sábado, 26 de agosto de 2023

TERCEIRO BIMESTRE - AULA 24 DE TCH DOS SEGUNDOS ANOS: GOIÁS NA GUERRA DO PARAGUAI (1864 – 1870): (Professor José Antônio Brazão.)

 

SECRETARIA DE SEGURANÇA PÚBLICA/SECRETARIA DE EDUCAÇÃO

COMANDO DE ENSINO POLICIAL MILITAR

 CEPMG - VASCO DOS REIS

Divisão de Ensino / Coordenação Pedagógica

TERCEIRO BIMESTRE

AULA 24 DE TCH DOS SEGUNDOS ANOS:

GOIÁS NA GUERRA DO PARAGUAI (1864 – 1870): (Professor José Antônio Brazão.)

A Guerra do Paraguai envolveu o Brasil, a Argentina e o Uruguai. O que a motivou? A invasão de terras e a busca do controle do Rio da Prata. Uma guerra, sem dúvida, tão abjeta (nojenta) e terrível quanto todas as guerras que já existiram, na qual o drama humano se expôs com toda força. O Paraguai, efetivamente, viria a ser derrotado, mas as consequências nefastas (terríveis) se fizeram presentes entre todos os países envolvidos, principalmente para as populações mais pobres, que viram-se numa situação de sofrimento extremo, de empobrecimento, de miséria, em uma expressão: de TRAGÉDIA.

No Período Imperial Brasileiro (1822 a 1889), um dos eventos de grande impacto, no II Império (Dom Pedro II), foi a Guerra do Paraguai (1864 a 1870). Uma verdadeira tragédia humana. Ocorrida entre 1864 e 1870, demorou além da conta, contribuindo para aumentar seus males. E o que contribuiu para que ela viesse a ocorrer?

Em 1864, o Brasil realizou uma intervenção no Uruguai, seu vizinho ao Sul, com a qual o Paraguai não concordou. Francisco Solano López, presidente e ditador paraguaio, mandou tropas para atacar um navio brasileiro no Rio da Prata. Tropas paraguaias também invadiram o Mato Grosso e o Sul do Brasil. Estava declarada e aberta a guerra.

Ao Brasil se uniram a Argentina e o Uruguai. O que se seguiu foram batalhas no Rio da Prata e em terra. O Almirante Barroso, pelo Brasil, venceu no rio. O Duque de Caxias e, na continuação, o Conde D’Eu, genro este de Dom Pedro II, junto com comandantes e exércitos uruguaios e argentinos, além do brasileiro, venceram o Paraguai em terra. Caxias, inclusive, com o exército, havia invadido o Paraguai a duras penas, mas chegando a conquistar até a capital paraguaia, Assunção.

Solano López, deixando um grupo de combatentes sobreviventes, mulheres e crianças para lutar por ele e pelo país, partiu em uma possível fuga. Contudo, o grupo de lutadores paraguaios foi atacado por brasileiros e dizimado. López foi alcançado e morto, com uma lança a atravessar sua barriga e, depois, um tiro, em 1870. Fim da guerra.

O saldo maldito da Guerra do Paraguai: cerca de quatrocentos mil mortos, sendo mais ou menos trezentos mil paraguaios (mais da metade da população), mais ou menos setenta mil brasileiros e mais ou menos trinta mil argentinos e uruguaios. Uma tragédia geral.

Muitas das mortes, inclusive, foram causadas não tanto por fogo ou armas inimigas, mas por doenças e penúrias sofridas durante a guerra, até mesmo a fome extrema. Do lado brasileiro, as doenças, como cólera e malária, mataram muitos soldados. Naquela época, com efeito, os tratamentos eram pouco eficazes para ferimentos expostos, amputações e outras complicações de saúde.

O texto abaixo mostra uma linha de tempo, ano a ano da guerra. Na sequência, a conclusão. Obs.: a participação de Goiás na guerra será estudada adiante, em outras aulas.

LINHA DE TEMPO DA GUERRA DO PARAGUAI G1 MUNDO 2014:

“Veja a cronologia da Guerra do Paraguai

País foi destruído e teve a população dizimada durante o conflito.
Entenda os principais fatos até a morte de Solano López.

Do G1, em São Paulo

Desenho dos uniformes utilizados pelos soldados durante a Guerra do Paraguai (Foto: Fundação Biblioteca Nacional)

 Maior conflito armado da América do Sul, a Guerra do Paraguai teve início há exatos 150 anos, em 13 de dezembro de 1864, e terminou somente com a morte do líder paraguaio Solano López, em 1º de março de 1870.

O país mobilizou quase toda sua população para a guerra, onde enfrentou o exército da Tríplice Aliança, formada por Brasil, Uruguai e Argentina. A luta estendeu-se por anos, apesar da superioridade econômica e demográfica dos países aliados.

Os motivos que levaram López a declarar guerra ao Brasil são controversos. No entanto, os estudiosos concordam que o conflito teve consequências que ainda não foram superadas pelo Paraguai. Além de perder parte de seu território, o país teve sua infraestrutura destruída e viu o extermínio da quase totalidade de sua população. Ainda hoje, o país encontra-se atrasado em relação ao desenvolvimento de seus vizinhos. Entenda o desenrolar da guerra, com um resumo dos principais fatos até a morte de Solano López:

Corpos de paraguaios mortos durante a guerra
empilhados no campo, em imagem de 1866
(Foto: Fundação Biblioteca Nacional)

Maio de 1864 - Brasil envia representante ao Uruguai, que vivia uma guerra civil, para discutir as ameaças sofridas por cidadãos brasileiros em território uruguaio. Os brasileiros que tinham fazendas no interior reclamavam que sofriam assaltos violentos.

18 de junho de 1864 - Enviados do Brasil, Argentina e Inglaterra se reúnem para mediar o fim da guerra civil no Uruguai, com representantes tanto do governo oficial, de Atanásio Aguirre, quanto do chefe da rebelião, Venâncio Flores. Não há acordo e a guerra civil continua.

