COMANDO DE
ENSINO POLICIAL MILITAR
CEPMG -
VASCO DOS REIS
Divisão de
Ensino / Coordenação Pedagógica
SEGUNDO BIMESTRE
AULA 16 DE FILOSOFIA DOS PRIMEIROS ANOS:
RESUMO SOBRE SÓCRATES e DISCUSSÕES EM TORNO DE SUA EXISTÊNCIA (Prof. José Antônio Brazão.)
REVISÃO:
RESUMO SOBRE A VIDA DE SÓCRATES (Prof. José
Antônio Brazão.)
*Desenvolvimento maior das póleis (plural de
pólis, cidade-estado) gregas.
*Período Antropológico da Filosofia Grega (destaques:
séculos V/IV a.C.):
*Sofistas
(vários).
*Sócrates.
*Platão.
*Aristóteles.
*Época de presença cada vez maior do teatro
grego.
*Antropo (grego): homem, ser humano.
*Preocupações com questões humanas.
*No período pré-socrático (período também
chamado cosmológico): preocupação com a formação do cosmos, a busca da arque
(arché), do princípio (ou conjunto de princípios) fundante(s) de toda a
realidade.
*Agora, maior ênfase em questões ligadas à
cidade, um dos lugares de vivência humana: política, ética, sociedade, valores,
amor, etc. Preocupação com a política, de modo especial.
*Os sofistas eram professores-filósofos e
cobravam pelo ensino, destacando o ensino da retórica e da dialética.
*Uso do LOGOS, termo grego que significa:
palavra, discurso, razão. [Explicar.]
*O LOGOS já estava presente nos pré-socráticos
(Tales, Pitágoras e outros). Mas aqui, neste período antropológico, é palavra
posta em debates, discussões, usada na busca do poder de influenciar pessoas e
do poder nas cidades.
*Sócrates surge nessa época, cidadão da cidade
de Atenas.
*Querefonte: visita ao Templo de Delfos,
consulta o Oráculo de Delfos, onde se adorava Apolo/Hélios, deus grego do Sol.
*O Oráculo de Delfos diz a Querefonte que seu
amigo Sócrates seria o homem mais sábio do mundo.
*Ao saber, Sócrates fica curioso, vendo-se
como um homem como outros, mas o deus não mentiria, haveria alguma razão,
talvez uma missão. (Ver comentário de Sócrates na Apologia de Sócrates, livro de Platão.)
*Sócrates põe-se a dialogar, a conversar, com
jovens e outras pessoas, políticos, militares, poetas, sofistas e outros (Ver
Diálogos de Platão), em diferentes lugares da cidade de Atenas: ruas, praças,
casas, entre outros. Até com Diotima (filósofa) ele debateu, de acordo com O
Banquete, de
Platão.
*Método dialógico de Sócrates: duas partes
principais – a ironia e a maiêutica.
*Ironia: pergunta ao interlocutor – resposta –
outra pergunta, e assim por diante, até levar à confusão e à derrubada de
respostas prontas e tradicionais.
*Maiêutica: por meio do diálogo, da boa
conversa, em sequência à primeira parte e de modo fluido, Sócrates buscava
parir (partejar) ideias novas na mente de cada interlocutor, em volta de outros
que ali estavam.
*Inimigos surgiram, incomodados com a postura
crítica de Sócrates e acabaram por leva-lo ao Tribunal de Atenas (a Helieia).
*Acusações: (1)Ensinar coisas erradas aos
jovens. (2)Não adorar os deuses da cidade de Atenas e apregoar divindades
estrangeiras. (Ver Apologia de Sócrates, de Platão, e Defesa
de Sócrates, de Xenofonte).
*Sócrates se defende, mas acaba condenado à
morte.
*Na prisão, de acordo com Críton e Fédon,
livros de Platão, passou rodeado de amigos e defendeu a necessidade do
cumprimento do dever e das leis da cidade, bem como a crença na imortalidade da
alma.
*No último dia, na hora do cumprimento da
sentença, diante de amigos e do carcereiro, tomou cicuta, um veneno que era
dado a presos sentenciados à morte naqueles tempos.
