sexta-feira, 24 de maio de 2013

USAR DESENHOS E HISTÓRIAS EM QUADRINHOS NO ENSINO DE FILOSOFIA: É POSSÍVEL? (Prof. José Antônio Brazão.)


ANÁLISE DO TEXTO “AS SOMBRAS DA VIDA”, DE MAURÍCIO DE SOUSA:

(Prof. José Antônio Brazão.)





 

LOCAL ORIGINAL DA HISTÓRIA: http://www.monica.com.br/comics/piteco/

*História em quadrinhos elaborada por Maurício de Sousa a partir do relato do Mito ou Alegoria da Caverna, de Platão, filósofo grego da passagem do séc. V à primeira metade do séc. IV a.C.

*Objetivo: introduzir ou concluir o estudo a respeito do Mito ou Alegoria da Caverna de Platão, buscando sua atualidade essencial.

*Professor(a): passar no quadro da sala de aula ou na forma de xerox as perguntas a seguir. Depois, entregar uma cópia do texto de Maurício de Sousa para cada aluno(a) ou mostrar a história na forma de slides para a turma toda.

*Leia atentamente toda a história apresentada por Maurício de Sousa.

PROPOSTA 1 DE ANÁLISE: QUESTIONÁRIO – OS E AS ESTUDANTES FAZEM. DEPOIS, COMPARTILHAM COM A TURMA – DEBATER COLETIVAMENTE:

Responda no caderno/numa folha as perguntas seguintes:

1) O que a história em quadrinhos conta? Faça um resumo.

2) Como viviam os homens daquela caverna? O que faziam?

3) Por que Piteco resolveu ajudar aqueles homens?

4) Quais foram as reações dos homens da caverna? Descreva-as.

5) A ajuda foi bem vinda, inicialmente? E depois? Por quê?

6) O último quadrinho chama atenção para que fenômeno social atual? Por quê?

7) O que tem o último quadrinho em haver com os demais? Por quê?

8) Por que razões, segundo Piteco, aqueles homens perderam um tempão “olhando para simples projeções”? Comente.

9) O que comprova o “tempão” perdido pelos homens da caverna? Observe e anote.

10) Como pode ser aproveitado o “tempão” hoje? Para quê?

11) A caverna do texto é uma figura comparativa de linguagem artística e escrita. Que tipos de “cavernas” existem hoje? Comente e exemplifique.

12) Diante dos riscos das “cavernas” de hoje, o que fazer?

13) A caverna representa uma espécie de prisão das ilusões e as sombras representam as ilusões propriamente ditas. Para Platão, no texto original do livro VII da A República, a caverna representa o mundo sensível e as sombras, de fato, ilusões. O que é ilusão?

14) Dê três exemplos de ilusões que podem ser percebidas no dia a dia e comente-os.

15) A ilusão é atrativa e atraente, encantadora. Como? Dê três exemplos atuais.

16) A ilusão agrada? Comente e exemplifique.

17) A ilusão, às vezes, é tão forte que as pessoas não querem deixa-la e até brigam por ela. Como aquela história em quadrinhos mostra isto? (E o texto original de Platão?)

18) Abandonar as ilusões nem sempre é fácil. Mas é possível? Como? Dê um exemplo.

19) Que perigos pessoais e coletivos podem ser encontrados nas ilusões? Cite cinco.

20) Veja o último quadrinho. A TV é uma caixa de ilusões? O que você acha? Comente.

21) O que tem a televisão de tão atrativo? Cite dez exemplos e comente-os.

22) Quando alguém entra na frente da TV, o que você diz ou tem vontade de fazer? Por quê? Suas reações têm alguma similitude com às daqueles homens da caverna? Por quê?

23) O tempo de dedicação aos estudos pode ser prejudicado pela TV? Como? Dê sua opinião.

24) Como a televisão pode ser aproveitada de forma mais positiva na vida, no dia a dia? Comente.

25) Que programas educativos ou com potencial educativo na TV você conhece? Cite cinco exemplos. Como aproveitá-los? Reflita e opine.

26) É possível viver sem televisão? Como/Por quê?

27) Ficar “bitolado” (viciado)(a) em televisão é bom? Por quê?

28) O que fazer para que o tempo de televisão não prejudique os estudos em casa?

29) O que é estudar?

30) Aprender para quê?

31) Discuta: aprender com qualidade e/ou aprender em quantidade? O que é cada uma dessas formas de aprendizado e qual a importância de cada uma delas para a vida?

32) Preencha o quadro abaixo: Televisão: pontos positivos/pontos negativos/ formas possíveis de aproveitamento.

Obs.: o quadro abaixo pode ser passado no quadro da sala de aula e aí discutido com cada turma.

Pontos positivos da televisão:
Pontos negativos do mau uso da televisão:
Formas possíveis de aproveitamento:
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

33) Existem pessoas que, como Piteco e o liberto original da Alegoria da Caverna, querem ajudar pessoas a libertar-se da “caverna”?

34) Cite exemplos de pessoas históricas, como o liberto original da Alegoria da Caverna e Piteco, de As Sombras da Vida, que realizaram ações similares.

OBS.: São muitas perguntas. Professor, professora, você pode fazer uma seleção das que mais lhe interessarem. Aliás, aproveite e elabore as suas, visando, é claro, sempre, o aprendizado de Filosofia! Deixe que eles e elas respondam, seja no caderno, seja numa folha. Dê um tempo para que exercitem o aprendizado de análise textual. E quando eles e elas, com a ajuda do professor, da professora, debatem e trocam ideias a respeito do texto, novas ideias aparecem, descobertas são feitas, o que um(a) viu compartilha com os(as) outros(as), enriquecendo o aprendizado. Não é só a Língua Portuguesa que pode ajudar no aprendizado de análise textual! Juntas, a Filosofia, a Língua Portuguesa e outras matérias escolares podem fazer muito pelos estudantes e o aprendizado de uma pode refletir-se, de repente, no aprendizado da outra. Já pensou?
Analise todos os quadrinhos da história relatada por Maurício de Sousa. Cada fala chama atenção para algum ponto ou ideia. E estabeleça uma relação entre esse relato na forma de quadrinhos e a história original, relatada por Platão, no livro VII de A República. O original de Platão é fundamental.
Curiosamente, a história de Maurício de Sousa faz um movimento de diálogo entre o passado e o presente (hoje)! A de Platão também (contexto do século IV a.C.)! Vale a pena uma pesquisa e uma boa discussão do professor, da professora, dos alunos e alunas. Junte-a ao debate coletivo: o que cada um(a) descobriu. Bom proveito.

