COMANDO DE
ENSINO POLICIAL MILITAR
CEPMG -
VASCO DOS REIS
Divisão de
Ensino / Coordenação Pedagógica
SEGUNDO BIMESTRE
AULA 19 DE TÓPICOS DE CIÊNCIAS HUMANAS DOS
PRIMEIROS ANOS:
RACISMO E ESCRAVIDÃO NO BRASIL E EM GOIÁS (Prof. José Antônio Brazão.):
A Secretaria de Estado do Desenvolvimento Social,
em parceria com a Secretaria de Estado da Educação de Goiás, elaborou o livreto
Goiás Sem Racismo e o têm levado, especialmente, às escolas, para
debate, conscientização e formação de cidadãos e cidadãs com grande preocupação
com o respeito das pessoas, sem distinção de raça ou de cor.
O racismo, principalmente de brancos para com
negros e pardos, é grande, não somente no Brasil, mas também em muitos outros
lugares do mundo. O destaque, no Brasil, é porque é um país onde há muitos(as)
descendentes de escravos negros trazidos da África e de seus filhos, filhas,
netos e netas. Os escravos, vindos da África, eram trazidos em navios chamados
navios negreiros, sob muitos maus-tratos, sofrimento, separações e fome, além
das péssimas acomodações nos navios.
Castro Alves (Antônio Frederico de Castro
Alves), poeta brasileiro do século XIX, descreve bem a situação dos negros
trazidos naqueles navios. Vejamos o poema Navio Negreiro:
OBS.: O texto a seguir é um diálogo em parceria com
a Língua Portuguesa.
O NAVIO
NEGREIRO
Castro
Alves
I
'Stamos em pleno mar...
Doudo no espaço
Brinca o luar — dourada
borboleta;
E as vagas após ele
correm... cansam
Como turba de infantes
inquieta.
'Stamos em pleno mar...
Do firmamento
Os astros saltam como
espumas de ouro...
O mar em troca acende as
ardentias,
— Constelações do líquido
tesouro...
'Stamos em pleno mar...
Dois infinitos
Ali se estreitam num
abraço insano,
Azuis, dourados,
plácidos, sublimes...
Qual dos dous é o céu?
qual o oceano?...
'Stamos em pleno mar. . .
Abrindo as velas
Ao quente arfar das
virações marinhas,
Veleiro brigue corre à
flor dos mares,
Como roçam na vaga as
andorinhas...
Donde vem? onde vai? Das
naus errantes
Quem sabe o rumo se é tão
grande o espaço?
Neste saara os corcéis o
pó levantam,
Galopam, voam, mas não
deixam traço.
Bem feliz quem ali pode
nest'hora
Sentir deste painel a
majestade!
Embaixo — o mar em cima —
o firmamento...
E no mar e no céu — a
imensidade!
Oh! que doce harmonia
traz-me a brisa!
Que música suave ao longe
soa!
Meu Deus! como é sublime
um canto ardente
Pelas vagas sem fim
boiando à toa!
Homens do mar! ó rudes
marinheiros,
Tostados pelo sol dos quatro
mundos!
Crianças que a procela
acalentara
No berço destes pélagos
profundos!
Esperai! esperai! deixai
que eu beba
Esta selvagem, livre
poesia
Orquestra — é o mar, que
ruge pela proa,
E o vento, que nas cordas
assobia...
..........................................................
Por que foges assim,
barco ligeiro?
Por que foges do pávido
poeta?
Oh! quem me dera
acompanhar-te a esteira
Que semelha no mar —
doudo cometa!
Albatroz! Albatroz! águia
do oceano,
Tu que dormes das nuvens
entre as gazas,
Sacode as penas,
Leviathan do espaço,
Albatroz! Albatroz! dá-me
estas asas.
II
Que importa do nauta o
berço,
Donde é filho, qual seu
lar?
Ama a cadência do verso
Que lhe ensina o velho
mar!
Cantai! que a morte é
divina!
Resvala o brigue à bolina
Como golfinho veloz.
Presa ao mastro da mezena
Saudosa bandeira acena
As vagas que deixa após.
Do Espanhol as cantilenas
Requebradas de langor,
Lembram as moças morenas,
As andaluzas em flor!