Agosto de 1864 - Governo brasileiro ameça intervir militarmente no Uruguai, caso o governo não puna os responsáveis pela violência contra brasileiros no país. Em nota enviada a diplomatas brasileiros, governo do Paraguai protesta contra qualquer invasão do território do Uruguai. 

30 agosto de 1864 - Uruguai rompe relações diplomáticas com o Brasil.

12 de outubro de 1864 - Brasil invade o Uruguai.

12 de novembro de 1864 - Em retaliação à invasão brasileira ao Uruguai, Paraguai apreende o vapor brasileiro Marquês de Olinda.

13 de dezembro de 1864 - O líder paraguaio Solano López declara guerra ao Brasil.

27 e 28 de dezembro de 1864 - Exército paraguaio ataca o forte Coimbra, atualmente na região de Mato Grosso do Sul (veja ao lado reportagem do Globo Rural sobre a invasão das tropas paraguaias ao Brasil).

Janeiro de 1864 - Exército paraguaio invade Corumbá, Miranda e Dourados.

7 de janeiro de 1865 - Decreto nº 3.371, do Império do Brasil, cria os Corpos de Voluntários da Pátria. São prometidas recompensas para quem se voluntariar à luta.

21 de janeiro de 1865 - Decreto nº 3.383, do Império do Brasil, convoca a Guarda Nacional para se juntar ao Exército. Era composta por cerca de 440 mil homens, mas pouco mais de 40 mil participaram do combate. Na época, o alistamento na Guarda tinha a função de mostrar status social.

1º de maio de 1865 -  Assinatura do Tratado da Tríplice Aliança por Brasil, Argentina e Uruguai.

Junho de 1865 -  Exército paraguaio invade o Rio Grande do Sul e ocupa Uruguaiana.

11 de junho de 1865 - Batalha do Riachuelo, em que a Marinha paraguaia é derrotada pelas
forças aliadas.

18 de agosto de 1865 - Soldados paraguaios em Uruguaiana se rendem.

16 de abril de 1866 - Exército aliado na Argentina cruza o rio Paraná e invade o Paraguai,
onde inicia marcha rumo à fortaleza de Humaitá.

24 de maio de 1866 - Batalha de Tuiuti, que é considerada a mais importante e uma das mais sangrentas da guerra. O exército paraguaio atacou os soldados da Tríplice Aliança que seguiam para Humaitá. Apesar das inúmeras mortes, os aliados venceram.

12 de setembro de 1866 - López pede encontro com Bartolomeu Mitre, governante da Argentina. Os dois se reúnem, mas não há acordo para o fim da guerra.

22 de setembro de 1866 - Exército da Tríplice Aliança ataca fortaleza de Curupaiti, mas é
derrotado pelos paraguaios. Foi a maior derrota aliada.

6 de novembro de 1866 - Decreto nº 3.725-A, do Império do Brasil, liberta escravos que servissem no exército contra o Paraguai.

Abril e maio de 1867 - Tropas aliadas invadem o Paraguai rumo à fazenda Laguna, mas são atacadas pelos paraguaios e obrigadas a recuar. Episódio é conhecido como Retirada da Laguna.

Igreja de Humaitá destruída (Foto: Fundação
Biblioteca Nacional)

Julho de 1867 - Tropas brasileiras partem em direção a Humaitá, para atacar a fortaleza.

15 de agosto de 1867 - Esquadra do governo imperial segue pelo rio Paraguai e ultrapassa a
fortaleza de Curupaiti, mas não tenta passar por Humaitá. Permanece seis meses entre as duas fortalezas e, apesar de bombardeá-las, não consegue destruí-las.

3 de março de 1868 - López deixa a Fortaleza de Humaitá e arma quartel-general em San
Fernando, distante cerca de 10 quilômetros.

25 de julho de 1868 -Exército aliado toma posse da Fortaleza de Humaitá.

Dezembro de 1868 - Paraguaios são derrotados nas batalhas de Itororó, Avaí, e Lomas Valentinas, no que ficou conhecido por “dezembrada”.

1º de janeiro de 1869 - Tropas brasileiras invadem e saqueiam Assunção.

5 de maio de 1869 - Fundição de Ibicuí, onde eram feitas as armas do exército paraguaio, é
destruída.

16 de agosto de 1869 -  Batalha de Acosta-Ñu, em que 20 mil soldados da Tríplice Aliança
enfrentam e vencem as tropas formadas por 6 mil paraguaios, em sua maioria idosos e crianças. Em homenagem às vítimas, 16 de agosto se tornou o Dia das Crianças no Paraguai.

1º de março de 1870 -  Solano López é morto em Cerro Corá. O líder paraguaio foi ferido com um golpe de lança pelo brasileiro José Francisco Lacerda, o Chico Diabo, e foi atingido por um tiro de fuzil. A morte de López encerra a guerra.” (G1 MUNDO. Veja a cronologia da Guerra do Paraguai. Disponível em: < https://g1.globo.com/mundo/noticia/2014/12/veja-cronologia-da-guerra-do-paraguai.html > Acesso em 26/08/2023.)

CONCLUSÃO:

A Guerra do Paraguai (1864 a 1870) foi um dos piores conflitos bélicos dos quais o Brasil já participou. Entre as consequências da guerra, seja para o Brasil, seja para os demais envolvidos, foram: perdas altíssimas de pessoas (cerca de quatrocentas mil), endividamento de guerra, por conta de dinheiro obtido com a Inglaterra, consequências econômicas e políticas.

Das consequências econômicas, os gastos imensos com a guerra (fora a corrupção, que, certamente, já havia), a destruição de terrenos e plantações, a perda considerável de mão de obra, entre outras. Das consequências políticas: o controle do Paraguai, por um tempo, pelo Brasil e pelos demais aliados; perdas de terras paraguaias para o Brasil e a Argentina; desgaste elevado de Dom Pedro II, imperador do Brasil; fortalecimento do Exército Brasileiro, que, em 1889, viria a declarar a República e a consequente saída da Família Real do Império; etc.

No que diz respeito à ação da Inglaterra, apesar dos empréstimos realizados (milhões de libras esterlinas), ela não teve ação de apoio ou de incentivo à Guerra do Paraguai, consenso atual entre historiadores.