 

PROPOSTA 2: TEMPESTADE DE IDEIAS: (Um exemplo se segue, feito em 2013, com uma turma.)

Primeiramente, uma leitura de todo o texto com cada turma. A seguir, o professor, a professora, faz perguntas e provoca a exposição de ideias aleatórias e livres da turma. Em seguida, anota-as no quadro da sala de aula, para que possam ser visualizadas e retomadas ao longo da atividade. Pode-se pedir que os e as estudantes anotem também em seus cadernos. Isto ajuda na atenção.

Análise da história “As Sombras da Vida” (Debate feito em sala de aula, usando a tempestade de ideias):

*Alienação. E hoje?  A mídia pode também provocar alienação.

*O que pode ser feito de diferente, para além da TV? Praticar esportes, conviver mais, dialogar, ler um bom livro, construir coisas, fazer coisas diferentes do costumeiro, dentre outras coisas interessantes.

*Homens que vivem numa caverna, vendo sombras na parede.

*As sombras para eles = vida.

*As sombras não são palpáveis, não há como pegá-las, porém são visíveis.

*As sombras têm formas, não são figuras palpáveis.

*As sombras eram capazes de prender a atenção. Por isso, contribuíam para o comodismo e a preguiça, bem como a passividade daqueles homens da caverna.

*O Piteco desafiou os homens a saírem, mas o fizeram forçados pela ação perturbadora daquele. O incômodo gerou a vontade de matar ou, pelo menos, de surrar Piteco.

*Fora: os olhos doíam, ofereciam incômodos; a surpresa da luz; adaptação (abrir os olhos devagar); a libertação.

*Ilusão capaz de escravizar. No texto aparece a palavra “castigo”, o castigo supostamente provocado pela saída para fora da caverna. Essa palavra faz recordar escravidão. 

*Diante da libertação (SAÍDA), o “tanto a fazer”, “tanto a ver”.

*Tempão perdido vendo “simples projeções”, que pode ser visto na aparência envelhecida dos homens, com uma barba longa e branca.

*Foi recuperável? Sim, mas não totalmente. O que foi perdido não volta. Porém, valeu a pena. Os ex-homens-da-caverna puderam experimentar novas realidades, ver um novo mundo e enxergar a realidade com olhos novos.

OBSERVAÇÃO: As duas propostas acima podem ser conjugadas, isto é, utilizadas seguidamente, no mesmo dia, ou separadas, em dias diferentes. Ambas contribuem para que a análise do conteúdo da história seja bem compreendido e bem refletido por todos.

 

PROPOSTA 3: DESENHO FEITO PELO PROFESSOR, PELA PROFESSORA, A RESPEITO DO MITO DA CAVERNA, DE PLATÃO:

O professor, a professora, pode desenhar, no quadro da sala de aula, um desenho geral da história da alegoria da caverna. Pode ser bem caprichado ou grosseiro, conforme a habilidade de desenho do(a) profissional. Pode ser muito boa a tentativa de desenhar o mito da caverna. OU: Pode-se pedir a um(a) estudante que ajude, fazendo o desenho no quadro, sob a orientação do(a) docente. Use gizes coloridos. Não é difícil.

Feito o desenho, comente-o com as turmas. Debata ideias em torno do conteúdo presente nesse desenho.

Ao ter trabalhado também a história em quadrinhos de Maurício de Sousa, faça um paralelo entre o conteúdo do desenho feito por você, professor(a), e os do famoso desenhista.

 

PROPOSTA 4: LEITURA DO TEXTO INTEGRAL, ESCRITO POR PLATÃO, DO MITO DA CAVERNA:

Vale lembrar que o material por excelência do aprendizado de Filosofia são os textos escritos pelos próprios filósofos. Nesse sentido, feitas as atividades acima ou antecedendo-as, professor, professora, trabalhe com o texto platônico com as turmas. Veja se no livro didático que você utiliza com as turmas, na escola, há esse texto na íntegra ou, pelo menos, em parte. Você verá como o entendimento deste será muito melhor, com o seguimento das propostas sugeridas.

 
OBS.: Partindo da elaboração e análise de desenhos filosóficos, podem ser feitos outros, a respeito de outros conteúdos da filosofia e/ou da história desta. É uma atividade boa e muitíssimo enriquecedora. A participação dos e das estudantes pode ir desde o estudo dos textos até a elaboração dos desenhos que ajudem a entendê-los melhor. Para que Maurício de Sousa fizesse os desenhos em quadrinhos que fez e inovasse, não prendendo-se a uma simples repetição, foi preciso que conhecesse, através da leitura do texto de Platão, o relato da alegoria ou mito da caverna. Curiosamente, como se pôde ver, é um texto antigo, mas do qual muitas ideias podem ser extraídas, discutidas, analisadas. A atualidade do texto antigo é inegável e a os desenhos também.

terça-feira, 14 de maio de 2013

DEUS EXISTE? UMA INTRODUÇÃO SIMPLES AO ESTUDO DE TOMÁS DE AQUINO (Prof. José Antônio Brazão.)


DISCUSSÃO ATUAL, COMO PONTO DE PARTIDA PARA O ESTUDO DE TOMÁS DE AQUINO, SOBRE A EXISTÊNCIA DE DEUS: DEUS EXISTE?

(Prof. José Antônio Brazão.)

