COMANDO DE
ENSINO POLICIAL MILITAR
CEPMG -
VASCO DOS REIS
Divisão de
Ensino / Coordenação Pedagógica
SEGUNDO BIMESTRE
AULA 17 DE SOCIOLOGIA DOS SEGUNDOS ANOS A, B,
C e D:
THOMAS MORE (THOMAS MORUS) (1478 – 1535) (Prof. José Antônio Brazão.):
*Pensador e escritor inglês.
*Viveu na época das grandes navegações, do
Renascimento e da Reforma Protestante. (Ver no quadrinho.)
*Humanista.
*Homem extremamente culto, sabia diversas
línguas, inclusive.
*De acordo com tradução contida na World
History Encyclopedia:
“Sir Thomas More (1478-1535) foi um advogado,
erudito, estadista e Lorde Chanceler de Henrique VIII da Inglaterra (r.
1509-1547) que acabou executado em Julho de 1535 pela recusa em endossar a
separação da Igreja da Inglaterra da Igreja Católica de Roma. Os elevados
princípios de More também o colocaram em desacordo quanto ao divórcio entre o
rei e sua primeira esposa, Catarina de Aragão (1485-1536) e, especialmente, a autopromoção
de Henrique como líder máximo da Igreja da Inglaterra, ao invés do Papa. Mesmo
antes de sua carreira política era conhecido como escritor e erudito. Sua obra
mais famosa atualmente é Utopia, que traz uma descrição filosófica
de uma sociedade ideal situada numa ilha. Thomas More foi santificado em 1935
pela Igreja Católica.” (CARTWRIGHT, Mark. Sir Thomas More. Disponível em: < https://www.worldhistory.org/trans/pt/1-18889/sir-thomas-more/ > Acesso em 20/05/2023.
Tradução de Ricardo Albuquerque.)
*Como
se pode ver, Thomas More foi um homem que aliou profundamente a cultura, a
religião, o trabalho muito sério com a política e seus princípios éticos e
religiosos.
*Numa
época de muitas injustiças, principalmente para com os grupos mais pobres da
sociedade inglesa e europeia, More denunciou essas injustiças e vislumbrou a
possibilidade de uma sociedade justa, como bem mostra no livro UTOPIA – palavra
composta, a partir do grego, de U-, que indica negação (NÃO), e TOPOS, lugar.
Ao pé da letra (literalmente): Utopia é um “Não lugar”, “lugar nenhum”, dando a
ideia de que a sociedade ideal presente na ilha de Utopia, na verdade, não se
tinha em lugar nenhum, material, existindo como possibilidade imaginária e
desejada, sem dúvida. Ainda mais desejada por um cristão praticante como Thomas
More.
*IMAGENS:
Conjunto 1:
https://pt.wikipedia.org/wiki/Thomas_More#/media/Ficheiro:Hans_Holbein_d._J._065.jpg
Conjunto 2:
TEMA: SOCIEDADE E POLÍTICA – OS
PENSADORES E A POLÍTICA. (RESUMIDO) (Prof. José Antônio Brazão.)
ASPECTOS |
NICOLAU
MAQUIAVEL (SÉC.
XV\XVI) |
THOMAS
MORE (SÉC.
XVI) |
THOMAS
HOBBES (SÉC.
XVII) |
JEAN-JACQUES
ROUSSEAU (SÉC.