Da Itália o filho
indolente
Canta Veneza dormente,
— Terra de amor e
traição,
Ou do golfo no regaço
Relembra os versos de
Tasso,
Junto às lavas do vulcão!
O Inglês — marinheiro
frio,
Que ao nascer no mar se
achou,
(Porque a Inglaterra é um
navio,
Que Deus na Mancha
ancorou),
Rijo entoa pátrias
glórias,
Lembrando, orgulhoso,
histórias
De Nelson e de Aboukir..
.
O Francês — predestinado
—
Canta os louros do
passado
E os loureiros do porvir!
Os marinheiros Helenos,
Que a vaga jônia criou,
Belos piratas morenos
Do mar que Ulisses
cortou,
Homens que Fídias talhara,
Vão cantando em noite
clara
Versos que Homero gemeu
...
Nautas de todas as
plagas,
Vós sabeis achar nas
vagas
As melodias do céu! ...
III
Desce do espaço imenso, ó
águia do oceano!
Desce mais ... inda
mais... não pode olhar humano
Como o teu mergulhar no
brigue voador!
Mas que vejo eu aí... Que
quadro d'amarguras!
É canto funeral! ... Que
tétricas figuras! ...
Que cena infame e vil...
Meu Deus! Meu Deus! Que horror!
IV
Era um sonho dantesco...
o tombadilho
Que das luzernas
avermelha o brilho.
Em sangue a se banhar.
Tinir de ferros...
estalar de açoite...
Legiões de homens negros
como a noite,
Horrendos a dançar...
Negras mulheres,
suspendendo às tetas
Magras crianças, cujas
bocas pretas
Rega o sangue das mães:
Outras moças, mas nuas e espantadas,
No turbilhão de espectros
arrastadas,
Em ânsia e mágoa vãs!
E ri-se a orquestra
irônica, estridente...
E da ronda fantástica a
serpente
Faz doudas espirais ...
Se o velho arqueja, se no
chão resvala,
Ouvem-se gritos... o
chicote estala.
E voam mais e mais...
Presa nos elos de uma só
cadeia,
A multidão faminta
cambaleia,
E chora e dança ali!
Um de raiva delira, outro
enlouquece,
Outro, que martírios
embrutece,
Cantando, geme e ri!
No entanto o capitão
manda a manobra,
E após fitando o céu que
se desdobra,
Tão puro sobre o mar,
Diz do fumo entre os
densos nevoeiros:
"Vibrai rijo o
chicote, marinheiros!
Fazei-os mais
dançar!..."
E ri-se a orquestra
irônica, estridente. . .
E da ronda fantástica a
serpente
Faz doudas espirais...
Qual um sonho dantesco as
sombras voam!...
Gritos, ais, maldições,
preces ressoam!
E ri-se Satanás!...
V
Senhor Deus dos
desgraçados!
Dizei-me vós, Senhor
Deus!
Se é loucura... se é
verdade
Tanto horror perante os
céus?!
Ó mar, por que não apagas
Co'a esponja de tuas
vagas
De teu manto este
borrão?...
Astros! noites!
tempestades!
Rolai das imensidades!
Varrei os mares, tufão!
Quem são estes
desgraçados
Que não encontram em vós
Mais que o rir calmo da
turba
Que excita a fúria do
algoz?
Quem são? Se a estrela se
cala,
Se a vaga à pressa
resvala
Como um cúmplice fugaz,
Perante a noite
confusa...
Dize-o tu, severa Musa,
Musa libérrima, audaz!...
São os filhos do deserto,
Onde a terra esposa a
luz.
Onde vive em campo aberto
A tribo dos homens nus...
São os guerreiros ousados
Que com os tigres
mosqueados
Combatem na solidão.
Ontem simples, fortes,
bravos.
Hoje míseros escravos,
Sem luz, sem ar, sem
razão. . .
São mulheres desgraçadas,
Como Agar o foi também.
Que sedentas,
alquebradas,
De longe... bem longe
vêm...
Trazendo com tíbios
passos,
Filhos e algemas nos
braços,
N'alma — lágrimas e
fel...
Como Agar sofrendo tanto,
Que nem o leite de pranto
Têm que dar para Ismael.
