terça-feira, 27 de outubro de 2020

AULA ZOOM DE 28 DE OUTUBRO DE 2020. ESTÉTICA – A INDÚSTRIA CULTURAL e WALTER BENJAMIN – UM BREVE ESTUDO (Prof. José Antônio Brazão.)

 

SECRETARIA DE EDUCAÇÃO DO ESTADO DE GOIÁS

COORDENAÇÃO REGIONAL METROPOLITANA DE EDUCAÇÃO DE GOIÂNIA

COLÉGIO ESTADUAL DEPUTADO JOSÉ DE ASSIS

ENSINO MÉDIO E PROFISSIONALIZANTE

EaD – EDUCAÇÃO À DISTÂNCIA 2020

TERCEIROS ANOS e EP3

FILOSOFIA – PROF. JOSÉ ANTÔNIO BRAZÃO.

AULA ZOOM DE 28 DE OUTUBRO DE 2020.

TEMA: ESTÉTICA – A INDÚSTRIA CULTURAL e WALTER BENJAMIN – UM BREVE ESTUDO (Prof. José Antônio Brazão.)

Walter Benjamin (1892 a 1940), filósofo alemão, foi um dos expoentes da Escola de Frankfurt, um grupo de filósofos e outros intelectuais que se reuniam, para debates e estudos em torno de diferentes temáticas, no Instituto para Pesquisa Social, da Universidade de Frankfurt, na Alemanha, na primeira metade do século XX. Entre as temáticas estudadas por alguns membros desse grupo encontra-se a ARTE, com destaques para Theodor Adorno e Max Horkheimer, bem como Walter Benjamin.

Adorno e Horkheimer, ao deparar-se com a arte dentro do capitalismo, observaram que esta foi transformada em uma mercadoria posta à venda. Chegaram a chamar a indústria de produção de objetos artísticos e de lazer de INDÚSTRIA CULTURAL. Essa indústria, que tem vários ramos, produz e reproduz cultura e a mercantiliza. Entre os exemplos daquele tempo (primeira metade do século XX), por exemplo: o rádio, os radiofones (vitrolas), discos de vinil, revistas, livros de literatura, músicas de diferentes tipos e para os mais variados gostos, o cinema que ia se despertando, etc.

Hoje a indústria cultural continua firme: as empresas cinematográficas ganham bilhões de dólares, anualmente, com novos e aprimorados filmes; a indústria musical, com a produção de CDs (Compact Discs, Discos Compactos), musicais para a televisão, DVDs (Digital Video-Discs, hoje em decadência) e Blue Rays de bandas musicais, megaeventos (festivais Rock In Rio, Lollapalooza, entre outros pelo mundo afora), etc.; a televisão ainda mantém uma programação contínua, produzindo novelas, reproduzindo filmes, elaborando filmes nacionais, programas de comida, futebol, além de muitos outros tipos de entretenimentos audiovisuais; empresas que são verdadeiras locadoras de filmes via TV (ex.: NETFLIX, Amazon Prime e outras); a indústria de jogos (videogames), com a obtenção de bilhões de dólares anualmente; a INTERNET, o Facebook, o Whatsapp, o Instragram, e assim por diante. Tudo para o entretenimento, para a alta obtenção de lucros e, com certeza, para o desvio de atenção dos públicos em relação a problemas sociais e políticos dos mais diferentes tipos. É claro, há pontos positivos, como se poderá ver adiante, ao falar de Walter Benjamin.

Outro ponto: as empresas da indústria cultural, com o uso de computação de ponta, aprenderam a levantar perfis de pessoas de países e do mundo inteiro na busca de padrões de comportamento econômico e até mesmo político, perfis psicológico-econômicos que contribuem para o desenvolvimento de novos recursos  a serviço do capital nacional e internacional e do domínio de classe. É a indústria cultural e seus propósitos.

