Para se poder entender o pensamento filosófico, teológico e educativo medieval é preciso, antes de tudo, ir à fonte primeira onde bebem os pensadores cristãos medievais. Esse manancial encontra-se em Jesus Cristo, retratado nos quatro evangelhos, segundo a maneira como cada evangelista se propôs tratar desse mesmo Jesus.
Jesus foi um pregador. Anunciava o evangelho (palavra grega que significa 'boa nova', 'boa notícia') do Reino de Deus, conforme o expressam os evangelistas. Sua mensagem dirigia-se, particularmente, aos empobrecidos (ver Lucas 4). Jesus é o "messias" esperado pelos judeus (Mateus), é o "Filho de Deus" (Marcos), é aquele que veio resgatar e dar a vida (idéia presente nos quatro evangelhos), Jesus é aquele que perdoa e caminha junto com a comunidade (veja-se, por exemplo, o episódio dos discípulos de Emaús, ao final do Evangelho Segundo Lucas). Jesus é o "Verbo de Deus", é o "pão da vida" e a "luz do mundo" (idéias muito forte no Ev. Seg. João).
Ao mesmo tempo que pregador, Jesus foi EDUCADOR. Queria educar as pessoas que o ouviam para o perdão, a busca do Reino de Deus, a misericórdia, o desapego, a partilha, enfim para o AMOR sem limites. Ensinou com as palavras e com o próprio exemplo, até o final, na cruz e nas aparições finais, até sua ascensão, conforme apresentam as conclusões dos evangelhos e o início dos Atos dos Apóstolos.
Fazendo uso das palavras, Jesus gostava de contar estórias ilustrativas dos conteúdos reais que queria transmitir. Tais estórias são chamadas parábolas. Jesus sabia que a melhor maneira de atingir as pessoas simples e até as poderosas seria partindo de exemplos do dia-a-dia, entremeadas nessas parábolas. Falava de um Deus vivo tomando como ponto de partida a vida das pessoas.
Para falar do perdão de Deus e da necessidade de perdoar, Jesus fez uso da parábola do filho pródigo (em Lucas), o filho esbanjador que, arrependido, foi perdoado pelo pai. Para falar da palavra amorosa de Deus, lançada nos corações das pessoas, Jesus contou a parábola do semeador (por exemplo, em Mateus). Para falar do reino amoroso de Deus e de sua grandeza, comparou-o a uma pérola preciosíssima, pela qual um comprador de pérolas daria tudo. Isto mostra o quanto Jesus era uma excelente observador do cotidiano e das coisas simples da vida, além de excelente contador de estórias.
No mundo atual, Jesus tem muito a ensinar. É preciso redescobrir o contar de estórias e de histórias que falem da vida e dos conteúdos a ela ligados. É preciso ensinar por meio do exemplo de educador. Jesus, de fato, deu muitos exemplos ao longo do tempo em que pisou nos solos da Palestina. Gestos, atitudes e ações reais falam mais que mil palavras. É preciso resgatar a simplicidade no modo de ser, de agir, de tratar as pessoas, sem deixar de ser duro quando realmente é preciso, lembrando que Jesus o fez em vários momentos.
Jesus sabia parar para admirar os lírios dos campos e a ver neles uma beleza superior às vestimentas do próprio rei Salomão (veja-se no Sermão da Montanha, em Mateus). Quantas vezes, hoje, o corre-corre e as preocupações da vida impedem as pessoas de tirarem um certo tempo para contemplar a beleza das flores, dos pássaros e da natureza! A educação precisa resgatar essa "parada contemplativa"! Os exemplos de educadores e educadoras podem ajudar muito. A contemplação da natureza, a exemplo de Jesus, além de ajudar as pessoas a serem mais felizes (Cury, 2003: pp. 35-42), permite-lhes uma maior compreensão de outras pessoas e, conseqüentemente, de si mesmas (filosofia chinesa).
Além do jeito de falar, de se expressar, simples e profundo, as multidões acorriam a Jesus também porque falava com autoridade (vejam-se os evangelhos). Isto é, Jesus falava como conhecedor daquilo que estava falando, como alguém que, ademais, conhecia a vida das pessoas e suas necessidades profundas. Jesus não falava como fariseus e doutores da Lei, que apelavam para a autoridade de Moisés e da Lei mosaica ou de algum profeta. Jesus falava como alguém que tinha domínio do conhecimento da Lei, de outros textos sagrados e do conhecimento da vida, como Mestre. Assim era chamado, "Mestre" (Rabí, de acordo com os textos evangélicos).