Lá nas areias infindas,
Das palmeiras no país,
Nasceram crianças lindas,
Viveram moças gentis...
Passa um dia a caravana,
Quando a virgem na cabana
Cisma da noite nos véus
...
... Adeus, ó choça do
monte,
... Adeus, palmeiras da
fonte!...
... Adeus, amores...
adeus!...
Depois, o areal
extenso...
Depois, o oceano de pó.
Depois no horizonte
imenso
Desertos... desertos
só...
E a fome, o cansaço, a
sede...
Ai! quanto infeliz que
cede,
E cai p'ra não mais
s'erguer!...
Vaga um lugar na cadeia,
Mas o chacal sobre a
areia
Acha um corpo que roer.
Ontem a Serra Leoa,
A guerra, a caça ao leão,
O sono dormido à toa
Sob as tendas d'amplidão!
Hoje... o porão negro,
fundo,
Infecto, apertado,
imundo,
Tendo a peste por
jaguar...
E o sono sempre cortado
Pelo arranco de um
finado,
E o baque de um corpo ao
mar...
Ontem plena liberdade,
A vontade por poder...
Hoje... cúm'lo de
maldade,
Nem são livres p'ra
morrer. .
Prende-os a mesma
corrente
— Férrea, lúgubre
serpente —
Nas roscas da escravidão.
E assim zombando da
morte,
Dança a lúgubre coorte
Ao som do açoute...
Irrisão!...
Senhor Deus dos desgraçados!
Dizei-me vós, Senhor
Deus,
Se eu deliro... ou se é
verdade
Tanto horror perante os
céus?!...
Ó mar, por que não apagas
Co'a esponja de tuas
vagas
Do teu manto este borrão?
Astros! noites!
tempestades!
Rolai das imensidades!
Varrei os mares, tufão!
...
VI
Existe um povo que a
bandeira empresta
P'ra cobrir tanta infâmia
e cobardia!...
E deixa-a transformar-se
nessa festa
Em manto impuro de
bacante fria!...
Meu Deus! meu Deus! mas
que bandeira é esta,
Que impudente na gávea
tripudia?
Silêncio. Musa... chora,
e chora tanto
Que o pavilhão se lave no
teu pranto! ...
Auriverde pendão de minha
terra,
Que a brisa do Brasil
beija e balança,
Estandarte que a luz do
sol encerra
E as promessas divinas da
esperança...
Tu que, da liberdade após
a guerra,
Foste hasteado dos heróis
na lança
Antes te houvessem roto
na batalha,
Que servires a um povo de
mortalha!...
Fatalidade atroz que a
mente esmaga!
Extingue nesta hora o
brigue imundo
O trilho que Colombo
abriu nas vagas,
Como um íris no pélago
profundo!
Mas é infâmia demais! ...
Da etérea plaga
Levantai-vos, heróis do
Novo Mundo!
Andrada! arranca esse
pendão dos ares!
Colombo! fecha a porta
dos teus mares
(ALVES, Castro. Navio
Negreiro. Disponível em: < http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/DetalheObraForm.do?select_action&co_obra=1786 >
Acesso em 10/06/2023.)
O poema de Castro Alves trata
da crueldade com que eram tratados os negros escravizados, obtidos na África,
por meio de guerras intertribais principalmente, vendidos em entrepostos
comerciais e cidades litorâneas, trazidos para o Brasil e outras regiões das
três Américas em péssimas condições, onde a sobrevivência era um drama diário.
Muitos que morriam eram, simplesmente, jogados ao mar, como mostra bem o poema
de Castro Alves.
Do litoral, seja de
Salvador, de cidades litorâneas de São Paulo ou do Rio de Janeiro ou outro
lugar litorâneo, os negros eram vendidos em mercados como animais – tudo era
verificado e quanto mais saudável era o escravo ou a escrava, mais caro. Mães
eram separadas de filhos. Pais e irmãos eram igualmente vendidos separadamente.
Pessoas de uma mesma tribo, geralmente, não ficavam juntas, a fim de evitar
problemas.
Os negros africanos,
escravos e escravas, homens, mulheres e crianças, fizeram parte da mão de obra
principal nas fazendas de cana de açúcar, tomando conta desde o plantio até os
cuidados finais e o carregamento do produto pronto. Também foram mãos de obra
principal nas minas de ouro, seja em Minas Gerais, no Mato Grosso e em GOIÁS.
Basta olhar as pessoas
com quem se convive em casa e com as quais se encontra nas ruas: muitos
mestiços de pele morena e negra, descendentes, sem dúvida, daquelas pessoas
vindas da África.
No caso de Goiás, além de
outros lugares, vale lembrar que escravos eram encarregados de carregar cargas
pesadas de bandeirantes, ao longo de seu desbravamento das terras, seja em
busca destes pelo ouro, por terra e por escravização de índios brasileiros,
junto com outras atividades realizadas pelo bandeirantismo.
Milhares de negros(as)
escravos(as), ao longo de décadas, entre os séculos XVIII e XIX, foram
trazidos(as) para GOIÁS, para o trabalho direto nas minas de ouro, de
esmeraldas e outros minerais, como também para fazendas que foram se formando.
No século XIX, inclusive, há o relato do pesquisador francês Auguste de
Saint-Hilaire, que fala de escravos negros na Fazenda Babilônia, na cidade de
Meia Ponte (Pirenópolis), com um dono que sabia aliar a dureza do possuidor de
escravos com certa humanidade no tratamento destes, sem se esquecer de que eram
seus escravos!
O site da Fazenda
Babilônia traz o seguinte comentário:
“Com a decadência das minas de ouro de Meia Ponte,
o senhor Joaquim Alves de Oliveira iniciou a ousada empreita de construir
o Engenho São Joaquim, primeiro nome da Fazenda Babilônia, que
segundo Pohl, em "Viagem ao Interior do Brasil", era um dos
maiores engenhos de açúcar do Brasil. Após o ano de 1800 o Engenho São Joaquim
já era considerado como a maior empresa agrícola do Estado de Goiás. Na
fazenda, além da cana de açúcar, plantava-se em escala industrial mandioca e
algodão para a produção da farinha e fios de algodão para exportação. A
Inglaterra, em plena Revolução Industrial comprava toda a produção de
algodão goiano, cuja fibra era considerada uma das melhores do mundo. A
produção desta fazenda era tão intensa que contava com cerca de 200 escravos,
sendo 120 homens para o trabalho e 80 mulheres e crianças.” (FAZENDA BABILÔNIA.
História. Disponível em: < https://fazendababilonia.com.br/historia#:~:text=A%20produ%C3%A7%C3%A3o%20desta%20fazenda%20era,Hilaire%20(%20veja%20em%20Arquivo). > Acesso em 10/06/2023.)
E Auguste de
Saint-Hilaire assim comenta:
“A casa fora organizada desde o princípio com
tamanha perfeição que o seu proprietário já não tinha, por assim dizer,
necessidade de dar nenhuma ordem. Cada um sabia o que tinha de fazer e tratava
de se colocar no seu posto de trabalho por sua própria conta. Para se fazer
entender, bastava ao dono, se quisesse, dizer apenas uma palavra ou fazer um
simples gesto. No meio de uma centena de escravos não se ouviam ordens gritadas
nem se viam homens apressados andando de um lado para o outro, apenas
aparentando grande atividade, mas na verdade sem saberem o que fazer. Em toda
parte reinavam o silêncio, a ordem e uma tranquilidade que se harmonizava
perfeitamente com a que a Natureza costuma oferecer naqueles climas amenos.
Dir-se-ia que um gênio invisível governava a casa. Seu proprietário ficava
sentado tranquilamente na varanda, mas era fácil ver que nada lhe escapava e
que bastava um rápido olhar para manter tudo sob controle.
As regras estabelecidas por Joaquim Alves quanto ao
tratamento dado aos escravos consistiam em mantê-los bem alimentados e vestidos
decentemente, em cuidar deles adequadamente quando adoeciam e em jamais
deixá-los ociosos. Todo ano ele provia o casamento de alguns, e as mães só iam
trabalhar nas plantações quando os filhos já podiam dispensar os seus cuidados.