O que pesou, na verdade, foi o que sempre moveu guerras no mundo: ambição, desejo de poder, desejo de domínio, mercados, escravização, conflitos de poder, o colonialismo, entre outras motivações similares a essas e a elas ligadas. No que diz respeito ao século XIX, vale lembrar de dois acontecimentos em curso nesse tempo: a Revolução Industrial, na Europa, e o neocolonialismo levado a diante por vários países e com graves consequências.

REFERÊNCIAS:

COMANDO DE ENSINO DA POLÍCIA MILITAR DE GOIÁS. Apostila de Cultura Goiana. Goiânia, [década de 2010].

G1 MUNDO. Veja a cronologia da Guerra do Paraguai. Disponível em: < https://g1.globo.com/mundo/noticia/2014/12/veja-cronologia-da-guerra-do-paraguai.html > Acesso em 26/08/2023.

ROMEIRO, Julieta et alii. Diálogo, Ciências Humanas e Sociais Aplicadas. São Paulo, 2020. (Seis volumes.)

 

TERCEIRO BIMESTRE - AULA 24 DE TCH DOS PRIMEIROS ANOS: ARTE E RELIGIOSIDADE NA ÉPOCA DA COLONIZAÇÃO DE GOIÁS: A SOCIEDADE (Prof. José Antônio Brazão.)

 

SECRETARIA DE SEGURANÇA PÚBLICA/SECRETARIA DE EDUCAÇÃO

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Divisão de Ensino / Coordenação Pedagógica

TERCEIRO BIMESTRE

AULA 24 DE TCH DOS PRIMEIROS ANOS:

ARTE E RELIGIOSIDADE NA ÉPOCA DA COLONIZAÇÃO DE GOIÁS: A SOCIEDADE (Prof. José Antônio Brazão.):

Na aula anterior falamos a respeito do barroco em Goiás e o comparamos com o de outros lugares do Brasil, como o barroco em Minas Gerais, no Rio de Janeiro e na cidade de Salvador. A expressividade do barroco nestes lugares foi mais acentuada que em Goiás em razão da mineração que, com certeza, foi bem maior, principalmente em Minas Gerais (Ouro Preto, Mariana e São João Del Rey são bons exemplos). Como diz Adalva Franco:

“O Barroco em Goiás é bem modesto, em comparação ao de Minas e ao de certas cidades litorâneas. Uma das razões da diferença foi a falta de pessoas competentes, pois a população era constituída em boa parte por aventureiros, na maioria de São Paulo; outra importante razão foi a curta duração de escassos 20 anos de ouro em Goiás. Não obstante, há remanescentes barrocos em povoações do século XVIII, ligados ao ciclo de ouro, que em Goiás foi altamente influenciado pela atividade dos paulistas, assim, compreende-se que não se feito lá, o que não foi feito em São Paulo.Em Goiás o Barroco sobreviveu ao Barroco mineiro na obra extraordinária de José Joaquim da Veiga Valle, natural de meia Ponte, um dos mais importantes escultores goianos(1806-1874).” (FRANCO, 2012, ver referências ao final)

IMAGENS:

Barroco mineiro:

https://pt.wikipedia.org/wiki/Barroco_mineiro#/media/Ficheiro:Vista_de_ouro_preto.jpg

Barroco em Goiás:

https://www.google.com/search?q=artistas+do+barroco+em+goi%C3%A1s&source=lnms&tbm=isch&sa=X&ved=2ahUKEwiUja-Dp9byAhWfGbkGHRXyAMMQ_AUoAnoECAEQBA&biw=1242&bih=597

Em Goiás, como vimos, na cidade de Goiás (capital, então), e em Pilar de Goiás, onde a mineração teve uma relevância maior.

No que diz respeito à sociedade goiana (mesmo a brasileira no geral), o que a arte do barroco nos mostra?

(1)A arte, naqueles tempos, era (e continua sendo ainda hoje) um excelente meio de comunicação de ideias e valores, inclusive de ensinamentos. Imagens de santos, estátuas e desenhos ou pinturas de episódios bíblicos nas paredes, entre outras expressões artísticas, permitiam uma visualização e até uma memorização de fatos e valores contidas naqueles episódios.

IMAGENS:

Conjunto1:

https://www.google.com/search?q=interior+de+igrejas+barrocas+em+goi%C3%A1s&hl=pt-BR&source=lnms&tbm=isch&sa=X&ved=2ahUKEwjGgdPnp9byAhWEGLkGHU14Co0Q_AUoAXoECAEQAw&biw=1242&bih=597

Conjunto 2:

https://www.google.com/search?q=afrescos+barrocos+em+goi%C3%A1s&hl=pt-BR&source=lnms&tbm=isch&sa=X&ved=2ahUKEwifmZavqNbyAhWEA9QKHWNDDf4Q_AUoAXoECAEQAw&biw=1242&bih=597

Conjunto 3 (Os Doze Profetas, de Aleijadinho, em Minas Gerais):

https://pt.wikipedia.org/wiki/Doze_profetas_de_Aleijadinho#/media/Ficheiro:Sanctuary_of_Bom_Jesus_do_Congonhas.jpg

(2)Vale lembrar que uma grande parte da população, além de pobre, era analfabeta. A arte religiosa barroca ajudava na visão de acontecimentos ensinados pela igreja (ver número 1).

IMAGENS (José Joaquim da Veiga Valle, GO):

https://www.google.com/search?source=univ&tbm=isch&q=obras+do++veiga+valle&hl=pt-BR&sa=X&ved=2ahUKEwjH-aiYqdbyAhUJqpUCHZ__AU0Q7Al6BAggEE8&biw=1242&bih=597

(3)A Bíblia católica, até por volta da década de 1960 (século XX), só era acessível aos padres e pessoas que sabiam ler LATIM, língua do antigo Império Romano. Com o Imperador Constantino, o cristianismo se tornou religião oficial do império. Eis o que é dito a respeito dele:

“Flavius Valerius Aurelius Constantinus (272-337), conhecido como Constantino I ou Constantino o Grande, foi imperador do Império Romano do ano 306 a 337. Na História, passou como o primeiro imperador cristão.” (OPUS DEI. Quem foi Constantino? [Citação completa nas referências.])

A língua latina, do Império Romano, foi assimilada pela Igreja Católica, que estruturou-se, vindo a ter sede, naquele tempo e ainda hoje, em Roma (o Vaticano fica no coração de Roma).

A Bíblia, traduzida para o latim por São Jerônimo (340 - 420 d.C.) a partir dos originais hebraico-aramaicos e gregos, ficou conhecida como VULGATA. Copiada e recopiada ao longo dos séculos.

IMAGENS:

Conjunto 1 (Trecho da Bíblia em Latim, Gênesis, cap. 1, Nova Vulgata):

https://www.vatican.va/archive/bible/nova_vulgata/documents/nova-vulgata_vt_genesis_lt.html

Entrada para a Nova Vulgata (uma versão nova da Vulgata de São Jerônimo, revisada):

https://www.vatican.va/archive/bible/nova_vulgata/documents/nova-vulgata_index_lt.html

Conjunto 2:

https://pt.wikipedia.org/wiki/Vulgata#/media/Ficheiro:Bible.malmesbury.arp.jpg

Conjunto 3 (Missal em latim, livro usado pelos padres para acompanharem a sequência de cada missa. Os missais, hoje, são em cada língua, como o português. No Goiás colonial, em LATIM):

https://www.google.com/search?q=missal+em+latim+aberto&hl=pt-BR&source=lnms&tbm=isch&sa=X&ved=2ahUKEwjil6rAq9byAhX0ILkGHWgBAvYQ_AUoAnoECAEQBA&biw=1242&bih=597

Em Goiás, na época do Brasil colônia e monárquico-imperial (a seguir), as BÍBLIAS impressas e os textos usados, como MISSAIS, nas igrejas eram em latim. A própria MISSA era celebrada em latim! Se a sociedade tinha muitos analfabetos (gente que não sabia ler nem escrever), menos ainda conhecedores de latim. Daí também a importância das imagens, pinturas, esculturas, etc. Os sermões eram feitos em português, é claro, mas todo o restante das missas era em latim. As pregações e outras orações também em português. O catecismo era em português.

IMAGENS (Missais latinos em Goiás):

Conjunto 1:

https://www.google.com/search?q=missais+em+latim+em+goi%C3%A1s&hl=pt-BR&source=lnms&tbm=isch&sa=X&ved=2ahUKEwjT_ZGVrNbyAhUULLkGHawSBq0Q_AUoAXoECAEQAw&biw=1242&bih=597 

Conjunto 2 (Missa em latim, com o padre voltado de costas para o povo e de frente para o sacrário e o crucifixo):

https://www.google.com/search?q=missais+em+latim+em+goi%C3%A1s&hl=pt-BR&source=lnms&tbm=isch&sa=X&ved=2ahUKEwjT_ZGVrNbyAhUULLkGHawSBq0Q_AUoAXoECAEQAw&biw=1242&bih=597#imgrc=N1jE9QpQK2fTmM

Curiosamente, até nos dias de hoje (século XXI), a Igreja Católica mantém o latim como língua oficial do Vaticano e dos documentos expedidos por este (por exemplo, documentos papais).

(4)Como se pode ver, o conhecimento das letras e da cultura erudita, em Goiás e no Brasil colônia de modo geral, estava nas mãos de poucos letrados – membros da Igreja Católica, representantes da Coroa Portuguesa, intelectuais formados em escolas da Igreja, entre outros poucos.  Conhecimento é poder!

IMAGENS:

https://pt.wikipedia.org/wiki/Hist%C3%B3ria_de_Goi%C3%A1s#/media/Ficheiro:Goi%C3%A1s_in_Brazil_(1822).svg

(5)A produção de ouro era feita por escravos, em grande parte, pertencentes a famílias ricas e também a representantes do Estado português, e por  mineiros (garimpeiros) particulares. O excedente (sobra) do ouro que não era usado no comércio e na economia ia para as igrejas – inclusive as de Goiás, ainda que, como já foi dito, não tendo a imponência de igrejas católicas de Minas Gerais e de outros estados. Aliás, a própria Igreja Católica tinha seus escravos, usados na construção de igrejas, prédios e para outros fins. Havia irmandades (grupos de fiéis católicos) que disputavam para ver quem faria igreja(s) mais bonita!

IMAGENS:

Conjunto 1 (escravos):

https://www.google.com/search?q=escravos+em+goi%C3%A1s+no+s%C3%A9culo+XVIII&hl=pt-BR&source=lnms&tbm=isch&sa=X&ved=2ahUKEwjx3qOCsNbyAhUfI7kGHU4GAGgQ_AUoAnoECAEQBA&biw=1242&bih=597

Conjunto2 (irmandades católicas):

https://www.google.com/search?q=irmandades+cat%C3%B3licas+no+goi%C3%A1s+colonial&tbm=isch&hl=pt-BR&chips=q:irmandades+cat%C3%B3licas+no+goi%C3%A1s+colonial,online_chips:irmandades+religiosas:ECfe2VSrrRI%3D&sa=X&ved=2ahUKEwiQkt_IsNbyAhUwuJUCHdeBBpMQ4lYoAnoECAEQFQ&biw=1226&bih=597#imgrc=Eq2rVNneJxBGNM

Outros elementos ou aspectos da cultura goiana no período colonial serão mostrados e outras aulas.

REFERÊNCIAS BÁSICAS:

BATISTA, Tenente Marcus Vinícius Jorge et alii. Cultura Goiana. Primeira Sério do Ensino Médio. Goiânia, [década de 2010]. (Apostila)

BOAVENTURA, Deusa Maria Rodrigues. Urbanização em Goiás no século XVIII. Disponível em: < https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/16/16133/tde-13052010-090028/publico/Tese.pdf > Acesso ao longo de agosto de 2023.

CANÇÃO NOVA. Santo do Dia: São Jerônimo. Disponível em: < https://santo.cancaonova.com/santo/sao-jeronimo-presbitero-e-doutor-da-igreja/ > Acesso em 19 de agosto de 2023.