Mais um ponto: ao criar filmes, novelas e outros tipos de entretenimentos audiovisuais, a indústria cultural, que está nas mãos de grandes empresas, apresenta modelos (padrões) de homens e mulheres, crianças, jovens, gente de todas as idades enfim. Padrões (modelos) sutilmente apresentados, carregados de valores: éticos, políticos, econômicos (consumidores), aliados às propagandas comerciais e ideológicas. Propagandas ideológicas são as que expõem, de modo sutil (refinado, quase imperceptível) ideias e valores da classe dominante que são transmitidos e generalizados a todas as demais classes, como algo natural, justificadores até mesmo da divisão social. Por exemplo: quando um cantor diz que o pobre tem a favela para viver e a música é transmitida a toda a sociedade, a favela aparece como um lugar de refúgio para os pobres, chegando à beira da naturalidade – isto é, mostra-se a favela como algo natural, destituída do caráter histórico de suas origens, escondendo, ideologicamente (por meio de ideias e valores), os fundamentos da desigualdade e da exploração de classe.

Tanto Theodor Adorno quanto Max Horkheimer e Walter Benjamin foram profundamente  marcados pelos estudos e as análises de Karl Marx e Friedrich Engels a respeito do capitalismo. Walter Benjamin não nega a investigação e as descobertas feitas por Adorno e Horkheimer a respeito da arte transformada em mercadoria pela indústria cultural. No entanto, Benjamin vê que a arte, reproduzida por diversos meios materiais (livros, discos de músicas, impressão, entre outros tantos recursos) possibilitou que mais gente tivesse acesso a obras e peças de arte antes acessíveis tão somente a quem tinha e tem dinheiro para pagar entradas e mesmo viagens. A reprodutibilidade técnica (as técnicas possibilitando a reprodução) das obras de arte permitiu uma maior divulgação, para um público maior de pessoas, da arte. O texto seguinte, de Benjamin, mostra bem isto. Trecho de A obra de arte na era de sua reprodutibilidade técnica. Vejamo-lo e o leiamos com muita atenção:

Reprodutibilidade técnica:

Em sua essência, a obra de arte sempre foi reprodutível. O que os homens faziam sempre podia ser imitado por outros homens. Essa imitação era praticada por discípulos, em seus exercícios, pelos mestres, para a difusão das obras, e finalmente por terceiros, meramente interessados no lucro. Em contraste, a reprodução técnica da obra de arte representa um processo novo, que se vem desenvolvendo na história intermitentemente, através de saltos separados por longos intervalos, mas com intensidade crescente. Com a xilogravura [desenho em madeira], o desenho tornou-se pela primeira vez tecnicamente reprodutível, muito antes que a imprensa prestasse o mesmo serviço para a palavra escrita. Conhecemos as gigantescas transformações provocadas pela imprensa – a reprodução técnica da escrita. Mas a imprensa representa apenas um caso especial, embora de importância decisiva, de um processo histórico mais amplo. À xilogravura [desenho em madeira], na Idade Média, seguem-se a estampa em chapa de cobre e a água-forte [de acordo com a Wikipédia: “Água-forte é uma modalidade de gravura que é feita usando uma matriz de metal, normalmente de ferro, zinco, cobre, alumínio ou latão.”], assim como a litografia [processo de impressão industrializado], no início do século XIX. [(O que está entre chaves foi posto por mim, Prof. José Antônio, para esclarecimento, não sendo do autor.) Citação completa abaixo.]

E Walter continua, no mesmo texto:

Com a litografia, a técnica de reprodução atinge uma etapa essencialmente nova. Esse procedimento muito mais preciso, que distingue a transcrição do desenho numa pedra de sua incisão sobre um bloco de madeira ou uma prancha de cobre, permitiu às artes gráficas pela primeira vez colocar no mercado suas produções não somente em massa, como já acontecia antes, mas também sob a forma de criações sempre novas. Dessa forma, as artes gráficas adquiriram os meios de ilustrar a vida cotidiana. Graças à litografia, elas começaram a situar-se no mesmo nível que a imprensa. Mas a litografia ainda estava em seus primórdios, quando foi ultrapassada pela fotografia. Pela primeira vez no processo de reprodução de imagem, a mão foi liberada das responsabilidades artísticas mais importantes, que agora cabiam unicamente ao olho. Como o olho apreende mais depressa do que a mão desenha, o processo de reprodução das imagens experimentou tal aceleração que começou a situar-se no nível que a palavra oral. Se o jornal ilustrado estava contido virtualmente na litografia, o cinema falado estava contido virtualmente na fotografia. A reprodução técnica do só iniciou-se no fim do século passado. Com ela, a reprodução técnica atingiu tal padrão de qualidade que ela não somente podia transformar em seus objetos a totalidade das obras de arte tradicionais, submetendo-as a transformações profundas, como conquistar para si um lugar próprio entre os procedimentos artísticos. Para estudar esse padrão, nada é mais instrutivo que examinar como suas duas funções – a reprodução da obra de arte e a arte cinematográfica – repercutem uma sobre a outra. (BENJAMIN, Walter. A obra de arte na era de sua reprodutibilidade técnica. Pp. 166-167. Disponível em: <  http://www.mom.arq.ufmg.br/mom/02_babel/textos/benjamin-obra-de-arte-1.pdf > Acesso em 27 de outubro de 2020.)

Mais gente passou a ter acesso às obras de arte. Porém, isto custou algo: o FIM DA AURA. Aura (ou auréola) é o feixe de luz que ilumina os seres sagrados – como a auréola na cabeça de santos(as) –, ou seja, que lhes confere um caráter sagrado. Por muito tempo, as obras de arte tiveram um caráter sagrado: na antiguidade, na Idade Média, em parte da Moderna, isto é, eram usadas como meios de expressão e de contato com o divino, com os deuses e as deusas, com o Deus único, etc. Até mesmo as obras de arte, em si, em museus e outros espaços, eram objetos de certa veneração, de uma admiração mais elevada. No entanto, com o poder crescente de reprodução das obras de arte, como Benjamin mostra nos textos citados, essas mesmas obras foram tomando um ar mais comum, vindo a perder o caráter mágico, tomando um caráter mais técnico e acessível.

Hoje, por exemplo:

A Mona Lisa, pintura de Leonardo da Vinci, encontra-se reproduzida em livros escolares, em livros de arte e até em cópias de tamanhos diversos.

O Moisés, de Michelangelo Buonarroti, outro pintor renascentista, pode ser visto através de fotografias em livros escolares e outros materiais.

As músicas clássicas de Chopin, Mozart, Beethoven, Vivaldi, etc., podem ser ouvidas através da internet e gravadas por diferentes meios de reprodução.

Músicas de diferentes cantores e dos tipos mais diversos, do mundo inteiro, podem ser ouvidas com o auxílio da internet e outros recursos de reprodução.

Filmes são produzidos continuamente, no mundo inteiro, por meio de recursos fotográficos, cinematográficos, computacionais e outros. Muitos, inclusive, contendo denúncias de realidades adversas (contrárias) à humanização.

Documentários dos mais diversificados tipos podem ser visto por meio da TV e das redes de transmissão, pela TV comum e a TV paga.

Imagens fotográficas e audiovisuais do Pantanal pegando fogo são vistas pelo mundo inteiro, através da TV e de outras tantas mídias (meios de comunicação social).

Obras literárias do Brasil e do mundo todo podem ser lidas e apreciadas, muitas das quais, inclusive, transformadas em filmes e séries. Etc., etc., etc.

É claro, não se pode perder a visão crítica, questionadora e problematizadora, diante das obras artísticas na era da reprodutibilidade técnica (Walter Benjamin) e da Indústria Cultural (Adorno e Horkheimer). O nazismo, que perseguiu duramente membros da Escola de Frankfurt, fechando-a, fez uso das artes para passar adiante suas ideias e as naturalizar, acabando por levar o mundo a uma guerra terrível (II G.Mundial). Hoje, o uso político e ideológico que continua. Tendo o exposto em vista, é possível e de grande valor apreciar a arte e a criatividade humana nela contida, sem dúvida.

REFERENCIAL:

BENJAMIN, Walter. A obra de arte na era de sua reprodutibilidade técnica. Pp. 166-167. Disponível em: <  http://www.mom.arq.ufmg.br/mom/02_babel/textos/benjamin-obra-de-arte-1.pdf  > Acesso em 27 de outubro de 2020.

CHAUÍ, Marilena. O universo das artes. In: _________________. Iniciação à Filosofia. 3.ed. São Paulo, Ática, 2017. (Cap. 26.)

WIKIPÉDIA. Verbetes: Água-forte, xilogravura, litografia e Escola de Frankfut. Disponíveis através de: < https://pt.wikipedia.org/wiki/Wikip%C3%A9dia:P%C3%A1gina_principal > Acesso em 27 de outubro de 2020.

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