COMANDO DE
ENSINO POLICIAL MILITAR
CEPMG -
VASCO DOS REIS
Divisão de
Ensino / Coordenação Pedagógica
QUARTO BIMESTRE
AULA 34 DE SOCIOLOGIA DOS SEGUNDOS ANOS:
MUNDO DO TRABALHO E DESIGUALDADE SOCIAL:
ESTRATIFICAÇÃO E DESIGUALDADES SOCIAIS
- CLASSE:
TEXTO DO LIVRO
DIDÁTICO:
Classe para Marx
Os trabalhos de Karl Marx representam a primeira grande teoria
sociológica da estratificação
social. Valendo-se do conceito de classe social, o autor critica de modo contundente a ideia de igualdade política e
jurídica proclamada pelos liberais, entendidos como
aqueles que, orientados pelos interesses
da burguesia, defendem a democraciarepresentativa e o livre mercado.
Para Marx, os direitos inalienáveis de liberdade e justiça – propostos
pelos liberais – não resistem às
evidências das desigualdades sociais promovidas pelas relações de produção capitalistas, que dividem os homens em
proprietários e não proprietários dos meios de produção.
Dessa divisão se originam duas classes sociais centrais: o proletariado
– aqueles que vendem sua força de
trabalho em troca de salário – e a burguesia – dona dos meios de produção sob a forma legal da
propriedade privada, que se apropria do produto do trabalho dos operários e lhes paga um valor inferior ao que foi
gerado pelo uso da mão
de obra. Essas duas classes possuem interesses em constante conflito.
Por exemplo, durante uma greve, os trabalhadores lutam por melhores
condições de trabalho e de
remuneração, enquanto os patrões têm interesse em atingir o maior lucro possível, o que só pode ser obtido
se eles explorarem ainda mais os trabalhadores.
E o atendimento das reivindicações destes leva à diminuição do lucro dos
patrões. Isso demonstra a
oposição entre os interesses de classe.
A polarização entre essas duas classes não significa para Marx que não existam outras, como as dos pequenos proprietários rurais,
comerciários
e diferentes tipos de profissionais liberais.
Estas, no entanto, exercem um papel intermediário no conflito entre o proletariado e a burguesia, aproximando-se ora de uma, ora de
outra,dependendo do momento. Assim, para Marx, a classe social de um indivíduo é determinada pela posição que ele ocupa no processo
produtivo, como proprietário ou como
trabalhador.
[SILVA, Afrânio et alii. Trabalho e Sociedade. In:
__________. Sociologia em Movimento.
2.ed. São Paulo, Moderna, 2016. (Cap. 9 e 10)]
COMENTÁRIO (Prof. José Antônio Brazão.):
Karl
Marx, alemão, viveu no século XIX e teve uma
tripla formação intelectual: economia, filosofia e história.
Para bem compreender suas ideias é preciso situá-lo
no contexto histórico em que viveu. O século XIX presenciou a afirmação
definitiva do modo de produção capitalista. A burguesia, que vinha sendo ainda mais enriquecida com a
revolução industrial, há mais de um século, reforçou sua exploração sobre os
trabalhadores, cuja forma principal era e ainda é o que Marx chamou de mais
valia, isto é, um trabalho extra, não pago ao trabalhador, que se transforma em
lucro para os capitalistas, dentre os quais podiam se destacar industriais,
comerciantes, grandes fazendeiros, grandes banqueiros e outros enriquecidos. Em
cada indústria, fábrica, a
exploração era intensa.
A exploração
dos trabalhadores nas fábricas era terrível e fonte de altos lucros para os
capitalistas. Homens, mulheres e até crianças trabalhavam 14, 15, 16 horas a
fio, em troca de um mísero salário. A imensa miséria do proletariado
(trabalhadores) constrastava com a enorme riqueza
dos poucos donos dos meios de
produção, do capital.
