quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

O Sistema Heliocêntrico (imagens)

Sistema heliocêntrico copernicano. Observar as órbitas ainda circulares. Grande avanço para o século XVI e seguintes. (Imagem presente em: http://www.fisicastronomorais.com/avintrod6.htm)

O sistema helicêntrico. (Imagem presente em: http://wikibrowser.net/images/pt/320px_Solar_sys.jpg)


As imagens acima têm por finalidade ilustrar os textos que se seguem abaixo, contribuindo, assim, para uma melhor compreensão dos mesmos mediante a visualização de conteúdos neles discutidos. (Professor José Antônio Brazão.)

Galileu Galilei e Isaac Newton (Prof. José Antônio Brazão.)

Galileu Galilei (1564-1642)

Isaac Newton (1642-1727)

Astrônomo e matemático italiano, Galileu Galilei fez uma série de descobertas que trouxeram novas luzes sobre a realidade física e planetária. Dentre essas descobertas encontram-se, com o uso do telescópio: luas em Saturno, buracos na Lua, manchas no Sol, a composição de estelar da Via Láctea. Tornou-se um defensor ardoroso do sistema helicêntrico copernicano.
Até sua época, o sistema astronômico aceito era o geocêntrico, isto é, aquele que colocava a Terra (Geia ou Gaia, em grego) no centro do universo, parada, com todos os demais astros girando circularmente ao seu redor. Tal sistema alicerçava-se sobre as teorias de antigos astrônomos e filósofos, como Aristóteles de Estagira, filósofo grego que viveu no século IV a.C., e Cláudio Ptolomeu, matemático, geógrafo e astrônomo que viveu e trabalhou em Alexandria, no norte do Egito, no século II da era cristã.
O universo geocêntrico aristotélico-ptolomaico tinha ainda algumas características importantes, que depois vieram a ser derrubadas pelas descobertas de Galileu: além de circular e finito, era composto de éter – substância pura e cristalina –, que também tornaria puros os astros, inexistência de vácuo, tem apenas um centro (a Terra), seu movimento ocorre de fora para dentro, diminuindo à medida em que se aproxima do centro, até parar nele. O movimento do universo viria de Deus, que impulsionaria a esfera das estrelas fixas, o movimento destas provocaria, por sua vez, o movimento do éter, que provocaria o movimento de Saturno, até chegar à Terra, parando aí. A composição dos astros seria o éter, a da Terra, os quatro elementos (terra, água, ar e fogo), de Empédocles.
O sistema geocêntrico, ademais, era defendido pela Igreja Católica também com base na Bíblia, por exemplo, no episódio de Josué, que, orando, pediu que Deus parasse o Sol e a Lua a fim de Israel vencer uma batalha, portanto os astros giram em torno da Terra. No que diz respeito à teoria aristotélica de que os mais pesados chegam ao solo mais rápido que os mais leves, em razão do lugar natural de cada um e de seu peso, Galileu, com base em observações e raciocínio, chegou a concluir que, na verdade, a razão dos mais leves chegarem ao chão em momento diferente dos pesados é que existe o ar, o qual se interpõe entre o solo e o objeto em queda. No século XX, curiosamente, uma das experiências feitas por astronautas que foram à Lua foi a de lançar, ao mesmo tempo, uma pena e um martelo, observando que ambos chegaram ao solo lunar ao mesmo tempo, comprovando a teoria de Galileu.
Galileu conseguiu, através do telescópio – uma luneta aperfeiçoada e apontada para os céus – perceber que na Lua existem buracos, vales e montanhas, que no Sol há manchas, etc. Com isto, punha abaixo a teoria até então aceita de que os astros eram puros, sem defeito, como acreditavam os que defendiam o geocentrismo. O telescópio permitiu-lhe, ainda, perceber que no movimento de Marte havia variações que apontavam para a comprovação do heliocentrismo, ao qual defendeu e por causa do qual veio a sofrer nas mãos do Tribunal da Santa Inquisição Católica. A Igreja chegou a proibir-lhe a divulgação das ideias de Copérnico e veio até a encarcerá-lo. Julgado, Galileu teve que abdicar de suas ideias e ficou confinado, em casa, como prisão.
Outro dos grandes méritos de Galileu foi o de ter colocado, junto com a observação, a necessidade de cálculos precisos e verificações matemáticas das informações obtidas por meio daquela e de experiências. Galileu não foi um puro teórico. Buscou aliar à teoria a prática da observação precisa daquilo observava nos céus e na Terra, bem como em experimentos por ele mesmo realizados. Galileu chegou a afirmar que o universo está escrito em caracteres matemáticos e que, para se poder entendê-lo e interpretá-lo, é preciso entender sua linguagem matemática. Com isto, Galileu quis dizer que o uso da matemática no cálculo de informações obtidas com observações do universo pode ajudar grandemente na percepção e compreensão do mesmo e das leis rígidas e precisas que o regem.
As ideias de Copérnico, Galileu e Kepler foram retormadas, entre os séculos XVII e XVIII, pelo matemático, físico e astrônomo inglês Isaac Newton, cujas descobertas culminaram a ciência moderna. Newton realizou uma série de observações, experimentos e cálculos da natureza e do universo, partindo daí para a compreensão e definição de leis que regem o universo, como: leis do movimento, lei da gravidade, etc. Ao estudar as cores, Newton descobriu que a cor branca é resultado da fusão de todas as cores, e da refração daquelas, seja num prisma ou em arco-íris, surgem as cores que compõem este. Newton também descobriu, junto com o filósofo e matemático alemão Leibniz, o cálculo infinitesimal.
No que diz respeito da descoberta da lei da gravidade, a Encarta faz o seguinte comentário:
“Sua principal contribuição, no entanto, foi a formulação das três leis do movimento (ver Mecânica) e a dedução, a partir delas, da lei da gravitação universal. Provavelmente, Newton é mais conhecido por esta lei, que afirma que todos os corpos no espaço e na Terra sofrem a ação de uma força chamada de gravidade. Publicou sua teoria em Princípios matemáticos da filosofia natural (1687), obra que marcou época na história da ciência e fez com que o autor perdesse o medo de expor suas teorias.” (Enciclopédia Microsoft® Encarta®. © 1993-2001 Microsoft Corporation.) (grifo meu)
A gravidade, como Newton a percebeu, encontra-se em todo o universo, por meio da atração direta das massas dos corpos que nele estão presentes e da razão inversa das distâncias que os separam, isto é, quanto mais próximo um objeto material estiver de outro ou corpo celestial do outro, tanto maior a força de atração gravitacional, quanto maior a massa maior a atração de um sobre outro, e vice-versa. Kepler já havia desconfiado dessa força, Galileu também, ao trabalhar com o lançamento de corpos com pesos diferentes e de projéteis. Quanto à desconfiança de Kepler, vale a pena verificar o vídeo mencionado no texto anterior: Cosmos, episódio 3: A Harmonia dos Mundos, de Karl Sagan.
O livro Princípios matemáticos da filosofia natural, de Newton, é uma obra-prima da física clássica, no qual trabalha o movimento dos corpos, a interação de forças, as leis que regem os movimentos, a lei da gravidade, dentre outros temas relacionados. Um livro que alia, a todo momento, teoria e observação, buscando precisão na definição de leis naturais. De fato, uma das grandes características da ciência moderna foi justamente essa: a aliança entre teoria e observação-experimentação.
Newton, porém, além de físico, também foi um grande alquimista e estudioso de livros e textos alquímicos. A alquimia ocupou uma boa parte do interesse de Newton, assim como a astrologia ainda esteve presente na vida de astrônomos renomados como Brahe e Kepler. O interesse pela alquimia nos estudos de Newton prova que este também buscava entender forças místicas que interagiam nas substâncias e até nos seres. Não se pode falar, portanto de Newton como um puro físico. Sem dúvida nenhuma, teve muitíssimos méritos, mesmo ao estudar a alquimia. Foi o trabalho de alquimistas que permitiu, ao longo dos séculos, a descoberta de novas substâncias e até mesmo de remédios. Contudo, ao estudar Newton e aqueles outros cientistas, o que aqui nos interessa é que suas descobertas deram grandes contributos para uma nova compreensão do universo e da natureza, provocando o pensamento humano a elevar-se para além do sensível e do senso comum.
As mudanças modernas ocorridas na economia, na sociedade, na religião, na cultura, nas artes e nas ciências tiveram grande influência sobre a filosofia. O princípio de autoridade, muito usado na escolástica e ainda nos princípios do mundo moderno (séculos XVI-XVII), afirmava que determinados pensadores antigos e medievais, como Platão, Aristóteles, Ptolomeu, textos da Bíblia, santos e doutores da Igreja Católica eram autoridades nos assuntos de que trataram, portanto deviam ser respeitadas e acatadas suas teorias e ideias, sem contestação. Ao pôr abaixo o princípio de autoridade, a ciência moderna, com suas descobertas, abriu novos caminhos e levantou novas questões que, junto com outras levantadas por outros acontecimentos da época, passaram a ser discutidas pela filosofia.
Referências:
Enciclopédia Microsoft® Encarta®. © 1993-2001 Microsoft Corporation
http://plato.stanford.edu/entries/newton/
http://plato.stanford.edu/entries/galileo/
http://pt.wikipedia.org/wiki/Alquimia
http://pt.wikipedia.org/wiki/Galileu_galilei
http://pt.wikipedia.org/wiki/Isaac_Newton
http://www.exatas.com/quimica/historia.html


