domingo, 25 de fevereiro de 2024

PRIMEIRO BIMESTRE - AULA 06 DE SOCIOLOGIA DOS PRIMEIROS ANOS: AUGUSTO COMTE (SÉCULO XIX) ATRAVÉS DE SEUS TEXTOS (Prof. José Antônio Brazão.)

 

SECRETARIA DE SEGURANÇA PÚBLICA/SECRETARIA DE EDUCAÇÃO

COMANDO DE ENSINO POLICIAL MILITAR

 CEPMG - VASCO DOS REIS

Divisão de Ensino / Coordenação Pedagógica

PRIMEIRO BIMESTRE

AULA ... DE SOCIOLOGIA DOS PRIMEIROS ANOS:

AUGUSTO COMTE (SÉCULO XIX) ATRAVÉS DE SEUS TEXTOS (Prof. José Antônio Brazão.)

TRECHO DO LIVRO CURSO DE FILOSOFIA POSITIVA:

“II — Para explicar convenientemente a verdadeira natureza e

o caráter próprio da filosofia positiva, é indispensável ter, de

início, uma visão geral sobre a marcha progressiva do espírito

humano, considerado em seu conjunto, pois uma concepção

qualquer só pode ser bem conhecida por sua história.

Estudando, assim, o desenvolvimento total da inteligência

humana em suas diversas esferas de atividade, desde seu primeiro

vôo mais simples até nossos dias, creio ter descoberto uma grande

lei fundamental, a que se sujeita por uma necessidade invariável,

e que me parece poder ser solidamente estabelecida, quer na base

de provas racionais fornecidas [pág. 03] pelo conhecimento de

nossa organização, quer na base de verificações históricas

resultantes dum exame atento do passado. Essa lei consiste em

que cada uma de nossas concepções principais, cada ramo de

nossos conhecimentos, passa sucessivamente por três estados

históricos diferentes: estado teológico ou fictício, estado metafísico

ou abstrato, estado científico ou positivo. Em outros termos, o

espírito humano, por sua natureza, emprega sucessivamente, em

cada uma de suas investigações, três métodos de filosofar, cujo

caráter é essencialmente diferente e mesmo radicalmente oposto:

primeiro, o método teológico, em seguida, o método metafísico,

finalmente, o método positivo. Daí três sortes de filosofia, ou de

sistemas gerais de concepções sobre o conjunto de fenômenos,

que se excluem mutuamente: a primeira é o ponto de partida

necessário da inteligência humana; a terceira, seu estado fixo e

definitivo; a segunda, unicamente destinada a servir de transição.

No estado teológico, o espírito humano, dirigindo

essencialmente suas investigações para a natureza íntima dos

seres, as causas primeiras e finais de todos os efeitos que o tocam,

numa palavra, para os conhecimentos absolutos, apresenta os

fenômenos como produzidos pela ação direta e contínua de

agentes sobrenaturais mais ou menos numerosos, cuja

intervenção arbitrária explica todas as anomalias aparentes do

universo.

No estado metafísico, que no fundo nada mais é do que

simples modificação geral do primeiro, os agentes sobrenaturais

são substituídos por forças abstratas, verdadeiras entidades

(abstrações personificadas) inerentes aos diversos seres do

mundo, e concebidas como capazes de engendrar por elas

próprias todos os fenômenos observados, cuja explicação consiste,

então, em determinar para cada um uma entidade

correspondente.

Enfim, no estado positivo, o espírito humano, reconhecendo

a impossibilidade de obter noções absolutas, renuncia a procurar

a origem e o destino do universo, a conhecer as causas íntimas

dos fenômenos, para preocupar-se unicamente em descobrir,

graças ao uso bem combinado do raciocínio e da observação, suas

leis efetivas, a saber, suas relações invariáveis de sucessão e de

similitude. A explicação dos fatos, reduzida então a seus termos

reais, se resume de agora em diante na ligação estabelecida entre

os diversos fenômenos particulares e alguns fatos gerais, cujo

número o progresso da ciência tende cada vez mais a diminuir.

