segunda-feira, 20 de março de 2023

SEGUNDO BIMESTRE - AULA 8 DE TÓPICOS DE CIÊNCIAS HUMANAS: A AGRICULTURA E A PECUÁRIA EM GOIÁS: (Prof. José Antônio Brazão.)

  

SECRETARIA DE SEGURANÇA PÚBLICA/SECRETARIA DE EDUCAÇÃO

COMANDO DE ENSINO POLICIAL MILITAR

 CEPMG - VASCO DOS REIS

Divisão de Ensino / Coordenação Pedagógica


SEGUNDO BIMESTRE - AULA 8 DE TÓPICOS DE CIÊNCIAS HUMANAS:

A AGRICULTURA E A PECUÁRIA EM GOIÁS (Prof. José Antônio Brazão.):

A construção da capital Goiânia, como foi visto antes, foi de grande importância para que Goiás tomasse até mesmo novos rumos, seja em termos de comercialização, de agricultura e comércio. Uma cidade, inclusive, com áreas de lazer populares. Para se poder entender a vida da capital e de muitas cidades interioranas que se formaram com o passar das décadas, é mister (é necessário) buscar uma compreensão da importância e do peso da agricultura e da pecuária, bem como a constituição das mesmas, particularmente, desde o século XIX até hoje.

Para iniciar o estudo da agropecuária goiana, vale citar, aqui, um trecho do texto Pequena História da Agropecuária Goiana:

“Após o longo período de letargia coletiva, como classificou Palacin [pesquisador e estudioso da história de Goiás]  a fase da desilusão criada pelo ouro, os imensos campos em volta dos arraiais coloniais foram sendo ocupados – mais de forma ilegal que legalmente, conforme enfatizara Nasr Chaul [outro importante pesquisador e estudioso da história de Goiás] – pelos antigos mineiros. Segundo este autor, ‘quando a mineração dava os seus últimos sopros, não restava outra opção aos mineiros senão a ocupação das áreas próximas aos antigos centros mineradores. Apossaram-se das terras, requereram sesmarias, e procuraram legalizá-las (valendo mais a posse que a lei), com o intuito de desenvolver uma agricultura básica que alimentasse a si e aos seus’. Assim, desde aquele momento, com ou sem consentimento legal, pode-se dizer que a agricultura e a pecuária tornaram-se a principal e mais importante atividade econômica permanente da ex-Capitania de minas e, até hoje, marcam as relações econômicas, sociais e políticas de Goiás, tanto para os que têm muito – os grandes proprietários e produtores rurais –, como para os que pouco ou nada têm – os pequenos agricultores familiares e os trabalhadores sem terras. Entretanto, para chegarem ao ponto em que chegaram, essas duas atividades conheceram caminhos espinhosos, porque a agricultura, antes de se transformar em atividade comercial e altamente moderna, só alimentava as pessoas em volta dos pequenos arraiais, e a pecuária, antes de se transformar em intensiva e altamente científica e tecnológica, foi praticada extensivamente, à solta, sobre as imensas pastagens naturais.” (NETO, Antônio Teixeira. Pequena história da agropecuária goiana. Disponível em: < https://files.cercomp.ufg.br/weby/up/215/o/teixeira_neto_ant_nio_pequena_hist_agropecu_ria.pdf > Acesso em 18/03/2023. Pp.7-8.)

Ao longo do tempo da descoberta do ouro em Goiás e da expansão da sociedade goiana, mas também antes com a exploração progressiva do bandeirantismo e a formação de pequenos vilarejos, a agricultura e a pecuária viriam a ser fundamentais na manutenção da alimentação e da vida de muitas pessoas, inclusive em termos de comércio. Uma agricultura e uma pecuária que eram, originalmente, de subsistência, mas que viriam a crescer e a tomar vulto com o passar dos últimos séculos.

