COMANDO DE
ENSINO POLICIAL MILITAR
CEPMG -
VASCO DOS REIS
Divisão de
Ensino / Coordenação Pedagógica
QUARTO BIMESTRE
AULA 29 DE TCH DOS SEGUNDOS ANOS:
O CORONELISMO NA PRIMEIRA REPÚBLICA (Prof. José
Antônio Brazão.):
Com a queda do Império,
no Brasil, em 1889, a República foi-se firmando progressivamente. A chamada
Primeira República vai de 1889 a 1930, tendo tido como presidentes dois
militares (o Marechal Deodoro da Fonseca e o Marechal Floriano Peixoto) que
foram seguidos por vários presidentes civis (Prudente de Morais, Campos Sales,
Rodrigues Alves, Afonso Pena, Nilo Peçanha, Hermes da Fonseca, Venceslau Brás,
Delfim Moreira, Epitácio Pessoa, Artur Bernardes, Washington Luís. Júlio
Prestes foi eleito em 1930, mas não chegou a assumir, por conta da Revolução de
1930 levada adiante pelo grupo de Getúlio Vargas. Um período de quarenta anos,
portanto.
Consolidada a República
com o Presidente Floriano Peixoto (23/11/1891 a 15/11/1894), o período que se
seguiu, até 1930, foi chamado de República do Café com Leite, correspondendo,
respectivamente, a São Paulo (grande produtor de café) e Minas Gerais (grande
produtor de leite). Segundo Vitor Amorim de Ângelo:
“A política do café-com-leite foi um acordo firmado
entre as oligarquias estaduais e o governo federal durante a República Velha
para que os presidentes da República fossem escolhidos entre os políticos de
São Paulo e Minas Gerais. Portanto, ora o presidente seria paulista, ora
mineiro. O nome desse acordo era uma alusão à economia de São Paulo e Minas,
grandes produtores, respectivamente, de café e leite. Além disso, eram estados
bastante populosos, fortes politicamente e berços de duas das principais legendas
republicanas: o Partido Republicano Paulista e o Partido Republicano
Mineiro....” (ANGELO, Vitor Amorim. Política do café-com-leite - Acordo marcou a República Velha.
Disponível em: < https://educacao.uol.com.br/disciplinas/historia-brasil/politica-do-cafe-com-leite-acordo-marcou-a-republica-velha.htm?cmpid=copiaecola >
Acesso em 30/09/2023.)
A economia brasileira,
como se pode ver, tinha como produtos principais o café e o leite, sendo que o
café, desde o século XIX, ocupava um papel central nas exportações brasileiras.
Mas, além desses dois produtos, também vale destacar o açúcar, o algodão e a
borracha. Como comenta Alex dos Santos Silva:
“A economia brasileira sempre esteve ligada à
origem de nossa colonização. Desde a época Colonial (1500-1822), passando pelo
período Imperial (1822-1889) até a República Velha (1889-1930), a economia
brasileira dependeu quase que exclusivamente do bom desempenho de suas exportações,
as quais, durante todo período, restringiam-se a algumas poucas commodities agrícolas,
ou seja, produtos com baixo valor agregado como a soja, o milho e outros grãos,
quando exportado In natura, sem nenhum processamento.
Não havia a preocupação com o mercado interno, já
que até 1888 o Brasil ainda adotava a mão-de-obra escrava em praticamente toda
a produção. Os principais produtos destinados à exportação foram: açúcar,
algodão, café e borracha. Em 1900, o café representava 65% das exportações brasileiras seguido pela borracha, com 15%, e o açúcar
com 6%. A República Velha pode ser considerada o período áureo da economia
cafeeira agroexportadora, que favoreceu à acumulação de capital dos grandes
produtores de café, e consequentemente o surgimento a indústria em nosso país.”
(SILVA, Alex dos Santos. República Velha ou Primeira República do Brasil.
Disponível em: < https://www.politize.com.br/republica-velha/#:~:text=A%20ECONOMIA%20BRASILEIRA%20NA%20REP%C3%9ABLICA%20VELHA&text=Os%20principais%20produtos%20destinados%20%C3%A0,%2C%20algod%C3%A3o%2C%20caf%C3%A9%20e%20borracha. > Acesso em30/09/2023.)
Tais produtos (commodities, isto é, mercadorias
brutas, como os produtos agropecuários, minerais e vegetais, destinadas à
exportação) estavam ligados às necessidades de países da América do Norte
(Estados Unidos da América, principalmente) e da Europa (exemplo: Inglaterra,
França, etc.), entre outros, nos quais a Revolução Industrial tinha chegado ao
auge, que compravam produtos in natura baratos para vender produtos
industrializados e processados mais caros.
