segunda-feira, 12 de junho de 2023

SEGUNDO BIMESTRE - AULA 19 DE TÓPICOS DE CIÊNCIAS HUMANAS DOS PRIMEIROS ANOS: RACISMO E ESCRAVIDÃO NO BRASIL E EM GOIÁS (Prof. José Antônio Brazão.)

  

SECRETARIA DE SEGURANÇA PÚBLICA/SECRETARIA DE EDUCAÇÃO

COMANDO DE ENSINO POLICIAL MILITAR

 CEPMG - VASCO DOS REIS

Divisão de Ensino / Coordenação Pedagógica


SEGUNDO BIMESTRE

AULA 19 DE TÓPICOS DE CIÊNCIAS HUMANAS DOS PRIMEIROS ANOS:

RACISMO E ESCRAVIDÃO NO BRASIL E EM GOIÁS (Prof. José Antônio Brazão.):

A Secretaria de Estado do Desenvolvimento Social, em parceria com a Secretaria de Estado da Educação de Goiás, elaborou o livreto Goiás Sem Racismo e o têm levado, especialmente, às escolas, para debate, conscientização e formação de cidadãos e cidadãs com grande preocupação com o respeito das pessoas, sem distinção de raça ou de cor.

O racismo, principalmente de brancos para com negros e pardos, é grande, não somente no Brasil, mas também em muitos outros lugares do mundo. O destaque, no Brasil, é porque é um país onde há muitos(as) descendentes de escravos negros trazidos da África e de seus filhos, filhas, netos e netas. Os escravos, vindos da África, eram trazidos em navios chamados navios negreiros, sob muitos maus-tratos, sofrimento, separações e fome, além das péssimas acomodações nos navios.

Castro Alves (Antônio Frederico de Castro Alves), poeta brasileiro do século XIX, descreve bem a situação dos negros trazidos naqueles navios. Vejamos o poema Navio Negreiro:

OBS.: O texto a seguir é um diálogo em parceria com a Língua Portuguesa.

O NAVIO NEGREIRO

Castro Alves

 

I

'Stamos em pleno mar... Doudo no espaço

Brinca o luar — dourada borboleta;

E as vagas após ele correm... cansam

Como turba de infantes inquieta.

 

'Stamos em pleno mar... Do firmamento

Os astros saltam como espumas de ouro...

O mar em troca acende as ardentias,

— Constelações do líquido tesouro...

 

'Stamos em pleno mar... Dois infinitos

Ali se estreitam num abraço insano,

Azuis, dourados, plácidos, sublimes...

Qual dos dous é o céu? qual o oceano?...

 

'Stamos em pleno mar. . . Abrindo as velas

Ao quente arfar das virações marinhas,

Veleiro brigue corre à flor dos mares,

Como roçam na vaga as andorinhas...

 

Donde vem? onde vai? Das naus errantes

Quem sabe o rumo se é tão grande o espaço?

Neste saara os corcéis o pó levantam,

Galopam, voam, mas não deixam traço.

 

Bem feliz quem ali pode nest'hora

Sentir deste painel a majestade!

Embaixo — o mar em cima — o firmamento...

E no mar e no céu — a imensidade!

 

Oh! que doce harmonia traz-me a brisa!

Que música suave ao longe soa!

Meu Deus! como é sublime um canto ardente

Pelas vagas sem fim boiando à toa!

 

Homens do mar! ó rudes marinheiros,

Tostados pelo sol dos quatro mundos!

Crianças que a procela acalentara

No berço destes pélagos profundos!

 

Esperai! esperai! deixai que eu beba

Esta selvagem, livre poesia

Orquestra — é o mar, que ruge pela proa,

E o vento, que nas cordas assobia...

 

..........................................................

 

Por que foges assim, barco ligeiro?

Por que foges do pávido poeta?

Oh! quem me dera acompanhar-te a esteira

Que semelha no mar — doudo cometa!

 

Albatroz! Albatroz! águia do oceano,

Tu que dormes das nuvens entre as gazas,

Sacode as penas, Leviathan do espaço,

Albatroz! Albatroz! dá-me estas asas.

 

II

 

Que importa do nauta o berço,

Donde é filho, qual seu lar?

Ama a cadência do verso

Que lhe ensina o velho mar!

Cantai! que a morte é divina!

Resvala o brigue à bolina

Como golfinho veloz.

