domingo, 21 de maio de 2023

SEGUNDO BIMESTRE - AULA 17 DE SOCIOLOGIA DOS SEGUNDOS ANOS A, B, C e D: THOMAS MORE (THOMAS MORUS) (1478 – 1535) (Prof. José Antônio Brazão.)

  

SECRETARIA DE SEGURANÇA PÚBLICA/SECRETARIA DE EDUCAÇÃO

COMANDO DE ENSINO POLICIAL MILITAR

 CEPMG - VASCO DOS REIS

Divisão de Ensino / Coordenação Pedagógica


SEGUNDO BIMESTRE

AULA 17 DE SOCIOLOGIA DOS SEGUNDOS ANOS A, B, C e D:

THOMAS MORE (THOMAS MORUS) (1478 – 1535) (Prof. José Antônio Brazão.):

*Pensador e escritor inglês.

*Viveu na época das grandes navegações, do Renascimento e da Reforma Protestante. (Ver no quadrinho.)

*Humanista.

*Homem extremamente culto, sabia diversas línguas, inclusive.

*De acordo com tradução contida na World History Encyclopedia:

“Sir Thomas More (1478-1535) foi um advogado, erudito, estadista e Lorde Chanceler de Henrique VIII da Inglaterra (r. 1509-1547) que acabou executado em Julho de 1535 pela recusa em endossar a separação da Igreja da Inglaterra da Igreja Católica de Roma. Os elevados princípios de More também o colocaram em desacordo quanto ao divórcio entre o rei e sua primeira esposa, Catarina de Aragão (1485-1536) e, especialmente, a autopromoção de Henrique como líder máximo da Igreja da Inglaterra, ao invés do Papa. Mesmo antes de sua carreira política era conhecido como escritor e erudito. Sua obra mais famosa atualmente é Utopia, que traz uma descrição filosófica de uma sociedade ideal situada numa ilha. Thomas More foi santificado em 1935 pela Igreja Católica.” (CARTWRIGHT, Mark. Sir Thomas More. Disponível em: < https://www.worldhistory.org/trans/pt/1-18889/sir-thomas-more/ > Acesso em 20/05/2023. Tradução de Ricardo Albuquerque.)

*Como se pode ver, Thomas More foi um homem que aliou profundamente a cultura, a religião, o trabalho muito sério com a política e seus princípios éticos e religiosos.

*Numa época de muitas injustiças, principalmente para com os grupos mais pobres da sociedade inglesa e europeia, More denunciou essas injustiças e vislumbrou a possibilidade de uma sociedade justa, como bem mostra no livro UTOPIA – palavra composta, a partir do grego, de U-, que indica negação (NÃO), e TOPOS, lugar. Ao pé da letra (literalmente): Utopia é um “Não lugar”, “lugar nenhum”, dando a ideia de que a sociedade ideal presente na ilha de Utopia, na verdade, não se tinha em lugar nenhum, material, existindo como possibilidade imaginária e desejada, sem dúvida. Ainda mais desejada por um cristão praticante como Thomas More.

*IMAGENS:

Conjunto 1:

https://pt.wikipedia.org/wiki/Thomas_More#/media/Ficheiro:Hans_Holbein_d._J._065.jpg

Conjunto 2:

https://en.wikipedia.org/wiki/Thomas_More#/media/File:Hans_Holbein,_the_Younger_-_Sir_Thomas_More_-_Google_Art_Project.jpg

TEMA: SOCIEDADE E POLÍTICA – OS PENSADORES E A POLÍTICA. (RESUMIDO) (Prof. José Antônio Brazão.)

ASPECTOS

NICOLAU MAQUIAVEL

(SÉC. XV\XVI)

THOMAS MORE

(SÉC. XVI)

THOMAS HOBBES

(SÉC. XVII)

JEAN-JACQUES ROUSSEAU

(SÉC. XVIII)

LIVRO

O PRÍNCIPE.

UTOPIA.

LEVIATÃ.

O CONTRATO SOCIAL.

CONTEXTO HISTÓRICO (REALIDADE)

Os homens são ingratos, inconstantes e não confiáveis. Maquiavel não idealiza as pessoas, parte da realidade e dos conhecimentos de casos históricos que conhecia. Maquiavel era um leitor assíduo dos antigos. “(...)quanto ao exercício do pensamento, o príncipe dever ler histórias de países e considerar as ações dos grandes homens, observar como se conduziram nas guerras, examinar as razões de suas vitórias e derrotas, para poder fugir destas e imitar aquelas.” (Maquiavel, trecho de O Príncipe, citado no livro Filosofando, ed. 1994: p. 208).