FRANCO, Adalva. Barroco em Goiás. Disponível em: < http://adalvafranco.blogspot.com/2012/06/barroco-em-goias.html  > Acesso em 19 de agosto de 2023.

JORNAL IMPRENSA DO CERRADO.  Domingo, 22 de agosto de 2021. Disponível em: < http://www.imprensadocerrado.com.br/materia/298/pilar-de-goias-o-maior-conjunto-barroco-de-goias > Acesso em 19 de agosto de 2023.

OPUS DEI. Quem foi Constantino? Disponível em: < https://opusdei.org/pt-br/article/quem-foi-constantino/   > Acesso em 19 de agosto de 20223.

SITES DE PESQUISA: GOOGLE, GOOGLE IMAGENS,WIKIPÉDIA.

 

 

 

TERCEIRO BIMESTRE - AULA 24 DE SOCIOLOGIA DOS SEGUNDOS ANOS: KARL MARX E A ALIENAÇÃO (Prof. José Antônio Brazão.)

 

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TERCEIRO BIMESTRE

AULA 24 DE SOCIOLOGIA DOS SEGUNDOS ANOS:

KARL MARX E A ALIENAÇÃO (Prof. José Antônio Brazão.)

Um dos elementos constitutivos do sistema capitalista, analisado por Marx, é a ALIENAÇÃO (literalmente, ação de tornar-se outro, alius em latim). É o ato de deixar de ser o que se é enquanto ser humano, enquanto ser que produz e se reconhece como produtor – a alienação tira essa capacidade do proletário, subjugado à necessidade de sobreviver e tornar-se um ser passivo (incapaz ou quase incapaz de reagir diante da exploração). Segundo Pires e Martins:

“ALIENAÇÃO A alienação surge na vida econômica quando o operário, ao vender sua força de trabalho, perde o que ele próprio produziu. A consequência dessa perda é a fragmentação de sua consciência, que também deixa de lhe pertencer; a pessoa não é mais o centro de si mesma e passa a ser ‘comandada’ de fora; perda da individualidade; perda da consciência crítica.” (ARANHA, Maria Lúcia de Arruda e MARTINS, Maria Helena Pires. Propaganda e Ideologia. IN: _________________________. FILOSOFANDO: Introdução à Filosofia. São Paulo, Moderna, 1994. P. 50. Também disponível na internet, podendo ser encontrado em: < https://www.faberj.edu.br/cfb-2015/downloads/biblioteca/filosofia/Filosofando.pdf > Acesso em 19/08/2023.)

O próprio Marx diz em dois pequenos textos:

Texto 1:

“O trabalhador torna-se tanto mais pobre quanto mais riqueza produz, quanto mais a sua produção aumenta em poder e extensão. O trabalhador torna-se uma mercadoria tanto mais barata, quanto maior número de bens produz. Com a valorização do mundo das coisas [Ver, no texto de Drummond de Andrade, o termo COISA.], aumenta em proporção direta a desvalorização do mundo dos homens. O trabalho não produz apenas mercadoria; produz-se também a si mesmo e ao trabalhador como uma mercadoria, e justamente na mesma proporção com que produz bens (Manuscritos Econômico-Filosóficos, P.111).” (MARX, Karl. Trecho de Manuscritos Econômico-Filosóficos. IN: SILVA, João Carlos da. EDUCAÇÃO E ALIENAÇÃO EM MARX: CONTRIBUIÇÕES TEÓRICO-METODOLÓGICAS PARA PENSAR A HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO. Disponível em: < https://www.fe.unicamp.br/pf-fe/publicacao/4826/art07_19.pdf > Acesso em 19/08/2023.) (Os colchetes, o sublinhado e o negritado são meus.]

Texto 2:

“O trabalhador põe a sua vida no objeto; porém agora ele já não lhe pertence mas sim ao objeto. Quanto maior a sua atividade, mais o trabalhador se encontra objeto [Ver, no texto de Drummond de Andrade, o termo COISA]. Assim, quanto maior é o produto, mais ele fica diminuído. Quanto mais valor o trabalhador cria, mais sem valor e mais desprezível se torna. Quanto mais refinado é o produto mais desfigurado o trabalhador (idem, 2002 p. 112).” (Idem.) [O que está entre colchetes é meu.]

O texto do escritor Carlos Drummond de Andrade, que vem a seguir, poderá nos ajudar a entender bem, introduzindo-nos no conceito de alienação em Marx. Na sequência, um estudo e um comentário explicativo.

EU, ETIQUETA (Carlos Drummond de Andrade)

 

Em minha calça está grudado um nome

que não é meu de batismo ou de cartório,

um nome... estranho.

Meu blusão traz lembrete de bebida

que jamais pus na boca, nesta vida.

Em minha camiseta, a marca de cigarro

que não fumo, até hoje não fumei.

Minhas meias falam de produto

que nunca experimentei

mas são comunicados a meus pés.

Meu tênis é proclama colorido

de alguma coisa não provada

por este provador de longa idade.

Meu lenço, meu relógio, meu chaveiro,

minha gravata e cinto e escova e pente,

meu copo, minha xícara,

minha toalha de banho e sabonete,

meu isso, meu aquilo,

desde a cabeça ao bico dos sapatos,

são mensagens,

letras falantes,

gritos visuais,

ordens de uso, abuso, reincidência,

costume, hábito, premência,

indispensabilidade,

e fazem de mim homem-anúncio itinerante,

escravo da matéria anunciada.

Estou, estou na moda.

É duro andar na moda, ainda que a moda

seja negar minha identidade,

trocá-la por mil, açambarcando

todas as marcas registradas,

todos os logotipos do mercado.

Com que inocência demito-me de ser

eu que antes era e me sabia

tão diverso de outros, tão mim mesmo,

ser pensante, sentinte e solidário

com outros seres diversos e conscientes

de sua humana, invencível condição.

Agora sou anúncio,

ora vulgar ora bizarro,

em língua nacional ou em qualquer língua

(qualquer, principalmente).

E nisto me comparo, tiro glória

de minha anulação.

Não sou - vê lá - anúncio contratado.