O sistema teológico chegou à mais alta perfeição de que é

suscetível quando substituiu, pela ação providencial de um ser

único, o jogo variado de numerosas divindades independentes,

que primitivamente tinham sido imaginadas. Do mesmo modo, o

último termo do sistema metafísico consiste em conceber, em

lugar de diferentes entidades particulares, uma única grande

entidade geral, a natureza, considerada como fonte exclusiva de

todos os fenômenos. Paralelamente, a perfeição do sistema

positivo à qual este tende sem cessar, apesar de ser muito

provável que nunca deva atingi-la, seria poder representar todos

os diversos fenômenos observáveis como casos particulares dum

único fato geral, como a gravitação o exemplifica.”

COMTE, Auguste [Augusto]. Primeira Lição. In: _______________. Curso de Filosofia Positiva. Trad. José Arthur Giannotti. São Paulo, Abril Cultural, 1978. Pp. 2-4 [35-37]. Disponível em: < https://cesarmangolin.files.wordpress.com/2010/02/colecao_os_pensadores_auguste_comte_-_obra_e_vida.pdf > Acesso em 22/02/2024.

COMENTÁRIO DO PROFESSOR JOSÉ ANTÔNIO BRAZÃO:

De acordo com o site Educa+Brasil: “O pensamento positivista tem como principal característica a devoção à ciência. Devido a isso, Auguste Comte, com a obra ‘Sistema de Política Positiva’ (1851-1854) desenvolveu a ‘Religião da Humanidade’, que defendia a seguinte diretriz: ‘O Amor por princípio e a Ordem por base; o Progresso por fim’.” (EDUCA+BRASIL. Positivismo. Disponível em: < https://www.educamaisbrasil.com.br/enem/historia/positivismo > Acesso em 22/02/2024.). Essa frase de Comte tem um especial interesse para o Brasil, pois encontra-se resumida, muitíssimo claramente, na Bandeira Nacional, no lema: ORDEM E PROGRESSO.

Com efeito, o positivismo veio para o Brasil, reforçando inclusive os ideais republicanos, por meio de brasileiros que estudaram na França e na Europa, no século XIX.

Augusto Comte [Auguste Comte] foi um filósofo francês do século XIX, fundador do Positivismo e um dos fundadores da Sociologia. (Ver as duas aulas imediatamente anteriores.)

Comte viveu em um tempo no qual as ciências, de fato, haviam chegado a um grande ponto de desenvolvimento, herdeiras dos séculos anteriores, da revolução científica moderna, entre os séculos XV e XVII, ao iluminismo do século XVIII. Descobertas e invenções foram muito comuns, no decorrer desses séculos, vindo a ter um impacto ainda maior no século XIX – na verdade, até hoje.

Vale lembrar que o capitalismo havia chegado ao auge no século XIX e, com ele, o neocolonialismo e o imperialismo, com a divisão afro-asiática pelos países industrializados europeus.

O século XIX foi o século do telégrafo, da máquina a vapor, dos trens de ferro, da aplicação do sistema a vapor também se deu em barcos e navios, em máquinas que aceleraram a produção industrial, entre outras aplicações. No campo da matemática, as matemáticas não-euclidianas viriam a ser desenvolvidas, cientistas diversos fizeram largo uso da matemática em seus estudos, algo que já vinha ocorrendo desde Galileu Galilei e outros que o antecederam (ex.: Copérnico).

A teoria da evolução de todos os seres vivos, a partir de formas de vida mais simples, ao longo de largos períodos de tempo, tomou impulso com Charles Darwin e Alfred Russel Wallace, britânicos. A evolução seria resultado da seleção natural, impulsionada pela corrida pela sobrevivência.

A World History Encyclopedia em português diz o seguinte a respeito de algumas invenções do século XIX:

“A Revolução Industrial Britânica transformou a vida no trabalho e em casa para praticamente todos. Barulho, poluição, agitação social e trabalhos repetitivos eram o preço a pagar por máquinas que economizam trabalho, transporte barato e confortável, bens de consumo mais acessíveis, melhor iluminação e aquecimento e meios de comunicação mais rápidos.

Qualquer lista de invenções está longe de ser completa, mas as seguintes foram escolhidas não apenas pelo que poderiam fazer, mas também por como permitiram que outras invenções se tornassem possíveis e como transformaram a vida profissional e cotidiana de milhões de pessoas. O período em consideração também é importante e aqui é considerado de 1750 a 1860. Com esses critérios em mente, as 10 principais invenções da Revolução Industrial foram:

·                 A Máquina a Vapor Watt (1778)

·                 O tear mecânico (1785)

·                 O gim de algodão (1794)

·                 Iluminação pública a gás (1807)

·                 O eletroímã (1825)

·                 A primeira fotografia (c. 1826)

·                 Foguete de Stephenson (1829)

·                 O Telégrafo (1837)

·                 O martelo a vapor (1839)

·                 Produção de aço em massa (1856)

(World History Encyclopedia em português. As 10 principais invenções da Revolução Industrial. Disponível em: < https://www.worldhistory.org/trans/pt/2-2204/as-10-principais-invencoes-da-revolucao-industrial/ > 22/02/2024.)