ONDE ENCONTRAR AS OBRAS COMPLETAS DE NEWTON:

http://cudl.lib.cam.ac.uk/collections/newton  à Cambridge Digital Library (Biblioteca Digital Cambridge), uma biblioteca digital da Universidade de Cambridge, Inglaterra.

http://web.nli.org.il/sites/nli/english/collections/humanities/pages/newton.aspx  à The National Library of Israel (A Biblioteca Nacional de Israel).

http://www.newtonproject.sussex.ac.uk/prism.php?id=1  à The Newton Project (O Projeto Newton), da The National Library of Israel.

http://www.newtonproject.sussex.ac.uk/prism.php?id=43  à As obras de Newton citadas no The Newton Project (O Projeto Newton), citado.

http://www.newtonproject.sussex.ac.uk/prism.php?id=15  à Resumo cronológico da biografia de Isaac Newton.

Você pode usar tradutores online. São de boa utilidade. No mais, não se esqueça, professor(a) de Filosofia ou mesmo de outra(s) área(s), estudante ou pessoa interessada nas ideias filosóficas ou no simples conhecimento geral e, aqui, também interessada no estudo de Isaac Newton: aprenda línguas estrangeiras (o inglês é uma delas). Por exemplo, tem o Google Tradutor, além de outros. Pesquise e você encontrará bons tradutores online.

No mais, faça bom proveito!

terça-feira, 24 de novembro de 2009

CIÊNCIA MODERNA 2 - Resumo e comentário de um vídeo ilustrativo. Prof. José Antônio Brazão.

Sistema Solar de Kepler. O universo concebido como engastado nos sólidos pitagóricos. Imagem presente em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Kepler

A órbita elíptica, como foi descoberta por Kepler. Na primeira lei de Kepler é dito que os planetas percorrem órbitas elípticas ao redor do Sol. Avanço na compreensão do movimento dos planetas e de outros astros, inclusive galáxias e cometas, do universo.
Imagem presente em: http://pt.wikipedia.org/wiki/%C3%93rbita



Imagem colorida das órbitas elípticas planetárias. (Presente em:
http://www.sobiologia.com.br/conteudos/Universo/sistemasolar.php)