Eu é que mimosamente pago

para anunciar, para vender

em bares festas praias pérgulas piscinas,

e bem à vista exibo esta etiqueta

global no corpo que desiste

de ser veste e sandália de uma essência

tão viva, independente,

que moda ou suborno algum a compromete.

Onde terei jogado fora

meu gosto e capacidade de escolher,

minhas idiossincrasias tão pessoais,

tão minhas que no rosto se espelhavam

e cada gesto, cada olhar

cada vinco da roupa

sou gravado de forma universal,

saio da estamparia, não de casa,

da vitrine me tiram, recolocam,

objeto pulsante mas objeto

que se oferece como signo de outros

objetos estáticos, tarifados.

Por me ostentar assim, tão orgulhoso

de ser não eu, mas artigo industrial,

peço que meu nome retifiquem.

Já não me convém o título de homem.

Meu nome novo é coisa.

Eu sou a coisa, coisamente.

 

Carlos Drummond de Andrade ANDRADE, C. D. Obra poética, Volumes 4-6. Lisboa: Publicações Europa-América, 1989.

O texto acima encontra-se em:

ARANHA, Maria Lúcia de Arruda e MARTINS, Maria Helena Pires. Propaganda e Ideologia. IN: _________________________. FILOSOFANDO: Introdução à Filosofia. São Paulo, Moderna, 1994. P. 50. Também disponível na internet, podendo ser encontrado em: < https://www.faberj.edu.br/cfb-2015/downloads/biblioteca/filosofia/Filosofando.pdf > Acesso em 19/08/2023.

ANDRADE, Carlos Drummond de. Eu, etiqueta. Apud: PENSADOR UOL. Disponível em: https://www.pensador.com/frase/MjAyODM0/ Acesso em 04 de junho de 2017.

O texto de Carlos Drummond de Andrade presta-se a um trabalho interdisciplinar muito bom entre Filosofia e Língua Portuguesa (dentro desta, a literatura brasileira contemporânea, no campo da poética). Nele encontram-se temáticas como: (1)Moda – Filosofia: Theodor Adorno e Max Horkheimer, com a Indústria Cultural. (2)Alienação – Filosofia: Ludwig Feuerbach e Karl Marx. (3)Identidade – o EU em diversos filósofos. (4)Ser sentinte, pensante e outros – Filosofia: o ser, ser humano, ser pensante (ex.: René Descartes). (5)Existência e vida – Filosofia: o Existencialismo. (6)Liberdade – Na Filosofia: vários filósofos e filósofas (ex.: Hannah Arendt). (7)(Várias outras temáticas e filósofos[as].) Escolher textos curtos bons das temáticas desses(as) filósofos(as) e pôr em discussão com o texto literário do escritor.

O POEMA EU, ETIQUETA, DE CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE E A ALIENAÇÃO EM LUDWIG FEUERBACH E KARL MARX – Um estudo introdutório e comparativo: (Março de 2014. Revisto e ampliado em 2017.)

POEMA EU, ETIQUETA – ESTUDO:

Leia o texto todo e responda no caderno:

I – No nome do poema Eu, etiqueta a vírgula substitui, por elipse, que palavra(s) faltante(s)? ____________________________________________________________.

II – Levantamento vocabular (use um dicionário de língua portuguesa) – Dê o significado dos seguintes termos:

(1)EU - _______________________________________________________________.

(2)ETIQUETA - ________________________________________________________.

(3)NOME - ____________________________________________________________.

(4)LEMBRETE - _______________________________________________________.

(5)PROCLAMA - ______________________________________________________.

(6)MENSAGEM - ______________________________________________________.

(7)ORDEM - __________________________________________________________.

(8)REINCIDDÊNCIA - _________________________________________________.

(9)PREMÊNCIA - ______________________________________________________.

(10)ITINERANTE - _____________________________________________________.

(11)ESCRAVO - ________________________________________________________.

(12)IDENTIDADE - _____________________________________________________.

(13)MARCA - __________________________________________________________.

(14)LOGOTIPO - _______________________________________________________.

(15)SENTINTE - _______________________________________________________.

(16)PENSANTE (ser) - __________________________________________________.

(17)CONDIÇÃO - ______________________________________________________.

(18)HUMANA CONDIÇÃO - _____________________________________________

______________________________________________________________________.

(19)VULGAR - _________________________________________________________.

(20)BIZARRO - ________________________________________________________.

(21)MIMOSAMENTE - __________________________________________________.

(22)PÉRGULA(S) - _____________________________________________________.

(23)ESSÊNCIA - _______________________________________________________.

(24)IDIOSSINCRASIA(S) -_______________________________________________.

(25)VINCO - ___________________________________________________________.

(26)ESTÉTICA - _______________________________________________________.

(27)SIGNO (de objetos) - ________________________________________________.

(28)COISA - __________________________________________________________.

(29)COISAMENTE - ___________________________________________________.

III – LEVANTAMENTO DE INFORMAÇÕES:

Poema Eu, etiqueta: (Prof. José Antônio.)

Eu à homem.

Etiqueta à anúncio.

Itinerante: que vai de um lugar a outro.

Escravo ß Ordens.

Moda = doce àcomparação à moda = algo que dá prazer (o doce dá prazer). à Nega a identidade [ou negação da identidade].

Identidade: aquilo que você é.

Verbo à Identificação. SER.

O SER = nome (substantivo) à Ser = aquilo que é, que existe.

“O ser é, o não-ser não é”, diz Parmênides, filósofo grego anterior a Cristo.

“Eu sou aquele que sou”, diz Deus, falando de si para Moisés, em um dos primeiros capítulos do livro do Êxodo. Nome de Deus.

Sua identidade é seu SER, aquilo que representa o que você é. [A identidade de uma pessoa é seu SER, aquilo que representa o que ela é.]

POEMA EU, ETIQUETA, DE CARLOS D. DE ANDRADE [comentário]: (Prof. José Antônio.)

O poema Eu, etiqueta, de Carlos Drummond de Andrade, trata da transformação das pessoas em objetos, marcas, anúncios, de sua perda de identidade, transformando-se em coisas, abandonando o ser, sua essência.