ARGUMENTOS CONTRA
ARGUMENTOS A FAVOR
CONCLUSÕES/CONSIDERAÇÕES
O universo surgiu do Big Bang (Grande Explosão que deu origem ao cosmos). O universo, portanto, é capaz de criar-se, recriar-se (exemplo das estrelas, cujas partículas agregam-se e reagregam-se, formando outras),
Baseia-se na FÉ (Carta aos Hebreus, cap. 11) a crença de que Deus existe e criou o mundo e usou o Big Bang. A base da maioria dos argumentos a favor da existência de Deus é a fé. Esta pode ser aprendida e/ou livremente aceita, não devendo ser imposta. Daí, o respeito mútuo dos crentes (pessoas que creem) de diferentes religiões entre si e deles com os ateus ser necessário e positivo.
Há pessoas que creem e outras que, simplesmente, não creem em Deus, assim como há crenças diferentes, mas TODAS as pessoas são cidadãs do universo e devem conviver com respeito pelo modo de pensar umas das outras, em busca do bem comum e da boa convivência, cuidando bem do mundo em que vivem.
Os seres vivos surgiram de moléculas orgânicas que formaram organismos unicelulares e do processo de evolução biológica.
Testemunho bíblico. A Bíblia judaica e cristã diz que Deus criou os seres vivos. O homem e a mulher foram criados à sua imagem e semelhança. O ponto de partida aqui e em outros argumentos a favor é o cristão, mas outras religiões podem ser estudadas e investigadas quando à sua compreensão do universo e da vida. Isto é muito bom, para que ninguém se ache dono da verdade. Isto é bom também para que estudantes e professores vejam com clareza o que outras religiões e até mesmo os ateus pensam.
A vida dos seres vivos e das pessoas está aí, é uma realidade que precisa ser protegida, guardada e cuidada por TODOS, independentemente de se ter fé ou não. A evolução dos seres vivos nos lembra que houve extinções provocadas pela natureza, pela adaptação das espécies, e outras pelos seres humanos e que existe uma diversidade biológica que precisa ser cuidada por TODOS, tendo fé ou não em Deus, independente de escolhas que as pessoas façam e das ideias que defendam.
Existem muitas religiões no mundo. Cada uma tem uma ideia ou várias ideias diferentes a respeito de Deus.
Ideias diferentes, mas pontos em comum, p. ex.: a crença em algo divino e transcendente, a crença na imortalidade da alma, uma série de valores éticos, dentre outras.
O diálogo, o respeito e a pacífica convivência entre as religiões, bem como entre ateus e religiosos, também são possíveis, necessários e valiosos para todos. A diversidade religiosa é positiva, pois demanda (exige) convivência com o diferente e o respeito mútuo e, além do mais, evita possível ditadura de uma religião única (Voltaire comenta sobre isto nas Cartas Filosóficas).
Em nome das religiões há pessoas que matam.
As religiões não ensinam a matar. Algumas pessoas é que desvirtuam suas crenças e fazem o mal, como matar gente. O mal uso da ciência também pode matar – a fabricação de armas é um deles, assim como a falta de acesso de pessoas aos benefícios das ciências são exemplos disto. O mal uso não é culpa da religião ou da ciência, mas das pessoas que as interpretam e as utilizam conforme interesses políticos, econômicos e/ou outros.
As verdadeiras religiões e os verdadeiros cientistas condenam o assassinato e propõem soluções pacíficas, em prol do bem de todos. As pessoas devem ser livres para converter-se ou não, caso desejem ou não, e seguir o caminho que queiram seguir para suas consciências e suas vidas. No campo das ciências, veja-se quanto bem fazem as vacinas, as melhorias técnicas, na alimentação e tantas outras descobertas feitas ainda hoje! No campo das religiões, o bem que muitas pessoas religiosas, de muitas e diferentes religiões, fazem aos seus semelhantes, principalmente àqueles que perderam tudo!
Deus não é comprovável em laboratório ou por evidência científica. Deus não pode ser demonstrado pela matemática ou por qualquer ciência.
A linguagem da ciência é diferente da das religiões. Deus é evidenciado, pelas religiões, na fé e na prática de vida das pessoas que creem. Ademais, para as religiões, o fato de Deus não se deixar comprovar impede que seja manipulado por quem quer que seja ou a serviço de interesses errados.
Ateus e religiosos vivem no mesmo mundo e enfrentam problemas, alegrias e angústias similares. Respeito e boa convivência, junto com a cooperação na busca da verdade e na pesquisa, podem ser muito úteis a todos, colocando os benefícios das ciências e das religiões a serviço de todos, independentemente de escolhas que as pessoas possam fazer, contanto que tais escolhas não prejudiquem ninguém. Alia-se a isto o valor universal de muitos valores éticos e da vida!
Se Deus existe, por que ele não age a favor das pessoas que passam fome e sobre uma série de outros problemas no mundo?
De acordo com diversas religiões, Deus não faz do mundo um joguete, não interferindo a todo momento sobre este ou sobre as ações das pessoas, sendo que estas dispõem de livre arbítrio (liberdade de escolha). Mas Deus deu sabedoria, inteligência e dá iluminação para que os seres humanos encontrem soluções. Milagres não são comuns, mas acontecem. Um grande milagre é quando as pessoas vivem o amor verdadeiro entre si e se preocupam efetivamente umas com as outras e com a Terra,  em nome da fé ou independentemente desta e das escolhas que fazem.
Há grandes problemas no mundo que afetam ou podem afetar a todos, indistintamente de fé, religião, escolhas ou posições das pessoas: desastres humanos (fome, miséria, pobreza, guerras, exploração e escravização de pessoas, conflitos, etc.) e desastres ambientais, provocados ou não pelos seres humanos (aquecimento global, degelo nas calotas polares, buracos na camada de ozônio, secas, enchentes, terremotos, tsunamis, etc.). Portanto, é preciso que as pessoas se respeitem e se unam, independentemente de terem fé ou de suas escolhas religiosas, para a solução daqueles problemas e para a busca do bem comum (de todos).
A discussão acima é uma proposta para avançar em direção ao estudo de Tomás de Aquino, fazendo uma ponte entre o presente e o passado, e vice-versa. Isto pode ajudar a tornar mais interessante o aprendizado de Filosofia, mostrando que discussões do passado ainda estão presentes, de alguma forma, no mundo de hoje. Outras ideias podem surgir em sala de aula e das cabeças de estudantes e professores de Filosofia, Ciências e até de Ensino Religioso. O diálogo interdisciplinar pode ser rico para todos.
A seguir, a proposta é estudar as provas da existência de Deus, contextualizando-as nas discussões filosóficas, teológicas e no momento histórico de seu tempo.
A proposta de argumentos contra, argumentos a favor e conclusões/considerações é uma brincadeira intelectual com o modelo de Tomás de Aquino apresentado na Suma Teológica, porém adaptando as discussões para o mundo de hoje!
No passado (século XIII), Tomás de Aquino teve que dialogar com as ideias filosóficas de Aristóteles, Platão, filósofos árabes e judeus, do mundo medieval, dentre outros intelectuais. Hoje, o diálogo é com a ciência, principalmente vendo nesta uma aliada na pesquisa e na solução de problemas que envolvem o mundo e toda a humanidade!