Não havia direitos trabalhistas definidos legalmente, de forma nítida. Estes,
com efeito, vieram a ser fruto de muitas lutas e mesmo de mortes de muitos
trabalhadores. Milhares e milhares de crianças
eram obrigadas a trabalhar nas
fábricas para complementar aquilo que os pais recebiam e, como as mulheres, recebiam pagamentos
inferiores aos dos homens e adultos. A exploração é histórica.
O que cada trabalhador
e os trabalhadores recebiam servia basicamente para a sobrevivência e à
reprodução da força de trabalho, ou seja, poderem trabalhar no dia seguinte e
serem obrigados a isto. Os lucros dos capitalistas eram exorbitantes.
Diante desta realidade, e já tendo tido contato com
sindicatos e grupos de luta em prol dos trabalhadores, Marx engajou nessa luta,
seja diretamente, através de participação em passeatas, manifestações e no Partido Comunista, seja através
de um estudo sistemático e minucioso do funcionamento do sistema capitalista,
buscando uma compreensão mais profunda de suas raízes na própria história
humana. Marx, de fato, foi um grande pesquisador, cientista político-econômico
e filósofo, homem muito culto. Todas as suas obras praticamente nasceram desse
empenho pela compreensão da realidade histórica, econômica e filosófica.
Dentre as pessoas com quem conviveu encontrou-se
Friedrich Engels, filho de um industrial alemão. Outro homem de excepcional
cultura que, como Marx, também interessava-se por economia, história e
filosofia, além de dispor de grande cultura geral. Sua parceria com Marx se
manifestou na participação no Partido Comunista e na elaboração de diversas
obras pessoais e, algumas, conjuntas, sempre trocando ideias entre si. Juntos,
a pedido do Partido Comunista, elaboraram o Manifesto do Partido Comunista (ou, simplesmente,
Manifesto Comunista), no qual tratam de temas como a exploração
capitalista, as lutas dos trabalhadores, as contradições internas do
capitalismo, o socialismo e o comunismo, terminando por convocar os
trabalhadores do mundo inteiro à luta em prol de uma nova sociedade, livre das
relações de exploração entre os homens e, mais especificamente, livre da
exploração capitalista. A frase final é, justamente: “Trabalhadores de todos os
países, uni-vos.”
Dentre as influências teóricas sofridas pelo
pensamento de Karl Marx encontram-se a dialética hegeliana, a economia política
inglesa e o pensamento dos chamados socialistas utópicos.
Friedrich Hegel
(1770 – 1831), filósofo alemão, havia dito que o espírito (a cultura e as realizações intelectuais) evolui
dialeticamente, isto é, por meio da contradição interna, que se encontra em sua
evolução, com diferentes etapas, não destruídas ou separadas de forma estanque,
mas que são assimiladas e superadas através de um processo de tese (afirmação), antítese (negação) e síntese (negação da negação,
envolvendo as etapas anteriores). A síntese torna-se uma tese que, por sua vez,
carregando consigo sua própria contradição, é superada pela antítese e esta
pela síntese, continuamente. O espírito absoluto é o auge dessa evolução, etapa
na qual o espírito se reconhece como realizador da história. Eis aí uma
dialética idealista.
Marx, tendo estudado a dialética hegeliana,
aplicou-a na compreensão da história concreta humana, vendo-a como uma
realização de pessoas concretas e não como resultante da evolução do espírito.
Muito pelo contrário, Marx perceberá que mesmo as realizações espirituais,
intelectuais e ideais humanas são fruto, em sua base, de relações materiais de
produção que se estabelecem entre as pessoas, a partir do momento em que passam
a transformar a natureza
através de seu trabalho.
