SECRETARIA DE SEGURANÇA
PÚBLICA/SECRETARIA DE EDUCAÇÃO
COMANDO DE
ENSINO POLICIAL MILITAR
CEPMG -
VASCO DOS REIS
Divisão de Ensino / Coordenação Pedagógica
PRIMEIRO BIMESTRE
AULA ... DE SOCIOLOGIA DOS PRIMEIROS ANOS:
AUGUSTO COMTE (SÉCULO XIX) ATRAVÉS DE SEUS
TEXTOS (Prof. José Antônio Brazão.)
TRECHO DO LIVRO CURSO DE FILOSOFIA POSITIVA:
“II — Para explicar convenientemente a
verdadeira natureza e
o caráter próprio da filosofia positiva, é
indispensável ter, de
início, uma visão geral sobre a marcha
progressiva do espírito
humano, considerado em seu conjunto, pois uma
concepção
qualquer só pode ser bem conhecida por sua
história.
Estudando, assim, o desenvolvimento total da
inteligência
humana em suas diversas esferas de atividade,
desde seu primeiro
vôo mais simples até nossos dias, creio ter
descoberto uma grande
lei fundamental, a que se sujeita por uma
necessidade invariável,
e que me parece poder ser solidamente
estabelecida, quer na base
de provas racionais fornecidas [pág. 03] pelo conhecimento
de
nossa organização, quer na base de
verificações históricas
resultantes dum exame atento do passado. Essa
lei consiste em
que cada uma de nossas concepções principais,
cada ramo de
nossos conhecimentos, passa sucessivamente por
três estados
históricos diferentes: estado teológico ou
fictício, estado metafísico
ou abstrato, estado científico ou positivo. Em
outros termos, o
espírito humano, por sua natureza, emprega
sucessivamente, em
cada uma de suas investigações, três métodos
de filosofar, cujo
caráter é essencialmente diferente e mesmo
radicalmente oposto:
primeiro, o método teológico, em seguida, o
método metafísico,
finalmente, o método positivo. Daí três sortes
de filosofia, ou de
sistemas gerais de concepções sobre o conjunto
de fenômenos,
que se excluem mutuamente: a primeira é o
ponto de partida
necessário da inteligência humana; a terceira,
seu estado fixo e
definitivo; a segunda, unicamente destinada a
servir de transição.
No estado teológico, o espírito humano,
dirigindo
essencialmente suas investigações para a
natureza íntima dos
seres, as causas primeiras e finais de todos
os efeitos que o tocam,
numa palavra, para os conhecimentos absolutos,
apresenta os
fenômenos como produzidos pela ação direta e
contínua de
agentes sobrenaturais mais ou menos numerosos,
cuja
intervenção arbitrária explica todas as
anomalias aparentes do
universo.
No estado metafísico, que no fundo nada mais é
do que
simples modificação geral do primeiro, os
agentes sobrenaturais
são substituídos por forças abstratas,
verdadeiras entidades
(abstrações personificadas) inerentes aos
diversos seres do
mundo, e concebidas como capazes de engendrar
por elas
próprias todos os fenômenos observados, cuja
explicação consiste,
então, em determinar para cada um uma entidade
correspondente.
Enfim, no estado positivo, o espírito humano,
reconhecendo
a impossibilidade de obter noções absolutas,
renuncia a procurar
a origem e o destino do universo, a conhecer
as causas íntimas
dos fenômenos, para preocupar-se unicamente em
descobrir,
graças ao uso bem combinado do raciocínio e da
observação, suas
leis efetivas, a saber, suas relações
invariáveis de sucessão e de
similitude. A explicação dos fatos, reduzida
então a seus termos
reais, se resume de agora em diante na ligação
estabelecida entre
os diversos fenômenos particulares e alguns
fatos gerais, cujo
número o progresso da ciência tende cada vez
mais a diminuir.
O sistema teológico chegou à mais alta
perfeição de que é
suscetível quando substituiu, pela ação
providencial de um ser
único, o jogo variado de numerosas divindades
independentes,
que primitivamente tinham sido imaginadas. Do
mesmo modo, o
último termo do sistema metafísico consiste em
conceber, em
lugar de diferentes entidades particulares,
uma única grande
entidade geral, a natureza, considerada como
fonte exclusiva de
todos os fenômenos. Paralelamente, a perfeição
do sistema
positivo à qual este tende sem cessar, apesar
de ser muito
provável que nunca deva atingi-la, seria poder
representar todos
os diversos fenômenos observáveis como casos
particulares dum
único fato geral, como a gravitação o
exemplifica.”