O quadro acima é apenas um exemplo de discussão atual a respeito da questão proposta, questão parecida com aquela que Tomás de Aquino, há vários séculos atrás, teve que se deparar. Não são respostas profundamente rigorosas, mas que brotaram de discussões em sala de aula. A finalidade: introduzir o estudo de Tomás de Aquino partindo de hoje. O quadro ajuda a ver oposição de ideias sobre uma questão proposta e tentativas possíveis de síntese, sem qualquer interesse de impor uma ou outra visão de mundo. A diversidade é algo com que professores, professoras, alunos e alunas, nos deparamos a todo momento e ela pode ser enriquecedora do aprendizado de ideias e da necessidade de aprender a conviver com o diferente.
Um quadro parecido pode ser passado no quadro utilizado em sala de aula, dividindo-o em três partes. Gizes coloridos podem ser muito úteis. Ou pode ser feito pelos próprios estudantes no laboratório de informática da escola, em caso de sua escola dispor de um. Partindo da questão inicial, abrir para as ideias apresentadas pelos e pelas estudantes. A provocação, feita pelo professor, pela professora, pode ser de grande valor. O importante são o uso da criatividade e da liberdade de ideias, o respeito a estas, a crítica a algumas, em caso desta ser necessária, e uma boa integração entre Filosofia, didática e outros conteúdos escolares, em forma de diálogo. O estudo e a pesquisa também podem ajudar imensamente, complementando e enriquecendo o aprendizado de Filosofia.

Para o texto das provas apresentadas pelo próprio Tomás de Aquino: http://hjg.com.ar/sumat/a/c2.html - SUMA TEOLÓGICA - 1ª CUESTIÓN. (Em espanhol.)

Para o texto completo da Suma Teológica em espanhol: http://hjg.com.ar/sumat/ - SUMA TEOLÓGICA de Santo Tomás de Aquino (1225 – 1274).

Para saber um pouco mais sobre Tomás de Aquino:

Veja-se também na Wikipédia - www.wikipedia.org
O texto em espanhol da Suma Teológica, citado acima, é completo e pode ser estudado, pois a língua espanhola tem afinidades com a língua portuguesa. Que tal fazer um trabalho interdisciplinar com a matéria Língua Espanhola? Pode ser útil tanto a esta quanto à Filosofia. O diálogo interdisciplinar ajuda muito e possibilita que os e as estudantes percebam relações entre os conteúdos que estudam na escola.
Tomás de Aquino foi teólogo e filósofo, viveu no século XIII, bem na época da Escolástica, foi sacerdote católico, professor universitário. Junto com seu mestre Alberto Magno, fez um trabalho de integração e aproveitamento das ideias filosóficas de Aristóteles (filósofo grego do séc. IV a.C.) na discussão de ideias teológicas. Adaptaram e, de certa maneira, cristianizaram as ideias aristotélicas, adequando-as aos interesses eclesiásticos de seu tempo.
O estudo de Tomás de Aquino e de seu tempo oferece uma boa ideia de como eram as discussões filosóficas e teológicas da Escolástica medieval. Aristóteles vinha sendo traduzido e suas ideias, várias delas, não eram compatíveis com o pensamento religioso e os dogmas daquele tempo. Exemplos: a eternidade do mundo - os gregos antigos e Aristóteles não tinham a ideia de um Deus criador; esta ideia de criação está presente, por exemplo, no judaísmo e no cristianismo; o Deus de Aristóteles é o impulsionador do universo, com suas órbitas circulares e cujo movimento vai de fora para dentro, até a Terra, parada no centro (geocentrismo), não é um deus pessoal, como é o Deus cristão. A influência do pensamento de Aristóteles, ao longo dos séculos seguintes, tornou-se marcante também no pensamento científico.
Aristóteles foi, naquele tempo (final da Idade Média e princípios da Idade Moderna), também uma referência científica, cujas ideias físicas e astronômicas custaram a ser derrubadas no mundo moderno (Copérnico, Galileu, Kepler, Newton), pois passaram a fazer suporte da defesa de ideias religiosas e de dogmas. Galileu Galilei foi a julgamento, pela Inquisição, por contradizer o geocentrismo e ideias aristotélicas arraigadas na ciência de seu tempo.
A proposta acima, de ir do presente ao passado, pode pôr em discussão também outras questões atuais. Por exemplo: extremismo religioso, intolerância religiosa e de outros tipos (Locke e Voltaire, por exemplo, discutiram a questão da intolerância religiosa de seu tempo, podendo ser apontadas suas ideias a respeito dessa questão e discutidas em sala de aula). Professor, professora, descubra outras questões atuais possíveis e proponha sua discussão em sala de aula! E faça o movimento de ida e vinda entre o presente e o passado, visando um aprendizado dinâmico e significativo de Filosofia, tendo sempre os pés no chão da realidade.
Veja, abaixo, desenhos feitos por alunas a respeito das Cinco Vias de Tomás de Aquino:



 

quarta-feira, 10 de abril de 2013

ENTREVISTA SOBRE TEMA FILOSÓFICO OU INTERDISCIPLINAR (Prof. José Antônio Brazão.)