Se, para Hegel, o movimento dialético do Espírito,
passando por várias etapas, até o Espírito
Absoluto, portanto a consciência, é o que determina a história, para Marx, ao
contrário, é a vida que determina a consciência, isto é, são as relações de
produção, ligadas ao(s) modo(s) de produção de cada época, é que determinam a
consciência, ou seja, o pensamento, a compreensão de mundo, o Direito, a
religião e a cultura
A dialética
explica a história por meio da contradição, tendo, em Marx, um caráter
materialista. Para Marx, com efeito, a história humana manifesta conflitos que
brotam no interior dos modos de produção que surgem ao longo daquela, com
destaque para os conflitos entre grupos e classes sociais determinados.
Marx parte da produção concreta da vida material
humana e afirma que ela é o que define seu modo de viver, de ser e de agir, até
mesmo suas idéias e realizações culturais, como o direito, a educação, a
religião, etc. O modo de produção de uma determinada época determina a vida das
pessoas, ainda que não absolutamente, mas dialeticamente, pois, dentro de si
mesmo, ele carrega sua contradição. Por exemplo: a burguesia que viria a tomar
o poder, depois de vários séculos, nasceu dentro do próprio modo de produção
feudal.
A produção
da vida material é o que move
a história e, mais especificamente, transformada em conflito, através da luta de classes: senhores x
escravos, patrícios x plebeus, burgueses x senhores feudais, proletariado x
burguesia, etc. De acordo com a Wikipedia:
“Modo de produção, em economia marxista, é a forma de não organização
socioeconômica associada a uma determinada etapa de desenvolvimento das forças produtivas
e das relações de produção.
Reúne as características do trabalho preconizado,
seja ele artesanal, manufaturado ou industrial. São constituídos pelo objeto
sobre o qual se trabalha e por todos os meios de trabalho necessários à
produção (instrumentos ou ferramentas, máquinas, oficinas, fábricas, etc.” (In: http://pt.wikipedia.org/wiki/Modo_de_produ%C3%A7%C3%A3o)
Dentre os modos de produção surgidos no transcurso
da história estão: o modo de produção primitivo, o asiático, escravista,
feudal, capitalista e comunista.
O modo de
produção comunitário, primitivo caracterizou-se por uma forma de
produzir simples, baseada na caça e na coleta, principalmente, não havendo
divisão acentuada do trabalho nem divisão em classes sociais. Porém, à medida
em que as relações de trabalho foram se complexificando, começou a ocorrer uma divisão do trabalho cada vez
mais acentuada e nítida: entre o trabalho da mulher e o do homem, entre o trabalho manual e o intelectual
(incluindo-se aqui o sagrado).
Alguns membros da comunidade começaram a usurpar
parte dos bens pertencentes à coletividade, tomando-os como seus. Além disto,
aprenderam que, escravizando outros, poderiam desocupar-se dos trabalhos duros
e difíceis e colocar outros para trabalhar em seu lugar. Surgiu, então, o modo
de produção escravista. Como
seu próprio nome dias, sua base foi a escravidão. Os escravos advinham,
basicamente, de algumas fontes, como a guerra
(todos os sobreviventes derrotados eram escravizados) e as dívidas.
Dentre as sociedades
escravistas antigas, no mundo ocidental, as que mais se destacaram foram a
Grécia e Roma. A escravidão
predominou fortemente nessas duas sociedades, sendo que o escravo era tido como
uma mercadoria. O filósofo Cícero
falou sobre ela. Contudo, o escravismo reapareceu em outras épocas e em outros
modos de produção. No mundo moderno ocidental, destacadamente a partir do
século XVI em diante, a escravidão de indígenas e, sobretudo, de negros
africanos foi muito acentuada.
Quanto ao modo de produção asiático:
“O chamado modo de produção
asiático ou sociedades hidráulicas, caracteriza os
primeiros Estados surgidos na Ásia Oriental,
Índia, China e Egito. A agricultura, base da economia desses Estados,
era praticada por comunidades de camponeses presos à terra, que não podiam
abandonar seu local de trabalho e viviam
submetidos a um regime de trabalho
compulsório. Na verdade, esses camponeses (ou aldeões) tinham acesso
à coletividade das terras de sua comunidade, ou seja, pelo fato de pertencerem
a tal comunidade, eles tinham o direito e o dever de cultivar as terras desta.”
