segunda-feira, 9 de setembro de 2013

O UNIVERSO – TRÊS PERSPECTIVAS HISTÓRICAS (Prof. José Antônio Brazão.)

 
NO MUNDO EUROPEU MEDIEVAL

(aprox. séc. IV/V – XV d.C.)

 
1)      Geocêntrico e fechado (finito). Para além dele, a habitação de Deus.

2)      Movimento circular uniforme dos astros. Órbitas circulares. Círculo: símbolo da perfeição, pois é a única figura (forma) geométrica que começa e termina em si mesma.

3)      Criado por Deus, conforme Gênesis 1 – 3.

4)      Regido por Deus, segundo a perspectiva religiosa então predominante (cristã).

5)      Universo macroscópico: Terra (parada no centro), Lua, Mercúrio, Vênus, Sol, Marte, Júpiter, Saturno e esfera das estrelas. O movimento das esferas celestiais ocorre de fora para dentro, reduzindo-se gradativamente, até parar no centro (Terra estática).

6)      Hierarquizado: mundo sublunar (Terra) e mundo supralunar (Lua e demais astros).

7)      O poder de Deus dirige o universo e o põe em movimento.

8)      Universo heterogêneo: há dois diferentes níveis (sublunar e supralunar), com leis diferentes [o mundo supralunar não está sujeito ao devir e seu movimento é regular; o mundo sublunar está sujeito ao devir (mudança) e seus movimentos são irregulares].

9)      Criado em seis dias, de acordo com a Bíblia (Gênesis 1).

10)  Composições diferentes: a) Mundo sublunar (Terra): composto pelos 4 elementos (raízes) de Empédocles (água, ar, terra e fogo); b) Mundo Supralunar (Lua e demais astros): composto por éter, substância pura e cristalina, não havendo vácuo. O mundo supralunar não tem defeitos, é harmônico e bem ordenado.

11)  A vida na Terra foi criada por Deus e definida como aí está (criacionismo bíblico): Gênesis 1 – 3. Homem e mulher são imagem e semelhança de Deus (Gn. 1): “Deus disse: ‘Façamos o homem à nossa imagem, como nossa semelhança, e que eles dominem sobre os peixes do ar, as aves do céu, os animais domésticos, todas as feras e todos os répteis que rastejam sobre a terra.’ Deus criou o homem à sua imagem, à imagem de Deus ele o criou, homem e mulher ele os criou.” (Gênesis 1, 26 -27).

12)  Destaques em seu estudo (princípio de autoridade): Bíblia, Cláudio Ptolomeu (séc. II d.C.), Aristóteles (séc. IV a. C.), dogmas e ensinamentos da Igreja Católica eram as autoridades que davam bases a essa perspectiva. Cláudio Ptolomeu, tentando corrigir distorções, acrescentou epiciclos às órbitas circulares.

NO MUNDO OCIDENTAL MODERNO

(aprox.. séc.XVI - XVIII)

 
1)     Entre o finito (heliocentrismo copernicano) e o infinito (p. ex.: Giordano Bruno e Blaise Pascal).

2)      Com Kepler: descoberta do movimento elíptico dos planetas. Kepler descobriu, inclusive, leis que regem o movimento planetário. Newton comprovou o movimento elíptico planetário, ao descobrir a lei da gravidade, e Halley estudou detidamente o dos cometas, tendo descoberto um que leva seu nome.
 
3)      De acordo com os religiosos, criado por Deus. De acordo com ateus, tudo é explicado pela matéria e pelas reações e movimentos que nela ocorrem. Vale lembrar que o geocentrismo conviveu, por algum tempo, ainda, com o heliocentrismo. O sistema astronômico geocêntrico é citado, inclusive, em Os Lusíadas, do escritor português, renascentista, Camões.

4)      Abertura para uma perspectiva mais científica, com novas descobertas acerca do universo e do mundo natural (Revolução Científica Moderna). Leis naturais regem o universo (ex.: gravidade e leis descobertas por Newton, Kepler e outros).