Uma atividade que pode ser muito valiosa para o aprendizado de filosofia é a entrevista. Entrevista é um diálogo, com perguntas direcionadas, muitas vezes previamente preparadas (ainda que haja várias espontâneas, nascidas no calor da própria entrevista), estabelecido entre pessoas em torno de um tema determinado, de alguma questão ou de um tema. Este pode ser um tema polêmico ou não. O tipo mais conhecido de entrevistas é o de repórteres de rádio, televisão, jornais ou revistas com celebridades. No entanto, a entrevista pode ser simples e útil no ensino-aprendizagem de filosofia e até mesmo de outros conteúdos escolares.
As perguntas da entrevista podem ser brotadas espontaneamente e anotadas ou gravadas pelos estudantes. As respostas, junto com as perguntas feitas, também. A vantagem de anotar previamente as questões é que estas podem dar uma direção à entrevista, evitando, assim, o risco de desvio do tema ou conteúdo proposto. Mas também são bem vindas questões espontâneas surgidas na hora da entrevista. Há, de fato, questões que vêm à mente nessa hora e acrescentam informações ao conteúdo da entrevista.
As entrevistas podem ser um meio muito interessante e uma boa oportunidade para que os estudantes também trabalhem com as mídias disponíveis na escola (ex.: laboratório de informática escolar, com computadores, sejam eles novos ou bem usados, não importa, câmeras, notebooks, etc.) e também aquelas que possuem (ex.: celulares que contêm gravadores e câmeras de gravação de vídeo, câmeras portáteis de vídeo, câmeras fotográficas que possuem sistema de gravação de vídeo e áudio, dentre outras tecnologias). A entrevista pode ser editada, de preferência, na escola ou, caso não seja possível, em casa. O trabalho em grupo pode ajudar muito.
Na edição da entrevista, na escola, podem ser usados softwares de edição de vídeo e áudio, nos quais podem ser juntadas entrevistas de vários grupos.
E por falar em grupos, numa turma de 20 a 40 alunos, por exemplo, podem ser formadas equipes de quatro ou cinco. Algumas vantagens dos grupos: colegas que têm facilidade de falar, outros de lidar com computadores e mídias, outros que possuem mídias diferentes dos demais colegas, outros que sabem escrever, digitar bem. O grupo oferece ainda outras vantagens: a segurança e a troca de ideias, a divisão entre o que cada um pode ajudar a fazer e é capaz de fazer para ajudar a todos, desenvolve a capacidade de trabalhar em equipe (no mundo atual, até mesmo a nível de trabalho, há muitas empresas que demandam o trabalho em equipe), o desenvolvimento da capacidade de diálogo, a crítica positiva, correções, dentre outras.
Cabe ao professor e à professora levantar a temática da entrevista, dentro do tema em estudo (ex.: filosofia antiga, filósofos da Escola de Frankfurt, vida, morte, sexualidade, corrupção [tema relacionado à ética], mitos no mundo de hoje, fé e crenças, etc.), além de propor algumas questões aos grupos, deixando, é claro, que eles também proponham as deles. Cabe ainda orientar os estudantes a respeito do que devem e podem fazer, como fazer, com quem fazer a entrevista, os cuidados que devem ter, inclusive cuidados éticos, dependendo do tema. Enfim, avaliar os trabalhos dos estudantes, seja individual, seja grupalmente. A avaliação pode contar com avaliações dos grupos e das turmas, no momento da apresentação final de cada grupo. Pode contar ainda com a ajuda de outros profissionais da docência, em caso de trabalho interdisciplinar. Ou a temática da entrevista pode ser levantada pelos próprios estudantes. A participação deles e delas deve ir do começo ao fim do trabalho, sempre em diálogo. Com essa atitude aprendem a também dialogar, o que pode ser-lhes de muito proveito para a vida toda!
Quanto à ética, o professor e a professora devem deixar claro aos estudantes o cuidado de não expor as pessoas entrevistadas a situações vexatórias, evitar atitudes não condizentes com a moralidade, além de não poderem publicar a entrevista sem expressa permissão de quem foi entrevistado (por escrito é melhor ainda). Isto também pode ser e é bom que seja discutido com cada turma antes mesmo das entrevistas acontecerem e faz imenso bem aos estudantes, já que, no grupo maior, de toda a turma, aprendem a expor suas ideias e a traçar valores que consideram ser importantes e que devem ser respeitados. Até os grandes jornalistas têm códigos de ética que seguem.
Feitas as entrevistas, cada grupo apresentará o resultado, que poderá ser lido, em caso de entrevista escrita, manuscrita ou digitada, e/ou visto e ouvido, em caso de entrevista gravada em áudio ou áudio e vídeo. Ao final, um debate e o levantamento de considerações pelos estudantes e pelo professor, pela professora ou a equipe de professores (em caso de trabalho interdisciplinar).
As entrevistas podem ser também arquivadas, seja em pastas ou em computadores ou outra mídia que possibilite a gravação em forma de arquivos. Isto permite que elas possam ser retomadas e discutidas também em outras ocasiões, em épocas de estudos de conteúdos afins. Poderão ser publicadas, sob o cuidado de permissão dos entrevistados, por escrito, na internet, em blogs, no Youtube ou outro site que permita a publicação desse tipo de atividade. Poderão também ser publicadas no jornal filosófico, na revista filosófica, cujas propostas são apresentadas também neste projeto de ensino-aprendizagem. Com isto, unem-se atividades diferentes e enriquecedoras de aprendizado de Filosofia.
Uma sugestão aos professores e à professoras é que também aprendam a lidar com as mídias disponíveis na escola e aquelas de que possa dispor pessoalmente. Esse conhecimento pode ajudar na orientação de estudantes, no laboratório de informática ou na sala de aula, que porventura não saibam lidar adequadamente com aquelas. Há núcleos de tecnologia educacional (NTEs) espalhados pelo Brasil afora, que fazem parte do Ministério da Educação e das secretarias de educação, que os podem ajudar muito. Oferecem cursos gratuitos para docentes a respeito do uso das mídias. Podem aprender também com leituras e práticas próprias, pessoais e coletivas (junto com outros e outras colegas), sem dúvida nenhuma. Podem aprender e tirar dúvidas com os e as estudantes, muitos dos quais conhecem bem o uso dos instrumentos midiáticos!
O trabalho interdisciplinar é outro diferencial enorme, que pode ajudar a enriquecer o aprendizado de filosofia, de outras áreas de ensino e estabelecer um diálogo entre essas elas e a Filosofia enquanto disciplina escolar. Professor, professora, converse com outros e outras colegas de outras matérias escolares e planeje com eles e elas o que fazer e como fazer. Ganhar-se-á em profundidade, em diversidade de visões, em interações entre estas e poder-se-á ver que a Filosofia não é uma matéria estanque das demais, mas  uma parceira. Por exemplo: ao estudar a filosofia moderna, as descobertas na área da Física (uma entrevista de Física e Filosofia, com alguém, sobre a Revolução Científica), da Astronomia, da Biologia, acontecimentos históricos ocorridos naquele momento, além de outros aspectos (uma entrevista de História, Filosofia e Ensino Religioso, com um pastor evangélico e um padre, sobre a Reforma Protestante). Todo esse material coletado poderá ajudar no entendimento das ideias filosóficas modernas, com mais clareza e profundidade.
Vale a pena. Estudantes, professores, professoras, escolas e a Educação, de um modo geral, só terão a ganhar!

domingo, 24 de fevereiro de 2013

"VIEMOS DOS MACACOS?" (Síntese de um pequeno debate filosófico.) (Prof. José Antônio Brazão.)

Essa questão é também filosófica, além de apontar, interdisciplinarmente, para outras ciências. Sem dúvida, sim, pois pergunta pelo SER, por aquilo que são os seres vivos e o próprio universo. Pergunta sobre o SER humano e por aquilo que constitui o universo, parecida com aquelas feitas pelos primeiros filósofos gregos quando buscavam entender o cosmos, a physis (palavra grega comumente traduzida por natureza).
Para buscar respostas para aquela questão é preciso pedir apoio a outras ciências contemporâneas. A interdisciplinaridade pode ser enriquecedora e contribuir para aprofundar a pesquisa sobre assuntos diversos, como este.
Não viemos necessariamente dos macacos atuais. Mas é certo, real, que TODOS OS SERES VIVOS EVOLUÍRAM E CONTINUAM EVOLUINDO. Como as ciências comprovam isto? A seguir vão as respostas de algumas ciências.
A GEOLOGIA tem descoberto, nos últimos séculos, que a idade das Terra e de suas rochas é muito mais antiga do que se pensava, tendo bilhões de anos de existência, tempo suficiente para a evolução dos seres vivos. Além do mais, diferentes camadas do solo e de rochas contêm informações de milhões e milhões de anos de história, algumas delas dispondo de registros fósseis (restos petrificados) de seres vivos de eras passadas. Em livros de Geografia e de Biologia podem ser encontradas, geralmente, linhas de tempo da Terra.
A BIOLOGIA: estudos biológicos e químicos levaram à descoberta do RNA (ácido ribonucleico) e do DNA (ácido desoxirribonucleico), moléculas fundamentais na constituição da vida, com destaque para a segunda, que contém genes responsáveis pelas características que definem os seres vivos e os diferenciam uns dos outros.  Todos os seres vivos são, comprovadamente, constituídos por aquelas macromoléculas. No caso do homem e dos chimpanzés, por exemplo, cerca de 98 % do DNA é igual. O que tornam as pessoas seres humanos são os cerca de 2% restantes. Além disto, a anatomia comparada demonstra que muitos animais têm estruturas anatômicas semelhantes. Macacos e homens, além de outros animais, têm muitos órgãos, ossos e sistemas similares.
A existência de FÓSSEIS de eras antigas, os quais possibilitam detectar um processo contínuo de evolução. Em livros de Biologia e até em um ou outro de Filosofia, por exemplo, pode-se ver uma sequência de primatas até o homem atual, sequência esta que é fruto de pesquisas com fósseis encontrados na África e em outros lugares do mundo. Fósseis são partes, restos ou corpos de plantas e animais pré-históricos que foram petrificados e que hoje aparecem como verdadeiros registros daqueles tempos da história da Terra.
A ARQUEOLOGIA: arqueólogos, ao longo dos últimos séculos, fizeram e fazem pesquisas, escavações, conseguindo descobertas de fósseis e indícios de ferramentas (p. ex.: pedras lascadas, pontas de lanças e flechas), restos de alimentos comidos e petrificados, dentre outros materiais fabricados ou utilizados por homens pré-históricos. A descoberta de fósseis de primatas e seres humanos mais antigos, de diferentes épocas, reforça, claramente, a certeza da evolução. Esse material existe e pode ser encontrado em museus de história natural e institutos de pesquisas e universidades, no Brasil e no mundo. Ex.: plioptecus, homo erectus, homo habilis, homem de Neanderthal, homem de Cromagnon e outros, até chegar ao homo sapiens.
A capacidade do RNA e do DNA, em condições favoráveis, com água e matéria orgânica suficiente, de se replicarem. No passado muito distante, conforme os cientistas acreditam hoje, réplicas com mutações deram origem aos diferentes tipos de seres vivos que existiram no passado e à diversidade biológica hoje existente.
O fato de organismos unicelulares, microrganismos, como bactérias, protozoários e vírus se tornarem mais resistentes e produzirem novas cepas aponta para a evolução em curso. No caso de tais microrganismos, em décadas. Um exemplo disto, próximo no tempo, é o vírus H1N1, da gripe suína e humana, que é letal, podendo matar em pouco tempo. É resultado da evolução de parte dos vírus da gripe.  Houve um combate acirrado a ele, ainda hoje há, e é preciso tomar cuidado. Isto é a evolução em ação. Organismos pluricelurares demoram mais, porém evoluem e evoluirão também. O ser humano é um destes e continuará evoluindo.
Junto com a evolução biológica, lenta e contínua, os seres humanos passaram e vêm passando por uma EVOLUÇÃO TECNOLÓGICA. Os computadores, tablets e muitas outras máquinas que o digam!
Alguns mecanismos que provocam a evolução das espécies são:
a)      A ADAPTAÇÃO a condições e ambientes, em busca de sobrevivência. Descoberta feita por Charles Darwin e Alfred Russel Wallace, no século XIX. Um exemplo: os pássaros surgiram dos dinossauros. O arqueoptérix é uma evidência disto.
b)      O TEMPO: milhões e bilhões de anos foram necessários à evolução das espécies até chegar às atuais. Descoberta da Geologia, da Biologia e de outras ciências.
c)      CRUZAMENTOS entre indivíduos e grupos de uma mesma espécie, passando novas informações genéticas aos descendentes, tornando-os mais resistentes e melhor adaptados.
d)      A MORTE DE CERTAS ESPÉCIES propicia a evolução de outras. Por exemplo: a morte dos dinossauros, há cerca de 65 milhões de anos atrás, propiciou a evolução de pequenos mamíferos em muitas espécies, entre as quais a espécie humana.
e)      A RADIAÇÃO: a radiação de certos elementos químicos (ex.: urânio, plutônio, rádio) pode provocar mutações que são passadas aos descendentes. Mulheres grávidas são proibidas de tirar raios X, a fim de não atingir o feto. Isto é real e comprovável pela medicina.
Unindo todas essas informações para responder à pergunta inicial (“Viemos dos macacos?”), feita por uma aluna, em sala de aula, no início de 2013, foi possível mostrar que a evolução biológica dos seres humanos é real e acompanha a de outros seres vivos (plantas, animais, peixes, etc.). É interessante que o assunto nasceu em uma aula introdutória sobre os mitos, na primeira série do Ensino Médio. O fato de a pergunta ter brotado espontaneamente foi e é muito bom. A filosofia tem por propósito, como outras áreas de conhecimento, de levar as pessoas ao questionamento, fruto da curiosidade despertada.
Junto com a pergunta acima, uma segunda pergunta seguiu, da mesma aluna: “Se Deus criou o mundo [havíamos comentado sobre Gênesis 1, 1 – 2,4, além de outros mitos], quem criou Deus?” Essa pergunta será discutida com a turma em outra(s) aula(s). Ela me fez lembrar de Carl Sagan, cientista estadunidense, que, no episódio 2 da série COSMOS, faz a mesma pergunta, tanto ao falar do relojoeiro do universo quanto, ao final deste episódio ou de outro, em uma atualização, em que fala do “fazedor de bolhas” do universo.
Valorizar as perguntas dos e das estudantes e colocá-las em debate, buscando respostas possíveis e verdadeiras (fundamentadas), pode contribuir para despertar outras! A filosofia pode contribuir muito com o desenvolvimento da reflexão, do questionamento, da capacidade de problematização.
Uma possível resposta para a segunda pergunta, sobre Deus, é que a filosofia e as ciências, em geral, com exceções, procuram não apelar para o divino, o transcendente, para buscar respostas às suas investigações, evitando, assim, o apelo ao místico, até ao misticismo, respostas conclusivas (palavras finais), tidas perigosamente como definitivas que, porventura, possam gerar ou reforçar a intolerância. E vale lembrar de Aristóteles que, não aceitando o idealismo de Platão, afirmava ser amigo deste, mas mais amigo da verdade, ainda que não absoluta.
As religiões já trilham o caminho do transcendente e do culto a este. E cada pessoa segue o caminho que melhor reponde aos seus anseios. Cabe a todos o profundo RESPEITO pela diversidade religiosa e por aquelas pessoas que lidam com o conhecimento filosófico e científico de forma desvinculada do religioso, e vice-versa, mutuamente. No respeito mútuo, as pessoas humanizam-se e geram uma boa e saudável convivência.
O debate tem grande valor, pode e deve ser despertado em sala de aula, lembrando-se sempre do respeito às crenças e ideias de cada um, sem descuidar da busca da verdade. Ademais, é preciso escutar os questionamentos que surgem em sala de aula e enfrentá-los, junto com os e as estudantes, com bom preparo e sem medo.

