Nos primeiros séculos da era cristã, o Império Romano dominava vastas regiões da Europa, parte da África, da Ásia e do Oriente Médio. No entanto, pouco a pouco, esse mesmo império foi entrando em decadência. Os motivos desta são vários: corrupção, necessidade contínua de proteção das fronteiras frente a inimigos, aumento constante de impostos, retirada de agricultores da terra para servir os exércitos, provocando, com isto, falta de mão-de-obra no campo, redução do número de escravos em razão da redução no alargamento de fronteiras e de conquistas, conflitos internos pelo poder e as invasões bárbaras, que, cada vez mais, foram minando o império e dando-lhe, enfim, o golpe de misericórdia.
No século IV a.C., o imperador Constantino, o Grande, através do Edito de Milão (313), concedeu liberdade de culto ao cristianismo e deu reconhecimento à Igreja Católica Apostólica Romana. Com isto, o cristianismo foi-se institucionalizando, com doutrinas, normas e regras próprias de vida. O Império Romano, por sua, vez, cindiu-se em dois: Império Romano do Ocidente, com sede em Roma, e Império Romano do Oriente, com sede em Constantinopla: “Teodósio I reunificou o Império pela última vez. Após sua morte, Arcádio se converteu em imperador do Oriente e Honório, em imperador do Ocidente. Os povos invasores empreenderam gradualmente a conquista do Ocidente. Rômulo Augústulo, último imperador do Ocidente, foi deposto no ano de 476. O Império do Oriente, também denominado Império Bizantino, perduraria até 1453.” (Enciclopédia Microsoft® Encarta®. © 1993-2001 Microsoft Corporation.)
Com a queda do Império Romano do Ocidente a única estrutura que ficou totalmente de pé foi, justamente, a Igreja Católica. Ademais, ao longo dos séculos anteriores e nos seguintes, a Igreja vinha e continuou trabalhando no sentido de também converter os povos bárbaros. E, no decurso dos séculos que estariam por vir, a Igreja conseguiu manter sua estrutura, por meio de uma hierarquia (papa, cardeais, arcebispos, bispos, padres e leigos/fiéis), de sua influência religiosa e política, de suas regras e do apoio de reis e nobres a ela convertidos ou dela já participantes.
Nos campos intelectual e educacional a Igreja exerceu papéis importantes, como a preservação da cultura antiga (veja-se, por exemplo, abaixo, o comentário sobre os copistas medievais), a disseminação do pensamento e de valores cristãos, a formação do clero e de pessoas que auxiliariam líderes e chefes de Estados, a formação de escolas monacais, catedrais e, posteriormente, das primeiras universidades européias. No que diz respeito ao trabalho com a população, particularmente quanto ao serviço aos empobrecidos, o trabalho de ordens religiosas, destacando-se os beneditinos (séc. VI em diante), os dominicanos (séc. XIII em diante), que deram especial ênfase à pregação, e os franciscanos (início do séc. XIII em diante), a exemplo de seu fundador Francisco de Assis (1182-1226).
No século VI, um fato de fundamental importância foi o surgimento da religião muçulmana, através de Maomé (570-632) e de seus seguidores. O islamismo foi, progressivamente, se difundindo por toda a Arábia e, daí, para outras regiões do Oriente Médio, da África e da Ásia, até chegar à Europa, por meio da conquista de boa parte da Península Ibérica. Os muçulmanos também fizeram comércio com a Europa. Junto com esta atividade, a divulgação de textos inéditos de filósofos gregos e antigos, além de comentários e textos de filósofos islâmicos. Fundaram escolas e centros de estudos, contribuíram para o desenvolvimento da medicina. No que diz respeito a esta última, a Encarta afirma que: “Conseguiram elevar significativamente os valores profissionais, insistindo em examinar os médicos antes da licenciatura. Introduziram numerosas substâncias químicas terapêuticas, foram excelentes nos campos da oftalmologia e da higiene pública e superaram, com competência, os médicos da Europa medieval cristã.” (Enciclopédia Microsoft® Encarta®. © 1993-2001 Microsoft Corporation.).
Além da medicina, o desenvolvimento da alquimia e da matemática, com um sistema numérico que até hoje faz parte do mundo ocidental e geral, bem como da astronomia, com observações dos astros e catalogações de estrelas. O texto sagrado dos muçulmanos é o Alcorão ou Corão, que contém ensinamentos e normas básicos para a vida pessoal, familiar e até mesmo política dos muçulmanos.
A nível filosófico, os árabes tiveram um papel fundamental, que foi o de divulgação de textos filosóficos inéditos dos gregos, dentre os quais de Platão e Aristóteles. Como conseguiram esse material e contribuíram para difundi-lo? Duas das formas de obtenção foram o comércio e as invasões, que permitiram o contato com povos da Europa, da Ásia e do Norte da África. No Norte da África, por exemplo, Alexandria, que, na antiguidade, dispunha de uma formidável e famosa biblioteca e que foi um centro de disseminação de idéias. De acordo com Carl Sagan, uma forma que os alexandrinos acharam para aumentar o número dos livros de que dispunham foi a cópia de documentos e textos que se encontravam em navios que ali ancoravam (Série Cosmos, episódio 1). O contato com outros centros comerciais, na Europa e na Ásia, com certeza, também possibilitou o contato cultural dos árabes com novas idéias, dentre as quais a filosofia grega. Por sua vez, seu contato contribuiu para o espalhar de novas idéias no mundo europeu. A bagagem cultural por eles trazida, juntamente com a cultura que se encontrava nas bibliotecas de mosteiros, escolas catedrais e outras, possibilitaram um ampliar da visão e do enriquecimento culturais do mundo medieval europeu.
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