A sociedade europeia de seu século manifestava, ao mesmo tempo, a euforia da riqueza advinda das grandes navegações, mas também os cercamentos para produção de lã e o empobrecimento de muita gente, em parte expulsa do campo por conta desses cercamentos. More vê  a realidade injusta da sociedade europeia de seu tempo (miséria, pobreza, conflitos) e sobre isto reflete bem. Tendo um olhar racional e cristão (era católico praticante).

No estado de natureza os homens são verdadeiros lobos uns dos outros (Homo homini lupus = O homem é o lobo do homem). O conflito é constante e põem em risco a vida das pessoas. “As paixões que fazem os homens tender para a paz são o medo da morte, o desejo daquelas coisas que são necessárias para a vida confortável e a esperança de consegui-las através do trabalho. E a razão sugere adequadas normas de paz, em torno das quais os homens podem chegar a acordo. Essas normas são aquelas que (...) se chamam leis da natureza” (Hobbes) (Ibidem, p.214).

No estado de natureza os homens são bons, carregando consigo a bondade. Mas nem tudo é perfeito, como se poderá ver na imposição do primeiro contrato sobre os mais fracos. “O verdadeiro fundador da sociedade civil foi o primeiro que, tendo cercado um terreno, lembrou-se de dizer isto é meu e encontrou pessoas suficientemente simples para acredita-lo” (Rousseau) (Idem ibidem, p. 228). No EMÍLIO, por exemplo, propõe um retorno à natureza.

SOCIEDADE

A sociedade não é confiável, cabendo ao governante buscar mais ser temido que amado: “(...)é muito mais seguro ser temido que amado, quando se tenha que falhar numa das duas” (Maquiavel, idem).

More imagina uma sociedade ideal, que habita na ilha de Utopia, justa e íntegra, em que os bens sociais são postos a serviço de todos. Nela também a ciência é desenvolvida e está a serviço de todos.

A sociedade formou-se a partir do momento em que as pessoas abdicaram do poder sobre si mesmas, em favor de um governante, cujos poderes seriam absolutos e incontestáveis.

A sociedade formou-se a partir do momento em que os mais poderosos tomaram terras e bens antes coletivos e impuseram um contrato injusto que todos deveriam aceitar.

GOVERNANTE

Maquiavel apresenta em seu livro um comentário sobre o poder, sem idealização, o poder real e os meios de consegui-lo e mantê-lo. O príncipe (governante) deve ser poderoso, temível e astuto: “(...)cada príncipe deve desejar ser tido como piedoso e não como cruel” (Maquiavel, id.ibid.p.208), mas usar de forma conveniente tal piedade.

O governo de Utopia é justo, não se deixando levar pela corrupção, mas preocupado com o bem da coletividade. Modelo: o governo que aparece na República, de Platão, e seguramente as comunidades cristãs primitivas (More conhecia bem o pensamento cristão).

O governante pode ser um rei ou uma assembleia, dispondo de poder absoluto, inclusive sobre a vida e a morte dos súditos em nome do bem do Estado e da sociedade. Nele unem-se o poder civil e religioso. Deve ser astuto, conservando o poder que lhe foi dado pelos súditos.

Um novo CONTRATO SOCIAL é necessário, onde o governante seja representante da maioria, a partir do pacto social e da vontade geral. A soberania, de fato, não é “senão o exercício da vontade geral. (...) O poder pode transmitir-se; não, porém, a vontade.” (J.J. Rousseau) (Ide. Ibid., p. 229)

PODER

O príncipe (governante) não deve dividir o poder, mas cuidar para que ele permaneça em suas mãos. E é necessário que ele “aprenda a poder ser mal e que se valha ou deixe de valer-se disso segundo a necessidade” (Maquiavel) (p. 209)

O poder, em Utopia, é posto a serviço, efetivamente, de toda a sociedade, do bem comum.

O poder do governante é absoluto, incontestável e indivisível, tendo em vista a entrega do poder que cada tinha um sobre si para ele. E tem também o poder de punir quem quer que conteste seu poder.

O poder, com o novo contrato social, deve emanar do pacto social e da vontade geral (vontade da maioria). A vontade geral, isto é, da maioria dos cidadãos, é inalienável e deve ser respeitada pelo governante.

AÇÕES

O príncipe deve ser dotado de VIRTÙ: conjunto de “qualidades necessárias para manter seu estado e conseguir grandes coisas” (Cary Nederman [CN]). Também a FORTUNA: acaso, sorte, favorável ou desfavorável, força cega da natureza, fonte primária da violência. A virtù “provê a habilidade de responder à fortuna a qualquer tempo e de qualquer forma que seja necessária” (CN).

As ações dos governantes e da sociedade de Utopia dirigem-se ao bem coletivo, usando o desenvolvimento técnico e científico a favor de todos. Todo mundo deve trabalhar em prol da coletividade.