Os mestres e as mestras de hoje precisam resgatar o caráter de autoridade em seu trabalho, não como alguém que domina as pessoas, mas como alguém que partilha com elas o conhecimento. Uma das atitudes necessárias a isto é a contínua renovação de seu aprendizado, do aprofundamento permanente de seus conhecimentos, do conhecimento dos livros e da vida, sabendo interpretá-la criticamente e deixá-la percorrer suas palavras. Isto não é fácil, porém é necessário que seja feito.
A realidade concreta em que se vive, no Brasil, é uma realidade de desvalorização do trabalho docente. Salários inadequados, reposições salariais mínimas, sobrecarga constante de trabalhos, pouco investimento na qualidade de vida e na formação profissional docente, por parte das autoridades, indisciplina estudantil, estresse e até mesmo a depressão, dentre outros males, levam professores e professoras freqüentemente a hospitais e clínicas de tratamentos.
Apesar de tudo, veja-se o modelo de Jesus. Ele viveu numa época em que a Palestina era dominada pelo Império Romano, que exercia um poder quase absoluto sobre a vida das pessoas, por reis e cobradores de impostos corruptos a serviço do império, uma realidade de fome e de doenças (vale lembrar aqui que Jesus fez muitos milagres, sinal de que havia muitos doentes). Realmente, apesar de tudo isso, Jesus tornou-se um contemplador da natureza, um mestre do amor verdadeiro, um mestre profundamente preparado, pois aprendeu a fazer a dupla leitura, a leitura da vida e a leitura dos livros - particularmente dos livros sagrados judeus, uma das fontes de aprendizagem nas escolinhas judaicas de seu tempo, e nas sinagogas.
Jesus foi, ao mesmo tempo, "simples como as pombas e sagaz [esperto, inteligente] como as serpentes". Na leitura da vida, também aprendeu a fazer a leitura dos atos, das palavras, dos gestos e até do modo de pensar das pessoas que o rodeavam. Por várias vezes, nos evangelhos, pode-se ver o quanto Jesus conhecia as autoridades que dispunham, em seu tempo, do poder civil e do poder religioso, poder de domínio sobre as pessoas. Tal conhecimento permitiu-lhe fugir, várias vezes, dos ardis, planos maléficos, de fariseus, saduceus e outros que dele não gostavam, pois perturbaba a ordem existente, a qual mantinha privilégios e controle social. Conhecia tão bem esse pessoal e, do mesmo modo, reis e imperadores, pois ouvira falar destes e sentira na pele, como seu povo, o poder exercido por eles, que chamou a atenção de seus discípulos - quando a mãe de dois deles (João e Tiago, irmãos) pediu para que os filhos pudessem sentar-se um à sua direita e outro à sua esquerda quando ele estivesse em seu trono - para que o poder de que dispusessem fosse o poder do serviço aos outros. E Jesus deu exemplo claro disso, lavando os pés de seus discípulos na última ceia.
Nos dias atuais, seguindo o conselho de Jesus de ser "simples como as pombras e sagazes como as serpentes", faz-se necessário, a professores e professoras, o conhecimento crítico e sagaz do mundo ao seu redor, das tramas do poder e de como elas emperram a vida de populações inteiras, incidindo diretamente sobre o trabalho educativo.
Jesus Educador era sensível às necessidades das pessoas. Em certa ocasião, vendo a multidão que queria ouvi-lo, sentiu compaixão, pois aquelas pessoas não tinham o que comer e Jesus temia que desfalecessem ao longo do caminho, na volta para suas casas. No entanto, só fez o milagre da multiplicação de pães e peixes depois que houve partilha, isto é, a colocação, em comum, de alguns pães e alguns peixinhos, da parte de seus discípulos. Com a partilha, o pouco se tornou muito, através da bênção de Jesus. No mundo atual, a fome é algo muito presente e incide, inclusive, sobre o trabalho escolar. Grandes parcelas da população mundial passam fome. Por falta de alimentos? Não, pois há muita produção de alimentos no mundo todo, basta olhar estatísticas (milhões e milhões de toneladas de alimentos produzidas anualmente) e observar o potencial e os recursos naturais e agrícolas mundiais. A fome é fruto de relações de poder e do jogo de interesses políticos e econômicos. A educação precisa estar atenta a questões desse tipo, tendo diante das vistas valores humanísticos fundamentais ao bem viver e às lutas em defesa do bem comum, a exemplo do Mestre.
Jesus é Mestre. Conhecer seu modo de ser, de viver, de interpretar a vida e a realidade do mundo, seu modo de agir, de perceber o mundo e de se expressar, com certeza, pode ajudar, imensamente, no trabalho educativo.
Na Idade Média, Aurélio Agostinho e Tomás de Aquino escreveram dois livros educacionais com o mesmo nome: "O Mestre" ou "Sobre o Mestre" (Em latim, "De Magistro"). Além de empregarem argumentos filosóficos na interpretação do ato de educar-aprender, tiveram diante de si a figura constante de Jesus, como se pode ver claramente nesses textos.
Fontes:
AGOSTINHO, Santo. O Mestre. Trad. de M. l'abbé Raulx. In: http://www.abbaye-saint-benoit.ch/saints/augustin/maitre/index.htm#_top
AQUINO, Santo Tomás de. Sobre o Mestre. Trad. de Maurílio J. O. Camello. In: http://www.lo.unisal.br/nova/graduacao/filosofia/murilo/Tom%E1s%20de%20Aquino.doc
CURY, Augusto. Coleção "Análise da Inteligência de Cristo" (5 volumes). Editora Sextante.
PAULUS. Bíblia de Jerusalém. Editora Paulus.
REALE, Giovanni e ANTISERI, Dario. História da Filosofia (vol. 1). São Paulo, Paulinas, 1990.
ERRATA:
No texto abaixo, de 09/06/08:
1) No título, onde está escrito "Técnicas...aplicadas no ensino...", escreva-se "Técnicas...aplicadas ao ensino...".
2) Na linha 18, onde está escrito "educadores-educando", escreva-se "educadores-educandos".
3) Na linha 40, "técnia" --> "técnica".
4) Na linha 51, "pde" --> "pode".
sexta-feira, 13 de junho de 2008
segunda-feira, 9 de junho de 2008
TÉCNICAS DIDÁTICAS QUE PODEM SE APLICADAS NO ENSINO DE FILOSOFIA E OUTROS CONTEÚDOS (Prof. José Antônio Brazão)
Além de conteúdos filosóficos propriamente ditos, orientações para o trabalho de professores e professoras. Nesse sentido, algumas técnicas que podem ser úteis ao ensino, a seguir.
FORMAÇÃO DE CÍRCULO OU SEMI-CÍRCULO COM A TURMA: Colocar as carteiras e cadeiras dos alunos em círculo ou semi-círculo. Isto permite que cada aluno visualize seu colega, além do professor. Pode ajudar também em debates e levantamento de questões. Paulo Freire fazia uso da técnica do círculo nos "círculos de cultura", indicando com isto a igualdade entre os membros no processo de ensino-aprendizagem, em que todos aprendem com todos. De fato, como o próprio Paulo Freire diz: "Ninguém educa ninguém, ninguém se educa sozinho. Nós nos educamos em comunhão." (Trecho de Pedagogia do Oprimido). Educandos e educadores aprendem juntos, sendo, na verdade, educandos-educadores e educadores-educando. Atualmente, Augusto Cury, em seu livro Pais Brilhantes, Professores Fascinantes, defende também o uso dessa técnica. Além da visualização, ela permite uma concentração maior e uma melhor participação do corpo estudantil, durante as atividades desenvolvidas no ambiente escolar.
