segunda-feira, 9 de junho de 2008

ARISTÓTELES DE ESTAGIRA (Séc. IV a.C.) (Prof. José Antônio Brazão.)

De acordo com Aristóteles, quatro são as causas fundamentais do movimento: a causa material, a causa formal, a causa motriz e a causa final. A causa material seria a matéria de que é composto um ser; a causa formal, a forma ou idéia que permitirá a "modelagem" do ser, permitindo estabelecer e definir esse ser; a causa motriz é aquela que, como o próprio nome diz, põe em movimento, ou melhor, age, atua, no sentido de dar forma ao material; enfim, a causa final seria o fim (o objetivo, a finalidade) para o qual o ser sofreu o movimento. Por exemplo:
a) Uma estátua: a causa material seria o pedaço de rocha a partir do qual será feita; a causa formal seria a idéia de estátua contida na mente do artesão, a forma que ele aplicará no pedaço de rocha; a causa motriz seriam as ações ou o trabalho do artesão, moldando e transformando a pedra em estátua; a causa final poderia ser servir de objeto de adoração pelas pessoas (no caso da estátua de um deus ou deusa) ou em honra a um herói ou grande personagem da vida política e social.
b) No caso de uma árvore: a causa material seria a matéria que um dia se tornou semente e que foi por esta assimilada ao ser lançada no solo, à medida em que foi crescendo; a causa formal seria a forma de árvore contida naturalmente dentro da semente e que, com a ajuda das condições favoráreis, vai tomando forma ao longo do crescimento; a causa motriz seriam as condições do solo, de chuva, sol e outras necessárias a qualquer planta; a causa final seria a finalidade para a qual a árvore veio a se desenvolver, como fornecer frutos para alimentação de outros seres vivos, reprodução, sombra, madeira, etc. Curiosamente, o que distinguirá um carvalho de um cipreste será a forma contida implicita e naturalmente dentro da respectiva semente.
Além do movimento, a física aristotélica lida também com a questão dos lugares em que se situam os seres. No alto, embaixo, no mundo sublunar, no mundo supralunar. O lugar de um ser vai de acordo com a composição que faz parte dele. Aristóteles retoma as idéias de Empédocles quanto às quatro raízes: terra, água, ar e fogo. Nesta seqüência, do mais pesado ao mais leve, daquele que está mais embaixo ao que ocupa lugar mais alto, cada qual ocupando seu lugar natural. Por exemplo: a pedra retorna ao chão porque aí se encontra seu lugar natural, pois é pesada e o lugar natural dos corpos pesados é embaixo; o fogo se movimenta para cima porque é leve e, portanto, seu lugar natural é, justamente, o lugar de cima.
Para Aristóteles o cosmos compõe-se de duas partes básicas: o mundo sublunar, formado pelos quatro elementos, e o mundo supralunar, composto pelo éter, um elemento invisível e sutil. O mundo sublunar, como o próprio nome dia, é aquele que se encontra abaixo da Lua. Corresponde à Terra. O mundo supralunar, aquele que se encontra a partir e acima da Lua. Corresponde aos astros: Lua, Mercúrio, Vênus, Sol, Marte, Júpiter, Saturno e a esfera das estrelas fixas. O mundo sublunar está em constante devir, transformação. O mundo supralunar, por sua vez, em razão da sutileza do elemento que o compõe (o éter), não está sujeito ao processo de devir do mundo sublunar. As órbitas dos astros seriam circulares. Com efeito, o círculo é uma figura matemática que tem seu começo e seu fim em si mesmo, isto é, no ponto em que se inicia aí também termina o círculo. Os pitagóricos, bem antes de Aristóteles, já haviam percebido essa característica do círculo e davam a este um significado até mesmo místico. A circularidade dá uma idéia de perfeição, que, aqui, corresponderia ao movimento orbital em torno da Terra, que ocuparia o centro do universo e que estaria aí imóvel.
Como explicar o movimento dos astros? Aristóteles fala então de Deus, que está para além das fronteiras do cosmos e que põem em movimento os astros, a partir das estrelas fixas. O movimento destas, por sua vez, se comunicaria, através do éter que ocupa o espaço sideral, ao planeta Saturno, e assim por diante, reduzindo-se cada vez mais a intensidade do movimento, até chegar à Terra, parada no centro do universo.
No século II da era cristã, um astrônomo e matemático de Alexandria, Cláudio Ptolomeu, aperfeiçoou o sistema geocêntrico, acrescentou epiciclos (círculos menores dentro dos círculos orbitais maiores) e sistematizou-o em um livro chamado Almagesto.
A teoria geocêntrica permaneceu como base da compreensão astronômica do universo até o século XVI da era cristã, a partir do qual foi sendo paulatinamente derrubada pelas idéias heliocêntricas de Nicolau Copérnico, Galileu Galilei e outros que aperfeiçoaram a compreensão do movimento dos astros e do universo.
As idéias físicas de Aristóteles foram também postas em questão por Galileu Galilei, como se verá ao tratar do Renascimento artístico, científico e cultural moderno.
(Texto do Prof. José Antônio Brazão.)

Nenhum comentário: