COMANDO DE
ENSINO POLICIAL MILITAR
CEPMG -
VASCO DOS REIS
Divisão de
Ensino / Coordenação Pedagógica
SEGUNDO BIMESTRE
AULA 17 DE FILOSOFIA DOS PRIMEIROS ANOS
O RELATIVISMO SOFÍSTICO E A VERDADE SOCRÁTICA (Prof. José Antônio.)
1) LIVRO
DIDÁTICO (Coleção Diálogos, Ed. Moderna, volume 1. Ver nas referências, ao
final do texto do conteúdo desta aula.), Capítulo 7 (A origem da filosofia
ocidental), partes relativas a Sócrates (Sócrates e os valores humanos
universais/ Relativismo X Absolutismo).
2)
FILOSOFIA EM POESIA: Sócrates e Platão. (Meu.) No
plano da aula anterior.
3)
Havendo tempo, iniciar Platão.
RELATIVISMO E ABSOLUTISMO: OS SOFISTAS E SÓCRATES
(Prof. José Antônio.)
Entre os sofistas da
antiguidade grega (cerca de seis a quatro séculos antes de Cristo [ou antes da
Era Comum]) encontra-se Protágoras. Abaixo, um comentário sobre trecho de
Protágoras:
“Protágoras, no segundo texto [O homem é a medida
de todas as coisas, das coisas que são o que são, e das coisas que não são o
que são.], defende que cada ser humano tem uma percepção particular das coisas.
Por exemplo: o que é quente para uma pessoa pode ser frio para outra. No
entanto, ambas as percepções são válidas e verdadeiras, uma vez que o indivíduo
é a medida de todas as coisas. Para ele, ao contrário do que defendia Sócrates,
não há uma verdade absoluta e universal. Protágoras, como os demais sofistas,
voltou- -se para a experiência humana, deixando de lado as especulações sobre a
natureza.” (ROMEIRO, Julieta et alii. Capítulo 7: A origem da filosofia
ocidental. In: _______________________. Diálogo: Ciências Humanas e Sociais Aplicadas – Ser
humano, cultura e sociedade. São
Paulo, Moderna, 2020. P. 72.)
Relativo é aquilo que é dependente
de. No
caso dos sofistas, o conhecimento e as percepções dependem de cada pessoa. Por
exemplo, tem gente que gosta de chocolate amargo, tem gente que não gosta desse
tipo de chocolate; tem gente que gosta de alimentos doces e há aquelas pessoas
que gostam de alimentos salgados; tem gente que gosta da cor azul, há quem
goste de amarelo ouro; há pessoas que gostam de caminhar, há quem goste do
comodismo; há quem goste de tomar sol e há quem evita tomar sol, e assim por
diante. Ou seja, as percepções (sabores, gostos, cores, etc.) são diferentes e,
com elas, os gostos, por exemplo. Isto se chama relativismo.
E a verdade? Também
depende de cada um, segundo os sofistas.
“O relativismo defendido pelos sofistas também
estaria presente nas ações, nas crenças religiosas e nos valores humanos. A
ética, a religião e a política seriam regidas por convenções, assim como a
justiça, a verdade e outros valores morais. Sendo
convenções humanas, elas não são universais, mas válidas apenas para certa
sociedade ou, em última instância, para determinado indivíduo.” (ROMEIRO,
Julieta et alii. Capítulo 7: A origem da filosofia ocidental. In:
_______________________. Diálogo: Ciências Humanas e Sociais Aplicadas – Ser
humano, cultura e sociedade. São Paulo, Moderna, 2020. P.72.)
As ações, as crenças e os
valores humanos, tidos, muitas vezes, como verdades até mesmo absolutas,
segundo os sofistas, são relativos: dependem das pessoas, do tempo, do espaço,
da história. Como assim?
No campo da ética, um
exemplo: há povos em cujas tribos o andar nu ou seminu é normal e aceito, sem
problemas éticos; nas sociedades formadas de cidades, em muitos lugares do
mundo, andar nu nas ruas é passível de prisão e de condenação jurídica. No
passado (tempo/história), houve povos canibais e houve, como ainda há, povos em
que o canibalismo é abominável. Há sociedades em que é imoral uma mulher andar
de minissaia, há outras, porém, em que a minissaia feminina é permitida. As
verdades éticas, portanto, são relativas.
No campo da religião,
hoje, por exemplo, cada pessoa segue a religião ou não, conforme lhe aprouver:
há católicos, há evangélicos, há budistas, há candomblistas, umbandistas,
budistas, da fé Bahai, judeus, ortodoxos, confucionistas, entre muitos(as)
outros(as) seguidores(as) de crenças as mais diversas, além de ateus e ateias.
Ou seja, a verdade religiosa depende de cada crença e de cada pessoa que nela
acredita ou não. Não há verdades absolutas religiosas que sejam cridas por
todas as pessoas da mesma maneira.
No campo político,
diferentes povos têm diferentes tipos de governos: há os que têm governos
democráticos, há os que vivem sob tiranias, há aqueles que são governados por
monarquias, há aqueles que são governados por presidentes da república, etc.
No campo da justiça: nos
tempos bíblicos (passado, história), apedrejar uma pessoa por pregar ideias
diferentes da religião era comum, hoje, em muitos lugares do mundo, a
tolerância religiosa tem sido buscada e as próprias leis, fundadas na justiça,
atualmente, proíbem a intolerância; em diferentes estados dos Estados Unidos da
América a pena de morte para determinados crimes é permitida e sentenciada, no
Brasil, entretanto, é efetivamente proibida.
Como diz o texto acima,
de acordo com os sofistas: “Sendo convenções humanas, elas não são universais,
mas válidas apenas para certa sociedade ou, em última instância, para
determinado indivíduo.” (ROMEIRO ET ALII, op. cit., p. 72.). Explicando:
CONVENÇÕES são ACORDOS, definidos em conjunto, geralmente, por representantes
de cada povo, não sendo, portanto, universais (válidas para todos os povos, em
todos os lugares), isto, é elas valem apenas para aquele povo em que se fez
aquele determinado acordo entre governantes e/ou juízes, em nome da população
daquele povo específico. No caso das religiões, as convenções advindas de
concílios, de sacerdotes reunidos, entre outros representantes religiosos.
Há países em que os
direitos trabalhistas são amplos, em outros não há essa amplitude de direitos. Na
antiguidade, em lugares como a Grécia, Roma e outras regiões, a escravidão era
tida como normal – é claro, os escravos se revoltavam, mas a maioria das
pessoas aceitava a escravidão. Hoje, a ONU, através da Declaração Universal dos
Direitos Humanos, proíbe duramente a escravidão.
Sócrates, na Apologia de
Sócrates, livro de Platão, aparece como um defensor da verdade e da necessidade
de se buscar a verdade. Portanto, não aceita o relativismo sofístico. No livro O
Banquete (ou Simpósio), de Platão, para além
das definições dadas por vários participantes do diálogo a respeito do amor,
com Sócrates como protagonista principal, há uma ideia universal (uma forma
universal), no Mundo das Ideias, de amor, a partir da qual o amor se constituiu
no mundo, sendo uma cópia apagada e esmaecida (fraca) daquele Amor eterno e
perfeito (forma perfeita).
Segundo ROMEIRO ET ALII:
“Para Sócrates, existiriam verdades que são
universais, ou seja, válidas para todos, e que deveriam ser procuradas e
defendidas em qualquer situação. Por isso, ele persistia em conversar com os
seus concidadãos atenienses sobre “verdade”, “amor”, “bem”, “bondade”,
“conhecimento”, “justiça” e “sabedoria”, entre outros temas relacionados às
virtudes humanas. Por isso, investigava rigorosamente, dialogando, com o
objetivo de investigar as ideias e os conceitos, para que a alma, ao evitar o
engano, evoluísse.” (ROMEIRO ET ALII, op. cit., p. 72.)
No diálogo Críton ou Do
Dever, de Platão, Sócrates defende que o cumprimento do dever, de cidadão, para
com a cidade-Estado (pólis) de Atenas, é algo imperativo. Além do mais, há leis
eternas, no mundo pós-vida, das quais as leis terrenas são parentes. Portanto,
o cumprimento do dever para com as leis não pode ser relativizado. HÁ LEIS
ETERNAS, para além das terrenas. As leis, portanto, devem ser respeitadas e
seguidas. Não foi por culpa delas que Sócrates, segundo ele mesmo, foi para a
cadeia, mas é por causa do dever para o cumprimento delas que ele deve seguir
até o fim, a morte advinda da condenação, ainda que esta tenha sido injusta.
Como dizem ROMEIRO ET ALII:
“A oposição entre relativismo e absolutismo
continua aberta até hoje. De acordo com os defensores do relativismo, pessoas
de culturas e sociedades diferentes têm ideias diversas acerca dos valores
morais, como o bem e o mal; mesmo no interior de uma mesma sociedade, os
indivíduos divergem entre si sobre essas questões, que também tendem a se
transformar ao longo do tempo.
Já os absolutistas argumentam que há valores morais
objetivos, permanentes e universais, que independem da opinião de cada sujeito.
Se não fosse assim, qualquer conduta seria permitida. Um indivíduo poderia
cometer as ações mais degradantes e não seria repreendido por seus atos, o que
inviabilizaria a vida em sociedade.
Existirá um caminho para acabar com esse
antagonismo? Talvez tenhamos de construir uma perspectiva intermediária entre o
relativismo e o absolutismo, levando em conta as preocupações legítimas das
duas posições. Quem sabe caiba à humanidade construir acordos mínimos sobre
valores humanos que não sejam entendidos como absolutos, mas que tendam ao
universal; afinal, a condição humana se expressa também na constante reflexão
que o ser humano faz de sua vida, de suas ações e da sociedade.” (ROMEIRO ET
ALII, op. cit., p. 73.)
Os sofistas estão
errados? E Sócrates? Enfim, quem está certo, o relativismo sofístico ou a
crença absoluta socrática na verdade? Com certeza, como se pôde ver nos
exemplos dados acima, a religião e as crenças são relativas, há valores éticos
que, de fato, são relativos, a aplicação da justiça depende de cada povo, e
assim por diante – há, portanto, aí, algo de relativo e fundamentado em
convenções.
Entretanto, Sócrates tem
razão também: em nenhum povo o desrespeito à vida é aceito, sendo proibidos o
roubo, o assassinato criminoso; a ciência tem um conhecimento que é universal,
compartilhado em comum entre os povos, independentemente de crenças religiosas,
ainda que essa mesma ciência, de tempos em tempos, sofra revoluções e admita a
relatividade einsteiniana; etc.
O relativismo parcial é
bem vindo e ajuda a evitar, inclusive, a intolerância. Ora, a intolerância é
fruto, muitas vezes, de crenças postas como absolutas e incontestáveis, até
mesmo embasadas em textos sagrados. Nesse sentido, a intolerância é perigosa e
deve ser evitada.
O relativismo total é
perigoso, pois abre caminho para não se levar leis, valores e leis com a
seriedade com a qual se lhes deve respeito. O relativismo absoluto não aceita
nada como verdade universal. O trabalho da ONU em declarar direitos universais
humanos e até de seres vivos, conforme os documentos, de nada valeria, ainda
que uma revisão possa ser feita, de tempos em tempos, a título de aprimoramento
da lei. Portanto, há valores que podem ser tidos como universais, tendo em vista que as
características essenciais dos seres humanos (seres dotados de vida, de razão,
de inteligência...) são comuns a todos os seres humanos.
Judeus e palestinos têm o
mesmo direito à vida, devendo haver respeito mútuo, com base naquela Declaração
Universal dos Direitos Humanos. Assim também, ucranianos e russos. Sem essa
crença na universalidade de valores, a matança seria comum, aceita e banalizada.
O absolutismo da verdade
também é igualmente perigoso. Quando alguém acredita que é dono da verdade ou
que naquilo em que acredita tão-somente existe a verdade absoluta e única, a
loucura pode brotar daí, bem como os crimes. Um bom e terrível exemplo disto
foi o assassinato de milhões de judeus e judias, nos campos de concentração
nazistas e fascistas, sob a alegação de que seriam uma raça inferior.
Quando alguém apela para
a ideia de pecado e culpa de religiões afro-brasileiras ou de ateus para
explicar desastres ambientais que atingem e matam muita gente, em diferentes
lugares, essa pessoa (ou essas pessoas) se baseia(m) em crenças absolutas e,
o que é pior, nega(m) e esconde(m), escamoteia(m), o fato de que a ciência
não foi ouvida, advertindo sobre perigos que viriam, que há pessoas de má
índole que não cumprem as determinações e ações devidas, mesmo tendo o poder
nas mãos, que a ambição humana extrema só é exposta quando suas consequências atingem
a coletividade social, e assim por diante, coisas claramente visíveis em
análises de cientistas e em reportagens bem feitas e com muita
responsabilidade.
Enfim, é preciso
aproveitar o que há de positivo no relativismo e no absolutismo, não levados ao
extremo. Extremismos são perigosos. Assim como existe diversidade e ela é
muitíssimo positiva e bem vinda, também há algo de universal e de verdadeiro
que pode ser compartilhado por todos os seres humanos, ainda que possam ser
aprimorados, como nos casos citados da Declaração Universal dos Direitos
Humanos e da indignação humana diante de tragédias e outros males que possam
atingir grupos e sociedades inteiras. Ainda que a Declaração Universal dos
Direitos Humanos seja, sabidamente, uma CONVENÇÃO (documento fruto de ACORDO
entre países), respeitá-la é dever de todos os que com ela se comprometeram,
estendendo-se, com certeza, até mesmo a todos os povos da Terra, aos quais ela
se dirige, tendo em vista que se universaliza para todos os seres humanos.
REFERENCIAL BÁSICO:
GOOGLE E YOUTUBE. Reportagens diversas sobre
desastres climáticos.
ROMEIRO,
Julieta et alii. Capítulo 7: A origem da filosofia ocidental. In:
_______________________. Diálogo: Ciências Humanas e Sociais Aplicadas – Ser
humano, cultura e sociedade. São Paulo, Moderna, 2020. (Livro didático.)
USP –
Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas. Holocausto. Disponível em: < https://diversitas.fflch.usp.br/holocausto-e-anti-semitismo#:~:text=Holocausto%20ou%20Shoah%20(palavra%20hebraica,de%20judeus%20da%20Alemanha%20e > Acesso em 10/05/2024.
Nenhum comentário:
Postar um comentário