TÉCNICA DO DEBATE DE IDÉIAS: Na antigüidade grega, Sócrates (filósofo ateniense do séc. V a.C.) já fazia uso de uma técnica de discussão de idéias, através da ironia e da maiêutica. Essa técnica se dá por meio de perguntas e discussões a respeito do conteúdo em debate, em estudo. O professor pode e deve ser um 'perguntador'. Perguntar a respeito do por quê, do como, das razões, dos fundamentos de algo aprendido ou em aprendizagem, do para quê, etc. Questões desses tipos podem ajudar no despertar da curiosidade dos alunos e possibilitar a abertura das turmas para um debate intenso dos conteúdos aprendidos. Proposta que aparece também em Paulo Freire (Por uma Pedagogia da Pergunta) e em Cury (Pais Brilhantes, Professores fascinantes). Além de perguntas diretas, podem ser repassados aos alunos textos e outros materiais sobre cujo conteúdo se pode debater (um filme, por exemplo). Na sala de aula, sempre fazer perguntas e discuti-las com os alunos, antes de dar respostas mais precisas.
PAINEL INTEGRADO: Um conjunto de texto escritos em folhas de papel, presas a um quadro de madeira ou a um suporte qualquer e que podem ser passadas, uma após outra, permitindo uma exposição visual do conteúdo, por meio de palavras escritas e de gravuras, além do oral, resultante da fala do professor, da professora. Junte a esta técnica as duas anteriores.
TEATRO: O teatro é uma antiga técnia de apresentação de estórias e histórias, po meio do drama, da comédia, da tragédia e de diversos tipos de peças teatrais. Ao longo da história, as apresentações teatrais enterneceram, alegraram e cativaram pessoas do mundo inteiro. Na Grécia antiga e em Roma havia teatros ao ar livre (alguns dos quais ainda existem), onde eram apresentadas peças, em geral com o uso de máscaras. Na China também se sabe de apresentações artísticas desde tempos antigos. Hoje, o teatro encontra-se praticamente no mundo inteiro. Utilizado na escola ou na universidade, pode ser de grande valia no aprendizado estudantil, pois, além de apresentações propriamente ditas, envolve pesquisa, estudo, aprendizado. Podem ser apresentadas peças teatrais prontas, já existentes, de teatrólogos famosos, ou pde ser dado o trabalho de elaboração e montagem de uma (ou mais de uma) peça teatral por um grupo de alunos ou uma turma. Por exemplo, na Filosofia: uma pequena peça teatral sobre a vida de Sócrates, Thomas Hobbes ou qualquer outro pensador em estudo. Demanda pesquisa, estudo, dedicação na elaboração, na montagem, nos ensaios e na apresentação da peça. As turmas só terão a ganhar. Professor(a), proponha uma peça teatral aos alunos como um desafio! Quando fui estudante do segundo grau, um amigo (Júlio César Silva) elaborou uma peça teatral a respeito da reforma agrária, a turma topou a idéia, contando com o apoio do professor de Geografia, e levou adiante a montagem e a apresentação. Foram vários ensaios até chegarmos à apresentação final. E o quanto aprendemos! Lembro-me até da música instrumental de que se fez uso na introdução e na finalização da apresentação, a música "Naja". A apresentação de minha turma foi simples, não tendo sido necessários muitos recursos. Contamos com a boa vontade e o empenho de todos. Isto pode ser feito em Filosofia ou em qualquer disciplina. Os estudantes gostam! Na Língua Inglesa, por exemplo, as peças de Shakespeare e de outros teatrólogos dessa língua. Lembro-me também de uma professora de Língua Inglesa, da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Araguari, que coordenou um grupo de alunos na apresentação de uma peça de Shakespeare, "Mandrágora". Aprenderam muito e quem presenciou também. Na área de Língua Portuguesa, uma peça que fale da vida de Camões, Cora Coralina, Fernando Pessoa ou qualquer escritor de nossa amada língua. Trabalho para alunos, aprendizado de todos!
FORMAÇÃO DE CÍRCULO OU SEMI-CÍRCULO COM A TURMA: Colocar as carteiras e cadeiras dos alunos em círculo ou semi-círculo. Isto permite que cada aluno visualize seu colega, além do professor. Pode ajudar também em debates e levantamento de questões. Paulo Freire fazia uso da técnica do círculo nos "círculos de cultura", indicando com isto a igualdade entre os membros no processo de ensino-aprendizagem, em que todos aprendem com todos. De fato, como o próprio Paulo Freire diz: "Ninguém educa ninguém, ninguém se educa sozinho. Nós nos educamos em comunhão." (Trecho de Pedagogia do Oprimido). Educandos e educadores aprendem juntos, sendo, na verdade, educandos-educadores e educadores-educando. Atualmente, Augusto Cury, em seu livro Pais Brilhantes, Professores Fascinantes, defende também o uso dessa técnica. Além da visualização, ela permite uma concentração maior e uma melhor participação do corpo estudantil, durante as atividades desenvolvidas no ambiente escolar.