Presa ao mastro da mezena

Saudosa bandeira acena

As vagas que deixa após.

 

Do Espanhol as cantilenas

Requebradas de langor,

Lembram as moças morenas,

As andaluzas em flor!

Da Itália o filho indolente

Canta Veneza dormente,

— Terra de amor e traição,

Ou do golfo no regaço

Relembra os versos de Tasso,

Junto às lavas do vulcão!

 

O Inglês — marinheiro frio,

Que ao nascer no mar se achou,

(Porque a Inglaterra é um navio,

Que Deus na Mancha ancorou),

Rijo entoa pátrias glórias,

Lembrando, orgulhoso, histórias

De Nelson e de Aboukir.. .

O Francês — predestinado —

Canta os louros do passado

E os loureiros do porvir!

 

Os marinheiros Helenos,

Que a vaga jônia criou,

Belos piratas morenos

Do mar que Ulisses cortou,

Homens que Fídias talhara,

Vão cantando em noite clara

Versos que Homero gemeu ...

Nautas de todas as plagas,

Vós sabeis achar nas vagas

As melodias do céu! ...

 

III

 

Desce do espaço imenso, ó águia do oceano!

Desce mais ... inda mais... não pode olhar humano

Como o teu mergulhar no brigue voador!

Mas que vejo eu aí... Que quadro d'amarguras!

É canto funeral! ... Que tétricas figuras! ...

Que cena infame e vil... Meu Deus! Meu Deus! Que horror!

 

IV

 

Era um sonho dantesco... o tombadilho

Que das luzernas avermelha o brilho.

Em sangue a se banhar.

Tinir de ferros... estalar de açoite...

Legiões de homens negros como a noite,

Horrendos a dançar...

 

Negras mulheres, suspendendo às tetas

Magras crianças, cujas bocas pretas

Rega o sangue das mães:

Outras moças, mas nuas e espantadas,

No turbilhão de espectros arrastadas,

Em ânsia e mágoa vãs!

 

E ri-se a orquestra irônica, estridente...

E da ronda fantástica a serpente

Faz doudas espirais ...

Se o velho arqueja, se no chão resvala,

Ouvem-se gritos... o chicote estala.

E voam mais e mais...

 

Presa nos elos de uma só cadeia,

A multidão faminta cambaleia,

E chora e dança ali!

Um de raiva delira, outro enlouquece,

Outro, que martírios embrutece,

Cantando, geme e ri!

 

No entanto o capitão manda a manobra,

E após fitando o céu que se desdobra,

Tão puro sobre o mar,

Diz do fumo entre os densos nevoeiros:

"Vibrai rijo o chicote, marinheiros!

Fazei-os mais dançar!..."

 

E ri-se a orquestra irônica, estridente. . .

E da ronda fantástica a serpente

 Faz doudas espirais...

Qual um sonho dantesco as sombras voam!...

Gritos, ais, maldições, preces ressoam!

 E ri-se Satanás!...

 

V

 

Senhor Deus dos desgraçados!

Dizei-me vós, Senhor Deus!

Se é loucura... se é verdade

Tanto horror perante os céus?!

Ó mar, por que não apagas

Co'a esponja de tuas vagas

De teu manto este borrão?...

Astros! noites! tempestades!

Rolai das imensidades!

Varrei os mares, tufão!

 

Quem são estes desgraçados

Que não encontram em vós

Mais que o rir calmo da turba

Que excita a fúria do algoz?

Quem são? Se a estrela se cala,

Se a vaga à pressa resvala

Como um cúmplice fugaz,

Perante a noite confusa...

Dize-o tu, severa Musa,

Musa libérrima, audaz!...

 

São os filhos do deserto,

Onde a terra esposa a luz.

Onde vive em campo aberto

A tribo dos homens nus...

São os guerreiros ousados

Que com os tigres mosqueados

Combatem na solidão.

Ontem simples, fortes, bravos.

Hoje míseros escravos,

Sem luz, sem ar, sem razão. . .

 

São mulheres desgraçadas,

Como Agar o foi também.

Que sedentas, alquebradas,

De longe... bem longe vêm...

Trazendo com tíbios passos,

Filhos e algemas nos braços,

N'alma — lágrimas e fel...

Como Agar sofrendo tanto,

Que nem o leite de pranto

Têm que dar para Ismael.