XVIII) |
LIVRO |
O PRÍNCIPE. |
UTOPIA. |
LEVIATÃ. |
O CONTRATO SOCIAL. |
CONTEXTO HISTÓRICO
(REALIDADE) |
Os homens são ingratos,
inconstantes e não confiáveis. Maquiavel não idealiza as pessoas, parte da
realidade e dos conhecimentos de casos históricos que conhecia. Maquiavel era
um leitor assíduo dos antigos. “(...)quanto ao exercício do pensamento, o
príncipe dever ler histórias de países e considerar as ações dos grandes
homens, observar como se conduziram nas guerras, examinar as razões de suas
vitórias e derrotas, para poder fugir destas e imitar aquelas.” (Maquiavel,
trecho de O Príncipe, citado no livro Filosofando, ed. 1994: p. 208). |
A sociedade europeia
de seu século manifestava, ao mesmo tempo, a euforia da riqueza advinda das
grandes navegações, mas também os cercamentos para produção de lã e o
empobrecimento de muita gente, em parte expulsa do campo por conta desses
cercamentos. More vê a realidade injusta da sociedade europeia de seu
tempo (miséria, pobreza, conflitos) e sobre isto reflete bem. Tendo um olhar
racional e cristão (era católico praticante). |
No estado de
natureza os homens são verdadeiros lobos uns dos outros (Homo homini lupus
= O homem é o lobo do homem). O conflito é constante e põem em risco a
vida das pessoas. “As paixões que fazem os homens tender para a paz são o
medo da morte, o desejo daquelas coisas que são necessárias para a vida
confortável e a esperança de consegui-las através do trabalho. E a razão
sugere adequadas normas de paz, em torno das quais os homens podem chegar a
acordo. Essas normas são aquelas que (...) se chamam leis da natureza”
(Hobbes) (Ibidem, p.214). |
No estado de natureza
os homens são bons, carregando consigo a bondade. Mas nem tudo é perfeito,
como se poderá ver na imposição do primeiro contrato sobre os mais fracos. “O
verdadeiro fundador da sociedade civil foi o primeiro que, tendo cercado um
terreno, lembrou-se de dizer isto é meu e encontrou pessoas suficientemente
simples para acredita-lo” (Rousseau) (Idem ibidem, p. 228). No EMÍLIO, por
exemplo, propõe um retorno à natureza. |
SOCIEDADE |
A sociedade não é
confiável, cabendo ao governante buscar mais ser temido que amado: “(...)é
muito mais seguro ser temido que amado, quando se tenha que falhar numa das
duas” (Maquiavel, idem). |
More imagina uma
sociedade ideal, que habita na ilha de Utopia, justa e íntegra, em que os
bens sociais são postos a serviço de todos. Nela também a ciência é
desenvolvida e está a serviço de todos. |
A sociedade
formou-se a partir do momento em que as pessoas abdicaram do poder sobre si
mesmas, em favor de um governante, cujos poderes seriam absolutos e
incontestáveis. |
A sociedade formou-se
a partir do momento em que os mais poderosos tomaram terras e bens antes
coletivos e impuseram um contrato injusto que todos deveriam aceitar. |
GOVERNANTE |
Maquiavel apresenta
em seu livro um comentário sobre o poder, sem idealização, o poder real e os
meios de consegui-lo e mantê-lo. O príncipe (governante) deve ser poderoso,
temível e astuto: “(...)cada príncipe deve desejar ser tido como piedoso e
não como cruel” (Maquiavel, id.ibid.p.208), mas usar de forma conveniente tal
piedade. |
O governo de Utopia
é justo, não se deixando levar pela corrupção, mas preocupado com o bem da
coletividade. Modelo: o governo que aparece na República, de Platão, e
seguramente as comunidades cristãs primitivas (More conhecia bem o pensamento
cristão). |
O governante pode
ser um rei ou uma assembleia, dispondo de poder absoluto, inclusive sobre a
vida e a morte dos súditos em nome do bem do Estado e da sociedade. Nele
unem-se o poder civil e religioso. Deve ser astuto, conservando o poder que
lhe foi dado pelos súditos. |
Um novo CONTRATO
SOCIAL é necessário, onde o governante seja representante da maioria, a
partir do pacto social e da vontade geral. A soberania, de fato, não é “senão
o exercício da vontade geral. (...) O poder pode transmitir-se; não, porém, a
vontade.” (J.J. Rousseau) (Ide. Ibid., p. 229) |
PODER |
O príncipe
(governante) não deve dividir o poder, mas cuidar para que ele permaneça em
suas mãos. E é necessário que ele “aprenda a poder ser mal e que se valha ou
deixe de valer-se disso segundo a necessidade” (Maquiavel) (p. 209) |
O poder, em Utopia,
é posto a serviço, efetivamente, de toda a sociedade, do bem comum. |
O poder do
governante é absoluto, incontestável e indivisível, tendo em vista a entrega
do poder que cada tinha um sobre si para ele. E tem também o poder de punir
quem quer que conteste seu poder. |
O poder, com o novo
contrato social, deve emanar do pacto social e da vontade geral (vontade da
maioria). A vontade geral, isto é, da maioria dos cidadãos, é inalienável e
deve ser respeitada pelo governante. |
AÇÕES |
O príncipe deve ser
dotado de VIRTÙ: conjunto de “qualidades necessárias para manter seu estado e
conseguir grandes coisas” (Cary Nederman [CN]). Também a FORTUNA: acaso,
sorte, favorável ou desfavorável, força cega da natureza, fonte primária da
violência. A virtù “provê a habilidade de responder à fortuna a qualquer
tempo e de qualquer forma que seja necessária” (CN). |
As ações dos
governantes e da sociedade de Utopia dirigem-se ao bem coletivo, usando o
desenvolvimento técnico e científico a favor de todos. Todo mundo deve
trabalhar em prol da coletividade. |
O governante
poderoso deve zelar pela propriedade e pela vida das pessoas: “o pacto visa
garantir os interesses dos indivíduos, sua conservação e sua propriedade”
(Filosofando, 1994: p. 212). |
O novo contrato, o
CONTRATO SOCIAL, dever ser aceito livremente por todos, cujas bases devem ser
o pacto social (pacto ou acordo em que todos o que o aceitam deverão abdicar
de riquezas em benefício da coletividade) e a vontade geral (vontade da
maioria). |
(REFERÊNCIAS SIMPLES: Filosofando (Ed.