TÉCNICA DO DEBATE DE IDÉIAS: Na antigüidade grega, Sócrates (filósofo ateniense do séc. V a.C.) já fazia uso de uma técnica de discussão de idéias, através da ironia e da maiêutica. Essa técnica se dá por meio de perguntas e discussões a respeito do conteúdo em debate, em estudo. O professor pode e deve ser um 'perguntador'. Perguntar a respeito do por quê, do como, das razões, dos fundamentos de algo aprendido ou em aprendizagem, do para quê, etc. Questões desses tipos podem ajudar no despertar da curiosidade dos alunos e possibilitar a abertura das turmas para um debate intenso dos conteúdos aprendidos. Proposta que aparece também em Paulo Freire (Por uma Pedagogia da Pergunta) e em Cury (Pais Brilhantes, Professores fascinantes). Além de perguntas diretas, podem ser repassados aos alunos textos e outros materiais sobre cujo conteúdo se pode debater (um filme, por exemplo). Na sala de aula, sempre fazer perguntas e discuti-las com os alunos, antes de dar respostas mais precisas.
PAINEL INTEGRADO: Um conjunto de texto escritos em folhas de papel, presas a um quadro de madeira ou a um suporte qualquer e que podem ser passadas, uma após outra, permitindo uma exposição visual do conteúdo, por meio de palavras escritas e de gravuras, além do oral, resultante da fala do professor, da professora. Junte a esta técnica as duas anteriores.
TEATRO: O teatro é uma antiga técnia de apresentação de estórias e histórias, po meio do drama, da comédia, da tragédia e de diversos tipos de peças teatrais. Ao longo da história, as apresentações teatrais enterneceram, alegraram e cativaram pessoas do mundo inteiro. Na Grécia antiga e em Roma havia teatros ao ar livre (alguns dos quais ainda existem), onde eram apresentadas peças, em geral com o uso de máscaras. Na China também se sabe de apresentações artísticas desde tempos antigos. Hoje, o teatro encontra-se praticamente no mundo inteiro. Utilizado na escola ou na universidade, pode ser de grande valia no aprendizado estudantil, pois, além de apresentações propriamente ditas, envolve pesquisa, estudo, aprendizado. Podem ser apresentadas peças teatrais prontas, já existentes, de teatrólogos famosos, ou pde ser dado o trabalho de elaboração e montagem de uma (ou mais de uma) peça teatral por um grupo de alunos ou uma turma. Por exemplo, na Filosofia: uma pequena peça teatral sobre a vida de Sócrates, Thomas Hobbes ou qualquer outro pensador em estudo. Demanda pesquisa, estudo, dedicação na elaboração, na montagem, nos ensaios e na apresentação da peça. As turmas só terão a ganhar. Professor(a), proponha uma peça teatral aos alunos como um desafio! Quando fui estudante do segundo grau, um amigo (Júlio César Silva) elaborou uma peça teatral a respeito da reforma agrária, a turma topou a idéia, contando com o apoio do professor de Geografia, e levou adiante a montagem e a apresentação. Foram vários ensaios até chegarmos à apresentação final. E o quanto aprendemos! Lembro-me até da música instrumental de que se fez uso na introdução e na finalização da apresentação, a música "Naja". A apresentação de minha turma foi simples, não tendo sido necessários muitos recursos. Contamos com a boa vontade e o empenho de todos. Isto pode ser feito em Filosofia ou em qualquer disciplina. Os estudantes gostam! Na Língua Inglesa, por exemplo, as peças de Shakespeare e de outros teatrólogos dessa língua. Lembro-me também de uma professora de Língua Inglesa, da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Araguari, que coordenou um grupo de alunos na apresentação de uma peça de Shakespeare, "Mandrágora". Aprenderam muito e quem presenciou também. Na área de Língua Portuguesa, uma peça que fale da vida de Camões, Cora Coralina, Fernando Pessoa ou qualquer escritor de nossa amada língua. Trabalho para alunos, aprendizado de todos!