*De acordo com o Fédon, segundo um amigo que
testemunhou a morte de Sócrates e que a relatou a Platão, ali morria o melhor,
o mais honesto e justo homem do mundo.
DISCUSSÃO:
*Questão nascida de um questionamento feito
por um estudante em aula anterior.
*Professor: resumir na exposição e no debate
coletivo com cada turma e propor o texto como leitura.
SÓCRATES EXISTIU DE FATO OU É UMA PERSONAGEM DE
PLATÃO? (Prof.
José Antônio Brazão.)
Uma questão que se
coloca, por vezes, em reuniões de professores e professoras de Filosofia ou
dentro de sala de aula, no estudo das ideias de Sócrates e de sua vida é acerca
de sua real existência. Sócrates, com certeza, é mencionado em três escritores
do passado grego: Platão, Xenofonte e o teatrólogo Aristófanes (As Nuvens).
Sócrates é tido,
comumente, por mestre de Platão e Xenofonte, sobre os quais teria exercido
influência no estilo de expor ideias, com destaque para o debate, mas também
uma influência em termos de moral, de valores humanos, pois aparece, por
exemplo, em Platão, constantemente debatendo questões diversas, em sua maioria
de conteúdo moral. Aristófanes satiriza sua figura na peça As Nuvens.
Tomando Platão e
Xenofonte. Ambos são escritores, são filósofos. Expressam-se, em seus escritos,
com brilhantismo e maestria. Do primeiro temos, ainda, várias obras, do
segundo, um número menor. O ato de escrever envolve, sem dúvida, conhecimento
da língua, destreza para articular ideias, construir pensamentos escritos,
dentre outras qualidades para que se possa ser um bom escritor. A escrita
manifesta valores aprendidos e desenvolvidos, ao longo da vida, em uma pessoa,
por meio das palavras, dos exemplos, das leituras, das experiências vividas,
convivências. Tais valores podem ser de grupos e até mesmo da classe social a
que se pertence, ainda que não estejam presos necessariamente a esta ou
àqueles, podendo ir além ou aquém. Ora, é preciso, portanto, que alguém tenha
ensinado àqueles escritores, filósofos, e até mesmo Aristófanes passou por
aprendizado.
Platão e Xenofonte, para
falar dos mais detalhados a tratar de Sócrates, passaram, desde pequenos,
por aprendizados diversos, aprenderam a leitura em língua grega (talvez também
línguas estrangeiras daquele tempo, pois Platão, por exemplo, conta na Carta
Sétima, ter feito viagens por lugares diferentes), desenvolveram o
conhecimento de muitas palavras escritas e faladas, precisaram aprender a
articulá-las de forma ordenada, com certa retórica, de forma dialética (Platão,
para citar novamente, criou diversos diálogos!). Tomaram contato com a música,
a matemática, rudimentos de astronomia, dentre outros conhecimentos, muitos dos
quais aprendidos com mestres (quem sabe, também com mestras, tias, mães, o que
pode não ser impossível).
Vale lembrar que, naquele
tempo (séculos V\IV a.C.), andavam pela Grécia também os sofistas, professores
itinerantes de retórica, dialética e outras sutilezas no uso da linguagem,
muito procurados por jovens, em sua maioria abastados, que queriam sair-se bem
nas artes de falar bem e de convencer, podendo, com isto, convencer e
conquistar pessoas nas assembleias e locais onde se exercia o poder. Na
Grécia Antiga havia ainda os pedagogos (literalmente, do grego: condutores de
crianças), escravos que conduziam as crianças às escolas. Famílias ricas punham
tutores para os filhos. Portanto, para o menino e, depois, jovem Platão não
faltaram mestres, professores.
Além do mais, os
livros de Platão e de Xenofonte expõem valores ético-políticos que eram ideais
para a política grega. Aqueles em que Sócrates se encontra como personagem
principal demonstram também bem isto. Por exemplo: A República, Apologia
de Sócrates, Críton, Fédon e outros. A
oposição de Platão à corrupção e sua não concordância com os erros de políticos
de sua família que estavam no poder denotam a não aceitação de algumas
situações degradantes da política ateniense e, por extensão, de outras
cidades-estados da Grécia Antiga. Havia, sem dúvida, muita corrupção naqueles
tempos.