VÍDEO COSMOS, EPISÓDIO 3: “A HARMONIA DOS MUNDOS”, de CARL SAGAN: (Resumo e comentário feitos pelo Prof. José Antônio Brazão.)
No vídeo 3 da série Cosmos, o astrônomo norte-americano Carl Sagan trata de assuntos que vão desde as diferenças entre astronomia e astrologia até as descobertas astronômicas de Johannes Kepler.
De acordo do Sagan, há dois modos de se encarar as estrelas: como elas são de fato e como gostaríamos que elas fossem. Com isto, introduz uma discussão a respeito do embate entre astronomia e astrologia. Para os astrólogos, por exemplo, o planeta Marte representa o deus da guerra, o guerreiro, afetando a vida das pessoas, para os astrônomos, por sua vez, é apenas um planeta, um local do universo que precisa ser explorado e conhecido.
A astrologia é uma pseudo-ciência muito antiga, encontrando-se até na China, na qual os astrólogos estatais que errassem previsões eram punidos severamente. A astrologia, na verdade, é um misto de ciência e misticismo, constituindo-se numa verdadeira fraude. A ciência, como a astronomia, pelo contrário, além de apresentar fatos reais e desvendar claramente os mistérios do universo, pode contribuir com a melhoria da vida.
Nossa conexão com o universo, de acordo com Sagan, é bem mais forte. No universo há regularidade, padrões e regras, conhecidos como leis da natureza. Tal regularidade despertou, no decorrer dos séculos, nos seres humanos de diferentes sociedades a busca por sua compreensão.
Em sociedades diferentes, ao longo de milênios e séculos, os seres humanos aprenderam a ver figuras nos céus, nas constelações, às quais foram dados nomes diferentes, conforme cada sociedade e cada tempo histórico. A regularidade e a previsibilidade das estrelas e dos movimentos dos astros do universo, o intercalar regular entre dia e noite, dava uma ideia de possibilidade de sobrevivência à morte. O povo anasazi, da América do Norte, por exemplo, desenvolveu um templo com um calendário cerimonial no intuito de celebrar o Sol, modelo de precisão no trabalho humano. Ademais, aprenderam a distinguir as estações e aproveitar tal distinção em seu benefício.
O templo dos anasazi tem nichos (buracos nas paredes), conformemente ao número dos dias dos meses. Para se ter uma ideia, no solstício de verão os raios do Sol atingiam um nicho específico somente nesse dia. Outros povos, como os chineses, babilônios, egípcios, de Stonehenge e das Américas, também foram observadores dos céus e desenvolveram calendários naturais. E há aparatos mais sofisticados para a observação dos céus que foram desenvolvidos ao longo dos séculos. No que diz respeito especificamente aos anasazi, apesar de terem atingido cerca de 40.000 gerações no passado, hoje não há deles senão as obras que deixaram.
Nossos ancestrais pré-históricos, bem como outros depois deles, observaram que há astros no céu que não seguem uma regularidade precisa em seu movimento. Chegou-se a acreditar que eram vivos. Os gregos os batizaram PLANETAS, que em grego quer dizer: ANDARILHOS.
No século II da era cristã, Cláudio Ptolomeu, astrônomo, matemático e astrólogo de Alexandria, desenvolveu um modelo aperfeiçoado do geocentrismo, posteriormente apoiado pela Igreja Católica durante a Idade Média. No século XVI, porém, um astrônomo polonês chamado Nicolau Copérnico, com base em observações e percepção de falhas no sistema geocêntrico, propôs o heliocentrismo. O livro de Copérnico Sobre as Revoluções dos Orbes Celestes foi posto no Índice dos Livros Proibidos e criticado duramente até mesmo por Lutero.
Tempos depois, Johannes Kepler, astrônomo e matemático alemão, veio a descobrir o real movimento dos astros ao redor do Sol. Desde bem jovem Kepler queria entender a mente de Deus, até mesmo no seminário protestante de Maulbronn, onde estudou teologia, mas também grego, latim, matemática, música e astronomia. Encontrou na geometria a imagem da perfeição e acreditava que ela preexistia à criação do mundo, na mente de um Deus matemático. Sua curiosidade era maior que o medo que tinha de Deus. Este, por sua vez, era-lhe maior do que punição, era Criador. Se a criação foi fruto da mente de um Deus matemático, o universo harmônico precisa, então, ser entendido.
Em sua juventude Kepler foi enviado para estudar na cidade alemã de Tübingen, onde um dos professores apresentou-lhe o sistema astronômico copernicano. A seguir, foi trabalhar numa cidade da Áustria, como professor. Kepler era incessantemente visitado por especulações que fazia acerca do universo. Durante certa aula, na escola em que trabalhava, ocorreu-lhe uma revelação, a de que a regularidade matemática do universo poderia ser apreendida geometricamente, com auxílio dos cinco sólidos de Pitágoras. A partir desse momento, os esforços de Kepler para entender a geometria do universo tornaram-se ainda mais intensos. No entanto, por maiores que fossem seu cálculos e estudos, não conseguia chegar a conclusões precisas. Precisava de informações mais exatas, baseadas em observações ainda mais precisas.
Tempos depois, foi convidado por Tycho Brahe, astrônomo, astrólogo e matemático dinamarquês, que, de fato, possuía informações e observações anotadas muito precisas sobre o movimento dos astros, dos planetas. Contudo, o medo da genialidade de Kepler, possível rival, fez com que Brahe, apesar de respeitá-lo imensamente, não lhe revelasse os livros em que mantinha anotadas suas precisas, exatas, observações dos céus. Sagan comenta que a ciência moderna surgiu justamente disto: da fusão entre teoria e observação.
Passados alguns meses, Brahe morreu por causa de seus excessos com comida e bebidas alcoólicas. Depois de muita insistência, Kepler acabou conseguindo da família de Tycho seus escritos. Pôde, então, realizar cálculos, corrigir falhas que havia cometido até então. Dentre as observações de Brahe, a dos movimentos do planeta Marte desconcertava Kepler, incomodando-o extremamente. Tais observações, junto com outras informações, não se adequavam a órbitas planetárias circulares. Certo dia, Kepler resolveu empregar a elipse – figura geométrica – como forma orbital. Percebeu, então, que todas aquelas observações se encaixavam perfeitamente a órbitas elípticas.
Depois de algum tempo, após calcular e recalcular, apesar de desejar órbitas circulares, perfeitas, Kepler acabou aceitando as órbitas elípticas. A partir daí, empenhou-se também em formular leis para o movimento planetário em torno do Sol. Ei-las: 1ª) Os planetas movem em elipse ao redor do Sol, que está em um de seus focos. 2ª) Os planetas percorrem áreas iguais em tempos iguais. 3ª) Os quadrados dos períodos dos planetas são proporcionais ao cubo de sua distância em relação ao Sol.
De acordo com Carl Sagan, as leis de Kepler estão presentes em todo o universo, mesmo no movimento de galáxias. Kepler a creditava que uma força mantinha os planetas em suas órbitas ao redor do Sol. O inglês Isaac Newton identificou-a, posteriormente, com a gravidade, alcançando, definitivamente, uma compreensão de como se movem os planetas.
O tempo de Kepler foi um tempo de conflitos e guerras. A mãe de Kepler, Catarina Kepler, foi presa. Kepler levou seis anos para conseguir libertá-la.
Kepler escreveu também um livro de ficção científica, intitulado DE SOMNIUM (O Sonho), a fim de popularizar a ciência. Kepler imaginou barcos que viajariam até a Lua e como os seres que ali viviam.
Kepler, levado pela crença na perfeição de Deus, esperava que o universo fosse circular e que se encaixasse nos sólidos perfeitos. No entanto, levado pelos fatos, acabou aceitando a veracidade das descobertas que fez, de um universo cujos astros se movimentam elipticamente, segundo leis precisas.
O que há de interessante no vídeo-documentário de Sagan é a riqueza de detalhes e informações referentes ao assunto estudado e apresentado: primeiramente a distinção entre astronomia e astrologia, a seguir o surgimento progressivo da astronomia moderna e, ao final, um enfoque particular sobre a pessoa de João Kepler, suas ideias e suas descobertas.
Na fundamentação das diferenças entre astronomia e astrologia, Sagan apresenta, inclusive, textos de jornais referentes aos signos das pessoas, verificando que as informações neles contidas a respeito de Libra e de outros signos não batem, comprovando que a astrologia é uma pseudo-ciência, uma falsa ciência, mais dada à fraude que à verdade. Por sua vez, a astronomia baseia-se em observações e cálculos precisos, obtendo conclusões que são universais, que servem para qualquer lugar tanto no espaço quanto no tempo.
Para mostrar a regularidade do universo em que vivemos, Sagan lança um toco de madeira para cima, que cai, normal e regularmente, no chão. Sagan fala da regularidade que pode ser observada no movimento dos astros, que permite a passagem de dia e noite repetidamente, dia após dia, e comenta que há padrões nos céus, como as constelações estelares. Foi e é justamente essa regularidade que permitiu e permite fazer descobertas e verificações precisas sobre o universo, que permite, em suma, fazer ciência.
Outro fato interessante no vídeo de Sagan é o modo como ele vai ao passado para buscar a compreensão atual do universo, demonstrando que a ciência tem história e que as descobertas científicas não nasceram, nem nascem, por acaso. Tais descobertas, ademais, são fruto de muito esforço, de um tremendo empenho daqueles que pesquisam e observam o universo com curiosidade, como Ptolomeu, Copérnico, Brahe e Kepler, além dos anasazi e outros povos. O esforço desses homens permitiu que tivéssemos hoje uma compreensão mais clara e precisa do universo, com destaque para Copérnico, Brahe e Kepler, modernos.
Para mostrar como funcionam os sistemas astronômicos geocêntrico ptolomaico e heliocêntrico copernicano Sagan fez uso até mesmo de aparelhos que coordenam os movimentos de planetas. Isto é interessante porque mostra o quanto instrumentos científicos fabricados pelos homens podem auxiliá-los na compreensão do mundo, acrescentar e enriquecer informações que antes eram obtidas simplesmente pela simples observação do universo. Soma-se a isto o uso rigoroso da matemática. Galileu Galilei, inclusive, expôs claramente que o universo está escrito em linguagem matemática e que, para que se possa ter uma compreensão clara e precisa dele, é preciso levar em conta tal linguagem, dominá-la e aplicá-la no estudo desse mesmo universo.
Uma outra questão que aparece, aqui e ali, no vídeo de Sagan é a do choque de teorias científicas entre si e destas com ideias e valores arraigados na tradição, fruto da própria história humana: a teoria heliocêntrica bateu direto contra a teoria geocêntrica e, com esta, contra toda uma tradição religiosa cuja base eram textos sagrados antigos, contidos na Bíblia. Ao bater-se contra a tradição científica e religiosa, o heliocentrismo bateu também diretamente contra poderes constituídos que as sustentavam, daí a razão da proibição da leitura do livro de Copérnico, que acabou sendo colocado no Index Librorum Prohibitorum (Índice dos Livros Proibidos) da Igreja.
Curiosamente, Sagan também situa a ciência moderna e, dentro dela, Kepler no tempo em que ela vai surgindo e tomando pulso: um tempo de guerras e conflitos por interesses, principalmente econômicos e políticos, os quais levaram a milhares e milhares de mortes. Com efeito, a ciência não está descontextualizada, ela se encontra, nasce e se desenvolve dentro da história humana concreta, sofrendo com seus avanços e revezes. Ao mesmo tempo, essa mesma ciência pode contribuir para a melhoria da vida humana, ideia que Sagan defende e expõe em seu vídeo. Compreender o universo e os seus mecanismos de funcionamento pode contribuir decisivamente para uma compreensão mais clara da vida humana, nele inserida e dele dependente.
Professor, professora, em sala de aula você pode trabalhar este vídeo de Carl Sagan e abrir para o debate sobre as questões que ele propõe. Explore o máximo que puder esse vídeo e a riqueza nele contida. Seus alunos, inclusive você, só terão a ganhar!

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

A CIÊNCIA MODERNA 1 (Prof. José Antônio Brazão.)

Nicolau Copérnico (1473-1543)

Um fato de grande destaque e importância no mundo europeu moderno foi o desenvolvimento de novas ideias científicas. Neste sentido, a astronomia e a física deram contribuições fundamentais, aliadas ao uso da matemática na definição e na compreensão de leis físicas e celestiais.

Falaremos aqui, de início, de Copérnico, astrônomo e matemático polonês que viveu entre 1473 e 1543. Ao estudar com profundidade o sistema geocêntrico aristotélico-ptolomaico e baseado em observações e cálculos, Copérnico percebeu nesse sistema uma série numerosa de epiciclos (círculos dentro das órbitas também circulares dos astros). Os epiciclos, no sistema geocêntrico constituíam-se numa forma de explicar os aparentes movimentos irregulares dos planetas, que pareciam ir e voltar, em suas órbitas, de tempos em tempos. Eram tantos epiciclos que a coisa tornou-se enfadonha, o que parecia demonstrar alguma irregularidade. Baseado em suas observações e cálculos, Copérnico percebeu que o centro do universo não era a Terra. Só poderia ser, portanto, o Sol. A Terra seria, pois, um planeta como qualquer outro, a realizar, aliás, dois movimentos: um de rotação, em torno de si mesma, e um de translação, ao redor do Sol. Ao fazer essa troca de lugares entre o Sol e a Terra, Copérnico percebeu que o novo sistema se harmonizava mais com as informações de que dispunha, cálculos e anotações de observações feitas. Na Wikipedia faz-se o seguinte comentário:

"A teoria do modelo heliocêntrico, a maior teoria de Copérnico, foi publicada em seu livro, De revolutionibus orbium coelestium ('Da revolução de esferas celestes'), durante o ano de sua morte, 1543. Apesar disso, ele já havia desenvolvido sua teoria algumas décadas antes. O livro marcou o começo de uma mudança de um universo geocêntrico, ou antropocêntrico, com a Terra em seu centro." ( http://pt.wikipedia.org/wiki/Nicolau_Cop%C3%A9rnico)

A descoberta de Copérnico, com efeito, ao deslocar a Terra do centro, tirou também o homem desse mesmo centro, fato que trazia consigo uma verdadeira revolução científica. Copérnico desbancava, com a teoria heliocêntrica (Sol no centro do universo), um modelo de universo que tinha mais de mil anos - Aristóteles viveu no século IV a.C., Ptolomeu, no séc. II d.C., um modelo que era defendido pela Igreja Católica e por muitos astrônomos do tempo em que Copérnico viveu. Em outro texto já falamos a respeito do geocentrismo. Veja-se abaixo. Logo, as novas ideias copernicanas traziam consigo uma verdadeira "bomba"! Tempos depois, principalmente após a Reforma Protestante, a Igreja Católica radicalizou suas posições e acabou colocando o livro de Copérnico no Index Librorum Prohibitorum (Índice dos Livros Proibidos), uma lista de livros cuja leitura, estudo e ensino foram proibidos, dados os riscos doutrinais que continham.