ARISTÓTELES DE ESTAGIRA (Séc. IV a.C.) (Prof. José Antônio Brazão.)
De acordo com Aristóteles, quatro são as causas fundamentais do movimento: a causa material, a causa formal, a causa motriz e a causa final. A causa material seria a matéria de que é composto um ser; a causa formal, a forma ou idéia que permitirá a "modelagem" do ser, permitindo estabelecer e definir esse ser; a causa motriz é aquela que, como o próprio nome diz, põe em movimento, ou melhor, age, atua, no sentido de dar forma ao material; enfim, a causa final seria o fim (o objetivo, a finalidade) para o qual o ser sofreu o movimento. Por exemplo:
a) Uma estátua: a causa material seria o pedaço de rocha a partir do qual será feita; a causa formal seria a idéia de estátua contida na mente do artesão, a forma que ele aplicará no pedaço de rocha; a causa motriz seriam as ações ou o trabalho do artesão, moldando e transformando a pedra em estátua; a causa final poderia ser servir de objeto de adoração pelas pessoas (no caso da estátua de um deus ou deusa) ou em honra a um herói ou grande personagem da vida política e social.
b) No caso de uma árvore: a causa material seria a matéria que um dia se tornou semente e que foi por esta assimilada ao ser lançada no solo, à medida em que foi crescendo; a causa formal seria a forma de árvore contida naturalmente dentro da semente e que, com a ajuda das condições favoráreis, vai tomando forma ao longo do crescimento; a causa motriz seriam as condições do solo, de chuva, sol e outras necessárias a qualquer planta; a causa final seria a finalidade para a qual a árvore veio a se desenvolver, como fornecer frutos para alimentação de outros seres vivos, reprodução, sombra, madeira, etc. Curiosamente, o que distinguirá um carvalho de um cipreste será a forma contida implicita e naturalmente dentro da respectiva semente.
Além do movimento, a física aristotélica lida também com a questão dos lugares em que se situam os seres. No alto, embaixo, no mundo sublunar, no mundo supralunar. O lugar de um ser vai de acordo com a composição que faz parte dele. Aristóteles retoma as idéias de Empédocles quanto às quatro raízes: terra, água, ar e fogo. Nesta seqüência, do mais pesado ao mais leve, daquele que está mais embaixo ao que ocupa lugar mais alto, cada qual ocupando seu lugar natural. Por exemplo: a pedra retorna ao chão porque aí se encontra seu lugar natural, pois é pesada e o lugar natural dos corpos pesados é embaixo; o fogo se movimenta para cima porque é leve e, portanto, seu lugar natural é, justamente, o lugar de cima.
Para Aristóteles o cosmos compõe-se de duas partes básicas: o mundo sublunar, formado pelos quatro elementos, e o mundo supralunar, composto pelo éter, um elemento invisível e sutil. O mundo sublunar, como o próprio nome dia, é aquele que se encontra abaixo da Lua. Corresponde à Terra. O mundo supralunar, aquele que se encontra a partir e acima da Lua. Corresponde aos astros: Lua, Mercúrio, Vênus, Sol, Marte, Júpiter, Saturno e a esfera das estrelas fixas. O mundo sublunar está em constante devir, transformação. O mundo supralunar, por sua vez, em razão da sutileza do elemento que o compõe (o éter), não está sujeito ao processo de devir do mundo sublunar. As órbitas dos astros seriam circulares. Com efeito, o círculo é uma figura matemática que tem seu começo e seu fim em si mesmo, isto é, no ponto em que se inicia aí também termina o círculo. Os pitagóricos, bem antes de Aristóteles, já haviam percebido essa característica do círculo e davam a este um significado até mesmo místico. A circularidade dá uma idéia de perfeição, que, aqui, corresponderia ao movimento orbital em torno da Terra, que ocuparia o centro do universo e que estaria aí imóvel.
Como explicar o movimento dos astros? Aristóteles fala então de Deus, que está para além das fronteiras do cosmos e que põem em movimento os astros, a partir das estrelas fixas. O movimento destas, por sua vez, se comunicaria, através do éter que ocupa o espaço sideral, ao planeta Saturno, e assim por diante, reduzindo-se cada vez mais a intensidade do movimento, até chegar à Terra, parada no centro do universo.
No século II da era cristã, um astrônomo e matemático de Alexandria, Cláudio Ptolomeu, aperfeiçoou o sistema geocêntrico, acrescentou epiciclos (círculos menores dentro dos círculos orbitais maiores) e sistematizou-o em um livro chamado Almagesto.
A teoria geocêntrica permaneceu como base da compreensão astronômica do universo até o século XVI da era cristã, a partir do qual foi sendo paulatinamente derrubada pelas idéias heliocêntricas de Nicolau Copérnico, Galileu Galilei e outros que aperfeiçoaram a compreensão do movimento dos astros e do universo.
As idéias físicas de Aristóteles foram também postas em questão por Galileu Galilei, como se verá ao tratar do Renascimento artístico, científico e cultural moderno.
(Texto do Prof. José Antônio Brazão.)
a) Uma estátua: a causa material seria o pedaço de rocha a partir do qual será feita; a causa formal seria a idéia de estátua contida na mente do artesão, a forma que ele aplicará no pedaço de rocha; a causa motriz seriam as ações ou o trabalho do artesão, moldando e transformando a pedra em estátua; a causa final poderia ser servir de objeto de adoração pelas pessoas (no caso da estátua de um deus ou deusa) ou em honra a um herói ou grande personagem da vida política e social.
b) No caso de uma árvore: a causa material seria a matéria que um dia se tornou semente e que foi por esta assimilada ao ser lançada no solo, à medida em que foi crescendo; a causa formal seria a forma de árvore contida naturalmente dentro da semente e que, com a ajuda das condições favoráreis, vai tomando forma ao longo do crescimento; a causa motriz seriam as condições do solo, de chuva, sol e outras necessárias a qualquer planta; a causa final seria a finalidade para a qual a árvore veio a se desenvolver, como fornecer frutos para alimentação de outros seres vivos, reprodução, sombra, madeira, etc. Curiosamente, o que distinguirá um carvalho de um cipreste será a forma contida implicita e naturalmente dentro da respectiva semente.
Além do movimento, a física aristotélica lida também com a questão dos lugares em que se situam os seres. No alto, embaixo, no mundo sublunar, no mundo supralunar. O lugar de um ser vai de acordo com a composição que faz parte dele. Aristóteles retoma as idéias de Empédocles quanto às quatro raízes: terra, água, ar e fogo. Nesta seqüência, do mais pesado ao mais leve, daquele que está mais embaixo ao que ocupa lugar mais alto, cada qual ocupando seu lugar natural. Por exemplo: a pedra retorna ao chão porque aí se encontra seu lugar natural, pois é pesada e o lugar natural dos corpos pesados é embaixo; o fogo se movimenta para cima porque é leve e, portanto, seu lugar natural é, justamente, o lugar de cima.
Para Aristóteles o cosmos compõe-se de duas partes básicas: o mundo sublunar, formado pelos quatro elementos, e o mundo supralunar, composto pelo éter, um elemento invisível e sutil. O mundo sublunar, como o próprio nome dia, é aquele que se encontra abaixo da Lua. Corresponde à Terra. O mundo supralunar, aquele que se encontra a partir e acima da Lua. Corresponde aos astros: Lua, Mercúrio, Vênus, Sol, Marte, Júpiter, Saturno e a esfera das estrelas fixas. O mundo sublunar está em constante devir, transformação. O mundo supralunar, por sua vez, em razão da sutileza do elemento que o compõe (o éter), não está sujeito ao processo de devir do mundo sublunar. As órbitas dos astros seriam circulares. Com efeito, o círculo é uma figura matemática que tem seu começo e seu fim em si mesmo, isto é, no ponto em que se inicia aí também termina o círculo. Os pitagóricos, bem antes de Aristóteles, já haviam percebido essa característica do círculo e davam a este um significado até mesmo místico. A circularidade dá uma idéia de perfeição, que, aqui, corresponderia ao movimento orbital em torno da Terra, que ocuparia o centro do universo e que estaria aí imóvel.
Como explicar o movimento dos astros? Aristóteles fala então de Deus, que está para além das fronteiras do cosmos e que põem em movimento os astros, a partir das estrelas fixas. O movimento destas, por sua vez, se comunicaria, através do éter que ocupa o espaço sideral, ao planeta Saturno, e assim por diante, reduzindo-se cada vez mais a intensidade do movimento, até chegar à Terra, parada no centro do universo.
