de comportamento econômico e até mesmo político, perfis psicológico-econômicos
que contribuem para o desenvolvimento de novos recursos a serviço do capital nacional e internacional
e do domínio de classe. É a indústria cultural e seus propósitos.
Mais
um ponto: ao criar filmes, novelas e outros tipos de entretenimentos
audiovisuais, a indústria cultural, que está nas mãos de grandes empresas, apresenta
modelos (padrões) de homens e mulheres, crianças, jovens, gente de todas as
idades enfim. Padrões (modelos) sutilmente apresentados, carregados de valores:
éticos, políticos, econômicos (consumidores), aliados às propagandas comerciais
e ideológicas. Propagandas ideológicas são as que expõem, de modo sutil
(refinado, quase imperceptível) ideias e valores da classe dominante que são
transmitidos e generalizados a todas as demais classes, como algo natural,
justificadores até mesmo da divisão social. Por exemplo: quando um cantor diz
que o pobre tem a favela para viver e a música é transmitida a toda a
sociedade, a favela aparece como um lugar de refúgio para os pobres, chegando à
beira da naturalidade – isto é, mostra-se a favela como algo natural,
destituída do caráter histórico de suas origens, escondendo, ideologicamente
(por meio de ideias e valores), os fundamentos da desigualdade e da exploração
de classe.
Tanto
Theodor Adorno quanto Max Horkheimer e Walter Benjamin foram profundamente marcados pelos estudos e as análises de Karl
Marx e Friedrich Engels a respeito do capitalismo. Walter Benjamin não
nega a investigação e as descobertas feitas por Adorno e Horkheimer a respeito
da arte transformada em mercadoria pela indústria cultural. No entanto,
Benjamin vê que a arte, reproduzida por diversos meios materiais (livros,
discos de músicas, impressão, entre outros tantos recursos) possibilitou que
mais gente tivesse acesso a obras e peças de arte antes acessíveis tão somente
a quem tinha e tem dinheiro para pagar entradas e mesmo viagens. A
reprodutibilidade técnica (as técnicas possibilitando a reprodução) das obras
de arte permitiu uma maior divulgação, para um público maior de pessoas, da
arte. O texto seguinte, de Benjamin, mostra bem isto. Trecho de A obra de arte na era de sua
reprodutibilidade técnica. Vejamo-lo e o leiamos com muita atenção:
“Reprodutibilidade
técnica:
Em sua essência, a obra de arte sempre foi
reprodutível. O que os homens faziam sempre podia ser imitado por outros
homens. Essa imitação era praticada por discípulos, em seus exercícios, pelos
mestres, para a difusão das obras, e finalmente por terceiros, meramente
interessados no lucro. Em contraste, a reprodução técnica da obra de arte
representa um processo novo, que se vem desenvolvendo na história
intermitentemente, através de saltos separados por longos intervalos, mas com
intensidade crescente. Com a xilogravura [desenho
em madeira],
o desenho tornou-se pela primeira vez tecnicamente reprodutível, muito antes
que a imprensa prestasse o mesmo serviço para a palavra escrita. Conhecemos as
gigantescas transformações provocadas pela imprensa – a reprodução técnica da
escrita. Mas a imprensa representa apenas um caso especial, embora de
importância decisiva, de um processo histórico mais amplo. À xilogravura [desenho em madeira], na Idade Média, seguem-se a
estampa em chapa de cobre e a água-forte [de
acordo com a Wikipédia: “Água-forte é uma modalidade de gravura que é feita
usando uma matriz de metal, normalmente de ferro, zinco, cobre, alumínio ou
latão.”],
assim como a litografia [processo de
impressão industrializado], no início do século XIX.” [(O que está
entre chaves foi posto por mim, Prof. José Antônio, para esclarecimento, não
sendo do autor.) Citação completa abaixo.]
E
Walter continua, no mesmo texto:
“Com a litografia, a técnica de reprodução
atinge uma etapa essencialmente nova. Esse procedimento muito mais preciso, que
distingue a transcrição do desenho numa pedra de sua incisão sobre um bloco de
madeira ou uma prancha de cobre, permitiu às artes gráficas pela primeira vez
colocar no mercado suas produções não somente em massa, como já acontecia
antes, mas também sob a forma de criações sempre novas. Dessa forma, as artes
gráficas adquiriram os meios de ilustrar a vida cotidiana. Graças à litografia,
elas começaram a situar-se no mesmo nível que a imprensa. Mas a litografia
ainda estava em seus primórdios, quando foi ultrapassada pela fotografia. Pela
primeira vez no processo de reprodução de imagem, a mão foi liberada das
responsabilidades artísticas mais importantes, que agora cabiam unicamente ao
olho. Como o olho apreende mais depressa do que a mão desenha, o processo de
reprodução das imagens experimentou tal aceleração que começou a situar-se no
nível que a palavra oral. Se o jornal ilustrado estava contido virtualmente na
litografia, o cinema falado estava contido virtualmente na fotografia. A
reprodução técnica do só iniciou-se no fim do século passado. Com ela, a
reprodução técnica atingiu tal padrão de qualidade que ela não somente podia
transformar em seus objetos a totalidade das obras de arte tradicionais,
submetendo-as a transformações profundas, como conquistar para si um lugar
próprio entre os procedimentos artísticos. Para estudar esse padrão, nada é
mais instrutivo que examinar como suas duas funções – a reprodução da obra de
arte e a arte cinematográfica – repercutem uma sobre a outra.” (BENJAMIN, Walter. A
obra de arte na era de sua reprodutibilidade técnica. Pp. 166-167.