O ser aparece no poema na forma de verbo conjugado no presente do indicativo, apontando para a realidade da coisificação (reificação) pessoal, e como substantivo (o nome ser), referindo-se ao gênero humano (ser humano, ser pessoa).

De tanto fazer uso de vestes e acessórios para o corpo contendo marcas de produtos do mercado e, por vontade própria (“eu é que mimosamente pago”), propagandeiam aquelas mercadorias, as pessoas acabam perdendo aquilo que as identifica(m). Em vez de mostrar o que são, mostram coisas, nomes de produtos, de mercadorias), acabando por identificar-se com elas, ainda que não as comprem ou usem. A moda impõe-se, a personalidade obedece, a moda entra, a personalidade sai, esvaindo-se, perdendo-se.

O poema expõe a antítese (oposição) entre o ser (ser humano, pessoa) e o não-ser, isto é, a perda da identidade humana, que acaba por tornar-se coisa, objeto de anúncio mercadológico. O mercado, com suas marcas (etiquetas), impõe-se sobre a pessoa, levando-a a identificar-se com as mercadorias, alienando-se de seu ser.

No século 19 (XIX), Karl Marx estudou as ideias de Ludwig Feuerbach (filósofo alemão também do mesmo século). Este, ao estudar as religiões, concluiu que os homens criam os deuses, prestando-lhes culto e criando doutrinas ao redor de suas crenças. Com o passar do tempo, os criadores (pessoas) se tornaram criaturas daqueles que, na verdade, haviam criado, isto é, tornaram-se criaturas dos deuses e deusas. Desta forma, os seres humanos alienaram-se.

Aliu(s), no latim, é outro. Alienação é a ação de tornar-se outro (aliu[s]), deixando de ser o que se é e perdendo, portanto, sua identidade humana, de criador, passando a identificar-se como criaturas dos deuses. Por meio dessa alienação surgiram, pois, os deuses e as deusas, cabendo às criaturas alienadas (pessoas) submeter-se àqueles e aos seus representantes religiosos, os sacerdotes.

Marx aplicou as ideias de Feuerbach na análise da mercadoria. Toda mercadoria é algo produzido por trabalhadores e trabalhadores, principalmente em fábricas (indústrias), muitas vezes com o auxílio de máquinas – de fato, na época de Marx, a Revolução Industrial já havia avançado muito e, com ela, também a exploração de tais produtores(as). Mercadoria é um produto que vai para o mercado, a fim de ser vendido, conferindo lucros aos donos da produção (comerciantes, industriais e outros), ou seja, aos capitalistas.

A exploração de cada trabalhador e trabalhadora, de todos(as) os(as) trabalhadores(as) ocorria (e ocorre) de diferentes modos, com destaque para a mais valia – um valor a mais produzido que é apropriado pelos capitalistas –, seja através do aumento das horas trabalhadas (horas extras) e não pagas, seja pelo incremento da produção, tornando-a mais rápida e em maior escala, com o auxílio de máquinas e da colocação dos(as) trabalhadores(as) em linha. Também salários baixos – os salários eram tão baixos, no século 19 (XIX), que mulheres e crianças tinham que postas para trabalhar a fim de dar condições de sobrevivência às famílias, e recebiam salários menores que os dos homens. Não havia previdência social. As condições de trabalho nas fábricas eram péssimas, até mesmo insalubres. Havia crianças e adultos que perdiam mãos e até braços, estraçalhados pelas máquinas em momentos de descuido. Pior: perdiam o emprego quando isso ocorria, sem qualquer direito. Muitas vezes, todos(as) trabalhavam mais de 12 horas por dia! Férias inexistiam. Relógios eram manipulados para que cada trabalhador(a), com sua mulher e seus filhos trabalhassem a mais.

E as mercadorias? Postas no mercado, passaram a ser vistas como objetos de necessidade e, muitas vezes, até de desejos. O trabalhador e a trabalhadora (operários, operárias e outros) deixaram de ver as mercadorias como produtos do trabalho explorado. As mercadorias, com o tempo, foram se tornando fetiches. A alienação estava em curso: a mercadoria fetichizada perdeu seu caráter de produto e se tornou um bem em si, inclusive como objeto de desejo, de culto, como os deuses de Feuerbach. Cada trabalhador(a) se tornou um outro ser diante da mercadoria exposta na vitrine e no mercado, não enxergando nela um produto, fruto da exploração que enriquece os capitalistas. Só para dar alguns exemplos atuais: as mercadorias aparecem na televisão, em outdoors, vitrines de shoppings e mercados, lojas, etc., desejáveis e até mesmo idolatráveis, fetiches! Aquele carro do ano, aquela roupa da moda, aquele tênis, aquela grife, etc., como bem apresenta também o poema de Carlos Drummond de Andrade.

Fetiche significa, originalmente, feitiço, encantamento. A mercadoria, que se tornou um objeto encantado pelo mercado, objeto de profundo desejo e de adoração. E o que é uma crise econômica? Uma crise dessa adoração, desse encantamento, momento em que, por causa da falta de compra e redução nas vendas (muitas vezes, pela falta de dinheiro pela maioria das pessoa), o mercado entra em colapso. Então, os capitalistas, com o mercado, fazem? Em sua adoração à riqueza e à ambição desenfreadas, sacrifica a vida de milhões e milhões de pessoas, desempregadas e, muitas, levadas de volta à miséria.

No século 19 (XIX), crises de superprodução eram comuns. Produzia-se além do poder de consumo das pessoas, então sobrava muito, perdas podiam ser grandes. E a solução? Reduzir a produção, diminuindo a quantidade de trabalhadores(as), levados(as) ao desemprego e sujeitos, mais ainda, a salários curtíssimos – algo similar ao que ocorre no mundo atual –, no intuito de manter as riquezas do capital. O capital transforma as pessoas em coisas, palavra que aparece tanto no poema de Drummond (século 20 [XX]) quanto, antes dele, em Karl Marx (século 19 [XIX]).