As crianças eram então confiadas a uma só mulher, que zelava por todas. Uma
sábia precaução fora tomada para evitar, tanto quanto possível, as ciumadas e
as brigas: os quartos dos solteiros ficavam situados a uma boa distância dos alojamentos
dos casados.
O domingo pertencia aos escravos. Eles não tinham
permissão para ir procurar ouro, mas recebiam um pedaço de terra que podiam
cultivar em seu próprio proveito. Joaquim Alves instalara em sua própria casa
uma venda onde os negros podiam comprar as coisas que geralmente são do agrado
dos africanos. Nas suas transações o algodão fazia o papel do dinheiro. Dessa
maneira ele livrava os escravos da tentação do roubo, estimulava-os ao trabalho
acenando-lhes com os lucros de suas lavouras, fazia com que se apegassem ao
lugar e ao seu senhor, ao mesmo tempo que aumentava a produção de suas terras.
Durante minha permanência na casa do comandante de
Meia-Ponte visitei as várias dependências de sua fazenda, o chiqueiro, o paiol,
o moinho de farinha, o local onde era ralada a mandioca e onde ficava instalada
a máquina de descaroçar o algodão, a fábrica de fiação, etc. etc., e em toda
parte encontrei uma ordem e uma limpeza incomparáveis. Os fornos do
engenho-de-açúcar não tinham sido feitos de acordo com as especificações da
técnica moderna. Seu aquecimento era feito pelo lado de fora, o que pelo menos
tornava menos penosa para os trabalhadores a operação de cozimento. Um tambor
horizontal movido a água punha em movimento doze pequenas máquinas de descaroçar
algodão. Era também a água a máquina de ralar mandioca, da qual darei aqui uma
descrição. A casa onde se achava instalada era construída sobre estacas e
embaixo do assoalho fora colocada uma roda em posição horizontal, que era
movida pela água que caía de uma calha em plano inclinado. O eixo da roda
atravessava o assoalho e se elevava até certa altura, tendo na extremidade
outra roda horizontal cujo aro era revestido por um ralo de metal. O eixo e a
roda superior ficavam encaixados dentro de um quadrado formado por quatro
estacas, cada uma das quais tinha uma chanfradura na parte interna, ao nível do
ralo. Quando a roda começava a girar, quatro pessoas seguravam as mandiocas,
encaixando-as nas chanfraduras. Tendo esse ponto de apoio, seus braços podiam
manter-se firmes e a ação da máquina não sofria interrupção.” (SAINT-HILAIRE, Auguste de. Uma fazenda modelo. Disponível
em: < https://fazendababilonia.com.br/arquivo/saint-hilarie >
Acesso em 10/06/2023.)
O Comandante Joaquim
Alves de Oliveira, de Meia-Ponte até que tratava bem seus escravos, segundo o
relato, porém muitos senhores de escravos não os tratavam tão bem assim:
dormiam em senzalas, presos por correntes, vigiados e chicoteados sempre que se
acreditava estarem precisando de chibatadas. Porém, o trabalho na fazenda era
exigente e vigiado pelo dono que, com certeza, tinha capatazes (homens armados)
a seu serviço.
Pelo texto acima, pode-se
ver que tudo ou quase tudo, na Fazenda Babilônia, era feito por trabalho
escravo e a ordem era mantida com mão firme, sob vigilância estrita.
Havia fugas de escravos
em Goiás:
“Em 1848, Goiás estava dividido em 4 comarcas, a
população era de 147.722 habitantes e escravos eram de 10.652, ou seja, apenas
7% do total. Em 1872 eram 26.800 os escravos. Segundo FUNES a fuga de escravos
eram constantes em Goiás nesse período, ele comenta: ‘não existe, na província,
um arraial sem sombra de seu quilombo’ p.117 A relação de produção entre negros
e brancos no comércio estava também em transição, estava também sofrendo
transformações. Carlos Brandão citado por FUNES, escreveu que ‘gradativamente,
as relações de produção escravistas cederam lugar à novas relações de produção
não capitalistas, que aí se estabelecem. Novos elementos ocupam os espaços
deixados pelos escravos, o agregado, o camarada e o trabalho familiar’ p.130.”