Todas essas descobertas e invenções, entre muitas outras, tiveram enorme impacto no pensamento de Augusto Comte. O próprio nome positivismo advém de POSON, da língua grega, que indica o que pode ser pesado, medido, quantificado, mensurado, etc., algo que as ciências se empenham por fazer, a fim de comprovar suas teorias e chegar a novas descobertas.

Comte defende uma filosofia exaltadora dos conhecimentos científicos. Como veio a ser comum no século XIX, Comte também trabalhou o conceito de desenvolvimento, por meio de estádios (ou estágios), indo do teológico ao positivo, passando pelo metafísico, como se pode ver claramente no texto acima mencionado do próprio Augusto Comte.

Essa visão de Augusto Comte tem a ver com o DESENVOLVIMENTO DAS SOCIEDADES. Elas passam por esses três estágios (teológico, metafísico e positivo), de acordo com Comte.

Comte também fez uma classificação das ciências, da mais simples à mais complexa. Eis o que diz Rabim S. Chiria:

Classificação das ciências segundo Comte: Comte classificou as ciências em sete categorias, das mais simples às mais complexas, nomeadamente: a matemática, astronomia, a Física, Química, Biologia, a Sociologia e a Moral. Portanto, esta última (a Moral), pelo nível mais alto de complexidade levaria mais tempo a passar a categoria positiva, pelo facto de ser fácil a identificação dos elementos a serem considerados num acto moral.” (CHIRIA, Rabim S. RESUMO: a Classificação das Ciências e a compreensão da Epistemologia Contemporânea. Disponível em: < https://www.jusbrasil.com.br/artigos/resumo-a-classificacao-das-ciencias-e-a-compreensao-da-epistemologia-contemporanea/1207974326#:~:text=Comte%20classificou%20as%20ci%C3%AAncias%20em,a%20Sociologia%20e%20a%20Moral. > Acesso em 22/02/2024.)

Como se pode ver muito claramente, a SOCIOLOGIA (Física Social) aparece como uma das mais complexas ciências, junto com a moral, tendo em vista que lida com o ser humano em sociedade. Um ser vivo, com sua complexidade orgânica e que convive com outros seres complexos. No que tange ao nome Física Social, Francisco Porfírio, no site Brasil Escola UOL, esclarece:

“Comte propôs uma ciência chamada, em um primeiro momento, de Física Social e, depois, de Sociologia. Era essa que seria capaz de aplicar o método de observação e experimentação das ciências da natureza na sociedade. Esse método encontraria as mesmas estruturas e leis que existem na Física, porém na sociedade. Nascia aí a Sociologia, que seria mais bem delimitada, mais tarde, com o pensador Émile Durkheim, que criou um método de operação próprio para a Sociologia." (PORFÍRIO, Francisco. Auguste Comte. Disponível em: <  https://brasilescola.uol.com.br/sociologia/auguste-comte.htm  > Acesso em 22/02/2024.)

Por que Física Social? Por ser uma proposta de aplicação dos princípios da Física aos estudos sociais, à análise da sociedade. Busca de precisão nos estudos da sociedade.

REFERÊNCIAS:

COMTE, Auguste [Augusto]. Primeira Lição. In: _______________. Curso de Filosofia Positiva. Trad. José Arthur Giannotti. São Paulo, Abril Cultural, 1978. Pp. 2-4 [35-37]. Disponível em: < https://cesarmangolin.files.wordpress.com/2010/02/colecao_os_pensadores_auguste_comte_-_obra_e_vida.pdf > Acesso em 22/02/2024.

EDUCA+BRASIL. Positivismo. Disponível em: < https://www.educamaisbrasil.com.br/enem/historia/positivismo > Acesso em 22/02/2024.

ROMEIRO, Julieta et alii. DIÁLOGO: Ciências Humanas e Sociais Aplicadas. São Paulo, Moderna, 2020. (Seis volumes.) [Livros didáticos.]

 

 

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