domingo, 3 de dezembro de 2023

QUARTO BIMESTRE - AULA 29 DE TCH DOS SEGUNDOS ANOS: O CORONELISMO NA PRIMEIRA REPÚBLICA (Prof. José Antônio Brazão.)

  

SECRETARIA DE SEGURANÇA PÚBLICA/SECRETARIA DE EDUCAÇÃO

COMANDO DE ENSINO POLICIAL MILITAR

 CEPMG - VASCO DOS REIS

Divisão de Ensino / Coordenação Pedagógica

QUARTO BIMESTRE

AULA 29 DE TCH DOS SEGUNDOS ANOS:

O CORONELISMO NA PRIMEIRA REPÚBLICA (Prof. José Antônio Brazão.):

Com a queda do Império, no Brasil, em 1889, a República foi-se firmando progressivamente. A chamada Primeira República vai de 1889 a 1930, tendo tido como presidentes dois militares (o Marechal Deodoro da Fonseca e o Marechal Floriano Peixoto) que foram seguidos por vários presidentes civis (Prudente de Morais, Campos Sales, Rodrigues Alves, Afonso Pena, Nilo Peçanha, Hermes da Fonseca, Venceslau Brás, Delfim Moreira, Epitácio Pessoa, Artur Bernardes, Washington Luís. Júlio Prestes foi eleito em 1930, mas não chegou a assumir, por conta da Revolução de 1930 levada adiante pelo grupo de Getúlio Vargas. Um período de quarenta anos, portanto.

Consolidada a República com o Presidente Floriano Peixoto (23/11/1891 a 15/11/1894), o período que se seguiu, até 1930, foi chamado de República do Café com Leite, correspondendo, respectivamente, a São Paulo (grande produtor de café) e Minas Gerais (grande produtor de leite). Segundo Vitor Amorim de Ângelo:

“A política do café-com-leite foi um acordo firmado entre as oligarquias estaduais e o governo federal durante a República Velha para que os presidentes da República fossem escolhidos entre os políticos de São Paulo e Minas Gerais. Portanto, ora o presidente seria paulista, ora mineiro. O nome desse acordo era uma alusão à economia de São Paulo e Minas, grandes produtores, respectivamente, de café e leite. Além disso, eram estados bastante populosos, fortes politicamente e berços de duas das principais legendas republicanas: o Partido Republicano Paulista e o Partido Republicano Mineiro....” (ANGELO, Vitor Amorim. Política do café-com-leite - Acordo marcou a República Velha. Disponível em: < https://educacao.uol.com.br/disciplinas/historia-brasil/politica-do-cafe-com-leite-acordo-marcou-a-republica-velha.htm?cmpid=copiaecola > Acesso em 30/09/2023.)

A economia brasileira, como se pode ver, tinha como produtos principais o café e o leite, sendo que o café, desde o século XIX, ocupava um papel central nas exportações brasileiras. Mas, além desses dois produtos, também vale destacar o açúcar, o algodão e a borracha. Como comenta Alex dos Santos Silva:

“A economia brasileira sempre esteve ligada à origem de nossa colonização. Desde a época Colonial (1500-1822), passando pelo período Imperial (1822-1889) até a República Velha (1889-1930), a economia brasileira dependeu quase que exclusivamente do bom desempenho de suas exportações, as quais, durante todo período, restringiam-se a algumas poucas commodities agrícolas, ou seja, produtos com baixo valor agregado como a soja, o milho e outros grãos, quando exportado In natura, sem nenhum processamento.

Não havia a preocupação com o mercado interno, já que até 1888 o Brasil ainda adotava a mão-de-obra escrava em praticamente toda a produção. Os principais produtos destinados à exportação foram: açúcar, algodão, café e borracha. Em 1900, o café representava 65% das exportações brasileiras seguido pela borracha, com 15%, e o açúcar com 6%. A República Velha pode ser considerada o período áureo da economia cafeeira agroexportadora, que favoreceu à acumulação de capital dos grandes produtores de café, e consequentemente o surgimento a indústria em nosso país.” (SILVA, Alex dos Santos. República Velha ou Primeira República do Brasil. Disponível em: < https://www.politize.com.br/republica-velha/#:~:text=A%20ECONOMIA%20BRASILEIRA%20NA%20REP%C3%9ABLICA%20VELHA&text=Os%20principais%20produtos%20destinados%20%C3%A0,%2C%20algod%C3%A3o%2C%20caf%C3%A9%20e%20borracha. > Acesso em30/09/2023.)

Tais produtos (commodities, isto é, mercadorias brutas, como os produtos agropecuários, minerais e vegetais, destinadas à exportação) estavam ligados às necessidades de países da América do Norte (Estados Unidos da América, principalmente) e da Europa (exemplo: Inglaterra, França, etc.), entre outros, nos quais a Revolução Industrial tinha chegado ao auge, que compravam produtos in natura baratos para vender produtos industrializados e processados mais caros.