 

Lá nas areias infindas,

Das palmeiras no país,

Nasceram crianças lindas,

Viveram moças gentis...

Passa um dia a caravana,

Quando a virgem na cabana

Cisma da noite nos véus ...

... Adeus, ó choça do monte,

... Adeus, palmeiras da fonte!...

... Adeus, amores... adeus!...

 

Depois, o areal extenso...

Depois, o oceano de pó.

Depois no horizonte imenso

Desertos... desertos só...

E a fome, o cansaço, a sede...

Ai! quanto infeliz que cede,

E cai p'ra não mais s'erguer!...

Vaga um lugar na cadeia,

Mas o chacal sobre a areia

Acha um corpo que roer.

 

Ontem a Serra Leoa,

A guerra, a caça ao leão,

O sono dormido à toa

Sob as tendas d'amplidão!

Hoje... o porão negro, fundo,

Infecto, apertado, imundo,

Tendo a peste por jaguar...

E o sono sempre cortado

Pelo arranco de um finado,

E o baque de um corpo ao mar...

 

Ontem plena liberdade,

A vontade por poder...

Hoje... cúm'lo de maldade,

Nem são livres p'ra morrer. .

Prende-os a mesma corrente

— Férrea, lúgubre serpente —

Nas roscas da escravidão.

E assim zombando da morte,

Dança a lúgubre coorte

Ao som do açoute... Irrisão!...

 

Senhor Deus dos desgraçados!

Dizei-me vós, Senhor Deus,

Se eu deliro... ou se é verdade

Tanto horror perante os céus?!...

Ó mar, por que não apagas

Co'a esponja de tuas vagas

Do teu manto este borrão?

Astros! noites! tempestades!

Rolai das imensidades!

Varrei os mares, tufão! ...

 

VI

 

Existe um povo que a bandeira empresta

P'ra cobrir tanta infâmia e cobardia!...

E deixa-a transformar-se nessa festa

Em manto impuro de bacante fria!...

Meu Deus! meu Deus! mas que bandeira é esta,

Que impudente na gávea tripudia?

Silêncio. Musa... chora, e chora tanto

Que o pavilhão se lave no teu pranto! ...

 

Auriverde pendão de minha terra,

Que a brisa do Brasil beija e balança,

Estandarte que a luz do sol encerra

E as promessas divinas da esperança...

Tu que, da liberdade após a guerra,

Foste hasteado dos heróis na lança

Antes te houvessem roto na batalha,

Que servires a um povo de mortalha!...

 

Fatalidade atroz que a mente esmaga!

Extingue nesta hora o brigue imundo

O trilho que Colombo abriu nas vagas,

Como um íris no pélago profundo!

Mas é infâmia demais! ... Da etérea plaga

Levantai-vos, heróis do Novo Mundo!

Andrada! arranca esse pendão dos ares!

Colombo! fecha a porta dos teus mares

 

(ALVES, Castro. Navio Negreiro. Disponível em: < http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/DetalheObraForm.do?select_action&co_obra=1786 > Acesso em 10/06/2023.)

O poema de Castro Alves trata da crueldade com que eram tratados os negros escravizados, obtidos na África, por meio de guerras intertribais principalmente, vendidos em entrepostos comerciais e cidades litorâneas, trazidos para o Brasil e outras regiões das três Américas em péssimas condições, onde a sobrevivência era um drama diário. Muitos que morriam eram, simplesmente, jogados ao mar, como mostra bem o poema de Castro Alves.

Do litoral, seja de Salvador, de cidades litorâneas de São Paulo ou do Rio de Janeiro ou outro lugar litorâneo, os negros eram vendidos em mercados como animais – tudo era verificado e quanto mais saudável era o escravo ou a escrava, mais caro. Mães eram separadas de filhos. Pais e irmãos eram igualmente vendidos separadamente. Pessoas de uma mesma tribo, geralmente, não ficavam juntas, a fim de evitar problemas.

Os negros africanos, escravos e escravas, homens, mulheres e crianças, fizeram parte da mão de obra principal nas fazendas de cana de açúcar, tomando conta desde o plantio até os cuidados finais e o carregamento do produto pronto. Também foram mãos de obra principal nas minas de ouro, seja em Minas Gerais, no Mato Grosso e em GOIÁS.

