quinta-feira, 13 de novembro de 2008

O MUNDO E A CULTURA MEDIEVAIS Parte 2 (Prof. José Antônio Brazão.)

Jerusalém na época das Cruzadas

Outra forma de contato entre os europeus e os árabes foi através das cruzadas, que foram expedições militares de cristãos da Europa em direção, principalmente, à Terra Santa, com o objetivo religioso de libertá-la do domínio islâmico. Ocorreram entre os séculos XI e XIII, num total de nove (http://pt.wikipedia.org/wiki/Cruzada). Além de motivações religiosas, outras foram o saque, a pilhagem, a obtenção de riquezas, o domínio de áreas, o poder político, econômico e religioso. Em meio a essas guerras, o contato com a religião e, especialmente, com a cultura muçulmana. Aqui, além de riquezas obtidas, o contato com textos, com a arte e com o pensamento de islamitas e de obras de outros povos aí presentes, como, por exemplo, textos gregos e outros da antiguidade.

No que diz respeito à arte, dois estilos arquiteturais se destacaram: o românico e o gótico. Nas construções românicas, a presença marcante dos arcos, e, nas góticas, da ogiva (forma ogival). É interessante notar, a nível de pintura, a presença de afrescos, isto é, pinturas feitas diretamente nas paredes, e de vitrais. No caso das igrejas, ali eram retratadas passagens bíblicas, figuras do céu, do inferno e do purgatório, figuras e imagens de santos e santas da Igreja Católica, dentre outras, com a finalidade de auxiliar na catequização e no aprendizado religioso das pessoas, tendo em vista que a maioria era analfabeta.
Os desenhos e as pinturas, de fato, auxiliavam analfabetos e não analfabetos na visualização e na memorização de idéias e valores religiosos que eram transmitidos pelos padres, que detinham nas mãos o conhecimento religioso e intelectual da Europa medieval. No mundo bizantino, que se formou a partir do Império Romano do Oriente, um bom exemplo disto também são os ícones.
Desenhos e pinturas também se encontram presentes em figurações da vida do dia-a-dia, de reis e rainhas e de batalhas, na forma de afrescos, iluminuras de livros e outras, possibilitando, ainda hoje, uma visualização de como era a vida naquela época. Esse material também contribui para uma maior compreensão do modo de compreender e explicar o mundo e do próprio processo ou modo de viver das pessoas naqueles tempos.

O MUNDO E A CULTURA MEDIEVAIS (Prof. José Antônio Brazão.)

Nos primeiros séculos da era cristã, o Império Romano dominava vastas regiões da Europa, parte da África, da Ásia e do Oriente Médio. No entanto, pouco a pouco, esse mesmo império foi entrando em decadência. Os motivos desta são vários: corrupção, necessidade contínua de proteção das fronteiras frente a inimigos, aumento constante de impostos, retirada de agricultores da terra para servir os exércitos, provocando, com isto, falta de mão-de-obra no campo, redução do número de escravos em razão da redução no alargamento de fronteiras e de conquistas, conflitos internos pelo poder e as invasões bárbaras, que, cada vez mais, foram minando o império e dando-lhe, enfim, o golpe de misericórdia.
No século IV a.C., o imperador Constantino, o Grande, através do Edito de Milão (313), concedeu liberdade de culto ao cristianismo e deu reconhecimento à Igreja Católica Apostólica Romana. Com isto, o cristianismo foi-se institucionalizando, com doutrinas, normas e regras próprias de vida. O Império Romano, por sua, vez, cindiu-se em dois: Império Romano do Ocidente, com sede em Roma, e Império Romano do Oriente, com sede em Constantinopla: “Teodósio I reunificou o Império pela última vez. Após sua morte, Arcádio se converteu em imperador do Oriente e Honório, em imperador do Ocidente. Os povos invasores empreenderam gradualmente a conquista do Ocidente. Rômulo Augústulo, último imperador do Ocidente, foi deposto no ano de 476. O Império do Oriente, também denominado Império Bizantino, perduraria até 1453.” (Enciclopédia Microsoft® Encarta®. © 1993-2001 Microsoft Corporation.)
Com a queda do Império Romano do Ocidente a única estrutura que ficou totalmente de pé foi, justamente, a Igreja Católica. Ademais, ao longo dos séculos anteriores e nos seguintes, a Igreja vinha e continuou trabalhando no sentido de também converter os povos bárbaros. E, no decurso dos séculos que estariam por vir, a Igreja conseguiu manter sua estrutura, por meio de uma hierarquia (papa, cardeais, arcebispos, bispos, padres e leigos/fiéis), de sua influência religiosa e política, de suas regras e do apoio de reis e nobres a ela convertidos ou dela já participantes.
Nos campos intelectual e educacional a Igreja exerceu papéis importantes, como a preservação da cultura antiga (veja-se, por exemplo, abaixo, o comentário sobre os copistas medievais), a disseminação do pensamento e de valores cristãos, a formação do clero e de pessoas que auxiliariam líderes e chefes de Estados, a formação de escolas monacais, catedrais e, posteriormente, das primeiras universidades européias. No que diz respeito ao trabalho com a população, particularmente quanto ao serviço aos empobrecidos, o trabalho de ordens religiosas, destacando-se os beneditinos (séc. VI em diante), os dominicanos (séc. XIII em diante), que deram especial ênfase à pregação, e os franciscanos (início do séc. XIII em diante), a exemplo de seu fundador Francisco de Assis (1182-1226).
No século VI, um fato de fundamental importância foi o surgimento da religião muçulmana, através de Maomé (570-632) e de seus seguidores. O islamismo foi, progressivamente, se difundindo por toda a Arábia e, daí, para outras regiões do Oriente Médio, da África e da Ásia, até chegar à Europa, por meio da conquista de boa parte da Península Ibérica. Os muçulmanos também fizeram comércio com a Europa. Junto com esta atividade, a divulgação de textos inéditos de filósofos gregos e antigos, além de comentários e textos de filósofos islâmicos. Fundaram escolas e centros de estudos, contribuíram para o desenvolvimento da medicina. No que diz respeito a esta última, a Encarta afirma que: “Conseguiram elevar significativamente os valores profissionais, insistindo em examinar os médicos antes da licenciatura. Introduziram numerosas substâncias químicas terapêuticas, foram excelentes nos campos da oftalmologia e da higiene pública e superaram, com competência, os médicos da Europa medieval cristã.” (Enciclopédia Microsoft® Encarta®. © 1993-2001 Microsoft Corporation.).
Além da medicina, o desenvolvimento da alquimia e da matemática, com um sistema numérico que até hoje faz parte do mundo ocidental e geral, bem como da astronomia, com observações dos astros e catalogações de estrelas. O texto sagrado dos muçulmanos é o Alcorão ou Corão, que contém ensinamentos e normas básicos para a vida pessoal, familiar e até mesmo política dos muçulmanos.
A nível filosófico, os árabes tiveram um papel fundamental, que foi o de divulgação de textos filosóficos inéditos dos gregos, dentre os quais de Platão e Aristóteles. Como conseguiram esse material e contribuíram para difundi-lo? Duas das formas de obtenção foram o comércio e as invasões, que permitiram o contato com povos da Europa, da Ásia e do Norte da África. No Norte da África, por exemplo, Alexandria, que, na antiguidade, dispunha de uma formidável e famosa biblioteca e que foi um centro de disseminação de idéias. De acordo com Carl Sagan, uma forma que os alexandrinos acharam para aumentar o número dos livros de que dispunham foi a cópia de documentos e textos que se encontravam em navios que ali ancoravam (Série Cosmos, episódio 1). O contato com outros centros comerciais, na Europa e na Ásia, com certeza, também possibilitou o contato cultural dos árabes com novas idéias, dentre as quais a filosofia grega. Por sua vez, seu contato contribuiu para o espalhar de novas idéias no mundo europeu. A bagagem cultural por eles trazida, juntamente com a cultura que se encontrava nas bibliotecas de mosteiros, escolas catedrais e outras, possibilitaram um ampliar da visão e do enriquecimento culturais do mundo medieval europeu.