 O café brasileiro tinha largo destaque, consumido em muitas regiões do mundo. A borracha era muito utilizada na indústria automobilística. O algodão, nas fábricas de tecelagem. O ferro e outros metais tinham finalidades as mais diversas, sendo utilizados na fabricação de armas, máquinas, ferramentas, entre outros produtos.

No que diz respeito a Goiás nos primeiros tempos da República, agora um dos estados da República, a Wikipédia apresenta as seguintes informações:

“O Brasil passou ao regime republicano em 15 de novembro de 1889, fazendo de Goiás um estado. Entretanto, pouco se modificou na unidade administrativa em termos socioeconômicos, em especial pelo isolamento resultante da carência dos meios de comunicação. Aliado a isso, a ausência de centros urbanos e de um mercado interno, além de uma economia de subsistência, também contribuíram para os problemas enfrentados pela população goiana. Apenas mudanças administrativas e políticas foram vistas.[17]

A primeira fase da República no Brasil, que durou desde sua proclamação até 1930, acentuou a disputa entre as elites oligárquicas de Goiás pelo poder político. Os principais grupos de elite eram os Bulhões, os Fleury, e os Jardim Caiado, que exerciam influência nas mais diversas atividades do estado. Os Bulhões apresentaram forte influência sobre a política do estado até por volta de 1912, com sua liderança maior em José Leopoldo de Bulhões, sucedidos pela elite oligárquica dos Jardim Caiado, liderada por Antônio Ramos Caiado, com seu poder exercido até 1930.[17]

Um dos meios de desenvolvimento advindos da mudança para o período republicano, de forma imediata, foi a instalação do telégrafo em 1891, usado para a transmissão de notícias.[17] Posteriormente, a estrada de ferro em território goiano, que chegou no início do século XX, também foi de grande importância para a urbanização na região e a ligação com outras partes do país, facilitando a produção de arroz para exportação.[17] Entretanto, a estrada de ferro não se estendeu até a cidade de Goiás, capital estadual à época, assim como não se prolongou ao norte do estado, devido principalmente a falta de recursos financeiros. Essas regiões permaneciam praticamente incomunicáveis. A pecuária, predominante na parte sul, passou a ser o setor mais importante da economia.[17]” (WIKIPÉDIA. Goiás. Disponível em: < https://pt.wikipedia.org/wiki/Goi%C3%A1s > Acesso em 30/09/2023.)

Como se pode ver, claramente, um produto de destaque, na produção agrícola em Goiás, foi o arroz, inclusive em termos de exportação. Mas também não se pode esquecer da produção de carne, especialmente a bovina. Em Goiás havia grandes famílias pecuaristas, as quais exerceriam grande poder na vida e na política da vida goiana.

Esse desenvolvimento produtivo foi auxiliado pelo surgimento de linhas férreas – trens de ferro, além de transportarem pessoas, permitem o transporte de produtos agrícolas os mais diversos, o que contribuiu significativamente para o crescimento da economia de Goiás no período em estudo. E, como bem apresenta o texto, foi o tempo do coronelismo. Acerca do coronelismo, cabe aqui citar o seguinte comentário:

O que é o coronelismo?

Victor Nunes Leal, autor de um dos mais importantes estudos sobre o tema, disse que o coronelismo é a relação de compromisso que se estabeleceu entre o poder público, em ascensão, e o poder privado, em decadência; é uma troca de proveitos entre os dois.

O que é o poder público e o poder privado?

O poder público é o poder do Estado, de base representativa, impessoal e institucional (regido pelas leis).

O poder privado é o poder de chefes locais espalhados pelo Brasil afora. Geralmente exercido por um grande proprietário de terra que tinha a patente de coronel da Guarda Nacional.

Mas, como assim “relação de compromisso”, “troca de proveitos” entre os dois?

Era uma relação baseada na troca de favores (reciprocidade). O coronel, cada vez mais, precisava do poder do Estado para garantir o seu poder em sua localidade. E quem estava no governo precisava de votos para continuar governando. Então, o Estado apoiava o coronel e o coronel retribuía com os votos da população.

E como o coronel controlava o voto da população?

O controle que o coronel possuía sobre os votos vinha da relação de dependência econômica que vinculava a população rural ao chefe. O coronelismo é produto do mundo rural, seus traços se definem pelas relações historicamente estabelecidas no campo.

O coronel também usava a violência e a fraude eleitoral para garantir a vitória de seus candidatos.

E por que o poder público estava em ascensão e o poder privado em decadência?

O coronelismo ocorreu no período que vai da Proclamação da República, 1889, até 1930. O mando pessoal dos grandes proprietários de terra existia há muito tempo e no Império se criou a Guarda Nacional, que deu patente militar para esses senhores. Com a república há um avanço do poder público e um enfraquecimento desse poder pessoal. Apesar de terem muito poder, os coronéis não mandavam como na época do Império.

