sábado, 24 de setembro de 2016

CAMÕES E A FILOSOFIA 1: UM ESTUDO DO GEOCENTRISMO NOS LUSÍADAS, COM DESENHOS. (Prof. José Antônio Brazão.)

Primeira parte: Estudo do texto camoniano. Temática: O geocentrismo aristotélico-ptolomaico.

SECRETARIA DA EDUCAÇÃO, CULTURA E ESPORTE DO ESTADO DE GOIÁS
SUBSECRETARIA METROPOLITANA DE EDUCAÇÃO DE GOIÂNIA
COLÉGIO ESTADUAL DEPUTADO JOSÉ DE ASSIS

PROF. JOSÉ ANTÔNIO BRAZÃO. FILOSOFIA – Segundos anos do ensino médio e EP2.

NOME: _________________________________________________. No.__________.

DATA: ________\__________\2016. TRABALHO DE LEVANTAMENTO DE INFORMAÇÕES SOBRE TEXTO NÃO FILOSÓFICO TRATADO FILOSOFICAMENTE.
3º bimestre de 2016.
Leia atentamente o poema a seguir, de Camões. Referente ao Geocentrismo.

TRECHO DE OS LUSÍADAS REFERENTE AO GEOCENTRISMO DE CLÁUDIO PTOLOMEU:

