A Escolástica corresponde a um período da história européia que se inicia no século IX em diante e avança até o século XV, aproximadamente. Ela surgiu graças à existência de escolas monacais e catedrais e das primeiras universidades. Escolas monacais, como o nome indica, foram escolas que surgiram nos mosteiros. Escolas catedrais eram escolas anexas a igrejas catedrais. Esses dois tipos de escolas tinham por função básica preparar os membros do clero.
Havia também a formação de membros da nobreza e de funcionários dos governos. De acordo com a Webartigos:
“Foi durante o governo Carolíngio que a Europa atinge avanços significativos com a construção de vários mosteiros, abadias e conventos, também é criada a escola Palatina que mais tarde serve como referência para vários pontos da Europa. É sob o governo de Carlos Magno que surge o primeiro programa de educação e são trazidos vários religiosos da Europa, educando desta forma a nobreza. De acordo com Martins (2006):
Além de Alcuíno,vão trabalhar na corte imperial, Paulo Diacre, um italiano que trabalhou na corte da Lombardia; Teodulfo que traz de Espanha a riqueza da cultura moçoárabe, Scoto Eriúgena, o teólogo irlandês e por fim, o germano Eginardo. Freqüentavam esta escola o próprio imperador, os príncipes e os jovens da nobreza. Ao lado desta instrução e educação ministrada aos jovens da nobreza por eclesiásticos, a Idade Média oferece-lhes ainda uma educação militar e cortezã, educação à qual, desde cedo, a Igreja procurou também imprimir uma orientação religiosa e doutrinal.”
(In: http://www.webartigos.com/articles/4559/1/educacao-medieval-religiosa/pagina1.html)
Outra instituição educacional de fundamental importância, surgida durante a Idade Média, foi a universidade. A universidade, nas suas origens, era uma espécie de corporação de ofício entre professores e alunos, com fins de aprendizado, mas também de proteção e apoio mútuos. Ao redor de determinados professores, reuniam-se jovens que buscavam o aprendizado e o aprofundamento dos conhecimentos. A Igreja Católica, percebendo riscos doutrinais nessas associações, aos poucos e progressivamente ofereceu locais apropriados e estabeleceu regras para as universidades. Foi no interior daquelas escolas e das primeiras universidades medievais que foi-se gestando e tomando corpo a escolástica, cujo nome advém justamente de “escola”, numa referência clara àquelas instituições de ensino.
Os métodos de ensino usados nas escolas e nas universidades desse tempo: a lectio e a disputatio. A leitura, feita geralmente por um doutor, de conteúdos de aulas determinados, a exposição e explicação e o debate. Além disto, as disputas entre intelectuais de uma mesma área ou de áreas diferentes em torno de um determinado assunto também eram formas fundamentais de ensino. Havia disputas, inclusive, que faziam parte dos calendários em determinadas épocas do ano.
Uma parte do elenco das disciplinas ensinadas nas universidades concentrava-se no trivium e no quadrivium, isto é, nas chamadas sete artes liberais. A respeito delas, a Encarta apresenta o seguinte comentário:
“Sete artes liberais, em educação, são os temas dos currículos antigo e medieval. As sete artes, tal como foram estudadas durante a Idade Média, tornaram-se conhecidas sobretudo graças aos trabalhos de Flávio Magno Aurélio Cassiodoro e São Isidoro de Sevilha. A atividade acadêmica medieval dividia-se em um trivium elementar e um quadrivium, mais avançado. O trivium abrangia a Gramática, a Retórica e a Lógica ou Dialética, e concedia o grau de diplomado ou graduado. O quadrivium compreendia a Aritmética, a Geometria (que englobava a Geografia e a História Natural), a Astronomia e a Música, e outorgava o título de licenciado em artes.”
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A preocupação, desde a Patrística, de estabelecer um vínculo entre teologia e filosofia, fazendo uso do instrumental teórico desta na defesa da fé, preocupação esta que permanece claramente na Escolástica. Ao longo desta, de fato, muitas obras surgiram, relacionadas, em boa parte, à fundamentação da fé por meio do uso do instrumental lógico e teórico da filosofia. Um dos grandes exemplos disto foi Tomás de Aquino (século XIII), que foi professor e um dos grandes teólogos e filósofos de seu tempo. Ele escreveu uma grande quantidade de obras, dentre as quais se destaca a Suma Teológica. Escreveu também outras sumas, tratados e comentários relacionados tanto à teologia quanto à filosofia. Em Tomás de Aquino e em seu mestre Alberto Magno houve grande presença da filosofia aristotélica.
