segunda-feira, 19 de junho de 2023

SEGUNDO BIMESTRE - AULA 20 DE SOCIOLOGIA DO SEGUNDO ANO: JEAN-JACQUES ROUSSEAU (SÉCULO XVIII) (Prof. José A. Brazão.)

  

SECRETARIA DE SEGURANÇA PÚBLICA/SECRETARIA DE EDUCAÇÃO

COMANDO DE ENSINO POLICIAL MILITAR

 CEPMG - VASCO DOS REIS

Divisão de Ensino / Coordenação Pedagógica


SEGUNDO BIMESTRE

AULA 20 DE SOCIOLOGIA DO SEGUNDO ANO:

 JEAN-JACQUES ROUSSEAU (SÉCULO XVIII) (Prof. José A. Brazão.):

Além de Maquiavel e Thomas Hobbes, o pensador suíço-francês Jean-Jacques Rousseau também se propôs estudar e analisar as ORIGENS DAS SOCIEDADES. Thomas Hobbes dizia que, no estado de natureza, o ser humano não tinha nada de inocente, havendo conflito (guerra) de todos conta todos, a ponto de ter sido estabelecido um acordo, definindo um governante absoluto sobre todos, comparado ao Leviatã, monstro fabuloso que aparece no Livro de Jó, no Antigo Testamento da Bíblia cristã, cujo poder era incomparável, podendo ser dominado tão somente por Deus.

Jean-Jacques Rousseau, por sua vez, dizia que, no estado primordial de natureza, o ser humano era bom, porém a sociedade viria a corrompe-lo.  Como surgiu a sociedade? Segundo Rousseau, a sociedade nasceu a partir do momento em que alguém cercou um pedaço considerável de terras e disse que era dele, não havendo ninguém para contestá-lo. Ou seja, a sociedade nasceu com a propriedade privada. O primeiro contrato formador da sociedade foi, inclusive, imposto pelos mais fortes, tendo todos os outros que aceita-lo. Veja-se no livro O Contrato Social, de Rousseau.

Não é mais possível voltar ao estado de natureza (veja-se, por exemplo, que isto acontece na literatura brasileira, no final de O Guarani, de José de Alencar, livro inspirado pelas ideias de Rousseau), mas é possível um reaprendizado em convivência com a natureza, a fim de se poder resgatar algo da bondade humana primitiva. Em Emílio ou Da Educação, Rousseau propõe a educação em contato com o mundo natural.

A crença de Rousseau no homem bom no estado de natureza veio a impactar a literatura indianista, no Brasil, entre fins do século XVIII e século XIX: José de Alencar (o citado O Guarani, também Ubirajara e Iracema, por exemplo), Gonçalves Dias (I-Juca-Pirama) e outros – o índio (selvagem, em contato direto com a natureza e junto dela nascido), forte e valoroso.

Outras informações sobre Rousseau:

*Filósofo suíço de língua francesa. Viveu na França um bom tempo.

*Perdeu a mãe muito cedo.

De acordo com a Wikipédia:

“Jean-Jacques Rousseau não conheceu a mãe, pois ela morreu de infeção puerperal [infecção bacteriana pós-parto] nove dias depois do parto, acontecimento que seria por ele descrito como "a primeira das minhas desventuras".[3] Foi criado pelo pai, Isaac Rousseau, um relojoeiro calvinista [protestante/evangélico calvinista], cujo avô fora um huguenote [protestante/evangélico] fugido da França. Aos 10 anos teve de afastar-se do pai, mas continuaram mantendo contato.

Na adolescência, foi estudar numa rígida escola religiosa sendo aluno do pastor Lambercier. Gostava de passear pelos campos. Em certa ocasião, encontrando os portões da cidade fechados, quando voltava de uma de suas saídas, opta por vagar pelo mundo.” (WIKIPÉDIA. Verbete Jean-Jacques Rousseau. Disponível em: < https://pt.wikipedia.org/wiki/Jean-Jacques_Rousseau > Acesso em 24 de maio de 2021.)

*Na juventude, viajou pela França, tendo sido ajudado por várias pessoas, principalmente senhoras de famílias nobres.

IMAGENS:

Conjunto 1:

https://fr.wikipedia.org/wiki/Jean-Jacques_Rousseau#/media/Fichier:Jean-Jacques_Rousseau_(painted_portrait).jpg

Conjunto 2:

https://it.wikipedia.org/wiki/Jean-Jacques_Rousseau#/media/File:Jean-Jacques_Rousseau_(painted_portrait).jpg

Conjunto 3:

https://en.wikipedia.org/wiki/Jean-Jacques_Rousseau#/media/File:Jean-Jacques_Rousseau_(painted_portrait).jpg

*Muito dedicado aos estudos e à leitura, veio a se tornar um grande escritor e filósofo. Boa parte de seu aprendizado foi autodidata (por conta própria).

*Entre os livros que escreveu encontram-se: O Contrato SocialEmílio ou Da EducaçãoDiscurso sobre a Origem e os Fundamentos da Desigualdade entre os HomensConfissões.