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

O LIVRO DIDÁTICO COMO RECURSO DE ENSINO DE FILOSOFIA (Prof. José Antônio Brazão.)

O livro didático, seja de Filosofia ou de qualquer conteúdo escolar, é um recurso muito utilizado por professores do Brasil e do mundo. Sem dúvida, um bom livro, bem escolhido, pode ajudar muito no ensino e no aprendizado de Filosofia. Mas sugere-se não utilizá-lo como única ferramenta de ensino em sala de aula e em casa (estudantes/professor). Vale lembrar que os textos escritos por filósofos, ao longo dos milênios e, particularmente, dos últimos séculos, são materiais essenciais para o ensino. A razão é simples: nestes encontram-se as falas diretas de pensadores que expuseram suas ideias a respeito do mundo, do conhecimento, da arte, etc., dentro de determinadas perspectivas filosóficas.

É claro, os livros de diferentes filósofos costumam apresentar visões diferentes sobre uma mesma temática (por exemplo, sobre o conhecimento e suas fontes), visões estas que podem contradizer-se, mas, ao mesmo tempo, que podem complementar-se, enriquecendo, de um modo geral, a bagagem cultural humana.

Os livros didáticos também podem apresentar variações e pode ser muito enriquecedor confrontar as visões de autores diferentes sobre temas semelhantes. Além do mais, podem conter informações complementares, dispõem de modos próprios e variados de apresentar os conteúdos. O livro utilizado pode servir como base primária, mas precisa ser complementado, na hora do estudo, da explicação, da exposição, do uso de exercícios presentes, etc., com outras ideias, de outros autores.

É preciso o professor e a professora de Filosofia ficarem atentos para ideias negativas (intolerâncias, contravalores éticos, ideologias, dentre outras ideias que sirvam à desumanização)  que possam estar aí presentes, nem sempre vistos de forma imediata. Daí a importância, também, do trabalho em grupo na hora da escolha. Aliás, o grupo de professores e professoras pode ajudar, do começo ao fim, no processo de escolha do livro didático, dando mais segurança na definição do que se quer.

Use outros recursos e estratégias que possam enriquecer o aprendizado e o desenvolvimento da reflexão filosófica dos estudantes, não se perdendo de vista os textos originais, em traduções boas, dos filósofos e pensadores, de grandes intelectuais do mundo ocidental e de outras partes do mundo.

FICHA PARA ANÁLISE DE LIVRO DIDÁTICO DE FILOSOFIA (Prof. José Antônio Brazão.)
Esta ficha pode ser preenchida individualmente, mas de preferência em grupo de professores da mesma área de FILOSOFIA e/ou de áreas afins.
NOME DO LIVRO:
 
AUTOR(ES):
 
EDITORA:
 
EDIÇÃO:
 
Indicado no Plano Nacional do Livro Didático (MEC)? (     ) SIM./ (     ) NÃO.
BEM ENCADERNADO?
(     ) SIM.
(     ) NÃO.
IMPRESSÃO
(     ) BOA.
LINGUAGEM:
(     ) RAZOÁVEL.
(     ) DE BOA COMPREENSÃO.
(     ) RUIM.
(     ) DE DIFÍCIL COMPREENSÃO.
CONTÉM ERROS DE LINGUAGEM: (     ) SIM. (     ) NÃO.
SE SIM, CITAR PÁGINA(S) E PARÁGRAFO(S) DETECTADOS:
 
DENTRO DA NOVA ORTOGRAFIA? (     ) SIM/(     ) NÃO.
É DIVIDIDO POR:
A SEQUÊNCIA DOS ASSUNTOS É DISPOSTA:
(     ) TEMAS FILOSÓFICOS (ÉTICA, ARTE, EPISTEMOLOGIA, ETC.).
(     ) POR TEMÁTICAS.
(     ) EM LINHA CRONOLÓGICA.
(     ) HISTÓRIA DA FILOSOFIA.
(     ) EM ORDEM ALFABÉTICA.
(     ) MISTO (TEMAS E HISTÓRIA DA FILOSOFIA).
(     ) OUTRA:
O LIVRO CONTÉM:
(     ) MAPAS HISTÓRICO-FILOSÓFICOS.
(     ) GRÁFICOS.
(     ) CRONOLOGIA(S).
(     ) QUESTÕES DE VESTIBULARES.
(     ) SUGESTÕES DE ATIVIDADES.
(     ) QUESTÕES DO ENEM.
(     ) EXERCÍCIOS VARIADOS.
(     ) TEXTOS DOS FILÓSOFOS.
(     ) OUTRO(S) RECURSO(S) (CITAR):
 
