segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

FILOSOFIA MODERNA - RENÉ DESCARTES (Professor José Antônio Brazão.)

Por filosofia moderna entendemos aqui a filosofia que vai dos séculos XVI ao XVIII, aproximadamente. Dentro da filosofia moderna, primeiramente, vamos destacar a questão do conhecimento.
A preocupação com o conhecimento e a forma como ele é construído esteve claramente presente nas ideias de vários filósofos dessa época, destacando-se, particularmente, duas correntes: o racionalismo e o empirismo. Por racionalismo entenda-se a filosofia que toma a razão como base primária do conhecimento humano. Todo conhecimento verdadeiro teria, pois, de fato, sua fonte na razão. O conhecimento é uma elaboração racional por excelência. Por empirismo entenda-se, por sua vez, a filosofia que destaca o papel da experiência na elaboração do conhecimento humano. Todo conhecimento teria, portanto, sua fonte primária na experiência sensível. No contato com o mundo, feito de modo direto, estaria a base do conhecimento. A experiência (empiria, em grego) exerce um papel fundamental para a elaboração do conhecimento, fornecendo a matéria-prima para sua construção.
Dentro do racionalismo, um destaque especial ao filósofo francês René Descartes (1596-1650). Na busca pela compreensão acerca do conhecimento humano, Descartes se propôs um método (caminho, na língua grega) de pesquisa e investigação: o da dúvida. Daí, a expressão dúvida metódica, comumente utilizada ao se falar do método cartesiano. Mas o que é duvidar? Na língua latina dubitare significa, primariamente, encontrar-se entre dois caminhos, não se estando certo, de início, sobre qual seguir. De acordo com o dicionário Priberam, dúvida significa “falta de convencimento, dificuldade em acreditar, suspeita, ponto não decidido ou que se trata de resolver” (http://www.priberam.pt/DLPO/default.aspx?pal=dúvida). Pode-se acrescentar, ainda, incerteza. De fato, para Descartes, é preciso pôr em dúvida o conhecimento da realidade, que pode ser enganoso.
A dúvida, para ele, consistiria em colocar em suspenso qualquer afirmação acerca do real até que se pudesse ter certeza acerca de se ter chegado a um fundamento do conhecer humano. Assim ele mesmo fez. Propôs-se um caminho, ao longo do qual ia pondo tudo em dúvida: a realidade, o corpo, a matemática, radicalizando pouco a pouco, até atingir um ponto onde pudesse firmar o conhecimento humano, um ponto indubitável, fonte primária dos conhecimentos.
Estando em seu quarto, Descartes se perguntou se aquilo que seus olhos estavam vendo era verdade ou não, tendo em vista que também em sonhos se pode ver as coisas tais como são. Portanto, achou por bem colocar em dúvida a existência da realidade que o circundava. A seguir, fez a mesma pergunta quanto ao corpo, colocando sua existência em dúvida. Quanto à matemática, Descartes levantou a hipótese de um gênio enganador, que talvez tivesse insuflado em sua mente ideias matemáticas. Resolveu então também colocar em dúvida as ideias matemáticas. Resolveu pôr em dúvida até mesmo a existência de Deus. O aprofundamento e a radicalização da dúvida cartesiana deu a ela, além de dúvida metódica, também o nome de dúvida hiperbólica, isto é, a dúvida radical, levada ao extremo. Enfim, depois de colocar quase tudo em dúvida, chegou ao fundo de seu ser e aí encontrou algo de que nem mesmo ele poderia duvidar: o eu pensante, comumente dito cogito. Ora, se duvido penso, se penso existo: Cogito ergo sum, Penso, logo existo.
Encontrado no cogito (Eu pensante) a base primária de todos os conhecimentos, Descartes partiu em direção à comprovação da veracidade dos demais pontos de que havia duvidado. O cogito permitiu a ele afirmar a veracidade da existência do eu que pensa, que existe. Dentre as ideias inatas existentes na mente encontra-se a de um ser perfeito e eterno, criador e bondoso. Esse ser só pode ser Deus. Logo, Deus existe. A partir da certeza da existência de Deus, Descartes também comprova a certeza da matemática, pois Deus não é enganador e não permitiria, portanto, que um possível gênio me enganasse. Em seguida, Deus, sendo eterno, também é criador. Portanto, o mundo existe, não é uma ilusão de meus sentidos enganosos, nem de sonho.
Curiosamente, pode-se ver que o movimento de Descartes é duplo: vai do mundo, posto em dúvida, ao eu e, a partir do eu pensante, que carrega consigo algumas ideias inatas, como a de Deus, redescobre a veracidade a respeito do mundo. Deus, portanto, possibilita o estabelecimento de uma ponte entre o homem, enquanto ser (coisa) pensante (res cogitans), e o mundo, interligando ambos.
A partir dessa forma de explicar o conhecimento, partindo do eu que pensa, Descartes é tido como um racionalista, justamente por privilegiar a razão humana como fonte primeira dos conhecimentos verdadeiros.
Descartes, ao estudar a ciência, também veio a propor um método, que conteria quatro princípios básicos de procedimento, a fim de poder chegar a conclusões precisas e verdadeiras. Ei-los resumidamente, conforme a Encarta: “1) não aceitar como verdade nada que não seja claro e distinto; 2) decompor os problemas em suas partes mínimas; 3) deixar o pensamento ir do simples ao complexo; 4) revisar o processo para ter certeza de que não ocorreu nenhum erro.” (Enciclopédia Microsoft® Encarta®. © 1993-2001 Microsoft Corporation.). Em primeiro lugar, toda descoberta deve ser apresentada de forma clara e distinta. Como assim? De forma objetiva, nítida, possibilitando a compreensão e a verificação daqueles que entrarem em contado com aquela descoberta ou conhecimento determinado. Em seguida, decompor um problema ajuda e facilita no entendimento de cada parte desse mesmo problema, possibilitando uma compreensão mais clara de cada parte e de como cada uma une-se às demais formando um todo. Ir do simples ao complexo, isto é, desde os fundamentos básicos, desde as informações mais simples acerca do objeto estudado ou problema a ser resolvido até o todo final, complexo, isto é, a realidade maior, fruto da integração das partes simples, como as pequenas peças de um relógio que, juntas, vêm a formar um todo maior, integrado, o relógio. Enfim, realizados esses passos, é preciso rever o processo seguido na descoberta da verdade, a fim de não deixar rastros de dúvidas.
Descartes não é um cético (alguém que duvida da veracidade do conhecimento) absoluto, que coloca tudo em dúvida a ponto de impossibilitar o conhecimento da verdade. Seu ceticismo é moderado, utilizado como método de pesquisa. A verdade é possível sim, porém mediante o seguimento de um caminho de dúvida, o método, e dos quatro princípios do método acima expostos.
Descartes também foi matemático. Dentre suas descobertas no campo da matemática encontram-se, por exemplo, as coordenadas chamadas cartesianas, nome dado em honra ao próprio René Descartes (em latim: Renato Cartesius).
Para maior aprofundamento, tanto em língua portuguesa quanto em outras, vale a pena ver:
http://www.cfh.ufsc.br/~wfil/moderna.htm
http://educacao.uol.com.br/filosofia/ult3323u29.jhtm
http://www.fafich.ufmg.br/~labfil/aulas/corpo-e-psiquismo-introducao-a-filosofia-de-descartes/
http://plato.stanford.edu/entries/descartes-works/
http://agora.qc.ca/mot.nsf/Dossiers/Rene_Descartes
http://www.fichesdelecture.com/auteur/biographie/228-rene-descartes/
http://www.filosofia.net/materiales/tem/descart.htm