OS LUSÍADAS, DE CAMÕES
(Comentários de João Manoel Mimoso)
Encontrado em:
Texto de Camões:
Canto X estâncias [estrofes] 76-91
Tétis revela ao Gama a Máquina do Mundo- no trecho mais extraordinário d'Os Lusíadas Vasco da Gama recebe dos deuses, em recompensa dos seus trabalhos, o Conhecimento e é-lhe revelado o funcionamento do Universo de acordo com o modelo ptolomaico.
76) "Faz-te mercê, barão, a Sapiência
Suprema de, cos olhos corporais,
veres o que não pode a vã ciência
dos errados e míseros mortais.
Segue-me firme e forte, com prudência,
por este monte espesso, tu cos mais."
Assim lhe diz e o guia por um mato
árduo, difícil, duro a humano trato.
Tétis guia Vasco da Gama por um caminho
árduo que talvez simbolize a ignorância
que há a vencer para atingir o Saber.
77) Não andam muito que no erguido cume
se acharam, onde um campo se esmaltava
de esmeraldas, rubis, tais que presume
a vista que divino chão pisava.
Aqui um globo veem no ar, que o lume
claríssimo por ele penetrava,
de modo que o seu centro está evidente,
como a sua superfície, claramente.
o lume claríssimo- a luz forte
(penetrava no globo- isto é, era transparente).
79) Uniforme, perfeito, em si sustido,
qual, enfim, o Arquétipo que o criou.
Vendo o Gama este globo, comovido
de espanto e de desejo ali ficou.
Diz-lhe a Deusa: "O transunto, reduzido
em pequeno volume, aqui te dou
do Mundo aos olhos teus, para que vejas
por onde vás e irás e o que desejas."
em si sustido- funcionando por si só, sem
intervenção externa (mas
talvez se refira simplesmente ao facto do globo
estar suspenso no ar,
sem apoio externo); qual... o Arquétipo que o criou-
igual à imagem mental (arquétipo) ou plano
divino segundo o qual foi criado
(a maiúscula é usada por de tratar de um plano de Deus);
transunto- cópia, modelo.
80) "Vês aqui a grande Máquina do Mundo,
etérea e elemental, que fabricada
assim foi do Saber, alto e profundo,
que é sem princípio e meta limitada.
Quem cerca em derredor este rotundo
globo e sua superfície tão limada,
é Deus: mas o que é Deus ninguém o entende,
que a tanto o engenho humano não se estende"
etérea e elemental- pensava-se que o Universo tinha
uma parte formada dos 4 elementos
(terra, ar, água e fogo)
e outra não-elemental, formada de éter (etérea);
limada- lisa e polida.
81) "Este orbe que, primeiro, vai cercando
os outros mais pequenos que em si tem,
que está com luz tão clara radiando
que a vista cega e a mente vil também,
Empíreo se nomeia, onde logrando
puras almas estão daquele Bem
tamanho, que ele só se entende e alcança,
de quem não há no mundo semelhança."
segundo o modelo ptolomaico o universo
era formado por onze esferas (orbes), com a
Terra por centro.
A esfera externa, denominada "Empíreo"
era imóvel e etérea e nela estavam as almas
que tinham ascendido ao Paraíso.
82) "Aqui, só verdadeiros, gloriosos
divos estão, porque eu, Saturno e Jano,
Júpiter, Juno, fomos fabulosos,
fingidos de mortal e cego engano.
Só para fazer versos deleitosos
servimos; e, se mais o trato humano
nos pode dar, é só que o nome nosso
nestas estrelas pôs o engenho vosso."
divos- almas que ascenderam ao Divino, santos;
nome nosso nestas estrelas (etc...)-
Tétis reconhece que os deuses do Olimpo
são fabulosos e só existem nos nomes que
foram dados aos planetas (aqui chamados "estrelas").
85)  "Enfim que o Sumo Deus, que por segundas
causas obra no Mundo, tudo manda.
E tornando a contar-te das profundas
obras da Mão Divina veneranda,
debaixo deste círculo onde as mundas
almas divinas gozam, que não anda,
outro corre, tão leve e tão ligeiro
que não se enxerga: é o Móbil Primeiro."
que não anda- a 11ª esfera (Empíreo) era imóvel;
Móbil Primeiro- a 10ª esfera,
denominada Móbil Primeiro,
rodava rapidamente (à razão de uma rotação por dia)
e arrastava todas as outras que, assim,
eram por ela movidas a diferentes
velocidades de rotação (ver na estância seguinte
"com este ...movimento vão todos os que
dentro tem no seio").
86) "Com este rapto e grande movimento
vão todos os que dentro tem no seio;
por obra deste, o Sol, andando a tento,
o dia e noite faz, com curso alheio.
Debaixo deste leve, anda outro lento,
tão lento e sobjugado a duro freio,
que enquanto Febo, de luz nunca escasso,
duzentos cursos faz, dá ele um passo."
com curso alheio- sem movimento próprio
mas arrastado pelo movimento alheio (do Móbil Primeiro);
anda outro lento- referência à 9ª esfera,
aquosa, chamada Cristalino, que era suposta mover-se lentamente;
enquanto Febo (etc...)- enquanto o Sol completa
duzentos ciclos (isto é, em duzentos anos),
o Cristalino roda apenas um grau.
87) "Olha estoutro debaixo, que esmaltado
de corpos lisos anda e radiantes,
que também nele tem curso ordenado
e nos seus axes correm cintilantes.
Bem vês como se veste e faz ornado
co largo Cinto d' Ouro, que estelantes
animais doze traz afigurados,
aposentos de Febo limitados."
estoutro debaixo- a 8ª esfera (Firmamento) onde
existiam as estrelas (corpos lisos);
co largo Cinto d'Ouro (etc...)- o Zodíaco com
as doze constelações que são os Signos;
aposentos de Febo limitados- o Sol está em
cada um dos signos durante um mês apenas.
89) "Debaixo deste grande firmamento,
vês o céu de Saturno, deus antigo;
Júpiter logo faz o movimento,
e Marte abaixo, bélico inimigo;
o claro Olho do Céu, no quarto assento,
e Vénus, que os amores traz consigo;
Mercúrio, de eloquência soberana;
com três rostos, debaixo vai Diana."
Referência às 7 últimas esferas: a do planeta Saturno;
a de Júpiter, a de Marte; a do Sol (o claro Olho do Céu);
a de Vénus, a de Mercúrio; e, finalmente a da Lua,
cujos três rostos são as três fases (ou "faces")
em que está visível.
90) "Em todos estes orbes, diferente
curso verás, nuns grave e noutros leve;
ora fogem do centro longamente,
ora da Terra estão caminho breve,
bem como quis o Padre omnipotente,
que o fogo fez e o ar, o vento e a neve,
os quais verás que jazem mais adentro
e tem co mar a Terra por seu centro."
nuns grave e noutros leve- uns
lentos e os outros rápidos;
ora fogem do centro (etc...)- os planetas eram
supostos ter órbitas circulares (na realidade são
elípticas com o Sol num dos focos), excêntricas
em relação à Terra. Durante o seu curso tanto
se afastam muito (fogem do centro longamente),
como se aproximam da Terra
(ora da Terra estão caminho breve).
91) "Neste centro, pousada dos humanos,
que não sòmente, ousados, se contentam
de sofrerem da terra firme os danos,
mas inda o mar instável exprimentam,
verás as várias partes, que os insanos
mares dividem, onde se aposentam
várias nações que mandam vários reis,
vários costumes seus e várias leis."
várias leis- várias religiões.
[Orbe
substantivo masculino
1. corpo esférico em toda a sua extensão; esfera, globo, redondeza.
2. região, linha ou movimento circular; círculo, circunferência, volta. (Em: https://www.google.com.br/#q=orbe)]
João Manuel Mimoso.