Por esse tempo, com efeito, a filosofia aristotélica já se encontrava em grande divulgação dentro da Europa, nas escolas e, principalmente, nas universidades.O contato com traduções de filósofos e escritores da antiguidade, particularmente das obras de Aristóteles, se deu, de modo mais intenso, nessa época, graças ao contato com traduções árabes e outros textos, obtidos através do comércio, das cruzadas e de escolas do trabalho de tradutores e copistas, graças aos quais cópias de textos puderam ser trocadas, divulgadas, recopiadas e enviadas a instituições de ensino. Até mesmo dentro das escolas e universidades havia professores que, no preparo de suas aulas, ditavam para copistas o conteúdo destas, de tal modo que seus alunos pudessem ter acesso ao conteúdo ensinado. Provas disto são as sumas e os tratados teológicos e filosóficos desse tempo. Novamente mencionando, Tomás de Aquino fazia uso desse trabalho de copistas. Ele mesmo, como outros professores, também fazia suas anotações dos conteúdos de ensino.
Além de Aristóteles, Platão, outros filósofos gregos, filósofos e escritores romanos e filósofos árabes também fizeram parte dos traduzidos, discutidos e ensinados. Somam-se a eles os textos teológicos e filosóficos de Pedro Lombardo, Santo Agostinho e de outros santos e autoridades teológico-eclesiáticas medievais. A autoridade desses teólogos e filósofos aparece em citações feitas por professores e escritores escolásticos. No que diz respeito ao método de ensino escolástico, a Encarta também afirma:
“Um dos mais importantes métodos da escolástica foi o uso da lógica e do vocabulário filosófico de Aristóteles no ensino, na demonstração e na discussão. A instrução se realizava, igualmente, comentando textos de alguma autoridade inconteste, como era o caso das obras de Aristóteles, da Bíblia e dos Quatro livros de sentenças de Pedro Lombardo. Também se recorria à técnica da discussão por meio de debate público.”
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A citação de autoridades respeitadas e tidas em grande conta nos meios intelectuais daquele tempo reforçava e firmava a apresentação dos temas de estudos e debates. Ainda hoje pode-se ver um reflexo disto nas citações de autores e grandes pesquisadores em textos acadêmicos e livros, sinal de que a autoridade, de alguma forma, aparece. As citações de grandes estudiosos e pesquisadores permitem uma fundamentação científica dos trabalhos, seguramente.
Nos séculos que se seguiram, o perigo do uso inconteste da autoridade manifestou-se, como se verá ao falar da ciência renascentista, no rigorismo e na intransigência, na não aceitação de contestação, do questionamento e da dúvida.
Filosofia e teologia andavam juntas, porém, para muitos pensadores medievais, que sofreram influência do pensamento religioso oficial, a filosofia era um instrumento fundamental de defesa da fé, tendo esta preeminência sobre aquela. Na escolástica essa preeminência também, sem dúvida, se fez presente. Houve textos que bateram diretamente de frente contra heresias, filósofos e pensadores cujas ideias não condiziam com o pensamento religioso oficial. Por exemplo, contra a eternidade do mundo, ideia que se opunha diretamente ao ensino da criação do mundo por Deus. A Suma Contra os Gentios, de Tomás de Aquino, é um exemplo daqueles textos.