(ALMEIDA, Maria Zeneide C. M. de et alii. A POPULAÇÃO NEGRA NA CAPITANIA DE GOYAZES ENTRE 1500
A 1800. XXI Semana de História
– Universidade Estadual de Goiás - Campus Cora Coralina. Disponível em: < https://www.anais.ueg.br/index.php/semanahistoriacoracoralina/article/download/13202/9740/ > Acesso em 10/06/2023. P. 17.)
Maus tratos eram comuns,
sofrimento, contribuindo para essas fugas de escravos. Com a decadência da
produção aurífera, pessoas de outras regiões e até mesmo de fora do Brasil
acabariam se dirigindo a Goiás. O trabalho escravo, com o tempo, acabaria dando
lugar ao trabalho pago – aliás, mal pago – de muitos trabalhadores, em fazendas
e em locais onde, antes, imperava a mão de obra escrava. Destaque especial aos
Italianos, que marcariam culturalmente o Estado de Goiás. De acordo com Iraci
Garbim de Souza:
“Com o fim da mão-de-obra escrava no Brasil veio à
necessidade de supri-la por outra melhor e superior à existente devido à
chegada do sistema capitalista no país. O Brasil então passa a necessitar de
mão-de-obra para a lavoura de café, iniciando assim a introdução do imigrante
para substituir a mão de obra escrava, e para colonizar as extensas terras
devolutas existentes. Para o Governo, era também a oportunidade de povoar o
país por pessoas brancas, portanto, iniciam-se as políticas públicas para
trazer os imigrantes europeus, voltando à atenção para um país: a Itália. Foi
ele quem mais se destacou em quantidade de pessoas que imigraram para o Brasil,
devido a problemas políticos e financeiros que a Itália vinha atravessando.
Diversos grupos imigraram para o Brasil, especialmente para as regiões Sul e
Sudeste e posteriormente um pequeno grupo chegou à região Centro-Oeste do país.
Esse pequeno grupo ajudou na construção do Estado de Goiás, fundando a cidade
de Nova Veneza, no contingente de pessoas, que irá marcar profundamente a
formação social e cultural regional, com repercussão nacional, sendo esta
cidade, hoje, conhecida como um pedaço da Itália em Goiás, com a criação do
Festival Italiano Gastronômico Cultural, realizado anualmente na cidade.”
(SOUZA, Iraci Garbim. A Imigração italiana, séculos XIX-XX, em Nova Veneza-GO: contribuições
para a cultura.
Disponível em: < https://docs.academicoo.com/user/itelvides/a-imigracao-italiana-para-nova-veneza.pdf > Acesso em 10/06/2023.)
Um fato curioso: o nome
Serra dos Pireneus, em Goiás, que deu origem à troca do nome de Pirenópolis
(Cidade dos Pireneus, ao pé da letra), vem dos Pireneus. De acordo com o
Google: “A cordilheira dos Pireneus separa a Península Ibérica do restante da
Europa, estendendo-se por mais de 430 quilômetros entre a Espanha e a França e
passando de 3.400 metros de altitude.” (GOOGLE. Pireneus. Disponível em: < https://www.google.com/search?gs_ssp=eJzj4tDP1TcwM82uNGD04ijILErNSy0tBgA7FAZL&q=pireneus&oq=pireneus&aqs=chrome.1.0i67i355i650j46i67i650j46i67i175i199i650j46i175i199i512i664i665j46i175i199i512j0i512l4j0i67i650.526400260j0j15&sourceid=chrome&ie=UTF-8 > Acesso em
10/06/2023.) E o Portal da Câmara Municipal de Pirenópolis esclarece: “Pirenópolis (ortografia
arcaica), posteriormente Pirenópolis, significa “a Cidade dos
Pireneus”. Seu nome provém da serra que circunda a cidade que é a Serra dos
Pireneus. Segundo a tradição local, a serra recebeu este nome por haver na
região imigrantes espanhóis, provavelmente catalães. Por saudosismo ou por
encontrar alguma semelhança com os Pirenéus da Europa, cadeia de montanhas
situada entre a Espanha e a França, deram então a esta serra o nome de
Pirenéus, mas mais tarde, devido à pronúncia da língua portuguesa no Brasil,
surgiu a grafia sem acento.” (CÂMARA MUNICIPAL DE
PIRENÓPOLIS. História de Pirenópolis. Disponível em: < https://www.pirenopolis.go.leg.br/Institucional/funcao-e-definicao#:~:text=Por%20saudosismo%20ou%20por%20encontrar,surgiu%20a%20grafia%20sem%20acento. > Acesso em: 10 de junho de 2023.). Como se pode ver
claramente na citação da Câmara Municipal de Pirenópolis, IMIGRANTES ESPANHÓIS,
além dos italianos já mencionados. Curiosamente, no segundo semestre será
estudada a Festa das Cavalhadas, de Pirenópolis, nascida com a presença de
padres espanhóis em Pirenópolis.