Ora, valores éticos não
nascem por acaso. São aprendidos, seja pela educação familiar, pelo contato com
pessoas que os ensinam e os vivem, pela observação de pessoas que os praticam,
seja até mesmo por meio da educação formal e ainda por meio
do testemunho de pessoas que tiveram coragem de dar a vida em defesa
dos valores éticos e políticos em que acreditavam. É certo que a imagem de
Sócrates que aparece nos escritos platônicos é a de um homem ético e muito
preocupado com a política e o bem-estar da cidade-estado, mais especificamente,
Atenas e, por extensão, de toda a Grécia, homem com o qual Platão e outros
teriam aprendido muito e a quem muito respeitavam, conforme aqueles escritos. E
estes escritos nos mostram que Platão cultivava aqueles valores e
empenhou-se por defende-los em seus textos e que, portanto, os aprendeu, ao
longo da vida, seja com um Sócrates real, seja (também) com outras
pessoas preocupadas com a ética na vida política e social.
Grande parte dos
representantes da filosofia ocidental aceitou e aceita como fato a existência
real de Sócrates. Sem dúvida, em sua imagem, transmitida por filósofos e
escritores de seu tempo (ver os três citados, além de Aristóteles, em cuja
obra, aqui e ali aparece o nome de Sócrates) e de depois (Sêneca, por exemplo,
o menciona), estão representados ideais, valores e práticas que propunham
mudanças nas práticas políticas e nas crenças existentes no mundo grego de seu
tempo. Curiosamente, a filosofia grega, antiga, tradicionalmente, tem seus filósofos
pré-socráticos (anteriores a Sócrates) e pós-socráticos (posteriores a
Sócrates, com destaque para os do período helenístico). Com certeza, o que
aconteceu na filosofia grega entre os séculos V e IV a.C., período em que é
traçada, datada, a vida de Sócrates, foi fundamental para o pensamento
ocidental, deixando marcas na história da filosofia ocidental poucos séculos
depois de seus primórdios e até depois, ou melhor, até hoje! Ademais, vale
lembrar que tradições costumam ser fortes, mas podem ser questionáveis!
Copérnico e Galileu questionaram o geocentrismo e sua tradição
(transmissão) e fizeram descobertas fundamentais. Dúvidas e questões
enriquecem debates, fazem pensar, refletir, levando a um entendimento maior e
até a descobertas, como se pode ver. Vale lembrar que, quando se questiona a
existência real de Sócrates, também se põe em questionamento toda uma tradição
que a defende. Contudo, todo questionamento faz pensar, rever, buscar
respostas, descobrir algo novo que enriquece o conhecimento humano!
Um fato realíssimo é que
em torno da figura de Sócrates e a partir dela formou-se, desde o passado, uma
longa tradição na filosofia ocidental, que chega aos tempos atuais, formou-se e
vem se formando. Não um super-herói, nem um ser divino, nem um mago, mas um
homem: pobre, ex-soldado, que, não aceitando orgulhosamente, com ares de
superioridade, a afirmação délfica de sábio, buscava a verdade através do
debate, da curiosidade, não aceitando também respostas prontas e pré-definidas,
mas empenhando-se para que seus interlocutores se expressassem melhor e que,
principalmente, agissem melhor, se tornassem cidadãos e cidadãs melhores,
buscando um bem maior: o da pólis, da cidade-estado. Um homem que, por sua
coragem de enfrentar de usar a ironia e a maiêutica, de querer partejar algo de
novo de dentro das pessoas, acabou entrando em choque com homens presos ao
status quo, que o acusaram e fizeram de tudo para o levarem à morte. Um homem
que formou um grupo de discípulos e amigos. Um homem que, até o fim, quis levar
seus discípulos a não se desanimarem, mas se manterem como cidadãos respeitosos
às leis e confiantes na existência da eternidade. Um homem, um grande filósofo,
uma grande tradição carregada de valores humanísticos e éticos. Essa imagem e a
própria história da filosofia apontam para a vitalidade socrática.