O café brasileiro tinha largo destaque,
consumido em muitas regiões do mundo. A borracha era muito utilizada na
indústria automobilística. O algodão, nas fábricas de tecelagem. O ferro e
outros metais tinham finalidades as mais diversas, sendo utilizados na
fabricação de armas, máquinas, ferramentas, entre outros produtos.
No que diz respeito a
Goiás nos primeiros tempos da República, agora um dos estados da República, a
Wikipédia apresenta as seguintes informações:
“O Brasil passou ao regime republicano em 15 de novembro de 1889, fazendo de
Goiás um estado. Entretanto, pouco se modificou na unidade administrativa em
termos socioeconômicos, em especial pelo isolamento resultante da carência dos
meios de comunicação. Aliado a isso, a ausência de centros urbanos e de um
mercado interno, além de uma economia de subsistência, também contribuíram para
os problemas enfrentados pela população goiana. Apenas mudanças administrativas
e políticas foram vistas.[17]
A primeira fase da República no Brasil, que durou
desde sua proclamação até 1930, acentuou a disputa entre as elites
oligárquicas de Goiás pelo poder político. Os principais grupos de elite eram
os Bulhões, os Fleury, e os Jardim Caiado, que exerciam influência nas mais
diversas atividades do estado. Os Bulhões apresentaram forte influência sobre a
política do estado até por volta de 1912, com sua liderança maior em José Leopoldo de Bulhões, sucedidos pela elite oligárquica dos Jardim
Caiado, liderada por Antônio
Ramos Caiado, com
seu poder exercido até 1930.[17]
Um dos meios de desenvolvimento advindos da mudança
para o período republicano, de forma imediata, foi a instalação do telégrafo em 1891, usado para a transmissão de
notícias.[17] Posteriormente, a estrada de ferro em
território goiano, que chegou no início do século XX, também foi de grande
importância para a urbanização na região e a ligação com outras partes do país,
facilitando a produção de arroz para exportação.[17] Entretanto, a estrada de ferro não se
estendeu até a cidade de Goiás, capital estadual à época, assim como não se
prolongou ao norte do estado, devido principalmente a falta de recursos
financeiros. Essas regiões permaneciam praticamente incomunicáveis. A pecuária,
predominante na parte sul, passou a ser o setor mais importante da economia.[17]” (WIKIPÉDIA. Goiás. Disponível em: < https://pt.wikipedia.org/wiki/Goi%C3%A1s >
Acesso em 30/09/2023.)
Como se pode ver,
claramente, um produto de destaque, na produção agrícola em Goiás, foi o arroz,
inclusive em termos de exportação. Mas também não se pode esquecer da produção
de carne, especialmente a bovina. Em Goiás havia grandes famílias pecuaristas,
as quais exerceriam grande poder na vida e na política da vida goiana.
Esse desenvolvimento
produtivo foi auxiliado pelo surgimento de linhas férreas – trens de ferro,
além de transportarem pessoas, permitem o transporte de produtos agrícolas os
mais diversos, o que contribuiu significativamente para o crescimento da economia
de Goiás no período em estudo. E, como bem apresenta o texto, foi o tempo do
coronelismo. Acerca do coronelismo, cabe aqui citar o seguinte comentário:
“O que é o coronelismo?
Victor Nunes Leal, autor de um dos mais importantes
estudos sobre o tema, disse que o coronelismo é a relação de compromisso que se
estabeleceu entre o poder público, em ascensão, e o poder privado, em
decadência; é uma troca de proveitos entre os dois.
O que é o poder público e o poder
privado?
O poder público é o poder do Estado, de base
representativa, impessoal e institucional (regido pelas leis).
O poder privado é o poder de chefes locais
espalhados pelo Brasil afora. Geralmente exercido por um grande proprietário de
terra que tinha a patente de coronel da Guarda Nacional.
Mas, como assim “relação de
compromisso”, “troca de proveitos” entre os dois?
Era uma relação baseada na troca de favores
(reciprocidade). O coronel, cada vez mais, precisava do poder do Estado para
garantir o seu poder em sua localidade. E quem estava no governo precisava de
votos para continuar governando. Então, o Estado apoiava o coronel e o coronel
retribuía com os votos da população.
E como o coronel controlava o voto
da população?
O controle que o coronel possuía sobre os votos
vinha da relação de dependência econômica que vinculava a população rural ao
chefe. O coronelismo é produto do mundo rural, seus traços se definem pelas
relações historicamente estabelecidas no campo.
O coronel também usava a violência e a fraude
eleitoral para garantir a vitória de seus candidatos.
E por que o poder público estava em
ascensão e o poder privado em decadência?
O coronelismo ocorreu no período que vai da
Proclamação da República, 1889, até 1930. O mando pessoal dos grandes
proprietários de terra existia há muito tempo e no Império se criou a Guarda
Nacional, que deu patente militar para esses senhores. Com a república há um
avanço do poder público e um enfraquecimento desse poder pessoal. Apesar de
terem muito poder, os coronéis não mandavam como na época do Império.