Vale lembrar que, quando a mineração entra em decadência, a agricultura e a pecuária, como o comércio em parte, é que manterão de pé a economia de Goiás, ainda que não tão forte quanto hoje, mas que teve seu peso. Com efeito, muita gente não estava envolvida diretamente com a mineração, ou seja, nem todo mundo era garimpeiro ou dono de garimpo. A agricultura e a pecuária contribuíram para o fornecimento do necessário à mineração, sem sombra de dúvida. Com a mineração entrando em falência progressiva, quem tinha terras e uma vida estabelecida, seja no campo ou nos vilarejos e pequenas cidades não quis sair daí. Veja-se o comentário mais abaixo também.

Mais um trecho a citar do texto já apresentado:

“(...)Todas as outras atividades – o comércio, sobretudo – dependiam direta e indiretamente do que era duramente produzido na roça e nos pastos. Social, política e economicamente, as oligarquias que exerceram por muito tempo o poder em terras goianas provinham do meio rural, e a figura mais representativa dessa classe poderosa – como nos mostrou Francisco Itami Campo em sua mais importante obra sobre as origens agrárias da sociedade goiana –, sem dúvida, é a do Coronel. Ao escrever sobre a história de nossa terra, não há como ignorar o coronelismo como a forma de exercício do poder que melhor retrata as relações políticas e sociais de nossa sociedade, sobretudo no campo. Aliás, o coronelismo se situa na base de uma das questões sociais mais emblemáticas [significativas, importantes], senão a mais emblemática, de nosso tempo: a reforma agrária e o movimento que a ela está intimamente associado – o dos trabalhadores sem terras, cuja sigla – MST – soa como um flagelo para a grande burguesia.” (NETO, Antônio Teixeira. Op. Cit., pp. 8-9.) [O que está entre chaves é meu, para esclarecimento de termos.]

Do texto acima, vale destacar dois pontos importantes: a dependência, com o tempo, do comércio em relação à agricultura e a pecuária; a formação de uma oligarquia coronelista. De fato, como foi estudado no ano passado, com a decadência progressiva e o fim do período de produção do ouro em Goiás, o que viria a manter Goiás de pé seriam a agricultura e a pecuária, principalmente, e o comércio que, como o texto apresenta, dependia também de ambas. Mas o que era produzido em Goiás, no século XIX e que, sem dúvida, permaneceria em parte ou no todo no século XX? Um texto do visitante europeu AUGUSTE DE SAINT-HILAIRE, ao falar da Fazenda Babilônia, dá uma excelente dica. Para lembrar de um estudo outrora feito em sala de aula, veja-se o que ele diz:

“Durante minha permanência na casa do comandante de Meia-Ponte [antigo nome de Pirenópolis] [Comandante Joaquim Alves de Oliveira] visitei as várias dependências de sua fazenda, o chiqueiro, o paiol, o moinho de farinha, o local onde era ralada a mandioca e onde ficava instalada a máquina de descaroçar o algodão, a fábrica de fiação, etc. etc., e em toda parte encontrei uma ordem e uma limpeza incomparáveis. Os fornos do engenho-de-açúcar não tinham sido feitos de acordo com as especificações da técnica moderna. Seu aquecimento era feito pelo lado de fora, o que pelo menos tornava menos penosa para os trabalhadores a operação de cozimento. Um tambor horizontal movido a água punha em movimento doze pequenas máquinas de descaroçar algodão. Era também a água a máquina de ralar mandioca, da qual darei aqui uma descrição. A casa onde se achava instalada era construída sobre estacas e embaixo do assoalho fora colocada uma roda em posição horizontal, que era movida pela água que caía de uma calha em plano inclinado. O eixo da roda atravessava o assoalho e se elevava até certa altura, tendo na extremidade outra roda horizontal cujo aro era revestido por um ralo de metal. O eixo e a roda superior ficavam encaixados dentro de um quadrado formado por quatro estacas, cada uma das quais tinha uma chanfradura na parte interna, ao nível do ralo. Quando a roda começava a girar, quatro pessoas seguravam as mandiocas, encaixando-as nas chanfraduras [aberturas]. Tendo esse ponto de apoio, seus braços podiam manter-se firmes e a ação da máquina não sofria interrupção.