Basta olhar as pessoas com quem se convive em casa e com as quais se encontra nas ruas: muitos mestiços de pele morena e negra, descendentes, sem dúvida, daquelas pessoas vindas da África.

No caso de Goiás, além de outros lugares, vale lembrar que escravos eram encarregados de carregar cargas pesadas de bandeirantes, ao longo de seu desbravamento das terras, seja em busca destes pelo ouro, por terra e por escravização de índios brasileiros, junto com outras atividades realizadas pelo bandeirantismo.

Milhares de negros(as) escravos(as), ao longo de décadas, entre os séculos XVIII e XIX, foram trazidos(as) para GOIÁS, para o trabalho direto nas minas de ouro, de esmeraldas e outros minerais, como também para fazendas que foram se formando. No século XIX, inclusive, há o relato do pesquisador francês Auguste de Saint-Hilaire, que fala de escravos negros na Fazenda Babilônia, na cidade de Meia Ponte (Pirenópolis), com um dono que sabia aliar a dureza do possuidor de escravos com certa humanidade no tratamento destes, sem se esquecer de que eram seus escravos!

O site da Fazenda Babilônia traz o seguinte comentário:

“Com a decadência das minas de ouro de Meia Ponte, o senhor Joaquim Alves de Oliveira iniciou a ousada empreita de construir o Engenho São Joaquim, primeiro nome da Fazenda Babilônia, que segundo Pohl, em "Viagem ao Interior do Brasil", era um dos maiores engenhos de açúcar do Brasil. Após o ano de 1800 o Engenho São Joaquim já era considerado como a maior empresa agrícola do Estado de Goiás. Na fazenda, além da cana de açúcar, plantava-se em escala industrial mandioca e algodão para a produção da farinha e fios de algodão para exportação. A Inglaterra, em plena Revolução Industrial comprava toda a produção de algodão goiano, cuja fibra era considerada uma das melhores do mundo. A produção desta fazenda era tão intensa que contava com cerca de 200 escravos, sendo 120 homens para o trabalho e 80 mulheres e crianças.” (FAZENDA BABILÔNIA. História. Disponível em: < https://fazendababilonia.com.br/historia#:~:text=A%20produ%C3%A7%C3%A3o%20desta%20fazenda%20era,Hilaire%20(%20veja%20em%20Arquivo). > Acesso em 10/06/2023.)

E Auguste de Saint-Hilaire assim comenta:

“A casa fora organizada desde o princípio com tamanha perfeição que o seu proprietário já não tinha, por assim dizer, necessidade de dar nenhuma ordem. Cada um sabia o que tinha de fazer e tratava de se colocar no seu posto de trabalho por sua própria conta. Para se fazer entender, bastava ao dono, se quisesse, dizer apenas uma palavra ou fazer um simples gesto. No meio de uma centena de escravos não se ouviam ordens gritadas nem se viam homens apressados andando de um lado para o outro, apenas aparentando grande atividade, mas na verdade sem saberem o que fazer. Em toda parte reinavam o silêncio, a ordem e uma tranquilidade que se harmonizava perfeitamente com a que a Natureza costuma oferecer naqueles climas amenos. Dir-se-ia que um gênio invisível governava a casa. Seu proprietário ficava sentado tranquilamente na varanda, mas era fácil ver que nada lhe escapava e que bastava um rápido olhar para manter tudo sob controle.

As regras estabelecidas por Joaquim Alves quanto ao tratamento dado aos escravos consistiam em mantê-los bem alimentados e vestidos decentemente, em cuidar deles adequadamente quando adoeciam e em jamais deixá-los ociosos. Todo ano ele provia o casamento de alguns, e as mães só iam trabalhar nas plantações quando os filhos já podiam dispensar os seus cuidados. As crianças eram então confiadas a uma só mulher, que zelava por todas. Uma sábia precaução fora tomada para evitar, tanto quanto possível, as ciumadas e as brigas: os quartos dos solteiros ficavam situados a uma boa distância dos alojamentos dos casados.

O domingo pertencia aos escravos. Eles não tinham permissão para ir procurar ouro, mas recebiam um pedaço de terra que podiam cultivar em seu próprio proveito. Joaquim Alves instalara em sua própria casa uma venda onde os negros podiam comprar as coisas que geralmente são do agrado dos africanos. Nas suas transações o algodão fazia o papel do dinheiro. Dessa maneira ele livrava os escravos da tentação do roubo, estimulava-os ao trabalho acenando-lhes com os lucros de suas lavouras, fazia com que se apegassem ao lugar e ao seu senhor, ao mesmo tempo que aumentava a produção de suas terras.

