terça-feira, 3 de dezembro de 2013

ANÁLISE ou ESTUDO DE TEXTO FILOSÓFICO COM AUXÍLIO DE DESENHO(S): (Prof. José Antônio Brazão.)

Um desenho ou vários pode(m) ajudar bastante no entendimento de um texto filosófico, podendo ser utilizado como recurso de interpretação textual, juntamente com o texto original e apontando para o conteúdo deste.  Desenhos podem ajudar a melhor entender um texto filosófico. Podem ser feitos pelo(a) professor(a) e pelos(as) estudantes.
 
O texto do(a) filósofo(a) pode ser lido e estudado, parte por parte, com a turma e, a seguir, desenhado, transformado em desenho. Isto pode ajudar a aprofundar a compreensão do texto. Ou pode ser lido e discutido em grupos, que farão seus respectivos desenhos do texto e exporão o que entenderam. É claro, o(a) professor(a) pode e deve intervir, esclarecendo e aprofundando o entendimento coletivo do texto. Pode convidar a turma a olhar os desenhos dos colegas e debater sobre eles, fazendo uma ponte entre o texto filosófico e os desenhos. O desenho não substitui o texto original, mas pode ajudar muito em seu entendimento, juntamente com outros recursos (bons dicionários de filosofia, por exemplo; textos de intérpretes; outros).

A complexidade de um texto filosófico pode ser melhor esclarecida com o auxílio dos desenhos e do debate coletivo. E vale lembrar que tal complexidade, assim como a de outras áreas do conhecimento, desafia o entendimento e põe em ação o raciocínio e a capacidade de abstração, contribuindo para desenvolvê-los e/ou ampliá-los! Isto é fundamental para toda a vida. Pessoas com raciocínio afiado e boa capacidade abstrativa podem fazer muito por si e por todos, ao longo da vida! O diálogo interdisciplinar pode ser muito útil. Por exemplo:

Trecho da Segunda Meditação Metafísica de René Descartes (séc. XVII):

“1. A Meditação que fiz ontem encheu-me o espírito de tantas dúvidas, que doravante não está mais em meu alcance esquecê-las. E, no entanto, não vejo deque maneira poderia resolvê-las; e como se de súbito tivesse caído em águas muito profundas, estou de tal modo surpreso que não posso nem firmar meus pés no fundo, nem nadar para me manter à tona/Esforçar-me-ei, não obstante, e seguirei novamente a mesma via que trilhei ontem, afastando-me de tudo em que poderia imaginar a menor dúvida, da mesma maneira como se eu soubesse que isto fosse absolutamente falso; e continuarei sempre nesse caminho até que tenha encontrado algo de certo, ou, pelo menos, se outra coisa não me for possível, até que tenha aprendido certamente que não há nada no mundo de certo. 2. Arquimedes, para tirar o globo terrestre de seu lugar e transportá-lo para outra parte, não pedia nada mais exceto um ponto que fosse fixo e seguro. Assim, terei o direito de conceber altas esperanças, se for bastante feliz para encontrar somente uma coisa que seja certa e indubitável. 3. Suponho, portanto, que todas as coisas que vejo são falsas; persuado-me de que jamais existiu de tudo quanto minha memória repleta de mentiras me representa; penso não possuir nenhum sentido; creio que o corpo, a figura, a extensão, o movimento e o lugar são apenas ficções de meu espírito. O que poderá, pois, ser considerado verdadeiro? Talvez nenhuma outra coisa a não ser que nada há no mundo de certo.” (Meditações Metafísicas, de Descartes. Citado em: http://professorotaviolobo.blogspot.com.br/2013/03/rene-descartes-meditacoes-metafisicas.html).

Outro trecho da mesma meditação cartesiana, referente ao eu pensante (cogito):

“Passemos, pois, aos atributos da alma e vejamos se há alguns que existam em mim. Os primeiros são alimentar-me e caminhar; mas, se é verdade que não possuo corpo algum, é verdade também que não posso nem caminhar nem alimentar-me. Um outro é sentir; mas não se pode também sentir sem o corpo; além do que, pensei sentir outrora muitas coisas, durante o sono, as quais reconheci, ao despertar, não ter sentido efetivamente. Um outro é pensar; e verifico aqui que o pensamento é um atributo que me pertence; só ele não pode ser separado de mim. Eu sou, eu existo: isto é certo; mas por quanto tempo? A saber, por todo o tempo em que eu penso; pois poderia, talvez, ocorrer que, se eu deixasse de pensar, deixaria ao mesmo tempo de ser ou de existir. Nada admito agora que não seja necessariamente verdadeiro: nada sou, pois, falando precisamente, senão uma coisa que pensa, isto é, um espírito, um entendimento ou uma razão, que são termos cuja significação me era anteriormente desconhecida. Ora, eu sou uma coisa verdadeira e verdadeiramente existente; mas que coisa? Já o disse: uma coisa que pensa.” (Meditações Metafísicas, de Descartes. Citado em: http://professorotaviolobo.blogspot.com.br/2013/03/rene-descartes-meditacoes-metafisicas.html).

O texto das Meditações Metafísicas de René Descartes, filósofo racionalista do mundo moderno (mais especificamente, séc. XVII), é denso e bem complexo. Isto pode ser visto nos pequenos trechos citados. Descartes queria descobrir um fundamento para o conhecimento da verdade que não pudesse ser posto em dúvida. Com efeito, o filósofo francês faz uso da dúvida hiperbólica e metódica, radicalizada progressivamente, a fim de discutir verdades que são comumente aceitas pelas pessoas e até por ele próprio. Dúvida metódica porque usa a incerteza e até uma negação do que é tido por verdadeiro no dia a dia, tomando-a como um caminho (método, palavra advinda do grego) para avançar no entendimento do conhecimento e de suas bases. É, ao mesmo tempo, uma dúvida hiperbólica, pois vai-se radicalizando progressivamente, ampliando-se, do mundo material (res extensa) até Deus, do corpo até a matemática, e assim por diante, radicalmente.

Quando usa a dúvida, Descartes beira a corrente cética da filosofia. Quando alcança o eu pensante (o homem racional) e toma-o como verdade primeira, após o caminho da dúvida hiperbólica, tomando a existência de ideias inatas (nascidas com a pessoa), como a ideia de Deus – posta aí pelo próprio Deus e permitindo ao filósofo descobrir a verdade da existência de Deus, a partir da qual resgatará a certeza acerca do mundo e da matemática –, alia-se ao racionalismo, outra corrente importante dentro da filosofia ocidental.

O desenho a seguir pode ajudar, de um modo simples e geral, a entender o percurso das Meditações Metafísicas, de Descartes. Sua finalidade é mostrar como desenhos podem ajudar no esclarecimento de ideias contidas em textos filosóficos, contribuindo para que os e as estudantes do Ensino Médio possam entende-los melhor, num diálogo de ideias com o filósofo escritor (Descartes, neste caso), com o grupo, transformando-as em desenho(s), com toda a turma e o(a) professor(a).

Desenho: