COMANDO DE
ENSINO POLICIAL MILITAR
CEPMG -
VASCO DOS REIS
Divisão de
Ensino / Coordenação Pedagógica
SEGUNDO BIMESTRE
AULA 17 DE FILOSOFIA DOS PRIMEIROS ANOS:
PLATÃO (428/427 – 348/347 a.C.) (Prof. José A. Brazão.):
PRIMEIROS ANOS:
SÓCRATES e PLATÃO (Prof. José Antônio Brazão.)
Obs.: Não
demorar muito em Sócrates (no início).
FILOSOFIA
GREGA – PLATÃO:
Texto: A alegoria da caverna – A República (514a-517c)
Imagem 1: Cavernas:
https://pt.wikipedia.org/wiki/Caverna#/media/Ficheiro:Alabama_cave_2005-04-24.km.jpg
Sócrates: Agora imagine a nossa natureza, segundo o
grau de educação que ela recebeu ou não, de acordo com o quadro que vou fazer.
Imagine, pois, homens que vivem em uma morada subterrânea em forma de caverna.
A entrada se abre para a luz em toda a largura da fachada. Os homens estão no
interior desde a infância, acorrentados pelas pernas e pelo pescoço, de modo
que não podem mudar de lugar nem voltar a cabeça para ver algo que não esteja
diante deles. A luz lhes vem de um fogo que queima por trás deles, ao longe, no
alto. Entre os prisioneiros e o fogo, há um caminho que sobe. Imagine que esse
caminho é cortado por um pequeno muro, semelhante ao tapume que os exibidores
de marionetes dispõem entre eles e o público, acima do qual manobram as
marionetes e apresentam o espetáculo.
Glauco: Entendo.
IMAGENS (Marionetes):
Sócrates: Então, ao longo desse pequeno muro,
imagine homens que carregam todo o tipo de objetos fabricados, ultrapassando a
altura do muro; estátuas de homens, figuras de animais, de pedra, madeira ou
qualquer outro material. Provavelmente, entre os carregadores que desfilam ao
longo do muro, alguns falam, outros se calam.
Imagem 2: Alegoria (Mito) da Caverna. [Alegoria = comparação; no caso,
comparação com a vida real. Mito = história, relato.]
Conjunto 1:
Conjunto 2:
Glauco: Estranha descrição e estranhos
prisioneiros!
Sócrates: Eles são semelhantes a nós. Primeiro, você
pensa que, na situação deles, eles tenham visto algo mais do que as sombras de
si mesmos e dos vizinhos que o fogo projeta na parede da caverna à sua frente?
Glauco: Como isso seria possível, se durante toda
a vida eles estão condenados a ficar com a cabeça imóvel?
Sócrates: Não acontece o mesmo com os objetos que
desfilam?
Glauco: É claro.
Sócrates: Então, se eles pudessem conversar, não
acha que, nomeando as sombras que veem, pensariam nomear seres reais?
Glauco: Evidentemente.
Sócrates: E se, além disso, houvesse um eco vindo da
parede diante deles, quando um dos que passam ao longo do pequeno muro falasse,
não acha que eles tomariam essa voz pela da sombra que desfila à sua frente?
Glauco: Sim, por Zeus.
Sócrates: Assim sendo, os homens que estão nessas
condições não poderiam considerar nada como verdadeiro, a não ser as sombras
dos objetos fabricados.
Glauco: Não poderia ser de outra forma.
Imagem 3: Alegoria ou Mito da Caverna:
https://it.wikipedia.org/wiki/Mito_della_caverna#/media/File:Platon_Cave_Sanraedam_1604.jpg
Sócrates: Veja agora o que aconteceria se eles
fossem libertados de suas correntes e curados de sua desrazão. Tudo não
aconteceria naturalmente como vou dizer? Se um desses homens fosse solto,
forçado subitamente a levantar-se, a virar a cabeça, a andar, a olhar para o
lado da luz, todos esses movimentos o fariam sofrer; ele ficaria ofuscado e não
poderia distinguir os objetos, dos quais via apenas as sombras anteriormente.
Na sua opinião, o que ele poderia responder se lhe dissessem que, antes, ele só
via coisas sem consistência, que agora ele está mais perto da realidade,
voltado para objetos mais reais, e que está vendo melhor? O que ele responderia
se lhe designassem cada um dos objetos que desfilam, obrigando-o com perguntas,
a dizer o que são? Não acha que ele ficaria embaraçado e que as sombras que ele
via antes lhe pareceriam mais verdadeiras do que os objetos que lhe mostram
agora?
Imagem 4: Mito ou Alegoria da Caverna.
https://psiconlinews.com/wp-content/uploads/2017/06/mito-da-caverna.jpg
Glauco: Certamente, elas lhe pareceriam mais
verdadeiras. Sócrates: E se o forçassem a olhar para a própria luz, não achas
que os olhos lhe doeriam, que ele viraria as costas e voltaria para as coisas
que pode olhar e que as consideraria verdadeiramente mais nítidas do que as
coisas que lhe mostram?
Glauco: Sem dúvida alguma.
Sócrates: E se o tirarem de lá à força, se o
fizessem subir o íngreme caminho montanhoso, se não o largassem até arrastá-lo
para a luz do sol, ele não sofreria e se irritaria ao ser assim empurrado para
fora? E, chegando à luz, com os olhos ofuscados pelo brilho, não seria capaz de
ver nenhum desses objetos, que nós afirmamos agora serem verdadeiros.
Glauco: Ele não poderá vê-los, pelo menos nos
primeiros momentos.
Sócrates: É preciso que ele se habitue, para que
possa ver as coisas do alto. Primeiro, ele distinguirá mais facilmente as
sombras, depois, as imagens dos homens e dos outros objetos refletidas na água,
depois os próprios objetos. Em segundo lugar, durante a noite, ele poderá
contemplar as constelações e o próprio céu, e voltar o olhar para a luz dos astros
e da lua mais facilmente que durante o dia para o sol e para a luz do sol.
Glauco: Sem dúvida.
Sócrates: Finalmente, ele poderá contemplar o sol,
não o seu reflexo nas águas ou em outra superfície lisa, mas o próprio sol, no
lugar do sol, o sol tal como é.
Glauco: Certamente.
Sócrates: Depois disso, poderá raciocinar a respeito
do sol, concluir que é ele que produz as estações e os anos, que governa tudo
no mundo visível, e que é, de algum modo a causa de tudo o que ele e seus
companheiros viam na caverna.
Glauco: É indubitável que ele chegará a essa
conclusão.
Sócrates: Nesse momento, se ele se lembrar de sua
primeira morada, da ciência que ali se possuía e de seus antigos companheiros,
não acha que ficaria feliz com a mudança e teria pena deles?
Glauco: Claro que sim.
Sócrates: Quanto às honras e louvores que eles se
atribuíam mutuamente outrora, quanto às recompensas concedidas àquele que fosse
dotado de uma visão mais aguda para discernir a passagem das sombras na parede
e de uma memória mais fiel para se lembrar com exatidão daquelas que precedem
certas outras ou que lhes sucedem, as que vêm juntas, e que, por isso mesmo,
era o mais hábil para conjeturar a que viria depois, acha que nosso homem teria
inveja dele, que as honras e a confiança assim adquiridas entre os companheiros
lhe dariam inveja? Ele não pensaria antes, como o herói de Homero, que mais
vale “viver como escravo de um lavrador” e suportar qualquer provação do que
voltar à visão ilusória da caverna e viver como se vive lá?
Glauco: Concordo com você. Ele aceitaria qualquer
provação para não viver como se vive lá.
Imagem 5: https://psiconlinews.com/wp-content/uploads/2017/06/mito-da-caverna.jpg
Sócrates: Reflita ainda nisto: suponha que esse
homem volte à caverna e retome o seu antigo lugar. Desta vez, não seria pelas
trevas que ele teria os olhos ofuscados, ao vir diretamente do sol?
Glauco: Naturalmente.
Sócrates: E se ele tivesse que emitir de novo um
juízo sobre as sombras e entrar em competição com os prisioneiros que
continuaram acorrentados, enquanto sua vista ainda está confusa, seus olhos
ainda não se recompuseram, enquanto lhe deram um tempo curto demais para
acostumar-se com a escuridão, ele não ficaria ridículo? Os prisioneiros não
diriam que, depois de ter ido até o alto, voltou com a vista perdida, que não
vale mesmo a pena subir até lá? E se alguém tentasse retirar os seus laços,
fazê-los subir, você acredita que, se pudessem agarrá-lo e executá-lo, não o
matariam?
Glauco: Sem dúvida alguma, eles o matariam.
Imagem 6: As Sombras da Vida, com Piteco (de Maurício de Sousa).
Sócrates: E agora, meu caro Glauco, é preciso
aplicar exatamente essa alegoria ao que dissemos anteriormente. Devemos
assimilar o mundo que apreendemos pela vista à estada na prisão, a luz do fogo
que ilumina a caverna à ação do sol. Quanto à subida e à contemplação do que há
no alto, considera que se trata da ascensão da alma até o lugar inteligível, e
não te enganarás sobre minha esperança, já que desejas conhecê-la. Deus sabe se
há alguma possibilidade de que ela seja fundada sobre a verdade. Em todo o
caso, eis o que me aparece tal como me aparece; nos últimos limites do mundo
inteligível aparece-me a ideia do Bem, que se percebe com dificuldade, mas que
não se pode ver sem concluir que ela é a causa de tudo o que há de reto e de
belo. No mundo visível, ela gera a luz e o senhor da luz, no mundo inteligível
ela própria é a soberana que dispensa a verdade e a inteligência. Acrescento
que é preciso vê-la se quer comportar-se com sabedoria, seja na vida privada,
seja na vida pública.
Glauco: Tanto quanto sou capaz de compreender-te,
concordo contigo.
Imagem 7: Platão aponta para o Mundo das Ideias (Formas perfeitas de tudo que
existe) ou Mundo Inteligível (percebido pelo pensamento). Imutável, perfeito,
eterno.
https://en.wikipedia.org/wiki/Idea#/media/File:Plato-raphael.jpg
Imagem 8: Mundo Sensível (mundo percebido pelos 5 sentidos): Natureza. Este
mundo é, segundo Platão, uma cópia imperfeita do Mundo das Ideias. Mutável,
imperfeito, sujeito ao devir (vir a ser, transformação) de todas as coisas.
https://pt.wikipedia.org/wiki/Natureza#/media/Ficheiro:44_-_Iguazu_-_D%C3%A9cembre_2007.jpg
Imagem 9: Mundo Sensível (mundo percebido pelos 5 sentidos): Cidade. Este mundo
é, segundo Platão, uma cópia imperfeita do Mundo das Ideias. Mutável, imperfeito, sujeito ao devir (vir a ser, transformação) de
todas as coisas.
https://pt.wikipedia.org/wiki/Cidade#/media/Ficheiro:Colosseum_in_Rome,_Italy_-_April_2007.jpg
(Referência: A Alegoria da caverna: A Republica, 514a-517c tradução de
Lucy Magalhães. In: MARCONDES, Danilo. Textos
Básicos de Filosofia: dos Pré-socráticos a Wittgenstein. 2a ed. Rio de
Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2000. Disponível em: http://www.usp.br/nce/wcp/arq/textos/203.pdf Acesso em 11/08/2020.)
De acordo com Platão, o mundo sensível foi elaborado, a partir da
matéria pré-existente, pelo Demiurgo, um ser divino que, observando a beleza do
Mundo das Ideias, quis copiar as Ideias (FORMAS) eternas e perfeitas, fazendo
outras cópias com a matéria de que dispunha. (Prof. José A. B.)
Imagem 10: Demiurgo.
https://lidianefranqui.com.br/o-demiurgo-platonico-e-a-geracao-da-vida-cosmica/
Como a alma pode se desprender do mundo sensível e
elevar-se ao Mundo das Ideias? Através da lembrança daquilo que ela, alma,
outrora contemplou no Inteligível, antes de ser enviada ao mundo das coisas
sensíveis, materiais, imperfeitas. A alma precisa elevar-se das coisas
sensíveis até as Ideias, chegando à visão ou lembrança do BEM, a Ideia mais
perfeita. O que a pode ajudar? A contemplação e o aprendizado. Através da
vivência de uma vida reta também (veja o final do texto de Platão, acima).
(Prof. José Antônio Brazão.)
Imagem 11:
Contemplação.
Imagem 12:
Aprendizado.
VÍDEO CURTO:
“[Episódio] 05 - Ser Ou Não Ser - Platão, O Mito Da Caverna - Viviane Mosé -
Fantástico.flv” . Disponível em:
https://www.youtube.com/watch?v=ei-kSPL4Lg4
REFERÊNCIAS:
ARANHA, Maria L. de A. e MARTINS, Maria H.
P. Filosofando: Introdução à Filosofia.
4.ed. São Paulo, Moderna, 2009.
CHAUÍ, Marilena. Iniciação à
Filosofia. 3.ed. São Paulo, Ática, 2017.
PLATÃO. Críton
ou Do Dever. Disponível em: < http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/cv000015.pdf > Acesso em 02 de maio de 2021.
PLATÃO. Críton
ou Do Dever. Em audiobook (áudio-livro). Disponível em: < https://www.youtube.com/watch?v=zEV56ncVeKM > Acesso em 02 de maio de 2021.
PLATÃO. Fédon ou da Imortalidade da
Alma. Disponível em: < http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/cv000031.pdf > Acesso em 09 de maio de 2021.
WIKIPÉDIA. Página Principal. Disponível em: < https://pt.wikipedia.org/wiki/Wikip%C3%A9dia:P%C3%A1gina_principal > Acesso em 07 de março de 2021.
WIKIPÉDIA. Helena (mitologia). Disponível em: < https://pt.wikipedia.org/wiki/Helena_(mitologia) > Acesso em 11 de abril de 2021.
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