Vale lembrar que, além de Aristóteles e Ptolomeu, a Bíblia, principal fonte da fé católica e cristã em geral, no livro de Josué, afirma que o Sol e a Lua pararam no momento de uma batalha entre os israelitas e tribos de Canaã, por meio da oração que Josué (líder israelita) fez a Deus. Ora, a Bíblia, de acordo com as doutrinas religiosas, é Palavra de Deus. Como contestar a Palavra de Deus? Seria inadimissível. E, de fato, a Igreja proibiu, como foi dito, o livro de Copérnico. No vídeo Cosmos, episódio três, que fala sobre Kepler, Carl Sagan afirma que também Lutero viu na teoria heliocêntrica copernicana uma fonte de erros, mantendo pois o geocentrismo, tendo como uma base de fundamentação a Bíblia.
O sistema heliocêntrico copernicano, curiosamente, mantém ainda as órbitas circulares. Por quê? Porque o círculo é uma figura matemática que lembra a perfeição, tendo em vista ter seu começo e seu fim em si mesmo. Observe-se um círculo: onde começa termina. Se formos buscar resquícios dessa crença na perfeição do círculo iremos recuar cerca de cinco a seis séculos antes de Cristo, até Pitágoras, um dos grandes matemáticos e pré-socráticos gregos. Sem dúvida, a perfeição do círculo admirava os pitagóricos e, posteriormente, Eudoxo (um dos discípulos de Platão), Aristóteles (também discípulo de Platão), Ptolomeu e os medievais.
A teoria heliocêntrica, posteriormente, veio a ser defendia por Galileu Galilei, italiano, e Johannes Kepler, alemão.

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

OS PRIMÓRDIOS DO PENSAMENTO MODERNO (Professor José Antônio Brazão.)

Para se poder compreender com clareza e profundidade a filosofia moderna é preciso, antes de mais nada, situá-la no tempo histórico, num conjunto de acontecimentos que contribuíram para que ela surgisse.
Alguns acontecimentos, de fato, se destacam:
1) As grandes navegações e descobertas marítimas.
2) O desenvolvimento da imprensa por Gutenberg.
3) O Renascimento artístico e cultural.
4) O Renascimento científico.
5) A Reforma Protestante.
A partir de fins do século XV, uma série de descobertas marítimas foram feitas pelos europeus. O desenvolvimento da arte náutica, de fato, propiciou tais descobertas, auxiliadas por barcos maiores (naus), pela bússola, pelo astrolábio e o sextante aperfeiçoados e por outros instrumentos náuticos, como, por exemplo, mapas melhor elaborados e em maior quantidade.
A bússola, o astrolábio e o sextante permitiram que os navegadores fossem cada vez mais distante, se aventurando por caminhos e mares até então desconhecidos. No trecho seguinte de sua obra-prima, Os Lusíadas, Camões afirma que
Novos continentes, novas terras e novos caminhos para as Índias foram sendo descobertos. Juntamente com este fato, o massacre (genocídio), a escravização e o sofrimento de muitos povos, que foram dominados e subjugados pelos europeus.
Além das navegações, a Reforma Protestante trouxe mudanças profundas na forma de conceber a Deus, de ler a Bíblia e interpretá-la. O acesso a esta, da parte dos protestantes, foi-se alargando cada vez mais, a todos os que pudessem lê-la. A Reforma também trouxe o rompimento com um modelo religioso e formal, extremamente rigoroso, de celebrar. O culto simplificou-se.
Juntamente com a Reforma, da parte da Igreja Católica, o uso de três grandes instrumentos: o Concílio de Trento (1545), o Índice dos Livros Proibidos, A Inquisição. De acordo com a Encarta: “Inquisição, instituição judicial criada, na Idade Média, para localizar, processar e sentenciar às pessoas culpadas de heresia.” (Enciclopédia Microsoft® Encarta®. © 1993-2001 Microsoft Corporation.).
Agora, nos princípios da época moderna, a Inquisição foi fortalecida e recrudescida, a fim de dar efetivo combate a todos os que tivessem ideias contrárias às da Igreja Católica. No que diz respeito a livros cujas ideias fossem consideradas perigosas, estes iam para o Índice dos Livros Proibidos, isto é, uma lista, mantida pela Inquisição e pela Igreja, de tais livros. A crueldade da Inquisição foi enorme: torturas, fogueiras e tipos variados de sofrimentos impostos aos considerados hereges, culpados. Galileu Galilei, por exemplo, teve que prestar constas à Inquisição de suas ideias.
Outro fato de suma importância para que possa compreender o pensamento moderno foi o Renascimento Artístico, Cultural e Científico. As artes tomaram, nessa época, grande impulso, auxiliadas, de modo especial, por mecenas, pessoas que, dispondo de dinheiro ou de certa riqueza, podiam manter artistas e outros intelectuais sob seu apoio.
No que diz respeito à pintura, o uso da perspectiva, ou seja, da visão de fundo, e a tridimensionalidade, o uso da chamada “regra de ouro” de proporção, sendo cada parte encaixada de maneira diferente. Também na pintura e na escultura, a presença do classicismo e do naturalismo. O classicismo foi uma forma de encarar, com outros olhos, a arte, e tem esse nome porque se buscou nos clássicos gregos e romanos um novo referencial, não mais no mundo medieval. Além deste, o antropocentrismo, isto é, a colocação do homem no centro dos referenciais. Quanto ao naturalismo, este se refere ao fato de se apresentar a obra artística com tanto detalhe que parece uma cópia do original. A obra de arte era feita e apresentada nos mínimos detalhes, parecendo o original.
No que tange ao classicismo, a mitologia greco-romana esteve muito presente nas obras artísticas, tanto na pintura quanto na escultura, quanto em outras manifestações artísticas, como, por exemplo, na literatura. No tange à literatura, a obra-prima de Camões, citada acima, trabalha o tempo todo a presença e a ação dos deuses gregos durante a viagem de Vasco da Gama e dos marinheiros que com ele viajaram rumo às Índias e de volta a Portugal.
Curiosamente, no campo da literatura, escritores puseram muitas de suas obras no papel na própria língua: Camões em português, Cervantes em espanhol, Shakespeare em inglês, e assim por diante. No campo da filosofia, Descartes escreveu alguns de seus livros em francês, Locke em inglês e outros filósofos em suas respectivas línguas. Tal fato é notável, tendo em vista que mais pessoas poderiam ter acesso à leitura direta desses textos em suas próprias línguas e não em latim, como era costume até então.
Referências:
http://www.cfh.ufsc.br/~wfil/chaui.htm
http://www.mundodosfilosofos.com.br/moderno.htm
http://www.geocities.com/cobra_pages/filmod.html
http://www.wikipedia.org/

quinta-feira, 18 de junho de 2009

FILOSOFIA ESCOLÁSTICA (Prof. José Antônio Brazão.)