COMTE, Auguste [Augusto]. Primeira Lição. In:
_______________. Curso de Filosofia Positiva.
Trad. José Arthur Giannotti. São Paulo, Abril Cultural, 1978. Pp. 2-4 [35-37].
Disponível em: < https://cesarmangolin.files.wordpress.com/2010/02/colecao_os_pensadores_auguste_comte_-_obra_e_vida.pdf >
Acesso em 22/02/2024.
COMENTÁRIO DO PROFESSOR JOSÉ ANTÔNIO BRAZÃO:
De acordo com o site
Educa+Brasil: “O pensamento positivista tem como principal característica a
devoção à ciência. Devido a isso, Auguste Comte, com a obra ‘Sistema de
Política Positiva’ (1851-1854) desenvolveu a ‘Religião da Humanidade’,
que defendia a seguinte diretriz: ‘O Amor por princípio e a Ordem por base; o
Progresso por fim’.” (EDUCA+BRASIL. Positivismo.
Disponível em: < https://www.educamaisbrasil.com.br/enem/historia/positivismo > Acesso em 22/02/2024.). Essa frase de Comte
tem um especial interesse para o Brasil, pois encontra-se resumida, muitíssimo
claramente, na Bandeira Nacional, no lema: ORDEM E PROGRESSO.
Com efeito, o positivismo
veio para o Brasil, reforçando inclusive os ideais republicanos, por meio de
brasileiros que estudaram na França e na Europa, no século XIX.
Augusto Comte [Auguste
Comte] foi um filósofo francês do século XIX, fundador do Positivismo e um dos
fundadores da Sociologia. (Ver as duas aulas imediatamente anteriores.)
Comte viveu em um tempo
no qual as ciências, de fato, haviam chegado a um grande ponto de
desenvolvimento, herdeiras dos séculos anteriores, da revolução científica
moderna, entre os séculos XV e XVII, ao iluminismo do século XVIII. Descobertas
e invenções foram muito comuns, no decorrer desses séculos, vindo a ter um
impacto ainda maior no século XIX – na verdade, até hoje.
Vale lembrar que o
capitalismo havia chegado ao auge no século XIX e, com ele, o neocolonialismo e
o imperialismo, com a divisão afro-asiática pelos países industrializados
europeus.
O século XIX foi o século
do telégrafo, da máquina a vapor, dos trens de ferro, da aplicação do sistema a
vapor também se deu em barcos e navios, em máquinas que aceleraram a produção
industrial, entre outras aplicações. No campo da matemática, as matemáticas
não-euclidianas viriam a ser desenvolvidas, cientistas diversos fizeram largo
uso da matemática em seus estudos, algo que já vinha ocorrendo desde Galileu
Galilei e outros que o antecederam (ex.: Copérnico).
A teoria da evolução de
todos os seres vivos, a partir de formas de vida mais simples, ao longo de
largos períodos de tempo, tomou impulso com Charles Darwin e Alfred Russel
Wallace, britânicos. A evolução seria resultado da seleção natural,
impulsionada pela corrida pela sobrevivência.
A World History
Encyclopedia em português diz o seguinte a respeito de algumas invenções do
século XIX:
“A Revolução Industrial Britânica transformou a vida no trabalho e em casa para
praticamente todos. Barulho, poluição, agitação social e trabalhos repetitivos
eram o preço a pagar por máquinas que economizam trabalho, transporte barato e
confortável, bens de consumo mais acessíveis, melhor iluminação e aquecimento e
meios de comunicação mais rápidos.
Qualquer lista de invenções está longe de ser
completa, mas as seguintes foram escolhidas não apenas pelo que poderiam fazer,
mas também por como permitiram que outras invenções se tornassem possíveis e
como transformaram a vida profissional e cotidiana de milhões de pessoas. O
período em consideração também é importante e aqui é considerado de 1750 a
1860. Com esses critérios em mente, as 10 principais invenções da Revolução
Industrial foram:
·
A
Máquina a Vapor Watt (1778)
·
O tear
mecânico (1785)
·
O gim
de algodão (1794)
·
Iluminação
pública a gás (1807)
·
O
eletroímã (1825)
·
A
primeira fotografia (c. 1826)
·
Foguete
de Stephenson (1829)
·
O
Telégrafo (1837)
·
O
martelo a vapor (1839)
·
Produção
de aço em massa (1856)
(World
History Encyclopedia em português. As 10 principais invenções da Revolução Industrial. Disponível em: < https://www.worldhistory.org/trans/pt/2-2204/as-10-principais-invencoes-da-revolucao-industrial/ > 22/02/2024.)