Uma das questões candentes do pensamento filosófico medieval foi a QUESTÃO DOS UNIVERSAIS. Bryan Magee a resume da seguinte maneira, ao falar de Pedro Abelardo (1079 – c. 1142), filósofo e teólogo francês, um dos grandes mestres de seu tempo:
“Na filosofia, os escritos mais interessantes de Abelardo tratam do problema do que chamamos universais, termos como ‘vermelho’ ou ‘árvore’ que podem ser aplicados exatamente do mesmo modo a um número infinitamente amplo de objetos diferentes. Esses termos denotam algo que existe em si mesmo ou não? Platão dissera que que sim, que existe uma Forma Ideal de vermelhidade/vermelhidão e que a vermelhidade particular de cada objeto particular de cada objeto vermelho individual é uma cópia ou reflexo dela, embora imperfeita. Aristóteles o negara: existem, é claro, objetos vermelhos, disse ele, mas a vermelhidade não é algo que exista separadamente e à parte dos reais objetos vermelhos que existem. A primeira dessas duas posições, a mais platônica, ficou conhecida como ‘realismo’, porque afirmava que os universais têm uma existência real. A segunda e mais aristotélica ficou conhecida como ‘nominalismo’ por sustentar que os universais são nomes úteis para certas características, mas não coisas que existem em si mesmas. O debate entre realistas e nominalistas tornou-se uma das disputas constantes da filosofia medieval, em parte porque se tratava de uma questão de genuína dificuldade, e em parte porque possuía sérias implicações para a teologia – por exemplo, a natureza da Trindade. Abelardo foi sofisticado e moderado nominalista; mas o problema ainda não foi resolvido para satisfação geral, e, embora não usemos mais a terminologia medieval, ainda estamos lutando com ele.” (Magee, 2001: pp. 57-58)
O problema ou questão dos universais teve, como se pôde ver no comentário de Magee, origem nos textos da antiguidade grega – o texto de Magee faz referência direta a Platão e Aristóteles – e praticamente atravessou boa parte do pensamento filosófico e das discussões medievais. É um problema que, como se pode ver, envolve o uso da linguagem no uso, na definição e na compreensão dos termos. O nome ‘universal’ lembra justamente uma ampla gama de indivíduos aos quais pode se referir um termo. Mas, principalmente, se refere à existência em si desse termo (Magee cita o termo vermelhidade/vermelhidão), da ideia ou do conteúdo contido nele. O universal existe por si, ou seja, tem existência própria, enquanto Forma, nos termos de Platão e como defendiam os realistas, ou é apenas um nome para se referir a uma característica universal abstraída dos seres, como acreditavam os nominalistas? O fato é que com essa questão muitos debates medievais foram aquecidos, com intelectuais defendendo um lado ou outro. Para ajudar a clarear o entendimento a respeito da influência de Platão e de como ele via as ideias, veja-se aqui, neste blog, um dos textos publicados que tratam da filosofia na antiguidade, publicado anteriormente, e que se refere a Platão. Também leia-se o que se refere a Aristóteles.
Dentre os filósofos mais estudados na filosofia escolástica, como já se mencionou anteriormente, encontra-se Aristóteles de Estagira. A redescoberta, as traduções e a divulgação dos textos deste filósofo grego trouxeram novas perspectivas no modo de explicar e de entender o pensamento filosófico e teológico do mundo medieval. Um pequeno exemplo disto, pode-se ver nas provas da existência de Deus de Tomás de Aquino, presentes logo no início da Suma Teológica. Por exemplo, dentre elas, a que fala do Primeiro Motor: tudo encontra-se em movimento, um ser tem o seu movimento ou sua existência em outro, que é seu motor. Na busca dos seres que põem outros em movimento há duas possibilidades: ou se apela para uma busca infindável dos motores, o que seria absurdo, ou se aceita que há um Primeiro Motor, que não seria movido por nenhum outro, o qual seria Deus. Uma outra prova é a das causas, que segue o mesmo raciocínio, indo até a Causa Primeira, não causada: Deus. Esse tipo de raciocínio foi usado por Aristóteles (veja-se, por exemplo, na Física, na Metafísica e no Órganon). A diferença, aqui, é que, além de Aristóteles, a outra e principal autoridade é a Bíblia. O livro do Gênesis, por exemplo, logo no seu início, fala de um Deus criador de todas as coisas, inclusive dos seres humanos (Gênesis 1 – 3).
Anselmo de Cantuária, Boaventura, Tomás de Aquino e outros também fizeram largo uso de Santo Agostinho, cujas idéias filosóficas e teológicas sofreram grande influência de Platão. Como se vê, o pensamento do período chamado “medieval” tem grande imbricação com a antiguidade. Querer entender o pensamento medieval sem se fazer referência à antiguidade é entrar em anacronismo e perder um dos grandes fundamentos daquele mesmo pensamento.
REFERÊNCIAS:
Enciclopédia Microsoft® Encarta®. © 1993-2001 Microsoft Corporation.
MAGEE, Bryan. História da Filosofia. 3.ed. São Paulo, Loyola, 2001.
REZENDE, Antônio (Org.). Curso de Filosofia para professores e alunos dos cursos de segundo grau e de graduação. 13.ed. Rio de Janeiro, Zahar, 2005.
http://www.webartigos.com/articles/4559/1/educacao-medieval-religiosa/pagina1.html
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