Disponível em: < http://www.mom.arq.ufmg.br/mom/02_babel/textos/benjamin-obra-de-arte-1.pdf
> Acesso em 27 de outubro de 2020.)
Mais
gente passou a ter acesso às obras de arte. Porém, isto custou algo: o FIM DA
AURA. Aura (ou auréola) é o feixe de luz que ilumina os seres sagrados – como a
auréola na cabeça de santos(as) –, ou seja, que lhes confere um caráter sagrado.
Por muito tempo, as obras de arte tiveram um caráter sagrado: na antiguidade,
na Idade Média, em parte da Moderna, isto é, eram usadas como meios de
expressão e de contato com o divino, com os deuses e as deusas, com o Deus
único, etc. Até mesmo as obras de arte, em si, em museus e outros espaços, eram
objetos de certa veneração, de uma admiração mais elevada. No entanto, com o
poder crescente de reprodução das obras de arte, como Benjamin mostra nos
textos citados, essas mesmas obras foram tomando um ar mais comum, vindo a
perder o caráter mágico, tomando um caráter mais técnico e acessível.
Hoje,
por exemplo:
A
Mona
Lisa, pintura de Leonardo da Vinci, encontra-se reproduzida em livros
escolares, em livros de arte e até em cópias de tamanhos diversos.
O
Moisés,
de Michelangelo Buonarroti, outro pintor renascentista, pode ser visto através
de fotografias em livros escolares e outros materiais.
As
músicas clássicas de Chopin, Mozart,
Beethoven, Vivaldi, etc., podem ser ouvidas através da internet e gravadas por
diferentes meios de reprodução.
Músicas de diferentes cantores e dos
tipos mais diversos, do mundo inteiro, podem ser ouvidas com
o auxílio da internet e outros recursos de reprodução.
Filmes
são produzidos continuamente, no mundo inteiro, por meio de recursos
fotográficos, cinematográficos, computacionais e outros. Muitos, inclusive,
contendo denúncias de realidades adversas (contrárias) à humanização.
Documentários
dos mais diversificados tipos podem ser visto por meio da TV e das redes de
transmissão, pela TV comum e a TV paga.
Imagens fotográficas e audiovisuais
do
Pantanal pegando fogo são vistas
pelo mundo inteiro, através da TV e de outras tantas mídias (meios de
comunicação social).
Obras literárias do Brasil e do mundo
todo
podem ser lidas e apreciadas, muitas das quais, inclusive, transformadas em
filmes e séries. Etc., etc., etc.
É
claro, não se pode perder a visão crítica, questionadora e problematizadora,
diante das obras artísticas na era da reprodutibilidade técnica (Walter
Benjamin) e da Indústria Cultural (Adorno e Horkheimer). O nazismo, que
perseguiu duramente membros da Escola de Frankfurt, fechando-a, fez uso das
artes para passar adiante suas ideias e as naturalizar, acabando por levar o
mundo a uma guerra terrível (II G.Mundial). Hoje, o uso político e ideológico
que continua. Tendo o exposto em vista, é possível e de grande valor apreciar a
arte e a criatividade humana nela contida, sem dúvida.
REFERENCIAL:
BENJAMIN, Walter. A obra de arte na era de sua
reprodutibilidade técnica. Pp. 166-167. Disponível em: < http://www.mom.arq.ufmg.br/mom/02_babel/textos/benjamin-obra-de-arte-1.pdf
> Acesso em 27 de outubro de 2020.
CHAUÍ, Marilena. O universo das
artes. In: _________________. Iniciação à
Filosofia. 3.ed. São Paulo, Ática, 2017. (Cap. 26.)
WIKIPÉDIA. Verbetes: Água-forte, xilogravura, litografia e Escola de Frankfut.
Disponíveis através de: < https://pt.wikipedia.org/wiki/Wikip%C3%A9dia:P%C3%A1gina_principal > Acesso em 27
de outubro de 2020.