Em Goiás

O coronelismo ocorreu no Brasil inteiro. Em Goiás, três oligarquias governaram o estado durante a chamada República Velha: os Bulhões, os Xavier de Almeida e os Caiado.” (PREFEITURA DE GOIÂNIA. História – Coronelismo. Disponível em: < https://sme.goiania.go.gov.br/conexaoescola/eaja/historia-coronelismo/#:~:text=O%20coronelismo%20ocorreu%20no%20Brasil,de%20Almeida%20e%20os%20Caiado. > Acesso em 30/09/2023.)

Esse tipo de controle da política (exercício do poder sobre a população), o coronelismo, é uma forma de oligarquia, isto é, governo de poucos, que dominam e dirigem o Estado no intuito, claramente, de defender seus interesses e os de sua classe, reforçando e ampliando suas riquezas.

No Brasil todo havia coronéis, grandes fazendeiros enriquecidos que controlavam regiões em seus respectivos estados, com o auxílio do e em apoio ao poder de prefeitos, governadores, deputados, senadores e até mesmo do presidente da República. Nos momentos de crises, em que a perda financeira poderia ser grande, foram os governos da República do Café com Leite que se empenharam por fazer de tudo para ajudar grandes fazendeiros (coronéis), tanto de Minas e São Paulo, quanto de outras regiões do Brasil.

Com Getúlio Vargas, esse poder continuaria. Só para dar um claro exemplo, quando ocorreu a crise econômica de 1929, com o crack (quebra) da Bolsa de Valores de Nova Iorque, o Brasil perdeu largas vendas de café e de outros produtos para os Estados Unidos e para outros lugares do mundo. O governo de Getúlio Vargas, ao longo dos anos 1930 iniciais, comprou muito café, mandando destruir grande parte desse café comprado, a fim de poder manter os preços e reduzir as perdas severas sofridas pelos grandes fazendeiros.

O coronelismo em Goiás foi muito forte e influente, havendo, ainda hoje, remanescentes desse poder, com forte ação do grupo ligado à agricultura e à pecuária, setores econômicos que se fortaleceram, cada vez mais, ao longo da República. Ademais, é preciso “refletir em que medida a escassa população e as longas distâncias em Goiás levaram ao fortalecimento do poder dos Coronéis e das Oligarquias” (SIAP-SEEGO. Tópicos de Ciências Humanas, segundos anos, 2023, objetivos).

Sim, o coronelismo em Goiás teve, nos fins do século XIX e primeira parte da primeira metade do século XX, um fortalecimento muito grande, para o qual contribuíram a população reduzida, relativamente a outras partes do Brasil, e as distâncias. Ora, cada coronel (fazendeiro rico e influente) tinha sua área de influência e, inclusive, seu curral eleitoral, ou seja, grupos de eleitores alfabetizados que, tendo direito de votar, na República, seguiam as diretrizes do coronel da região.

Em aulas posteriores, avançaremos, cada vez mais, no entendimento do Goiás nos tempos da República, chegando, nas últimas aulas do quarto bimestre, aos nossos dias.

REFERÊNCIAS:

ANGELO, Vitor Amorim. Política do café-com-leite - Acordo marcou a República Velha. Disponível em: < https://educacao.uol.com.br/disciplinas/historia-brasil/politica-do-cafe-com-leite-acordo-marcou-a-republica-velha.htm?cmpid=copiaecola > Acesso em 30/09/2023.

COMANDO DE ENSINO DA POLÍCIA MILITAR DE GOIÁS. Apostila de Cultura Goiana. Goiânia, [Década de 2010.].

PREFEITURA DE GOIÂNIA. História – Coronelismo. Disponível em: < https://sme.goiania.go.gov.br/conexaoescola/eaja/historia-coronelismo/#:~:text=O%20coronelismo%20ocorreu%20no%20Brasil,de%20Almeida%20e%20os%20Caiado. > Acesso em 30/09/2023.

ROMEIRO, Julieta et alii [e outros]. Diálogo: Ciências Humanas e Sociais Aplicadas. São Paulo, Moderna, 2020. (Seis volumes.)

SILVA, Alex dos Santos. República Velha ou Primeira República do Brasil. Disponível em: < https://www.politize.com.br/republica-velha/#:~:text=A%20ECONOMIA%20BRASILEIRA%20NA%20REP%C3%9ABLICA%20VELHA&text=Os%20principais%20produtos%20destinados%20%C3%A0,%2C%20algod%C3%A3o%2C%20caf%C3%A9%20e%20borracha. > Acesso em30/09/2023.

WIKIPÉDIA. Goiás. Disponível em: < https://pt.wikipedia.org/wiki/Goi%C3%A1s > Acesso em 30/09/2023.

 

 

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