5)      Universo macroscópico [Sol (no centro), Mercúrio, Vênus, Terra, Marte, Júpiter, esfera das estrelas (sistema de Nicolau Copérnico)] e microscópico (invenção do microscópio e, com ele, a descoberta de células e seres unicelulares).

6)      Progressivamente foi-se perdendo a noção de hierarquia no universo. (Ver no. 10 a seguir.)

7)      Leis naturais regem o universo (ex.: inércia, gravidade...).

8)      Homogêneo. As mesmas leis governam o universo e a Terra. P. ex., a lei da gravidade explica tanto o movimento dos astros como a queda de uma maçã. No campo da física, ainda, a lei da inércia, a lei da ação e reação, dentre outras.

9)      Durante bom tempo, permanência da contagem de tempo bíblica.

10)  Galileu Galilei descobriu buracos, montes e vales na Lua, manchas no Sol, luas em Júpiter, com o  telescópio (luneta aperfeiçoada), pondo abaixo a distinção entre sublunar e supralunar. Antes dele, Copérnico já havia descoberto que a Terra é nada mais que um planeta que, como os outros, gira ao redor do Sol (translação anual) e de si mesma (rotação diária).

11)  Início de descobertas dos seres unicelulares. O microscópio foi inventado. Porém, o criacionismo bíblico manteve-se entre os religiosos e em boa parte do campo das ciências. Michelangelo Buonarroti (1475 – 1564), o pintor italiano renascentista, na Capela Sistina do Vaticano, inclusive, havia pintado o momento da criação do homem por Deus. Outros pintores renascentistas e posteriores também fizeram pinturas da criação. O divino e o humano juntos.

12)  Destaques em seu estudo: Nicolau Copérnico, Galileu Galilei, Johannes Kepler e Isaac Newton, dentre outros. No campo da Filosofia, vale a pena citar a aplicação comparativa da precisão da máquina ao corpo humano em René Descartes e o materialismo de Thomas Hobbes, o ateísmo de certos iluministas(ex.: Diderot).

NO MUNDO CONTEMPORÂNEO

(aprox. séc. XIX – XXI)

1)      Sem limites visíveis. Dispõe de galáxias que estão em movimento contínuo, desde o BIG BANG (a Grande Explosão originária).

2)      Movimento elíptico dos planetas e outros astros (ex.: cometas). Outros movimentos na natureza: retilíneo, curvilíneo, uniforme, variado, uniformemente variado, acelerado, etc.

3)      Perspectiva explicativa predominante no campo do saber: científica. A ciência busca objetividade e universalidade, mas NÃO é neutra. As religiões continuam existindo e dão também suas explicações teológicas para o mundo. Porém, a ciência busca uma universalidade que não se encontra nas explicações de diferentes religiões e no senso comum.

4)      A ciência não apela para o divino. Leis naturais. O universo originou-se a partir do Big Bang (a grande explosão), há mais ou menos uns 13,5 bilhões de anos.

5)      Entre o imenso (macro) universo, composto por bilhões de galáxias, muitos sistemas solares (ou melhor, estelares), buracos negros, etc., e o minúsculo (micro) universo de átomos, subpartículas, microrganismos. Partículas e subpartículas atômicas (exemplos): elétrons, nêutrons, prótons, quarks, bósons, etc.

6)      Não hierarquizado. Nele, aliás, existem muitos objetos celestiais, para além dos que já eram conhecidos, como as galáxias e os buracos negros.

7)      Leis naturais regem o universo. Ex.: relatividade, leis quânticas, além da gravidade e outras.

8)      Os elementos químicos estão espalhados em todo o universo. Além das leis já descobertas pela física clássica, as leis da relatividade (de Einstein) e outras referentes ao mundo das partículas e subpartículas.

9)      Universo com cerca de 13,5 bilhões de anos. Nascido do BIG BANG. A Terra tem cerca de 4,5 bilhões de anos.