O ser humano alienado – tornado outro –, ou seja, alguém sem identidade, torna-se coisa. Marx usa o termo reificação, ação de tornar-se res (palavra do latim que significa coisa) – coisificação. Daí, como bem aparece no poema, o Eu tornar-se “coisa, coisamente”.

A alienação – perda de identidade de produtor(a) de mercadorias, perda de identidade das pessoas enquanto pessoas – reforça a exploração, escondendo a realidade dessa exploração. Uma crise econômica, como a atual, no Brasil e no mundo, por exemplo, aparece ideologicamente como crise da falta de venda de mercadorias, como fruto do desaquecimento do mercado, não como fruto da reificação, da coisificação de milhões e milhões de trabalhadores(as) e de suas famílias. Ao deus mercado, junto com a ambição desenfreada em busca do aumento das riquezas de empresas e bancos, sacrificam-se vidas, famílias inteiras. Criam-se aparências, como a de que a culpa é também da Previdência ou das leis trabalhistas ditas antigas ou ultrapassadas. Esconde-se que, por trás, existe, no fundo, a exploração e milhões de pessoas cujo trabalho sustenta o modo de produção capitalista. Mexer em direitos de trabalhadores(as) para aumentar as riquezas e o poder econômico e político de grandes empresários, empresas multinacionais, investidores nacionais e estrangeiros, latifundiários e outros, a quem as reformas diretamente vão beneficiar e que não sofrerão com as perdas sofridas por aqueles(as).

Além dos seres humanos (operários e outros trabalhadores), o próprio mundo natural continua a ser sacrificado pelo capital. Uma das razões dos impasses em conferências climáticas, das saídas de grandes poluidores mundiais de tratados internacionais, é a produção de mercadorias e bens, sejam estes de compra e venda diretas, em mercados comuns, sejam eles bens financeiros (ações e outros produtos presentes em bolsas de valores). Uma produção fundada na exploração, de muitas formas, como as já apresentadas: mais valia, salários baixíssimos, horas extras não pagas, perda de direitos trabalhistas (na previdência, nas leis, etc.), etc. A própria corrupção, nas negociações e até na política aliada aos interesses do capital, é um meio de exploração – pessoas e grupos ricos se enriquecem às custas também do roubo do que é coletivo. Dentre os resultados, igualmente se encontram milhares de mortes em hospitais e serviços públicos de saúde, pessoas morrendo de fome em continentes inteiros, como é o caso da África, das Américas e outros, e tantos desmandos.

As mercadorias fetichizadas, não vistas mais como produtos frutos do trabalho explorado mas como bens de consumo, tornam-se objetos de desejo e de adoração, reforçados pela propaganda constante, seja na televisão, seja no rádio, em outdoors e por outros meios de comunicação, seja, como mostra bem o poema de Drummond, através da própria roupa, ou melhor, do próprio corpo, que estampa marcas e ideias de consumo, realizando gratuita e escravizadamente (“escravo da matéria anunciada”) a tal propaganda. Ao fetiche reforçado da mercadoria todos estão sujeitos: adultos, idosos, jovens, homens, mulheres e crianças. Aos fundamentos e às consequências do mercado e até de seu descontrole também!

E aqui um comentário sobre a “matéria anunciada”, da qual se torna escravo, perdendo a identidade, como aparece no poema. Matéria é o estofo, o conteúdo de que que uma mercadoria é feita. Curiosamente, a mercadoria é apresentada como matéria. Tem-se aqui uma metonímia – figura de linguagem que troca, neste caso, o contido (o bem, mercadoria) pelo conteúdo de que ele é composto. E não aparece à toa. A matéria transformada pelo trabalho se torna mercadoria, que é anunciada por meio das etiquetas. As mercadorias expostas à venda nos mercados, em sua imensa maioria, são, na verdade, matérias anunciadas, matérias em sua essência – diferentemente da essência humana, responsável pela identidade das pessoas enquanto seres inigualáveis, em sua “invencível condição”.

Crises econômicas (e políticas) trazem consigo, entre outros males, o desemprego. Ora, o desemprego, no sistema capitalista, também faz parte da exploração: empurra para baixo salários, obriga a realização de horas extras sem reclamação, oferece um exército de mão-de-obra barata constante, reduz o desejo de greve e desarticula movimentos de luta em prol dos(as) trabalhadores(as), possibilita que uma reforma trabalhista injusta – que leva à perda de direitos e ao aumento da exploração capitalista – seja engolida por goela abaixo pela imensa maioria daqueles(as) trabalhadores(as) desempregados(as) e também pelos(as) que estão empregados(as) sem reação e sem reclamação. Obriga a realização também de reformas político-econômicas injustas, a perda de bens coletivos da maioria, mas mantendo privilégios de quem dispõe de imensas riquezas nas mãos.

Guerras e violência entram, igualmente, nesse contexto. Mais de quinhentas mil pessoas mortas em guerra na Síria, milhares mortas na África, outros milhares pela violência no Brasil e em países do mundo todo (milhões de pessoas, se somados os milhares). Invasões, manutenção de exércitos (tropas) e outros meios de demonstração e sustentação do poder são outros fatos. Pessoas que perderam a identidade, que se tornaram coisas. Fetiche da mercadoria, fetiche do poder e da riqueza. Reificação (coisificação) de seres humanos, similar àquela presente no texto de Carlos Drummond de Andrade e que a reforça. Para que o consumo reificado de mercadorias e bens ocorra, além da identidade, pessoas perdem a vida e o mundo natural, com os seres humanos dentro dele, sofre com o aquecimento global e outros desastres naturais e humanos.

REFERÊNCIAS:

ANDRADE, Carlos Drummond de. Eu, etiqueta. Apud: PENSADOR UOL. Disponível em: https://www.pensador.com/frase/MjAyODM0/  Acesso em 04 de junho de 2017.

ARANHA, Maria Lúcia de Arruda e MARTINS, Maria Helena Pires. Propaganda e Ideologia. IN: _________________________. FILOSOFANDO: Introdução à Filosofia. São Paulo, Moderna, 1994.

ARANHA, Maria Lúcia de Arruda e MARTINS, Maria Helena Pires. FILOSOFANDO: Introdução à Filosofia. São Paulo, Moderna, 2012.