de 1994); Stanford Encyclopedia of Philosophy (verbete Niccolò
Machiavelli [CN]); Diálogo Ciências Humanas e Sociais Aplicadas.)
QUE IMPORTÂNCIA TEM O
PENSAMENTO DE THOMAS MORE PARA A SOCIOLOGIA? (Prof. José Antônio Brazão.)
Vale
lembrar que Thomas More imagina uma sociedade ideal, numa ilha chamada Utopia,
que era praticamente desconhecida na Europa e que não constava nos mapas e nos
relatos de então (ver o significado de Utopia). Uma sociedade justa, muito
desenvolvida em termos científicos e em termos humanitários, não havendo
miséria nem pobreza nela. Aí todos tinham que trabalhar pelo bem comum. Uma
sociedade com governantes justos. Onde não há fome. Pelo contrário, uma
sociedade que dispõe de conhecimentos, inclusive, de como incrementar a
produção agrícola.
Sociedades
ideais aparecem em Platão, no livro cristão Atos dos Apóstolos e até em Santo
Agostinho. Na época posterior e próxima de Thomas More, podem ser citados
Thomas Campanella (italiano) e Francis Bacon (inglês), que viriam, igualmente,
a imaginar sociedades ideais. Platão, pensador grego da antiguidade, sem sombra
de dúvida, por meio de A República, veio a influenciar significativamente
pensadores posteriores, como Agostinho, More, Campanella e F. Bacon. Platão
havia proposto uma cidade (pólis, gr.) ideal, governada por filósofos e
filósofas, protegida por guardiões e guardiãs, dos quais seriam separados(as)
os melhores para um preparo intelectual maior, além do militar que já
dispunham, para gerenciar a cidade, também a classe mantenedora, composta por
agricultores, artesãos e comerciantes. A justiça, para Platão, estaria em cada
um fazer aquilo de que está incumbido bem feito e em prol do bem coletivo (de
todos). Na cidade de Platão, governo injusto não haveria.
As
ideias de todos esses homens, por sua vez, influenciariam decisivamente a
formação das ideias de sociedade socialista de socialistas utópicos e
socialistas científicos. Socialistas chamados “utópicos” pelos socialistas
científicos eram aqueles que queriam mudanças na sociedade, uma sociedade
socialista, justa para todos, mas sem embate direto entre classes. Os
socialistas científicos, Karl Marx e Friedrich Engels, são assim chamados por
se basearem no estudo e na interpretação da história. É importante lembrar que
viam a história como algo conflituoso, fruto da luta contínua entre diferentes
classes sociais. Para eles, a sociedade socialista somente seria possível
havendo uma luta armada de trabalhadores contra os capitalistas, derrubando
estes e instaurando a ditadura do proletariado. Com o tempo, uma sociedade
socialista.
Vale
lembrar, igualmente, que o pensamento do socialismo científico teve impacto na
posterior eclosão da Revolução Russa, na Revolução Chinesa e em outras
revoluções do século XX, principalmente. Daí a importância de se estudar também
Thomas More no interior do pensamento sociológico, dada a influência de seu
livro Utopia e de sua crença na possibilidade de uma sociedade justa e
igualitária, ainda que utópica. E por tratar de sociedade, envolve-se, mais
ainda, com o pensamento sociológico.
REFERÊNCIAS:
Nederman, Cary, "Niccolò Machiavelli", The
Stanford Encyclopedia of Philosophy (Summer 2022 Edition), Edward N. Zalta
(ed.), URL =
<https://plato.stanford.edu/archives/sum2022/entries/machiavelli/>
ROMEIRO, Julieta et alii. Diálogo
Ciências Humanas e Sociais Aplicadas. São Paulo, Moderna, 2020. (Seis
volumes) (Livros didáticos.)
SILVA, Afrânio et alii. Sociologia em
Movimento. (Manual do Professor) 2.ed. São Paulo, Moderna, 2017.
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