*Rousseau, diferentemente de Thomas Hobbes, acreditava que no estado de natureza os seres humanos eram bons. Havia livre arbítrio (liberdade de escolha). A desigualdade entre os seres humanos surgiu a partir do momento em que, alguns homens, usando o livre arbítrio e a força, resolveram tomar para si uma parte das terras que antes eram de todos, afirmando serem deles aquelas propriedades e ninguém mais se opondo a isto.  Os mais fortes impuseram, então, um contrato, aquele que deu origem à primeira sociedade. Eis o que o próprio Rousseau diz:

“O verdadeiro fundador da sociedade civil foi o primeiro que, tendo cercado um terreno, lembrou-se de dizer isto é meu e encontrou pessoas suficientemente simples para acreditá-lo. Quantos crimes, guerras, assassínios, misérias e horrores não pouparia ao gênero humano aquele que, arrancando as estacas ou enchendo o fosso, tivesse gritado a seus semelhantes: ‘Defendei-vos de ouvir esse impostor; estareis perdidos se esquecerdes que os frutos são de todos e que a terra não pertence a ninguém!’”. (ROUSSEAU, J. J. Discurso sobre a origem e os fundamentos da desigualdade entre os homens. São Paulo: Nova Cultural, 1999. P. 87) (grifos meus)

*Para Rousseau, na natureza os seres humanos eram bons, porém a sociedade os corrompeu e corrompe.

IMAGENS:

https://www.google.com/search?q=estado+de+natureza+rousseau&source=lnms&tbm=isch&sa=X&ved=2ahUKEwjNxZ3t--LwAhWoErkGHdVCB7sQ_AUoAXoECAEQAw&biw=1242&bih=597

*Para resgatar algo de bom e voltar a parte do convívio com a natureza, é preciso um novo contrato: o contrato social – contrato livre, não imposto, aceito por todos os que quiserem. O contrato social teria dois fundamentos: o pacto social, que exige a abdicação de bens a serviço do bem de todos, por parte de cada um dos que a ele aderir; a vontade geral, todas as decisões terão validade sob a votação da maioria (vontade geral), cujos resultados seriam aceitos por todos.

*NÃO é possível retornar ao estado de natureza original. Mas é possível um resgate desse estado de natureza por meio da educação, retratada, exatamente, no livro Emílio ou Da Educação, também de Rousseau.

*O texto que será estudado aqui encontra-se no livro O CONTRATO SOCIAL.

JEAN-JACQUES ROUSSEAU (1712 – 1778):

DO PACTO SOCIAL (Trechos de O Contrato Social, de Jean-Jacques Rousseau):

“Suponhamos os homens chegando àquele ponto em que os obstáculos prejudiciais à sua conservação no estado de natureza sobrepujam, pela sua resistência, as forças de que cada indivíduo dispõe para manter-se nesse estado. Então, esse estado primitivo já não pode subsistir, e o gênero humano, se não mudasse de modo de vida, pereceria.

IMAGENS:

Indígenas:

https://www.google.com/search?q=ind%C3%ADgenas&source=lnms&tbm=isch&sa=X&ved=2ahUKEwiMur_K7uTwAhW6r5UCHRufDEQQ_AUoAnoECAEQBA&biw=1242&bih=597

Sociedade desigual:

https://www.google.com/search?q=sociedade+desigual&hl=pt-BR&source=lnms&tbm=isch&sa=X&ved=2ahUKEwjQm4iw_uLwAhXCDrkGHTI4AuYQ_AUoAXoECAEQAw&biw=1242&bih=597  

Ora, como os homens não podem engendrar novas forças, mas somente unir e orientar as já existentes, não têm eles outro meio de conservar-se senão formando, por agregação, um conjunto de forças, que possa sobrepujar a resistência, impelindo-as para um só móvel, levando-as a operar em concerto [acordo].

Essa soma de forças só pode nascer do concurso [união/reunião/participação] de muitos, sendo, porém, a força e a liberdade de cada indivíduo os instrumentos primordiais de sua conservação, como poderia ele [o indivíduo] empenhá-los sem prejudicar e sem negligenciar os cuidados que a si mesmo deve? Essa dificuldade, reconduzindo ao meu assunto, poderá ser enunciada como segue:

‘Encontrar uma forma de associação  que defenda e proteja a pessoa e os bens de cada associado com toda a força comum, e pela qual cada um, unindo-se a todos, só obedece contudo a si mesmo, permanecendo assim tão livre quanto antes.’ Esse o problema fundamental cuja solução o contrato social oferece.

As cláusulas [cada parte] desse contrato são de tal modo determinadas pela natureza do ato, que a menor modificação as tornaria vãs e de nenhum efeito, de modo que, embora talvez jamais enunciadas de manteria formal, são as mesmas em toda parte, e tacitamente [imediatamente] mantidas e reconhecidas em todos os lugares, até quando, violando-se o pacto social, cada um volta a seus primeiros direitos e retoma sua liberdade natural, perdendo a liberdade convencional pela qual renunciara àquela.