No século II da era cristã, um astrônomo e matemático de Alexandria, Cláudio Ptolomeu, aperfeiçoou o sistema geocêntrico, acrescentou epiciclos (círculos menores dentro dos círculos orbitais maiores) e sistematizou-o em um livro chamado Almagesto.
A teoria geocêntrica permaneceu como base da compreensão astronômica do universo até o século XVI da era cristã, a partir do qual foi sendo paulatinamente derrubada pelas idéias heliocêntricas de Nicolau Copérnico, Galileu Galilei e outros que aperfeiçoaram a compreensão do movimento dos astros e do universo.
As idéias físicas de Aristóteles foram também postas em questão por Galileu Galilei, como se verá ao tratar do Renascimento artístico, científico e cultural moderno.
(Texto do Prof. José Antônio Brazão.)
sexta-feira, 6 de junho de 2008
ARISTÓTELES DE ESTAGIRA (séc.IV a.C.) (Prof. José Antônio Brazão.)
Filósofo nascido na Macedônia, filho de Nicômaco, médico do rei macedônico. Um dos maiores filósofos da antigüidade. Em sua juventude foi discípulo de Platão, em Atenas, na Academia. Em razão de seu interesse pelos estudos e pela leitura assídua, Platão apelidou-o "O Leitor". Após a morte de seu mestre, Aristóteles tentou ocupar a vaga de diretor da Academia, porém perdeu-a para Espeusipo, sobrinho de Platão. Viajou por vários lugares. Casou-se, enviuvou e tornou-se a casar-se tempos depois. Foi tutor de Alexandre Magno, filho do rei Filipe, na Macedônia. De retorno a Atenas, fundou uma escola filosófica à qual deu o nome de Liceu, em honra ao deus Apolo Lício. Apolo é o deus do Sol, da luz. Os discípulos de Aristóteles eram conhecidos como peripatéticos, isto é, "passeadores", em razão de terem aulas passeando pelos jardins do Liceu. Boa parte de sua vida Aristóteles passou-a em Atenas, dedicando-se ao ensino. Quando Alexandre morreu e os gregos começaram a se rebelar contra o domínio macedônico, Aristóteles fugiu para a ilha de Cálcis, onde havia terras por ele herdadas, evitando que fosse julgado e preso, como o fôra antes dele Sócrates. Tempos depois, veio a falecer ali. Algumas obras de Aristóteles: Política, Metafísica, Física, Órganon, dentre outras, tratando de assuntos os mais diversos. Aristóteles opõe-se à teoria das Idéias, de Platão, não acreditando na existência de formas eternas pré-existentes em um mundo hiperfísico (Mundo das Idéias ou Inteligível). Para ele, as idéias são formadas a partir da ligação estabelecida na mente entre as informações fornecidas pelos cinco sentidos. Nada há na mente que antes não tenha passado pelos sentidos. Aprender, portanto, não é lembrar. Aprender demanda percepção do mundo e apreensão de conteúdos através dos sentidos, particularmente o da visão e da audição. O aprendizado, para Aristóteles, deve ser algo sistemático, ordenado, supõe memorização e compreensão, não uma reminiscência de algo que a alma já tenha contemplado em outro mundo.
No âmbito da física, Aristóteles interessou-se pela compreensão do movimento. De acordo com ele, o movimento seria a passagem da potência ao ato, isto é, da possibilidade de vir a ser para a realização em ato do ser. Por exemplo: uma semente seria uma árvore em potência, pois carrega consigo a possibilidade de vir a ser uma árvore, necessitando, para tanto, de solo adequado e de água. A árvore seria, por sua vez, a realização da potência existente na semente.
(Texto do Professor José Antônio Brazão.)
No âmbito da física, Aristóteles interessou-se pela compreensão do movimento. De acordo com ele, o movimento seria a passagem da potência ao ato, isto é, da possibilidade de vir a ser para a realização em ato do ser. Por exemplo: uma semente seria uma árvore em potência, pois carrega consigo a possibilidade de vir a ser uma árvore, necessitando, para tanto, de solo adequado e de água. A árvore seria, por sua vez, a realização da potência existente na semente.
(Texto do Professor José Antônio Brazão.)
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