O poema de Luís Vaz de Camões, poeta português do século XVI, descreve poeticamente o sistema astronômico geocêntrico, aceito pela Igreja Católica, a ciência medieval europeia e pelo próprio Camões.

Questão 1: Cite cinco nomes de deuses(as) gregos(as) citados(as) no texto (2,0): __________, ______________,_______________,___________________, _________________________.

Questão 2: As constelações de animais citadas no poema recebem o seguinte nome: ___________________________________________.(0,5)

Questão 3: Acreditava-se que o universo era dividido em duas grandes partes, a saber:

Mundo sublunar e _______________________________________. (0,5)

Questão 4: Cada uma das partes do universo era composta por elementos, com os seguintes nomes:

Mundo sublunar (Terra): _________, __________, __________ e __________.

Mundo supralunar (astros e Sol): __________.(0,5)

Questão 5: “Em todos estes orbes, diferente\ curso verás, nuns grave e noutros leve;\ora fogem do centro longamente” (estrofe 90). Isto porque as órbitas dos planetas eram consideradas de dois tipos: _________________________(maiores) e ____________________________ (menores, mas embutidas nas maiores). (1,0)

Questão 6: Releia e diga quantas vezes, NO POEMA, aparece a palavra ORBE(S):________. Circule, no poema, todas as vezes em que aparece. (1,0)

Questão 7: O sistema geocêntrico foi suplantado pelo sistema _____________________, do astrônomo polonês _____________________________________(séc. XV\XVI). (0,5)

Questão 8 (complemento): Faça, COM COMPASSO, numa folha A4 ou de caderno, os desenhos dos dois sistemas. (1,0 ponto cada um, se ficar bem feito). Use COMPASSO.

Faça bem feito! Bom estudo e bom trabalho. Diálogo interdisciplinar com a Língua Portuguesa.

LEVANTAMENTO DE PALAVRAS DESCONHECIDAS OU POUCO CONHECIDAS DO
POEMA DE CAMÕES E SEUS SIGNIFICADOS: (Procure no dicionário de português e anote.)
PALAVRA
SIGNIFICADOS
Sapiência
Mísero(s)
Lume
Sustido
Arquétipo
Transunto
Máquina
Etéreo, etérea
Elemental
Rotundo
Engenho
Limado, limada
Vil
Empíreo
Lograr (logrando)
Divo(s)
Fabuloso
Deleitoso
Trato (subst..)
Sumo
Venerando, veneranda
Móbil
Tento (subst..)
Sobjugado (Subjugado)
Alheio
Estoutro
Axe
Estelante
Aposento (subst..)
Bélico
Assento (subst..)
Eloquência
Padre
Omnipotente (onipotente)
Exprimentar (experimentar)
Insano
Costume(s)
PALAVRAS COMPLEMENTARES (DE FILOSOFIA) que não estão no poema:
Platonismo
Neoplatonismo
Geocentrismo
Faça bem feito! Bom estudo e bom trabalho. Diálogo interdisciplinar com a Língua Portuguesa.

Segunda parte: Tratamento do texto com auxílio de desenhos simples, em sala de aula, com uso do quadro e folhas.












Abaixo: uma comparação entre Camões e Platão, que nasceu do comentário de Mimoso (ver acima), quando diz
"Tétis guia Vasco da Gama por um caminho

árduo que talvez simbolize a ignorância
que há a vencer para atingir o Saber."
 E também nascido do paralelismo que pode ser feito entre o escritor moderno (Camões) e o filósofo da antiguidade (Platão). Curiosamente, tanto os marinheiros de Vasco da Gama, este, apontados no Canto X de Os Lusíadas, Camões, e o prisioneiro liberto, do texto do capítulo sétimo de A República, de Platão, realizam uma subida, que os leva a um lugar luminoso, onde vêm a conhecer algo novo. E os caminhos, tanto para o cume da montanha (ou morro alto) como o da saída da caverna, foram difíceis, porém tiveram a recompensa do conhecimento, do saber, da verdade.











Diálogo interdisciplinar e muito rico entre a Filosofia e a Língua Portuguesa, em sala de aula.