O governante poderoso deve zelar pela propriedade e pela vida das pessoas: “o pacto visa garantir os interesses dos indivíduos, sua conservação e sua propriedade” (Filosofando, 1994: p. 212).

O novo contrato, o CONTRATO SOCIAL, dever ser aceito livremente por todos, cujas bases devem ser o pacto social (pacto ou acordo em que todos o que o aceitam deverão abdicar de riquezas em benefício da coletividade) e a vontade geral (vontade da maioria).

(REFERÊNCIAS SIMPLES: Filosofando (Ed. de 1994); Stanford Encyclopedia of Philosophy (verbete Niccolò Machiavelli [CN]); Diálogo Ciências Humanas e Sociais Aplicadas.)

[Nederman, Cary, "Niccolò Machiavelli", The Stanford Encyclopedia of Philosophy (Summer 2022 Edition), Edward N. Zalta (ed.), URL = <https://plato.stanford.edu/archives/sum2022/entries/machiavelli/>. ]

QUE IMPORTÂNCIA TEM O PENSAMENTO DE THOMAS MORE PARA A SOCIOLOGIA? (Prof. José Antônio Brazão.)

Vale lembrar que Thomas More imagina uma sociedade ideal, numa ilha chamada Utopia, que era praticamente desconhecida na Europa e que não constava nos mapas e nos relatos de então (ver o significado de Utopia). Uma sociedade justa, muito desenvolvida em termos científicos e em termos humanitários, não havendo miséria nem pobreza nela. Aí todos tinham que trabalhar pelo bem comum. Uma sociedade com governantes justos. Onde não há fome. Pelo contrário, uma sociedade que dispõe de conhecimentos, inclusive, de como incrementar a produção agrícola.

Sociedades ideais aparecem em Platão, no livro cristão Atos dos Apóstolos e até em Santo Agostinho. Na época posterior e próxima de Thomas More, podem ser citados Thomas Campanella (italiano) e Francis Bacon (inglês), que viriam, igualmente, a imaginar sociedades ideais. Platão, pensador grego da antiguidade, sem sombra de dúvida, por meio de A República, veio a influenciar significativamente pensadores posteriores, como Agostinho, More, Campanella e F. Bacon. Platão havia proposto uma cidade (pólis, gr.) ideal, governada por filósofos e filósofas, protegida por guardiões e guardiãs, dos quais seriam separados(as) os melhores para um preparo intelectual maior, além do militar que já dispunham, para gerenciar a cidade, também a classe mantenedora, composta por agricultores, artesãos e comerciantes. A justiça, para Platão, estaria em cada um fazer aquilo de que está incumbido bem feito e em prol do bem coletivo (de todos). Na cidade de Platão, governo injusto não haveria.

As ideias de todos esses homens, por sua vez, influenciariam decisivamente a formação das ideias de sociedade socialista de socialistas utópicos e socialistas científicos. Socialistas chamados “utópicos” pelos socialistas científicos eram aqueles que queriam mudanças na sociedade, uma sociedade socialista, justa para todos, mas sem embate direto entre classes. Os socialistas científicos, Karl Marx e Friedrich Engels, são assim chamados por se basearem no estudo e na interpretação da história. É importante lembrar que viam a história como algo conflituoso, fruto da luta contínua entre diferentes classes sociais. Para eles, a sociedade socialista somente seria possível havendo uma luta armada de trabalhadores contra os capitalistas, derrubando estes e instaurando a ditadura do proletariado. Com o tempo, uma sociedade socialista.

Vale lembrar, igualmente, que o pensamento do socialismo científico teve impacto na posterior eclosão da Revolução Russa, na Revolução Chinesa e em outras revoluções do século XX, principalmente. Daí a importância de se estudar também Thomas More no interior do pensamento sociológico, dada a influência de seu livro Utopia e de sua crença na possibilidade de uma sociedade justa e igualitária, ainda que utópica. E por tratar de sociedade, envolve-se, mais ainda, com o pensamento sociológico.

REFERÊNCIAS:

Nederman, Cary, "Niccolò Machiavelli", The Stanford Encyclopedia of Philosophy (Summer 2022 Edition), Edward N. Zalta (ed.), URL = <https://plato.stanford.edu/archives/sum2022/entries/machiavelli/>

ROMEIRO, Julieta et alii. Diálogo Ciências Humanas e Sociais Aplicadas. São Paulo, Moderna, 2020. (Seis volumes) (Livros didáticos.)

SILVA, Afrânio et aliiSociologia em Movimento. (Manual do Professor) 2.ed. São Paulo, Moderna, 2017.

 

 

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