Durante minha permanência na casa do comandante de Meia-Ponte visitei as várias dependências de sua fazenda, o chiqueiro, o paiol, o moinho de farinha, o local onde era ralada a mandioca e onde ficava instalada a máquina de descaroçar o algodão, a fábrica de fiação, etc. etc., e em toda parte encontrei uma ordem e uma limpeza incomparáveis. Os fornos do engenho-de-açúcar não tinham sido feitos de acordo com as especificações da técnica moderna. Seu aquecimento era feito pelo lado de fora, o que pelo menos tornava menos penosa para os trabalhadores a operação de cozimento. Um tambor horizontal movido a água punha em movimento doze pequenas máquinas de descaroçar algodão. Era também a água a máquina de ralar mandioca, da qual darei aqui uma descrição. A casa onde se achava instalada era construída sobre estacas e embaixo do assoalho fora colocada uma roda em posição horizontal, que era movida pela água que caía de uma calha em plano inclinado. O eixo da roda atravessava o assoalho e se elevava até certa altura, tendo na extremidade outra roda horizontal cujo aro era revestido por um ralo de metal. O eixo e a roda superior ficavam encaixados dentro de um quadrado formado por quatro estacas, cada uma das quais tinha uma chanfradura na parte interna, ao nível do ralo. Quando a roda começava a girar, quatro pessoas seguravam as mandiocas, encaixando-as nas chanfraduras. Tendo esse ponto de apoio, seus braços podiam manter-se firmes e a ação da máquina não sofria interrupção.” (SAINT-HILAIRE, Auguste de. Uma fazenda modelo. Disponível em: < https://fazendababilonia.com.br/arquivo/saint-hilarie > Acesso em 10/06/2023.)

O Comandante Joaquim Alves de Oliveira, de Meia-Ponte até que tratava bem seus escravos, segundo o relato, porém muitos senhores de escravos não os tratavam tão bem assim: dormiam em senzalas, presos por correntes, vigiados e chicoteados sempre que se acreditava estarem precisando de chibatadas. Porém, o trabalho na fazenda era exigente e vigiado pelo dono que, com certeza, tinha capatazes (homens armados) a seu serviço.

Pelo texto acima, pode-se ver que tudo ou quase tudo, na Fazenda Babilônia, era feito por trabalho escravo e a ordem era mantida com mão firme, sob vigilância estrita.

Havia fugas de escravos em Goiás:

“Em 1848, Goiás estava dividido em 4 comarcas, a população era de 147.722 habitantes e escravos eram de 10.652, ou seja, apenas 7% do total. Em 1872 eram 26.800 os escravos. Segundo FUNES a fuga de escravos eram constantes em Goiás nesse período, ele comenta: ‘não existe, na província, um arraial sem sombra de seu quilombo’ p.117 A relação de produção entre negros e brancos no comércio estava também em transição, estava também sofrendo transformações. Carlos Brandão citado por FUNES, escreveu que ‘gradativamente, as relações de produção escravistas cederam lugar à novas relações de produção não capitalistas, que aí se estabelecem. Novos elementos ocupam os espaços deixados pelos escravos, o agregado, o camarada e o trabalho familiar’ p.130.” (ALMEIDA, Maria Zeneide C. M. de et alii. A POPULAÇÃO NEGRA NA CAPITANIA DE GOYAZES ENTRE 1500 A 1800. XXI Semana de História – Universidade Estadual de Goiás - Campus Cora Coralina. Disponível em: < https://www.anais.ueg.br/index.php/semanahistoriacoracoralina/article/download/13202/9740/ > Acesso em 10/06/2023. P. 17.)

