quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

VOLTAIRE (1694 - 1778) (Prof. José Antônio Brazão.)

Voltaire (1694 – 1779), filósofo iluminista francês e um dos grandes escritores do século XVIII. Dentre seus escritos encontram-se contos, peças teatrais, milhares de cartas, ensaios, estudos os mais diversos, etc. Escrevia, praticamente, todos os dias.
Através de seus textos, buscou divulgar valores humanos e éticos, as descobertas nas áreas da ciência e da filosofia, novidades de seu tempo, e punha em discussão a questão da corrupção e das injustiças. Discutiu também a respeito da religião e da necessidade da boa convivência entre pessoas de religiões diferentes.
Boa parte de seus escritos encontra-se na forma de sátira. Neles critica preconceitos religiosos e sociais, problemas políticos e econômicos, etc.
Voltaire passou cerca de dois anos na Inglaterra, para onde foi exilado após discussão com um nobre e, subsequentemente, prisão. Naquele país, conviveu com intelectuais os mais diversos e buscou aprender muito.
Ao retornar à França, escreveu as Cartas Filosóficas ou Cartas sobre os ingleses. Nelas discutiu temas como a diversidade religiosa e a boa convivência com pessoas que pensam diferentemente, a produtividade da classe burguesa em contradição com a inépcia de muitos nobres, a ciência e as descobertas de seu tempo.
Outro de seus livros conhecidos é o conto Candide ou Do Otimismo.Através de uma viagem feita por seu personagem principal, Cândido, Voltaire trata de temas como o mundo, a natureza, a sociedade de seu tempo, injustiças, corrupções, a religião e ideias do filósofo alemão Leibniz. Este, em uma de suas obras, havia afirmado que vivemos no melhor dos mundos possíveis. Voltaire põe, justamente, em discussão essa afirmação. Através dos sofrimentos e das dificuldades que Cândido teve que enfrentar, demonstrou que não vivemos, exata e perfeitamente, no melhor dos mundos possíveis.
Curiosamente, muitas personagens dos contos de Voltaire deixam transparecer aspectos marcantes de sua própria vida. Cândido, Zadig e outros, por exemplo, fizeram viagens, empurrados por situações diversas a destinos diferentes. Voltaire também teve que viajar e viveu exilado vários anos de sua vida, em razão de sua sátira e das críticas que fazia à sociedade de seu tempo.
Voltaire foi um grande defensor da tolerância religiosa, tendo, inclusive, escrito um livro sobre esta, inspirado em outro de John Locke, que trata do mesmo tema. No tempo em que viveu, de fato, ainda ocorriam muitos conflitos causados pela intolerância religiosa, aliada à ambição. Milhares de pessoas morreram por causa disto.
Voltaire achava um absurdo pessoas morrerem ou serem discriminadas por sua religião e pelos valores em que acreditavam. Voltaire, em suas Cartas Filosóficas, afirma que onde há uma religião há tirania, onde há duas, há luta entre elas, mas onde há grande diversidade religiosa as pessoas vivem em paz. Curiosamente, é um recado ainda forte em nosso tempo, o século XXI. A tolerância se faz sempre necessária, pois trata-se de uma forma positiva de aceitação do diferente e de boa convivência com pessoas que têm pensamentos, ideias, valores e modos de ser diferentes das demais. A tolerância é justamente o respeito e o empenho em bem lidar com aqueles que têm posturas diferentes, valores, etc., como foi dito.
Voltaire também foi um filósofo extremamente interessado pela ciência e pelas descobertas de seu tempo. No campo da filosofia foi fortemente influenciado pelos filósofos empiristas ingleses, para os quais o conhecimento do mundo se dá por meio da experiência, isto é, da observação e da apreensão das informações sensíveis do mundo, em conjunção com o trabalho da razão, que elabora o conhecimento a partir daquelas informações, formando ideias dos mais variados tipos. Dentre esses filósofos encontra-se John Locke, que afirmava ser a mente uma tabula rasa, isto é um papel em branco, em que as informações sensíveis vão sendo escritas, e para o qual há ideias simples, como cavalo e homem, e complexas, como centauro e outras formadas a partir da junção das simples. Voltaire conheceu ainda Descartes, que menciona, por exemplo, nas Cartas Filosóficas, Leibniz e outros, que leu e com alguns dos quais conviveu na França, na Inglaterra e outros lugares por que passou.
No que diz respeito ao seu interesse pelas ciências de seu tempo, tornou-se um grande divulgador das descobertas de Newton e de outros cientistas dos séculos anteriores e do seu próprio século. Em suas Cartas Filosóficas, por exemplo, menciona a vacina contra a varíola, inoculada a partir do pus de pessoas que a tiveram e que vinha sendo aplicada na Inglaterra e em outros lugares, a lei newtoniana da gravidade, etc. Encantou-se pela forma como o universo passara a ser conhecido e tratado, com sua imensidão e sua harmonia.
Em seu conto Micrômegas, por exemplo, trata de dois gigantes, vindos um do sistema da estrela Sírius e outro do planeta Saturno, que viajaram pelo universo afora até chegar à Terra, onde encontraram-se com filósofos que viajavam em um minúsculo barco. Com eles discutiram temas como o conhecimento, as leis do universo, a sociedade humana e seus conflitos, etc. Nele Voltaire coloca o homem como um pequeno átomo, diante de um imenso universo, mas um ser dotado de grande valor e inteligência.
Os contos de Voltaire, com efeito, serviram imensamente à divulgação popular de uma série de ideias, valores e conceitos. Neles fez oposição à Inquisição (tribunal religioso que julgava casos considerados heréticos), chamou atenção para a questão da vida humana e de seu imenso valor, satirizou a corrupção (Zadig, por exemplo, tendo-se tornado conselheiro de um rei, teve que se deparar com a escolha de um ministro das finanças, acabando por propor o nome de um que, com outros, havia dançado em uma sala cheia de objetos de valor e jóias, não tendo se apossado de nada) e a nobreza parasitária de seu tempo (com algumas exceções), principalmente a dependente do rei, e defendeu os avanços da burguesia que, com o comércio, trazia riquezas para as nações de seu tempo, tratou da escravidão e de uma série de questões de seu tempo.
Em razão de suas críticas picantes, de sua sátira, Voltaire sofreu perseguição política e religiosa. Daí o fato de ter ficado fora da França por várias vezes. Isto, como foi dito anteriormente, refletiu-se em seus escritos. Voltaire é um filósofo e literato que escreve bem, com leveza e com riqueza de ideias. Vale a pena ser lido e estudado.
Voltaire foi um grande leitor e um excelente escritor, expositor e defensor de ideias. Dentre suas obras encontram-se: Édipo (uma tragédia), A Henriada, Cartas Filosóficas, Ensaio sobre os costumes e o espírito das nações, Dicionário Filosófico, contos como Zadig, Cândido, A Princesa da Babilônia, Micrômegas e muitos outros.