Nesse tempo,
cidades-estados (póleis, plural de pólis - daí: política) cresciam, a
agricultura continuava a base da economia, juntamente com o comércio em
expansão. Com os debates políticos e a busca de ascensão no âmbito do poder,
sofistas (professores-filósofos itinerantes, pagos) preparavam jovens que
dispunham de condições e, particularmente, de famílias ricas e influentes
(Platão era de uma dessas famílias, em Atenas), para os embates que teriam de
enfrentar em assembleias e órgãos do estado (da cidade-estado), ensinando-os e
aprimorando-lhes os conhecimentos da dialética, retórica e outras artes
fundamentais às funções políticas. Xenofonte e, principalmente, Platão mostram
Sócrates discutindo com eles, com argumentos e contra-argumentos. De acordo com
a Apologia [Defesa] de Sócrates, de Platão, o mestre não cobrava pelo
ensino nas ruas e locais diversos da cidade de Atenas, onde debatia com jovens
e outros. É certo que, naquele contexto, homens precisaram fazer uso da
palavra, da habilidade de discussão, defesa e ataque de ideias, bem como de
valores. Os sofistas eram relativistas, isto é, relativizavam valores. Os
grandes filósofos, que a eles chegaram a contrapor-se, tiveram que buscar a
fundamentação de valores e até mesmo da verdade e do conhecimento. Platão e
Xenofonte aprenderam com alguém, ou melhor, com diferentes pessoas, desde os
conhecimentos elementares com a família e na educação básica, até níveis mais
amplos de aprendizagem e argumentação, com certeza.
Um outro fato, a ágora,
espaço público de debates que havia em Atenas e em outras cidades da
antiguidade grega e, depois, helenística, dava espaço para que pensadores, como
o Sócrates que aparece nos diálogos daqueles filósofos (Xenofonte e,
especialmente, Platão) e nas Nuvens, peça teatral de Aristófanes (teatrólogo),
surgissem, sendo ouvidos por jovens e adultos, incluindo, certamente, mulheres.
Ademais, debates dos mais diversos tipos eram feitos em festas, reuniões e
encontros, em casas de famílias abastadas, naquele tempo - Sócrates, por
exemplo, aparece debatendo em casas de amigos, com sofistas e outras pessoas
(ex.: Diotima, uma pensadora, no Banquete, de Platão, sobre o amor); depois de
um culto, Sócrates encontra-se com amigos, em uma casa, onde debate sobre a
justiça e outros temas éticos-políticos, na República, de Platão. Esses
registros, literários-filosóficos, apontam para o fato de que debates
daqueles tipos eram comuns na Grécia antiga e Platão - até mesmo Xenofonte e
outros - foi (foram) participante(s), como ouvinte(s) de debatedores (como
foi dito, o Sócrates de Platão foi um grande debatedor) e devem ter
entrado em tais debates.
Não há, aqui, qualquer
interesse em pôr fim à discussão, muito rica, posta, de tempos em tempos, pela
questão acima. Apenas acrescentar elementos que possam ajudar professores e
professoras do Ensino Médio, em sala de aula, em seus debates com as turmas de
estudantes. E vale a pena uma boa pesquisa de livros que tratam de
Sócrates ou se referem a ele, desde livros didáticos até mais complexos, além,
é claro, dos filósofos e escritores da história da filosofia que o apresentam.
Ademais, é fundamental que a referida discussão continue, possibilitando assim
o acréscimo de novidades e descobertas ricas para o pensamento filosófico.
REFERÊNCIAS:
BRAZÃO,
José Antônio. SÓCRATES
EXISTIU DE FATO OU É UMA PERSONAGEM DE PLATÃO? Disponível em: < http://filosofianodia-a-dia.blogspot.com/2014/01/socrates-existiu-de-fato-ou-e-uma.html > Acesso em 14/05/2023.
ROMEIRO, Julieta et alii. DIÁLOGO Ciências Humanas e Sociais Aplicadas. São Paulo, Moderna, 2020. (Seis volumes.)
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