10)  Composto por átomos (mais de cem elementos químicos) e conduzido por leis universais. O vácuo existe. Os átomos, por sua vez, são compostos de partículas ainda menores, chamadas subpartículas atômicas. Não se descobriu, ainda, uma lei unificada para todos os fenômenos físicos e universais, apesar de tentativas como as de Einstein.  

11)  Evolucionismo: as espécies existentes surgiram, segundo Darwin, por um processo de evolução por meio da seleção natural, ao longo de milhões (hoje se sabe que bilhões) de anos. Comprovação fóssil, geológica e genética. Choque com o criacionismo e a semelhança com relação a Deus. No evolucionismo, com efeito, os seres humanos evoluíram a partir de outras formas vivas, primitivas, e têm grande semelhança com relação a outros animais e proximidades até mesmo com as plantas. Curiosamente, no Gênesis 1, apenas eles se assemelham a Deus, como imagem e semelhança. Criacionistas britânicos e de outros lugares atacaram duramente as teses evolucionistas de Darwin. (Ver o número 11 relativo ao mundo medieval.)

12)  Destaques em seu estudo: Albert Einstein, Max Plank, Marie Curie e seu esposo Pierre Curie, Edwin Hubble e outros, inclusive bem próximos, como Stephen Hawking e Carl Sagan. Quanto à vida: Charles Darwin, Gregor Mendel, geneticistas, biólogos e outros. No campo da filosofia: as descobertas da Física, p. ex., de Einstein, tiveram forte influência sobre o POSITIVISMO LÓGICO. As descobertas científicas apontadas, além de outras, exerceram, sem dúvida, influências fortes em várias outras correntes da filosofia contemporânea.

Referências simples: livros (1) CONVITE À FILOSOFIA (Ed. Ática).  (2) FILOSOFANDO: INTRODUÇÃO À FILOSOFIA (Ed. Moderna).  (3) FUNDAMENTOS DE FILOSOFIA (Ed. Saraiva). Todos atualizados. (4) BÍBLIA DE JERUSALÉM (Ed. Paulus). SITE: www.wikipedia.org .

Para debater em sala de aula, acerca do embate entre criacionismo e evolucionismo:
Sendo parentes dos símios e de outros animais, em termos evolutivos, como ficam a imagem e a semelhança entre os seres humanos e Deus? (Por esta pergunta pode-se ter uma ideia da dificuldade encontrada por Darwin em publicar logo suas ideias, no século XIX, o que vale a pena também ser debatido em sala de aula.)
ATIVIDADE: Em uma ou mais folhas brancas ou do caderno, faça um DESENHO para cada uma das perspectivas apresentadas. Pode usar lápis e/ou caneta(s). No caso das duas primeiras perspectivas, caso disponha de um compasso, utilize-o, a fim de dar precisão à circularidade das órbitas dos astros celestiais. Professor(a) de Filosofia, lembre-se: O desenho ajuda a fixar e a entender melhor o conteúdo apresentado em cada uma das perspectivas. Pode ainda ser feito um debate, a fim de perceber como a filosofia se põe, ao longo do tempo, diante das discussões acerca do mundo, da realidade e como estas tinham e têm repercussões a nível de poder, seja ele político, religioso, cultural, científico e até mesmo econômico. Podem ser feitos cartazes, em pequenos grupos de estudantes, em todas as turmas. Outras atividades: use a criatividade, invente. A proposta é enriquecer o aprendizado e reforça-lo, ajudando o desenvolvimento da capacidade de reflexão filosófica e da postura dos e das estudantes diante da realidade e do pensamento científico, geral e do conhecimento.
Vale lembrar o cuidado necessário com a datação: sem rigidez! A história é fluida e não se prende a datas fixas. Estas, porém, nos dão uma ideia de regularidade e de apresentação didática, mantendo-se importantes para o aprendizado.