(WIKIPÉDIA. Modo de
Produção. Disponível em: < http://pt.wikipedia.org/wiki/Modo_de_produ%C3%A7%C3%A3o_asi%C3%A1tico > Acesso em 11/11/2023.)
O trabalho compulsório
era um trabalho obrigatório que era prestado pelos camponeses e cidadãos
pobres, com destaque para as obras realizadas pelo Estado. No Egito antigo, por
exemplo, em construções, monumentos, na construção de canais para o escoamento
das águas e da irrigação, etc. Havia também escravidão, sem dúvida. Por
exemplo, para citar um documento antigo: na Bíblia fala-se da escravidão de
José, um dos patriarcas, no Egito
(ver livro do Gênesis), juntamente com outros, e dos hebreus (no livro do Êxodo).
Na Europa, com a decadência do Império Romano, que
adotara o modo de produção escravista, por volta dos séculos IV/V da era
cristã, foi-se formando uma maneira diferente de produzir: grandes unidades de
terras (latifúndios) foram se formando, controladas por senhores e trabalhadas
por servos (camponeses), que não eram
escravos, mas estavam ligados à terra. Progressivamente, foi-se formando uma
sociedade estratificada, tendo o poder político sido concentrado nas mãos dos
senhores feudais e da Igreja Católica Romana – também detentora de terras, do
poder religioso e intelectual, além de exercer forte influência política.
Formou-se, então, paulatinamente, o que viria a ser chamado modo de produção feudal. A produção era
basicamente a produção agrícola. Os servos pagavam tributos, seja em espécie,
seja, com o passar do tempo, em moeda, para os senhores feudais e a Igreja, e
ainda trabalhavam nas terras dos respectivos senhores feudais em determinados
dias da semana. Dispunham de parte da terra do feudo e nela trabalhavam.
Os senhores feudais tinham sob seu comando
exércitos próprios. Diversos feudos formavam reinos, dirigidos por reis que,
por sua vez, eram senhores feudais e definidos entre seus iguais, cada rei
sendo um primus inter pares (latim),
isto é, o primeiro entre os iguais. A base da sociedade, como se pôde ver
acima, era composta, principalmente, pelos servos (camponeses), mas havia
também tecelões, sapateiros e outros artesãos, além de comerciantes.
O comércio não acabou no modo de produção feudal.
Com o crescimento populacional e das cidades, esse comércio foi-se
intensificando cada vez mais. Com isto, a burguesia (comerciantes)
fortaleceu-se gradativamente, enriquecendo-se. O capitalismo estava, então,
Marx e Engels defenderam a luta dos trabalhadores e
a implementação do socialismo por meio da revolução
(armada, inclusive) e, posteriormente, do comunismo. Suas ideias, sem dúvida,
influenciaram, no século XX, as mentes daqueles que viriam a levar adiante a
Revolução Russa, a Revolução Chinesa, a Revolução Cubana e tantas outras, além de
partidos e sindicatos que se espalharam, praticamente, pelo mundo todo em
defesa das causas dos trabalhadores.
REFERÊNCIAS BÁSICAS:
Conteúdo do
capítulo 10 do livro SOCIOLOGIA EM
MOVIMENTO.
https://pt.calameo.com/read/0028993270bf48599a68e?authid=XBPlbB734l1t
GOOGLE IMAGENS. Disponível em: < https://www.google.com.br/imghp?hl=pt-BR&ogbl > Acessos em novembro de 2021.
SILVA, Afrânio et alii. Trabalho e Sociedade. In: __________. Sociologia em Movimento. 2.ed. São
Paulo, Moderna, 2016. (Cap. 9 e 10)
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