IMAGENS (Sociedade justa):

https://www.google.com/search?q=sociedade+justa&hl=pt-BR&source=lnms&tbm=isch&sa=X&ved=2ahUKEwjdkYb6_uLwAhUxqZUCHbRfCu4Q_AUoAXoECAEQAw&biw=1242&bih=597

Essas cláusulas, quando bem compreendidas, reduzem-se todas a uma só: a alienação [no caso, doação, entrega...] total de cada associado, com todos os seus direitos, à comunidade toda, porque, em primeiro lugar, cada um dando-se completamente, a condição é igual para todos, e, sendo a condição igual par todos, ninguém se interessa por torná-la onerosa [cara...] para os demais.

IMAGENS (Primeiras comunidades cristãs, um possível exemplo em que Rousseau pode ter-se inspirado):

https://www.google.com/search?q=primeiras+comunidades+crist%C3%A3s&hl=pt-BR&source=lnms&tbm=isch&sa=X&ved=2ahUKEwixi8C__-LwAhWcrZUCHUbXAbcQ_AUoAXoECAEQAw&biw=1242&bih=597

Ademais, fazendo-se a alienação sem reservas [alienação total – no caso: doação ou entrega total dos bens], a união é tão perfeita quanto possa ser e a nenhum associado restará algo mais a reclamar, pois, se restassem alguns direitos aos particulares, como hão haveria nesse caso um superior comum que pudesse decidir entre eles e o público, cada qual, sendo de certo modo seu próprio juiz, logo pretenderia sê-lo de todos; o estado de natureza subsistiria, e a associação se tornaria necessariamente tirânica ou vã.

Enfim, cada um dando-se a todos não se dá a ninguém e, não existindo um associado sobre o qual não se adquira o mesmo direito que se lhe cede sobre si mesmo, ganha-se o equivalente de tudo que se perde, e maior força para conservar o que se tem.

Se separar-se, pois, do pacto social aquilo que não pertence à sua essência, ver-se-á que ele se reduz aos seguintes termos: ‘Cada um de nós põe em comum sua pessoa e todo o seu poder sob a direção suprema da vontade geral, e recebemos, enquanto corpo, cada membro como parte indivisível do todo’.

IMAGENS (União de todos.):

https://www.google.com/search?q=uni%C3%A3o+de+todos&hl=pt-BR&source=lnms&tbm=isch&sa=X&ved=2ahUKEwjDsv_ZgOPwAhUDFLkGHUeyDaoQ_AUoAXoECAEQAw&biw=1242&bih=597

Imediatamente, esse ato de associação produz, em lugar da pessoa particular de cada contratante, um corpo moral e coletivo, composto de tantos membros quantos são os votos da assembleia, e que, por esse mesmo ato, ganha sua unidade, seu eu comum, sua vida e sua vontade. Essa pessoa pública, que se forma, desse modo,  pela união de todas as outras, tomava antigamente o nome de cidade, e, hoje, o de república ou de corpo político, o qual é chamado por seus membros de Estado quando passivo, soberano quando ativo, e potência quando comparado aos seus semelhantes. Quanto aos associados, recebem eles, coletivamente, o nome de povo e se chamam, em particular, cidadãos, enquanto partícipes da autoridade soberana [a autoridade que detém o poder supremo, maior], e súditos enquanto submetidos às leis do Estado. Esses termos, no entanto, confundem-se frequentemente e são usados indistintamente; basta saber distingui-los quando são empregados com inteira precisão.

(O Contrato Social, livro I, cap. VI, São Paulo, Abril S.A. Cultural, 1973.)”

O texto acima, e Jean-Jacques Rousseau, encontra-se em:

NASCIMENTO, Milton Meira. Filosofia Política. IN: CHAUÍ, Marilena et alii. Filosofia Primeira: Lições Introdutórias. 7.ed. São Paulo, Brasiliense, 1987.

OBS.: Os colchetes e os grifos são meus. Usei-os com o fim de melhor esclarecimento dos termos e para facilitar a exposição do assunto. (Prof. José Antônio.)

REFERÊNCIAS:

ARANHA, Maria L. de A. e MARTINS, Maria H. P. Filosofando: Introdução à Filosofia. 4.ed. São Paulo, Moderna, 2009.

CHAUÍ, Marilena et alii. Filosofia Primeira: Lições Introdutórias. 7.ed. São Paulo, Brasiliense, 1987.

CHAUÍ, Marilena. Iniciação à Filosofia. (Manual do Professor) 3.ed. São Paulo, Ática, 2017.

GOOGLE. Google Imagens. Disponível em: < https://www.google.com/imghp?hl=pt-BR > Acesso em 17 de junho de 2023.

ROUSSEAU, J. J. Discurso sobre a origem e os fundamentos da desigualdade entre os homens. São Paulo: Nova Cultural, 1999.

WIKIPÉDIA. Página Principal. Disponível em: < https://pt.wikipedia.org/wiki/Wikip%C3%A9dia:P%C3%A1gina_principal > Acessos ao longo de junho de 2023.

 

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