E o nome Nova Veneza?
Dado por imigrantes italianos, para recordar a cidade italiana de Veneza, uma
das mais belas cidades da Itália.
CONCLUSÃO:
O trabalho escravo, negro
e indígena também, desde o início foi cruel. Aqui, sendo enfoque dado aos
negros. Desde a perda da terra africana, passando pelos navios negreiros, a
separação de familiares e amigos, a impossibilidade de retorno, a venda em mercados,
como animais, até a chegada ao interior do Brasil, no caso próprio de Goiás, a
jornada foi longa, juntamente com o longo sofrimento. Negros foram usados em
trabalhos os mais variados. Em Goiás, com a mineração de ouro, o aumento
significativo do número de escravos.
Com a decadência do ouro
e, tempos depois, no século XIX, com a Libertação dos Escravos, pela Princesa
Isabel e a Lei Áurea (1888), bem como com a preocupação em depurar a cor,
clareando-a, no Brasil, como se pode ver em um dos textos citados ao longo
deste estudo, a vinda crescente de imigrantes europeus para Goiás, como foi o
caso de italianos e espanhóis.
O estudo permite
entender, em parte, a mistura racial, com a miscigenação entre brancos, negros
e indígenas, ocorrida ao longo dos séculos XVIII, XIX e XX. Ao mesmo tempo, por
conta dessa miscigenação, elementos culturais desses povos e a importância de
oposição ao racismo. O racismo é o mau tratamento dado a alguém por conta da
cor de sua pele. O racismo é péssimo e discriminador, isto é, separador de
pessoas, devendo ser evitado a todo custo.
Cabe aqui lembrar também
que, na hora de tomar sangue, em um hospital, ninguém quer saber se o mesmo
veio de uma mulher branca, de um homem negro ou de uma índia ou de uma pessoa
mestiça. Simplesmente se toma. Isto para dar um pequeno exemplo da importância
de se tratar bem as pessoas.
Sabe-se que o racismo,
principalmente em relação a negros e mestiços, é uma realidade nascida naqueles
tempos da escravidão. Para que o Goiás Sem Racismo ocorra é preciso o empenho
de todos os membros, desde as comunidades escolares, passando pelas famílias,
pelas empresas, instituições sociais e outras. Sem sombra de dúvida, é possível
e será cada bem mais vindo esse esforço coletivo.
REFERÊNCIAS:
ALMEIDA,
Maria Zeneide C. M. de et alii. A POPULAÇÃO NEGRA NA CAPITANIA DE GOYAZES
ENTRE 1500 A 1800. XXI Semana de História – Universidade Estadual de Goiás
- Campus Cora Coralina. Disponível em: < https://www.anais.ueg.br/index.php/semanahistoriacoracoralina/article/download/13202/9740/ > Acesso em 10/06/2023. P. 17.
ALVES,
Castro. Navio Negreiro. Disponível em: < http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/DetalheObraForm.do?select_action&co_obra=1786 > Acesso em 10/06/2023.
CÂMARA
MUNICIPAL DE PIRENÓPOLIS. História de Pirenópolis. Disponível em: < https://www.pirenopolis.go.leg.br/Institucional/funcao-e-definicao#:~:text=Por%20saudosismo%20ou%20por%20encontrar,surgiu%20a%20grafia%20sem%20acento. > Acesso em: 10 de junho de 2023.
COMANDO
DE ENSINO DA POLÍCIA MILITAR DE GOIÁS. Apostila de Cultura Goiana – Segundo Bimestre. Goiânia, [Década de 2010.].
FAZENDA
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