A Escolástica corresponde a um período da história européia que se inicia no século IX em diante e avança até o século XV, aproximadamente. Ela surgiu graças à existência de escolas monacais e catedrais e das primeiras universidades. Escolas monacais, como o nome indica, foram escolas que surgiram nos mosteiros. Escolas catedrais eram escolas anexas a igrejas catedrais. Esses dois tipos de escolas tinham por função básica preparar os membros do clero.
Havia também a formação de membros da nobreza e de funcionários dos governos. De acordo com a Webartigos:
“Foi durante o governo Carolíngio que a Europa atinge avanços significativos com a construção de vários mosteiros, abadias e conventos, também é criada a escola Palatina que mais tarde serve como referência para vários pontos da Europa. É sob o governo de Carlos Magno que surge o primeiro programa de educação e são trazidos vários religiosos da Europa, educando desta forma a nobreza. De acordo com Martins (2006):
Além de Alcuíno,vão trabalhar na corte imperial, Paulo Diacre, um italiano que trabalhou na corte da Lombardia; Teodulfo que traz de Espanha a riqueza da cultura moçoárabe, Scoto Eriúgena, o teólogo irlandês e por fim, o germano Eginardo. Freqüentavam esta escola o próprio imperador, os príncipes e os jovens da nobreza. Ao lado desta instrução e educação ministrada aos jovens da nobreza por eclesiásticos, a Idade Média oferece-lhes ainda uma educação militar e cortezã, educação à qual, desde cedo, a Igreja procurou também imprimir uma orientação religiosa e doutrinal.”
(In: http://www.webartigos.com/articles/4559/1/educacao-medieval-religiosa/pagina1.html)
Outra instituição educacional de fundamental importância, surgida durante a Idade Média, foi a universidade. A universidade, nas suas origens, era uma espécie de corporação de ofício entre professores e alunos, com fins de aprendizado, mas também de proteção e apoio mútuos. Ao redor de determinados professores, reuniam-se jovens que buscavam o aprendizado e o aprofundamento dos conhecimentos. A Igreja Católica, percebendo riscos doutrinais nessas associações, aos poucos e progressivamente ofereceu locais apropriados e estabeleceu regras para as universidades. Foi no interior daquelas escolas e das primeiras universidades medievais que foi-se gestando e tomando corpo a escolástica, cujo nome advém justamente de “escola”, numa referência clara àquelas instituições de ensino.
Os métodos de ensino usados nas escolas e nas universidades desse tempo: a lectio e a disputatio. A leitura, feita geralmente por um doutor, de conteúdos de aulas determinados, a exposição e explicação e o debate. Além disto, as disputas entre intelectuais de uma mesma área ou de áreas diferentes em torno de um determinado assunto também eram formas fundamentais de ensino. Havia disputas, inclusive, que faziam parte dos calendários em determinadas épocas do ano.
Uma parte do elenco das disciplinas ensinadas nas universidades concentrava-se no trivium e no quadrivium, isto é, nas chamadas sete artes liberais. A respeito delas, a Encarta apresenta o seguinte comentário:
Sete artes liberais, em educação, são os temas dos currículos antigo e medieval. As sete artes, tal como foram estudadas durante a Idade Média, tornaram-se conhecidas sobretudo graças aos trabalhos de Flávio Magno Aurélio Cassiodoro e São Isidoro de Sevilha. A atividade acadêmica medieval dividia-se em um trivium elementar e um quadrivium, mais avançado. O trivium abrangia a Gramática, a Retórica e a Lógica ou Dialética, e concedia o grau de diplomado ou graduado. O quadrivium compreendia a Aritmética, a Geometria (que englobava a Geografia e a História Natural), a Astronomia e a Música, e outorgava o título de licenciado em artes.”
(Enciclopédia Microsoft® Encarta®. © 1993-2001 Microsoft Corporation. Todos os direitos reservados.)
A preocupação, desde a Patrística, de estabelecer um vínculo entre teologia e filosofia, fazendo uso do instrumental teórico desta na defesa da fé, preocupação esta que permanece claramente na Escolástica. Ao longo desta, de fato, muitas obras surgiram, relacionadas, em boa parte, à fundamentação da fé por meio do uso do instrumental lógico e teórico da filosofia. Um dos grandes exemplos disto foi Tomás de Aquino (século XIII), que foi professor e um dos grandes teólogos e filósofos de seu tempo. Ele escreveu uma grande quantidade de obras, dentre as quais se destaca a Suma Teológica. Escreveu também outras sumas, tratados e comentários relacionados tanto à teologia quanto à filosofia. Em Tomás de Aquino e em seu mestre Alberto Magno houve grande presença da filosofia aristotélica.
Por esse tempo, com efeito, a filosofia aristotélica já se encontrava em grande divulgação dentro da Europa, nas escolas e, principalmente, nas universidades.O contato com traduções de filósofos e escritores da antiguidade, particularmente das obras de Aristóteles, se deu, de modo mais intenso, nessa época, graças ao contato com traduções árabes e outros textos, obtidos através do comércio, das cruzadas e de escolas do trabalho de tradutores e copistas, graças aos quais cópias de textos puderam ser trocadas, divulgadas, recopiadas e enviadas a instituições de ensino. Até mesmo dentro das escolas e universidades havia professores que, no preparo de suas aulas, ditavam para copistas o conteúdo destas, de tal modo que seus alunos pudessem ter acesso ao conteúdo ensinado. Provas disto são as sumas e os tratados teológicos e filosóficos desse tempo. Novamente mencionando, Tomás de Aquino fazia uso desse trabalho de copistas. Ele mesmo, como outros professores, também fazia suas anotações dos conteúdos de ensino.
Além de Aristóteles, Platão, outros filósofos gregos, filósofos e escritores romanos e filósofos árabes também fizeram parte dos traduzidos, discutidos e ensinados. Somam-se a eles os textos teológicos e filosóficos de Pedro Lombardo, Santo Agostinho e de outros santos e autoridades teológico-eclesiáticas medievais. A autoridade desses teólogos e filósofos aparece em citações feitas por professores e escritores escolásticos. No que diz respeito ao método de ensino escolástico, a Encarta também afirma:
“Um dos mais importantes métodos da escolástica foi o uso da lógica e do vocabulário filosófico de Aristóteles no ensino, na demonstração e na discussão. A instrução se realizava, igualmente, comentando textos de alguma autoridade inconteste, como era o caso das obras de Aristóteles, da Bíblia e dos Quatro livros de sentenças de Pedro Lombardo. Também se recorria à técnica da discussão por meio de debate público.”
