sexta-feira, 26 de outubro de 2018

O HELENISMO E NÓS (Prof. José Antônio Brazão.)


O helenismo varre um período de tempo de, pelo menos, oito a nove séculos, que vão aproximadamente do século IV (4) antes de Cristo ao V (5) da era cristã. Vai da dominação da Grécia e de outras partes do mundo antigo pela Macedônia, com a formação do Império Macedônico, até o Império Romano e sua queda, talvez um pouco mais. Nesse tempo, a influência da cultura grega (helênica vem de helenos, os gregos antigos) se estendeu a vastas regiões dos impérios macedônico e romano. Adentrou, inclusive, profundamente, na língua latina (latim era a língua do Império Romano) e desta nas línguas neolatinas posteriores, ou seja, aquelas línguas originadas do latim: português, francês, romeno, italiano, espanhol, catalão e outras, inclusive em parte do inglês).
Muitas palavras usadas hoje derivam do grego: quilo (kilo, gr. = mil) [quilograma = mil gramas], quilômetro (mil metros), grama (unidade de peso), metro, biologia (estudo da vida – bíos + logia), lógica (do grego logos = palavra, discurso, razão), física (physis é comumente traduzida por natureza, sendo física o estudo da natureza), geologia (estudo da terra), geomorfologia (estudo das formas da Terra), morfologia (lit.: estudo das formas), otorrinolaringologia (estudo e medicina referente ao ouvido, nariz e garganta), ortopédico, ortopedia, ortografia, caligrafia, gráfico (literalmente: aquilo que é escrito), espermatozoide (lit.: o que tem forma [oide, eidos] de semente [esperma]), energia, filosofia, astronomia, além de muitas outras palavras que, verificadas em dicionários, gramáticas e/ou na internet, poderão ser encontradas e descobertas. Vale a pena fazer um levantamento maior.
Além disto, as ciências atuais fazem uso frequente da língua grega e da língua latina, com suas raízes na antiguidade greco-romana. Muitos termos da Filosofia, da Biologia, da Química, da Física, da Medicina e de outras ciências têm suas origens naquelas línguas, especialmente no grego.
Em termos religiosos, a religião predominante no mundo ocidental é o cristianismo. Curiosamente, todos os textos do Novo Testamento foram escritos em grego! Com certeza, porque muita gente convertida e pertencente às comunidades cristãs, no Império Romano, falava grego. O cristianismo marcou e marca a cultura ocidental.
Vasculhando um dicionário de filosofia, poder-se-á encontrar muitos termos advindos do grego antigo, dos períodos pré-socrático, clássico e, especialmente, do helenístico: logos, lógica, átomo, utopia, microcosmos, cosmos, além de muitos outros.
A mitologia grega, que antecede em muito o período helenístico, também faz sua presença em filmes e outros programas, na televisão e no cinema, com muitos filmes a elas relacionados. Essa mesma mitologia está presente até na psicologia: Sigmund Freud e C. G. Jung fizeram uso de termos gregos e da própria mitologia. No caso de Freud, uma citação breve ao complexo de Édipo.
Os islamitas, a partir dos séculos VI e VII e, especialmente, do VIII, com o movimento de tradução, contribuíram para o ressurgimento e a preservação de uma série de textos da antiguidade. Influenciaram fortemente o pensamento posterior, na Europa  cristã, por conta de contatos pacíficos (ex.: comércio) ou não pacíficos (ex.: as Cruzadas de cristãos contra islamitas). Uma vez na Europa medieval, com as escolas catedrais e as universidades (séc. XII, XIII em diante.
O átomo dos pré-socráticos Leucipo e Demócrito (as homeomerias de Anaxágoras, enquanto partículas formadoras da matéria,  também podem ser citadas), por volta dos séculos VI e V a.C., e do helenístico Epicuro de Samos (341 a 270 a.C., aproximadamente) antecede as descobertas posteriores da Química e da Física contemporâneas em torno da estrutura da matéria. Vale dizer que acreditavam na existência dos átomos e do vazio!
Com tudo isto pode-se ver que a ligação entre este tempo (século XXI) e a antiguidade, o passado histórico, é muito mais profunda do que se poderia pensar. Ao estudar a antiguidade resgatamos também muito de nossa história e podemos ver o quanto ela está presente, direta e indiretamente, na vida das pessoas.
Para quem trabalha com o ensino de Filosofia:
1) Solicite às turmas um levantamento maior de termos, prefixos e sufixos gregos na língua portuguesa. Isto possibilita um trabalho interdisciplinar com a Língua Portuguesa.
2) Solicite também um levantamento maior de termos, prefixos e sufixos gregos utilizáveis comumente pela filosofia ocidental.
3) Poder-se há dividir em grupos e cada qual apresentará para a turma toda o seu trabalho.
4) Solicite uma comparação entre o atomismo antigo e as teorias atômicas contemporâneas. Trabalho interdisciplinar com a Física e a Química.
5) Faça, com as turmas, um levantamento da influência do neoplatonismo no pensamento cristão. Curiosidade: Amônio e Plotino e o neoplatonismo antigo falam do Uno, ora, o Deus cristão é Trino e Uno!
6) Proponha, para alguns grupos, o levantamento de  termos gregos (e até latinos, se for o caso) usados nos livros didáticos de Biologia, Física e Química. Comparem com os da Filosofia.
7) Outras atividades poderão ser possíveis. Professor(a), imagine e proponha. Traga também para a sala de aula.