Numa parte de suas terras o comandante de Meia-Ponte tinha deixado de lado o método primitivo adotado geralmente pelos brasileiros em suas lavouras. Passara a usar o arado e adubava a terra com o bagaço da cana. Dessa forma não havia necessidade de queimar novas matas todo ano. A cana era replantada sempre no mesmo terreno, que ficava situado perto da casa para facilitar a supervisão do dono e poupar tempo aos escravos. O açúcar e a cachaça eram vendidos em Meia-Ponte e Vila Boa, mas o algodão era exportado para o Rio de Janeiro e Bahia. Joaquim Alves foi o primeiro, como já disse, a demonstrar a vantagem dessas exportações, e seu exemplo foi seguido por vários outros colonos. Por ocasião de minha viagem ele estava planejando aumentar ainda mais suas plantações de algodão e tinha intenção de instalar no próprio arraial de Meia-Ponte uma descaroçadora, bem como uma fiação onde pretendia empregar as mulheres e as crianças sem trabalho. Depois de descaroçado, o algodão da região, cuja qualidade é excelente, era vendido no local a 3.000 réis a arroba. O transporte de Meia-Ponte à Bahia custava 1.800 réis a arroba, e até o Rio de Janeiro 2.000. O lucro obtido com as exportações a esse preço era tão garantido que Joaquim Alves não vacilara em se oferecer para comprar, à razão der 3.000 réis, o algodão produzido por todos os agricultores das redondezas.

Ao dedicar sua atenção a um produto que podia ser exportado com proveito, o comandante de Meia-Ponte incentivava seus compatriotas a tomar novos rumos, indicando-lhes o que devia ser feito para arrancar sua região do estado de penúria em que a mergulhara uma exportação do ouro mal orientada. Enquanto ele agia de maneira prática, vários de seus concidadãos afirmavam que só havia salvação para a província numa ideia absurda apresentada por Luís Antônio da Silva e Souza. Segundo eles, a única maneira de deter a decadência sempre crescente da província seria impedir a saída do ouro para fora de suas fronteiras, criando-se para isso uma moeda provincial. Poder-se-ia argumentar, entretanto, que se essa moeda não tivesse valor como metal não haveria força humana capaz de lhe dar algum crédito. Se, pelo contrário, ela fosse de cobre, de ouro ou de prata, acabaria saindo da província de uma forma ou outra, por mais rigorosa que fosse a proibição, como acontecem todos os dias com o ouro em pó. Uma vez fora de suas fronteiras, porém, ela só seria aceita pelo seu valor intrínseco, e em consequência os comerciantes de Goiás passarão a vender suas mercadorias por um preço que compense a sua desvalorização. O ouro adulterado que circula em Goiás já pode ser considerado uma espécie de moeda provincial, pois só é aceito ali, e quando o comerciante o remete para fora ele se vê obrigado a reduzi-lo ao seu valor real, purificando-o, para em seguida reajustar os seus preços de acordo com a redução de peso sofrida pelo ouro.” (SAINT-HILAIRE, Auguste de. Relato de viagem do naturalista francês August Saint-Hilarie durante a sua estada na Fazenda Babilônia em 1819. Disponível em: < https://fazendababilonia.com.br/arquivo/saint-hilarie > Acesso em 18/03/2023.) (Tudo que está entre colchetes e grifado/negritado é meu.)

Como se pode ver, no texto, entre os elementos que fizeram parte da agropecuária goiana, além da criação de bois, havia: a criação de porcos (chiqueiros), milho (paiol), mandioca, algodão e cana de açúcar. Curiosamente, já naquele tempo, havia uma preocupação do comandante e dono da fazenda Babilônia em aplicar métodos modernos de cultivo e de produção na fazenda: adubação com bagaço de cana, máquinas de descaroçar algodão, de moer a cana e a mandioca, entre outros cuidados que outros fazendeiros e produtores rurais não tinham e pelos quais aquele homem se destacou.