Maus tratos eram comuns, sofrimento, contribuindo para essas fugas de escravos. Com a decadência da produção aurífera, pessoas de outras regiões e até mesmo de fora do Brasil acabariam se dirigindo a Goiás. O trabalho escravo, com o tempo, acabaria dando lugar ao trabalho pago – aliás, mal pago – de muitos trabalhadores, em fazendas e em locais onde, antes, imperava a mão de obra escrava. Destaque especial aos Italianos, que marcariam culturalmente o Estado de Goiás. De acordo com Iraci Garbim de Souza:

“Com o fim da mão-de-obra escrava no Brasil veio à necessidade de supri-la por outra melhor e superior à existente devido à chegada do sistema capitalista no país. O Brasil então passa a necessitar de mão-de-obra para a lavoura de café, iniciando assim a introdução do imigrante para substituir a mão de obra escrava, e para colonizar as extensas terras devolutas existentes. Para o Governo, era também a oportunidade de povoar o país por pessoas brancas, portanto, iniciam-se as políticas públicas para trazer os imigrantes europeus, voltando à atenção para um país: a Itália. Foi ele quem mais se destacou em quantidade de pessoas que imigraram para o Brasil, devido a problemas políticos e financeiros que a Itália vinha atravessando. Diversos grupos imigraram para o Brasil, especialmente para as regiões Sul e Sudeste e posteriormente um pequeno grupo chegou à região Centro-Oeste do país. Esse pequeno grupo ajudou na construção do Estado de Goiás, fundando a cidade de Nova Veneza, no contingente de pessoas, que irá marcar profundamente a formação social e cultural regional, com repercussão nacional, sendo esta cidade, hoje, conhecida como um pedaço da Itália em Goiás, com a criação do Festival Italiano Gastronômico Cultural, realizado anualmente na cidade.” (SOUZA, Iraci Garbim. A Imigração italiana, séculos XIX-XX, em Nova Veneza-GO: contribuições para a cultura. Disponível em: < https://docs.academicoo.com/user/itelvides/a-imigracao-italiana-para-nova-veneza.pdf > Acesso em 10/06/2023.)

Um fato curioso: o nome Serra dos Pireneus, em Goiás, que deu origem à troca do nome de Pirenópolis (Cidade dos Pireneus, ao pé da letra), vem dos Pireneus. De acordo com o Google: “A cordilheira dos Pireneus separa a Península Ibérica do restante da Europa, estendendo-se por mais de 430 quilômetros entre a Espanha e a França e passando de 3.400 metros de altitude.” (GOOGLE. Pireneus. Disponível em: < https://www.google.com/search?gs_ssp=eJzj4tDP1TcwM82uNGD04ijILErNSy0tBgA7FAZL&q=pireneus&oq=pireneus&aqs=chrome.1.0i67i355i650j46i67i650j46i67i175i199i650j46i175i199i512i664i665j46i175i199i512j0i512l4j0i67i650.526400260j0j15&sourceid=chrome&ie=UTF-8 > Acesso em 10/06/2023.) E o Portal da Câmara Municipal de Pirenópolis esclarece: “Pirenópolis (ortografia arcaica), posteriormente Pirenópolis, significa “a Cidade dos Pireneus”. Seu nome provém da serra que circunda a cidade que é a Serra dos Pireneus. Segundo a tradição local, a serra recebeu este nome por haver na região imigrantes espanhóis, provavelmente catalães. Por saudosismo ou por encontrar alguma semelhança com os Pirenéus da Europa, cadeia de montanhas situada entre a Espanha e a França, deram então a esta serra o nome de Pirenéus, mas mais tarde, devido à pronúncia da língua portuguesa no Brasil, surgiu a grafia sem acento.” (CÂMARA MUNICIPAL DE PIRENÓPOLIS. História de Pirenópolis. Disponível em: < https://www.pirenopolis.go.leg.br/Institucional/funcao-e-definicao#:~:text=Por%20saudosismo%20ou%20por%20encontrar,surgiu%20a%20grafia%20sem%20acento. > Acesso em: 10 de junho de 2023.). Como se pode ver claramente na citação da Câmara Municipal de Pirenópolis, IMIGRANTES ESPANHÓIS, além dos italianos já mencionados. Curiosamente, no segundo semestre será estudada a Festa das Cavalhadas, de Pirenópolis, nascida com a presença de padres espanhóis em Pirenópolis.

E o nome Nova Veneza? Dado por imigrantes italianos, para recordar a cidade italiana de Veneza, uma das mais belas cidades da Itália.