(Enciclopédia Microsoft® Encarta®. © 1993-2001 Microsoft Corporation. Todos os direitos reservados.)
A citação de autoridades respeitadas e tidas em grande conta nos meios intelectuais daquele tempo reforçava e firmava a apresentação dos temas de estudos e debates. Ainda hoje pode-se ver um reflexo disto nas citações de autores e grandes pesquisadores em textos acadêmicos e livros, sinal de que a autoridade, de alguma forma, aparece. As citações de grandes estudiosos e pesquisadores permitem uma fundamentação científica dos trabalhos, seguramente.
Nos séculos que se seguiram, o perigo do uso inconteste da autoridade manifestou-se, como se verá ao falar da ciência renascentista, no rigorismo e na intransigência, na não aceitação de contestação, do questionamento e da dúvida.
Filosofia e teologia andavam juntas, porém, para muitos pensadores medievais, que sofreram influência do pensamento religioso oficial, a filosofia era um instrumento fundamental de defesa da fé, tendo esta preeminência sobre aquela. Na escolástica essa preeminência também, sem dúvida, se fez presente. Houve textos que bateram diretamente de frente contra heresias, filósofos e pensadores cujas ideias não condiziam com o pensamento religioso oficial. Por exemplo, contra a eternidade do mundo, ideia que se opunha diretamente ao ensino da criação do mundo por Deus. A Suma Contra os Gentios, de Tomás de Aquino, é um exemplo daqueles textos.
Uma das questões candentes do pensamento filosófico medieval foi a QUESTÃO DOS UNIVERSAIS. Bryan Magee a resume da seguinte maneira, ao falar de Pedro Abelardo (1079 – c. 1142), filósofo e teólogo francês, um dos grandes mestres de seu tempo:
“Na filosofia, os escritos mais interessantes de Abelardo tratam do problema do que chamamos universais, termos como ‘vermelho’ ou ‘árvore’ que podem ser aplicados exatamente do mesmo modo a um número infinitamente amplo de objetos diferentes. Esses termos denotam algo que existe em si mesmo ou não? Platão dissera que que sim, que existe uma Forma Ideal de vermelhidade/vermelhidão e que a vermelhidade particular de cada objeto particular de cada objeto vermelho individual é uma cópia ou reflexo dela, embora imperfeita. Aristóteles o negara: existem, é claro, objetos vermelhos, disse ele, mas a vermelhidade não é algo que exista separadamente e à parte dos reais objetos vermelhos que existem. A primeira dessas duas posições, a mais platônica, ficou conhecida como ‘realismo’, porque afirmava que os universais têm uma existência real. A segunda e mais aristotélica ficou conhecida como ‘nominalismo’ por sustentar que os universais são nomes úteis para certas características, mas não coisas que existem em si mesmas. O debate entre realistas e nominalistas tornou-se uma das disputas constantes da filosofia medieval, em parte porque se tratava de uma questão de genuína dificuldade, e em parte porque possuía sérias implicações para a teologia – por exemplo, a natureza da Trindade. Abelardo foi sofisticado e moderado nominalista; mas o problema ainda não foi resolvido para satisfação geral, e, embora não usemos mais a terminologia medieval, ainda estamos lutando com ele.” (Magee, 2001: pp. 57-58)
O problema ou questão dos universais teve, como se pôde ver no comentário de Magee, origem nos textos da antiguidade grega – o texto de Magee faz referência direta a Platão e Aristóteles – e praticamente atravessou boa parte do pensamento filosófico e das discussões medievais. É um problema que, como se pode ver, envolve o uso da linguagem no uso, na definição e na compreensão dos termos. O nome ‘universal’ lembra justamente uma ampla gama de indivíduos aos quais pode se referir um termo. Mas, principalmente, se refere à existência em si desse termo (Magee cita o termo vermelhidade/vermelhidão), da ideia ou do conteúdo contido nele. O universal existe por si, ou seja, tem existência própria, enquanto Forma, nos termos de Platão e como defendiam os realistas, ou é apenas um nome para se referir a uma característica universal abstraída dos seres, como acreditavam os nominalistas? O fato é que com essa questão muitos debates medievais foram aquecidos, com intelectuais defendendo um lado ou outro. Para ajudar a clarear o entendimento a respeito da influência de Platão e de como ele via as ideias, veja-se aqui, neste blog, um dos textos publicados que tratam da filosofia na antiguidade, publicado anteriormente, e que se refere a Platão. Também leia-se o que se refere a Aristóteles.
Dentre os filósofos mais estudados na filosofia escolástica, como já se mencionou anteriormente, encontra-se Aristóteles de Estagira. A redescoberta, as traduções e a divulgação dos textos deste filósofo grego trouxeram novas perspectivas no modo de explicar e de entender o pensamento filosófico e teológico do mundo medieval. Um pequeno exemplo disto, pode-se ver nas provas da existência de Deus de Tomás de Aquino, presentes logo no início da Suma Teológica. Por exemplo, dentre elas, a que fala do Primeiro Motor: tudo encontra-se em movimento, um ser tem o seu movimento ou sua existência em outro, que é seu motor. Na busca dos seres que põem outros em movimento há duas possibilidades: ou se apela para uma busca infindável dos motores, o que seria absurdo, ou se aceita que há um Primeiro Motor, que não seria movido por nenhum outro, o qual seria Deus. Uma outra prova é a das causas, que segue o mesmo raciocínio, indo até a Causa Primeira, não causada: Deus. Esse tipo de raciocínio foi usado por Aristóteles (veja-se, por exemplo, na Física, na Metafísica e no Órganon). A diferença, aqui, é que, além de Aristóteles, a outra e principal autoridade é a Bíblia. O livro do Gênesis, por exemplo, logo no seu início, fala de um Deus criador de todas as coisas, inclusive dos seres humanos (Gênesis 1 – 3).
Anselmo de Cantuária, Boaventura, Tomás de Aquino e outros também fizeram largo uso de Santo Agostinho, cujas idéias filosóficas e teológicas sofreram grande influência de Platão. Como se vê, o pensamento do período chamado “medieval” tem grande imbricação com a antiguidade. Querer entender o pensamento medieval sem se fazer referência à antiguidade é entrar em anacronismo e perder um dos grandes fundamentos daquele mesmo pensamento.
REFERÊNCIAS:
Enciclopédia Microsoft® Encarta®. © 1993-2001 Microsoft Corporation.
MAGEE, Bryan. História da Filosofia. 3.ed. São Paulo, Loyola, 2001.
REZENDE, Antônio (Org.). Curso de Filosofia para professores e alunos dos cursos de segundo grau e de graduação. 13.ed. Rio de Janeiro, Zahar, 2005.
http://www.webartigos.com/articles/4559/1/educacao-medieval-religiosa/pagina1.html