Outro ponto do texto, quando Saint-Hilaire fala em “decadência sempre crescente da província” (grifo meu). Com certeza, uma decadência advinda da redução da produção aurífera, já detectada naquele tempo, primeira metade do século XIX. A agricultura e a pecuária teriam, como já foi dito, destaque importantíssimo na afirmação da economia goiana, não permitindo que ela viesse a afundar com o fim da mineração. Produção para venda interna, mas também externa: “O transporte de Meia-Ponte à Bahia custava 1.800 réis a arroba, e até o Rio de Janeiro 2.000. O lucro obtido com as exportações a esse preço era tão garantido que Joaquim Alves não vacilara em se oferecer para comprar, à razão der 3.000 réis, o algodão produzido por todos os agricultores das redondezas” (SAINT-HILAIRE, Auguste de. Texto acima citado.).

Curiosamente, já se vê no texto, uma marca do que viria a ser o coronelismo em Goiás, com a menção da expressão “comandante de Meia-Ponte [Pirenópolis]”, isto é, um homem que dispunha de prestígio, poder e influência em uma cidade e numa região de Goiás. Com o crescimento das fazendas, ao longo dos séculos XIX e XX, principalmente, então se estabeleceria o coronelismo, que deixou marcas profundas nas três primeiras décadas da República brasileira em Goiás e, sem dúvida, no restante do Centro-Oeste.

Com o passar do tempo, entre os séculos XIX e XX, a produção agropecuária viria a aumentar progressivamente.

Só para se ter uma ideia, hoje, Goiás tem as seguintes produções principais, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE):

“Maior valor de produção: Soja, 2021.

Maior quantidade produzida, Cana-de-açúcar, 2021.

Maior rebanho

Galináceos

2021

Ranking - Agricultura - Valor da produção (2021)

(1) Soja

(2) Milho em grão

(3) Cana-de-açúcar

(4) Sorgo

(5) Tomate

(6) Alho

(7) Banana

(8) Algodão herbáceo

(9) Batata

(10)       Cebola

(11)       Outros.

Ranking - Pecuária - Rebanhos (2021)

Galináceos

98.363.163 Cabeças

Bovinos (Bois e Vacas)

24.293.954 Cabeças

Suínos (Porcos)

1.592.498 Cabeças

Codornas

521.795 Cabeças

Equinos (Cavalos)

393.676 Cabeças

Ovinos (Ovelhas e Carneiros)

129.293 Cabeças

Caprinos (Bodes e Cabras)

36.464 Cabeças

Bubalinos (Búfalos)

20.898 Cabeças

Fontes

PAM: Valor da produção, Quantidade produzida, Area colhida, Rendimento médio, Maior produtor

PPM: Tamanho do rebanho, Maior produtor”

(FONTE: IBGE. Produção Agropecuária – Goiás. Disponível em: < https://www.ibge.gov.br/explica/producao-agropecuaria/go > Acesso em 18/03/2023.) [O que foi enumerado entre parênteses: a enumeração foi feita por mim, para fins didáticos.]

O que contribuiu para esse grande avanço, entre os séculos XIX e XXI? Se dúvida alguma, o desenvolvimento e uso de uma série de novas tecnologias, como máquinas, técnicas de produção, adubação, entre outras novidades continuamente incorporadas pela agricultura e a pecuária.

REFERÊNCIAS:

COMANDO DE ENSINO DA POLÍCIA MILITAR DE GOIÁS. APOSTILA DE CULTURA GOIANA. [Década de 2010.]

IBGE. Produção Agropecuária – Goiás. Disponível em: < https://www.ibge.gov.br/explica/producao-agropecuaria/go > Acesso em 18/03/2023.

NETO, Antônio Teixeira. Pequena história da agropecuária goiana. Disponível em: < https://files.cercomp.ufg.br/weby/up/215/o/teixeira_neto_ant_nio_pequena_hist_agropecu_ria.pdf > Acesso em 18/03/2023.

SAINT-HILAIRE, Auguste de. Relato de viagem do naturalista francês August Saint-Hilarie durante a sua estada na Fazenda Babilônia em 1819. Disponível em: < https://fazendababilonia.com.br/arquivo/saint-hilarie > Acesso em 18/03/2023.

 

 

 

 

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