Todas essas descobertas e
invenções, entre muitas outras, tiveram enorme impacto no pensamento de Augusto
Comte. O próprio nome positivismo advém de POSON, da língua grega, que indica o
que pode ser pesado, medido, quantificado, mensurado, etc., algo que as
ciências se empenham por fazer, a fim de comprovar suas teorias e chegar a
novas descobertas.
Comte defende uma
filosofia exaltadora dos conhecimentos científicos. Como veio a ser comum no
século XIX, Comte também trabalhou o conceito de desenvolvimento, por meio de
estádios (ou estágios), indo do teológico ao positivo, passando pelo
metafísico, como se pode ver claramente no texto acima mencionado do próprio
Augusto Comte.
Essa visão de Augusto
Comte tem a ver com o DESENVOLVIMENTO DAS SOCIEDADES. Elas passam por esses
três estágios (teológico, metafísico e positivo), de acordo com Comte.
Comte também fez uma
classificação das ciências, da mais simples à mais complexa. Eis o que diz
Rabim S. Chiria:
“Classificação das ciências segundo Comte:
Comte classificou as ciências em sete categorias, das mais simples às
mais complexas, nomeadamente: a matemática, astronomia, a Física, Química,
Biologia, a Sociologia e a Moral. Portanto, esta última (a Moral), pelo nível
mais alto de complexidade levaria mais tempo a passar a categoria positiva,
pelo facto de ser fácil a identificação dos elementos a serem considerados num
acto moral.” (CHIRIA, Rabim S. RESUMO:
a Classificação das Ciências e a compreensão da Epistemologia Contemporânea. Disponível em: < https://www.jusbrasil.com.br/artigos/resumo-a-classificacao-das-ciencias-e-a-compreensao-da-epistemologia-contemporanea/1207974326#:~:text=Comte%20classificou%20as%20ci%C3%AAncias%20em,a%20Sociologia%20e%20a%20Moral. > Acesso em 22/02/2024.)
Como se pode ver muito
claramente, a SOCIOLOGIA (Física Social) aparece como uma das mais complexas
ciências, junto com a moral, tendo em vista que lida com o ser humano em
sociedade. Um ser vivo, com sua complexidade orgânica e que convive com outros
seres complexos. No que tange ao nome Física Social, Francisco Porfírio, no
site Brasil Escola UOL, esclarece:
“Comte propôs uma ciência chamada, em um primeiro momento, de Física
Social e, depois, de Sociologia. Era essa que seria capaz de aplicar o método
de observação e experimentação das ciências da natureza na sociedade. Esse
método encontraria as mesmas estruturas e leis que existem na Física, porém na
sociedade. Nascia aí a Sociologia, que seria mais bem delimitada, mais tarde,
com o pensador Émile Durkheim, que criou um método de operação próprio para a
Sociologia." (PORFÍRIO, Francisco. Auguste Comte. Disponível em: < https://brasilescola.uol.com.br/sociologia/auguste-comte.htm > Acesso em 22/02/2024.)
Por que Física Social? Por ser uma proposta de
aplicação dos princípios da Física aos estudos sociais, à análise da sociedade.
Busca de precisão nos estudos da sociedade.
REFERÊNCIAS:
COMTE,
Auguste [Augusto]. Primeira Lição. In: _______________. Curso de Filosofia Positiva. Trad. José Arthur Giannotti. São Paulo,
Abril Cultural, 1978. Pp. 2-4 [35-37]. Disponível em: < https://cesarmangolin.files.wordpress.com/2010/02/colecao_os_pensadores_auguste_comte_-_obra_e_vida.pdf > Acesso em 22/02/2024.
EDUCA+BRASIL.
Positivismo. Disponível em: < https://www.educamaisbrasil.com.br/enem/historia/positivismo > Acesso em 22/02/2024.
ROMEIRO,
Julieta et alii. DIÁLOGO: Ciências Humanas e Sociais Aplicadas.
São Paulo, Moderna, 2020. (Seis volumes.) [Livros didáticos.]
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