CONCLUSÃO:

O trabalho escravo, negro e indígena também, desde o início foi cruel. Aqui, sendo enfoque dado aos negros. Desde a perda da terra africana, passando pelos navios negreiros, a separação de familiares e amigos, a impossibilidade de retorno, a venda em mercados, como animais, até a chegada ao interior do Brasil, no caso próprio de Goiás, a jornada foi longa, juntamente com o longo sofrimento. Negros foram usados em trabalhos os mais variados. Em Goiás, com a mineração de ouro, o aumento significativo do número de escravos.

Com a decadência do ouro e, tempos depois, no século XIX, com a Libertação dos Escravos, pela Princesa Isabel e a Lei Áurea (1888), bem como com a preocupação em depurar a cor, clareando-a, no Brasil, como se pode ver em um dos textos citados ao longo deste estudo, a vinda crescente de imigrantes europeus para Goiás, como foi o caso de italianos e espanhóis. 

O estudo permite entender, em parte, a mistura racial, com a miscigenação entre brancos, negros e indígenas, ocorrida ao longo dos séculos XVIII, XIX e XX. Ao mesmo tempo, por conta dessa miscigenação, elementos culturais desses povos e a importância de oposição ao racismo. O racismo é o mau tratamento dado a alguém por conta da cor de sua pele. O racismo é péssimo e discriminador, isto é, separador de pessoas, devendo ser evitado a todo custo.

Cabe aqui lembrar também que, na hora de tomar sangue, em um hospital, ninguém quer saber se o mesmo veio de uma mulher branca, de um homem negro ou de uma índia ou de uma pessoa mestiça. Simplesmente se toma. Isto para dar um pequeno exemplo da importância de se tratar bem as pessoas.

Sabe-se que o racismo, principalmente em relação a negros e mestiços, é uma realidade nascida naqueles tempos da escravidão. Para que o Goiás Sem Racismo ocorra é preciso o empenho de todos os membros, desde as comunidades escolares, passando pelas famílias, pelas empresas, instituições sociais e outras. Sem sombra de dúvida, é possível e será cada bem mais vindo esse esforço coletivo.

REFERÊNCIAS:

ALMEIDA, Maria Zeneide C. M. de et alii. A POPULAÇÃO NEGRA NA CAPITANIA DE GOYAZES ENTRE 1500 A 1800. XXI Semana de História – Universidade Estadual de Goiás - Campus Cora Coralina. Disponível em: < https://www.anais.ueg.br/index.php/semanahistoriacoracoralina/article/download/13202/9740/ > Acesso em 10/06/2023. P. 17.

ALVES, Castro. Navio Negreiro. Disponível em: < http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/DetalheObraForm.do?select_action&co_obra=1786 > Acesso em 10/06/2023.

CÂMARA MUNICIPAL DE PIRENÓPOLIS. História de Pirenópolis. Disponível em: < https://www.pirenopolis.go.leg.br/Institucional/funcao-e-definicao#:~:text=Por%20saudosismo%20ou%20por%20encontrar,surgiu%20a%20grafia%20sem%20acento. > Acesso em: 10 de junho de 2023.

COMANDO DE ENSINO DA POLÍCIA MILITAR DE GOIÁS. Apostila de Cultura Goiana – Segundo Bimestre. Goiânia, [Década de 2010.].

FAZENDA BABILÔNIA. História. Disponível em: < https://fazendababilonia.com.br/historia#:~:text=A%20produ%C3%A7%C3%A3o%20desta%20fazenda%20era,Hilaire%20(%20veja%20em%20Arquivo). > Acesso em 10/06/2023.

GOOGLE. Pireneus. Disponível em: < https://www.google.com/search?gs_ssp=eJzj4tDP1TcwM82uNGD04ijILErNSy0tBgA7FAZL&q=pireneus&oq=pireneus&aqs=chrome.1.0i67i355i650j46i67i650j46i67i175i199i650j46i175i199i512i664i665j46i175i199i512j0i512l4j0i67i650.526400260j0j15&sourceid=chrome&ie=UTF-8 > Acesso em 10/06/2023.

SAINT-HILAIRE, Auguste de. Uma fazenda modelo. Disponível em: < https://fazendababilonia.com.br/arquivo/saint-hilarie > Acesso em 10/06/2023.

SOUZA, Iraci Garbim. A Imigração italiana, séculos XIX-XX, em Nova Veneza-GO: contribuições para a cultura. Disponível em: < https://docs.academicoo.com/user/itelvides/a-imigracao-italiana-para-nova-veneza.pdf > Acesso em 10/06/2023.

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