Em Goiás
O coronelismo ocorreu no Brasil inteiro. Em Goiás,
três oligarquias governaram o estado durante a chamada República Velha: os
Bulhões, os Xavier de Almeida e os Caiado.” (PREFEITURA
DE GOIÂNIA. História – Coronelismo. Disponível em: < https://sme.goiania.go.gov.br/conexaoescola/eaja/historia-coronelismo/#:~:text=O%20coronelismo%20ocorreu%20no%20Brasil,de%20Almeida%20e%20os%20Caiado. > Acesso em 30/09/2023.)
Esse tipo de controle da
política (exercício do poder sobre a população), o coronelismo, é uma forma de
oligarquia, isto é, governo de poucos, que dominam e dirigem o Estado no
intuito, claramente, de defender seus interesses e os de sua classe, reforçando
e ampliando suas riquezas.
No Brasil todo havia
coronéis, grandes fazendeiros enriquecidos que controlavam regiões em seus
respectivos estados, com o auxílio do e em apoio ao poder de prefeitos,
governadores, deputados, senadores e até mesmo do presidente da República. Nos
momentos de crises, em que a perda financeira poderia ser grande, foram os
governos da República do Café com Leite que se empenharam por fazer de tudo
para ajudar grandes fazendeiros (coronéis), tanto de Minas e São Paulo, quanto
de outras regiões do Brasil.
Com Getúlio Vargas, esse
poder continuaria. Só para dar um claro exemplo, quando ocorreu a crise
econômica de 1929, com o crack (quebra) da Bolsa de Valores de Nova Iorque, o
Brasil perdeu largas vendas de café e de outros produtos para os Estados Unidos
e para outros lugares do mundo. O governo de Getúlio Vargas, ao longo dos anos
1930 iniciais, comprou muito café, mandando destruir grande parte desse café
comprado, a fim de poder manter os preços e reduzir as perdas severas sofridas
pelos grandes fazendeiros.
O coronelismo em Goiás
foi muito forte e influente, havendo, ainda hoje, remanescentes desse poder,
com forte ação do grupo ligado à agricultura e à pecuária, setores econômicos
que se fortaleceram, cada vez mais, ao longo da República. Ademais, é preciso
“refletir em que medida a escassa população e as longas distâncias em Goiás
levaram ao fortalecimento do poder dos Coronéis e das Oligarquias” (SIAP-SEEGO.
Tópicos de Ciências Humanas, segundos anos, 2023, objetivos).
Sim, o coronelismo em
Goiás teve, nos fins do século XIX e primeira parte da primeira metade do
século XX, um fortalecimento muito grande, para o qual contribuíram a população
reduzida, relativamente a outras partes do Brasil, e as distâncias. Ora, cada
coronel (fazendeiro rico e influente) tinha sua área de influência e,
inclusive, seu curral eleitoral, ou seja, grupos de eleitores alfabetizados
que, tendo direito de votar, na República, seguiam as diretrizes do coronel da
região.
Em aulas posteriores,
avançaremos, cada vez mais, no entendimento do Goiás nos tempos da República,
chegando, nas últimas aulas do quarto bimestre, aos nossos dias.
REFERÊNCIAS:
ANGELO,
Vitor Amorim. Política do café-com-leite - Acordo marcou a República Velha.
Disponível em: < https://educacao.uol.com.br/disciplinas/historia-brasil/politica-do-cafe-com-leite-acordo-marcou-a-republica-velha.htm?cmpid=copiaecola > Acesso em 30/09/2023.
COMANDO
DE ENSINO DA POLÍCIA MILITAR DE GOIÁS. Apostila de Cultura Goiana. Goiânia,
[Década de 2010.].
PREFEITURA
DE GOIÂNIA. História – Coronelismo. Disponível em: < https://sme.goiania.go.gov.br/conexaoescola/eaja/historia-coronelismo/#:~:text=O%20coronelismo%20ocorreu%20no%20Brasil,de%20Almeida%20e%20os%20Caiado. >
Acesso em 30/09/2023.
ROMEIRO, Julieta et alii [e outros]. Diálogo: Ciências Humanas e Sociais Aplicadas. São Paulo, Moderna, 2020.
(Seis volumes.)
SILVA,
Alex dos Santos. República Velha ou Primeira República do Brasil. Disponível em: < https://www.politize.com.br/republica-velha/#:~:text=A%20ECONOMIA%20BRASILEIRA%20NA%20REP%C3%9ABLICA%20VELHA&text=Os%20principais%20produtos%20destinados%20%C3%A0,%2C%20algod%C3%A3o%2C%20caf%C3%A9%20e%20borracha. > Acesso em30/09/2023.
WIKIPÉDIA.
Goiás. Disponível em: < https://pt.wikipedia.org/wiki/Goi%C3%A1s > Acesso em 30/09/2023.
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