sexta-feira, 24 de abril de 2009

A PATRÍSTICA. Prof. José Antônio Brazão.

Nos primeiros séculos da era cristã, o contato com o pensamento e a filosofia gregos ocorreu frequentemente. Só para se ter uma idéia, o Novo Testamento, isto é, o conjunto dos livros sagrados relativos ao cristianismo contidos na Bíblia, foi escrito em grego, língua utilizada na comunicação em várias partes do Império Romano, naquela época.
Nos Atos dos Apóstolos (quinto livro do Novo Testamento), Paulo apóstolo teve contato com filósofos no Areópago, durante uma passagem dele pela cidade de Atenas, na Grécia. Interessados no conhecimento da doutrina que Paulo professava, aqueles homens deram-lhe a palavra. Paulo iniciou comentando a respeito da religiosidade do povo grego, que tinha altares para as mais diversas divindades, inclusive para o Deus desconhecido. Falou-lhes, então, a respeito desse Deus e de Jesus Cristo, porém, ao tocar na ressurreição deste, vários dos presentes foram saindo.
Paulo dedicou-se à pregação aos gentios, isto é, aos povos que não eram judeus, boa parte dos quais falavam grego ou se comunicavam através dessa língua. Também escreveu cartas, várias hoje contidas no Novo Testamento, escritas em grego.
À medida em que o tempo foi passando, ainda no primeiro século da era cristã, houve a necessidade passar por escrito informações a respeito da figura de Jesus Cristo. Surgiram, então, os evangelhos, os quais foram escritos em grego (talvez o de Mateus tenha sido escrito em aramaico, porém logo traduzido para o grego). Curiosamente, no Evangelho Segundo João, Jesus aparece como o VERBO de Deus que se fez carne e habitou entre os seres humanos. A palavra “verbo”, aqui utilizada, vem do latim, porém, na língua original do texto, ou seja, a língua grega, é LOGOS, palavra esta que tem alguns significados: palavra, discurso, razão. Jesus é, pois, a Palavra (a Razão, o Discurso) de Deus feito carne.
A palavra “logos” aparece na filosofia, designando, basicamente, a razão ou o pensamento racional. A razão é uma capacidade inerente ao homem e que lhe permite investigar e conhecer a natureza, seja a do mundo, seja a da realidade humana. Inclusive, a passagem do pensamento mítico ao pensamento filosófico é também chamada passagem do mito ao logos, aqui designando o pensamento racional próprio da filosofia. É claro que tal passagem foi paulatina e progressiva. Em razão de tratar-se, aqui, do pensamento medieval, voltar-se-á a ele.
A partir do século II da era cristã, particularmente, cristãos que tinham uma certa formação intelectual realizaram um esforço de compreensão do mistério contido na mensagem cristã, fazendo, para tanto, uso do instrumental oferecido pela filosofia grega. Esses cristãos são chamados “Padres da Igreja”. Patrística é o nome utilizado para designar esse grupo de cristãos, boa parte dos quais, mais que filósofos, foram teólogos, no sentido de estudiosos e intérpretes do pensamento cristão.
A partir daí, se pergunta: pode-se falar de uma “filosofia cristã”? Se se entender por “filosofia cristã” um estudo puramente racional do pensamento cristão, então não se pode fazer uso dessa expressão, pois a finalidade era, em grande parte, teológica. Contudo, se se entender como uma reflexão que busca apoio e instrumental de compreensão no pensar filosófico grego para o entendimento da fé cristã e como um pensar reflexivo, profundo e muito rigoroso sobre os alicerces da fé cristã, aí sim.
Dentre os pensadores da Patrística, destacam-se: Irineu (140? – 202 d.C.), Clemente de Alexandria (150 – 215? d.C.), Tertuliano (160 – 220 d.C.), Jerônimo (345 – 419 d.C.), dentre outros. Mas o mais destacado foi, sem dúvida, Aurélio Agostinho (354 – 430 d.C.). Antes de se tornar cristão, Agostinho foi professor de retórica, leu, dentre outros, Cícero (filósofo romano, 106–43 a.C.), que despertou-lhe um interesse vivo pela filosofia, e conheceu algumas correntes filosóficas, como o ceticismo, o maniqueísmo e o neoplatonismo. Esse contato com a filosofia é bem retratado em sua obra mais conhecida, as Confissões, na qual fala de sua vida passada e de seu processo de conversão ao cristianismo.
Agostinho fez um esforço de aliar à fé cristã o pensamento filosófico platônico e neoplatônico. Do platonismo e do neoplatonismo, por exemplo, Agostinho sofreu influência sobre a teoria da iluminação da alma. De acordo com ele, a alma recebe de Deus a iluminação necessária à busca da verdade, sendo ensinada pelo Mestre Interior – Jesus Cristo ou a própria Santíssima Trindade. Os homens fazem uso das palavras e dos sinais na transmissão de ideias, mas quem ensina verdadeiramente é o Mestre Interior.
Outra influência pensamento platônico aparece em “A Cidade de Deus”, na qual fala de duas cidades: a Cidade de Deus e a cidade dos homens. Na primeira, o empenho individual e coletivo de seus habitantes em viver, de forma íntegra, a fé cristã, na outra, o pecado adentra e se faz presente nos corações dos homens que ali vivem, preocupados com seus próprios interesses, de forma egoísta, que se deixam levar por seus impulsos carnais. A Cidade de Deus é, portanto, uma cidade ideal. Vale lembrar que, em “A República”, Platão fala de uma cidade-Estado ideal, na qual cada um faria sua parte em busca do bem coletivo – os filósofos governando descente e sabiamente, os guardiões protegendo devidamente e os demais membros trabalhando pelo desenvolvimento e o bem estar da cidade. Além do pensamento platônico, a influência do pensamento neotestamentário da nova Jerusalém, salva e edificada por Deus (Apocalipse cap. 21 e 22). Agostinho era eminentemente cristão!
Um outro filósofo dessa época foi Boécio (Anício Mânlio Torquato Severino Boécio), “filósofo, estadista e teólogo romano” (Wikipédia; também na Encarta). Foi tradutor e comentarista de textos filosóficos, por exemplo, de Porfírio e de Aristóteles. De acordo com a Wikipédia: “Enquanto aguardava sob prisão a execução, escreveu De Consolatione Philosophiae (Do Consolo pela Filosofia), obra que versa, entre outros temas, o conceito de eternidade e na qual tenta demonstrar que a procura da sabedoria e do amor de Deus é a verdadeira fonte da felicidade humana. Membro de uma família ligada ao então nascente cristianismo, é considerado pela Igreja Católica Romana, pelo seu contributo para a teologia cristã e pelos serviços que prestou aos cristãos, um mártir e um dos Padres da Igreja.” (www.wikipedia.org/wiki/Bo%C3%A9cio). Sua influência reaparece, por exemplo, na discussão medieval a respeito dos medievais, que será apresentada em outro texto.
FONTES:
AGOSTINHO, Santo. Confissões. São Paulo, Victor Civita, s/d. (Os Pensadores)
REALE, Giovanni e ANTISERI, Dario. História da Filosofia. São Paulo, Paulinas, 1990. (Vol. 1)
www.wikipedia.org/wiki/Bo%C3%A9cio