O LIVRO CONTÉM INFORMAÇÕES ERRADAS?      (     ) SIM.     (     ) NÃO.
Se contiver informações erradas detectadas, cite(m) exemplo(s):
 
 
O LIVRO É IMPARCIAL, ISTO É, NÃO DEFENDE INTOLERÂNCIA OU CONTRAVALORES ÉTICOS DE QUALQUER/QUAISQUER TIPO(S), OBSERVÁVEL(IS)?     (     ) SIM.    (     ) NÃO.
SE SIM, CITE EXEMPLO(S):
 
COM BASE NAS OBSERVAÇÕES ACIMA E EM OUTRAS QUE VOCÊ/O GRUPO TENHA FEITO, FAÇA UM PEQUENO COMENTÁRIO COMPLEMENTAR:
 
 
 
COM BASE NO QUE VOCÊ/O GRUPO PÔDE OBSERVAR, DÊ UMA NOTA ENTRE 0 (ZERO) E 10 (DEZ) AO LIVRO:
 
VOCÊ/O GRUPO INDICARIA ESTE LIVRO DE FILOSOFIA PARA USO NA ESCOLA?
 
OBSERVAÇÃO: Professor(a)(s): Esta ficha é uma proposta simples para ajudar na análise e na escolha de livro(s) didático(s) de FILOSOFIA para uso em sua escola. Com certeza, não está completa. Pode servir de exemplo e pode ser corrigida, melhorada, aperfeiçoada. Proceda(m) com vários livros de Filosofia e escolha(m) o que achar(em) melhor! Ainda que tenha(m) por referência um, na preparação de aulas, use(m) vários livros (visões diferentes e complementares), enriquecendo, assim, a aula. Pode(m) complementar, sendo necessário, em sala de aula, com outros textos e estratégias diferentes e ricas de ensino!



ATIVIDADES QUE PODEM SER FEITAS COM O LIVRO DIDÁTICO DE FILOSOFIA (Prof. José Antônio Brazão.)

1.Leitura explicativa dos conteúdos do livro didático de Filosofia. A professora, o professor, ou algum(a) estudante lê um texto do livro e a(o) docente explica o conteúdo, parte por parte, parágrafo por parágrafo. Debates podem ser abertos e levantamento de questões também, tanto por parte do(a) professor(a) quanto da turma de estudantes. Estes podem ajudar numa dinamização da aula, para que não fique apenas na leitura-explicação.

2.Questionário com questões sobre o texto de um capítulo do livro.

3.Exercício de (V) ou (F), verdadeiro ou falso, ou (E) ou (C), errado ou certo, a respeito de um capítulo ou texto do livro didático.

4.Palavra cruzada referente a palavras centrais de um texto ou trecho do livro.

5.Questões com 4 ou cinco alternativas, referentes a conteúdos de uma unidade ou capítulo.

6.Análise, junto com as e os estudantes, de imagens contidas no livro. Por exemplo: um desenho do mito da caverna, de Platão; a foto de um quadro renascentista sobre mitos gregos ou sobre seu tempo e que levante questões filosóficas atinentes àquele tempo e\ou ainda atuais; charges, dentre outras tantas.

7.Estudos de textos de filósofos contidos no livro didático.

8.Exercícios de filosofia contidos no próprio livro didático. Professor(a), faça um levantamento e aproveite.

9.Questões de filosofia de vestibulares contidas  no livro (veja o número 8).

10.Procura de palavras cujo significado desconhecido ou de difícil compreensão, presentes nos textos do livro, usando dicionários de filosofia e de língua portuguesa.

11.Discussão filosófica, presente no livro, sobre tema polêmico passado e\ou atual, que envolva ética, política, ciência ou outra questão humana visualizada numa perspectiva filosófica.

12.Analisar como o(s) autor(es) e\ou autora(s) do livro trata(m) certas ideias e certos filósofos, confrontando com outros autores e autoras (vale lembrar que nas bibliotecas escolares costumam haver livros didáticos de filosofia diferentes e que contêm diferentes abordagens de temas comuns. Isto permite que as e os estudantes descubram visões diferentes, às vezes até mesmo conflitantes, e aprendam a não aceitar visões unilaterais ou únicas.

13.Utilizar mapas, gráficos e linhas de tempo contidas no livro didático de Filosofia.

14.Aproveitar possíveis resumos que possam estar contidos no livro didático. Os resumos são bons, principalmente, em momentos de revisão dos conteúdos estudados do livro didático, porém podem ser utilizados como base para aulas, lembrando sempre de que ele é um ponto de partida, não ponto final e único, pois há aspectos da filosofia discutidos em um capítulo ou unidade que nem sempre são contemplados no resumo ou, quando o são, isto ocorre de forma muito compacta.

15.Aproveitar poemas e textos de outras áreas humanas que possam encontrar-se citados no livro didático de Filosofia e comparar com as ideias dos filósofos e dos temas filosóficos discutidos no capítulo ou na unidade em que aqueles são citados.

Professor(a), faça um levantamento maior dos materiais contidos em seu livro didático de Filosofia, faça bom uso deles e, também, a crítica filosófica onde se fizer necessário, caso não concorde com as posições do(a) autor(a), lembrando-se sempre de confrontar com outros autores e autoras. Tomados os devidos cuidados e buscando sempre uma excelente bagagem de conhecimentos filosóficos por meio de livros e materiais diversos, inclusive tecnológicos, pode-se fazer um bom uso do livro didático em sala de aula e por meio de atividades dadas como tarefas para casa.

Lembre-se que o livro didático pode ser um excelente instrumento de ensino, tomados os devidos cuidados e tendo feito uma boa escolha, a cada dois, três ou quatro anos, do livro a ser usado para ensinar Filosofia. E, professor(a), tenha sempre o costume de ler diretamente os textos escritos pelos filósofos e pelas filósofas, os quais são, sem dúvida, a matéria-prima do ensino-aprendizagem de Filosofia.