COMANDO DE
ENSINO POLICIAL MILITAR
CEPMG -
VASCO DOS REIS
Divisão de
Ensino / Coordenação Pedagógica
SEGUNDO BIMESTRE - AULA 8 DE TÓPICOS DE
CIÊNCIAS HUMANAS:
A AGRICULTURA E A PECUÁRIA EM GOIÁS (Prof.
José Antônio Brazão.):
A construção da capital
Goiânia, como foi visto antes, foi de grande importância para que Goiás tomasse
até mesmo novos rumos, seja em termos de comercialização, de agricultura e
comércio. Uma cidade, inclusive, com áreas de lazer populares. Para se poder
entender a vida da capital e de muitas cidades interioranas que se formaram com
o passar das décadas, é mister (é necessário) buscar uma compreensão da
importância e do peso da agricultura e da pecuária, bem como a constituição das
mesmas, particularmente, desde o século XIX até hoje.
Para iniciar o estudo da
agropecuária goiana, vale citar, aqui, um trecho do texto Pequena História da
Agropecuária Goiana:
“Após o longo período de letargia coletiva, como
classificou Palacin [pesquisador e estudioso da história de Goiás] a fase da desilusão criada pelo ouro, os
imensos campos em volta dos arraiais coloniais foram sendo ocupados – mais de
forma ilegal que legalmente, conforme enfatizara Nasr Chaul [outro importante pesquisador e estudioso da história de
Goiás] – pelos antigos mineiros. Segundo este autor, ‘quando a mineração
dava os seus últimos sopros, não restava outra opção aos mineiros senão a
ocupação das áreas próximas aos antigos centros mineradores. Apossaram-se das
terras, requereram sesmarias, e procuraram legalizá-las (valendo mais a posse
que a lei), com o intuito de desenvolver uma agricultura básica que alimentasse
a si e aos seus’. Assim, desde aquele momento, com ou sem consentimento legal,
pode-se dizer que a agricultura e a pecuária tornaram-se a principal e mais
importante atividade econômica permanente da ex-Capitania de minas e, até hoje,
marcam as relações econômicas, sociais e políticas de Goiás, tanto para os que
têm muito – os grandes proprietários e produtores rurais –, como para os que
pouco ou nada têm – os pequenos agricultores familiares e os trabalhadores sem
terras. Entretanto, para chegarem ao ponto em que chegaram, essas duas
atividades conheceram caminhos espinhosos, porque a agricultura, antes de se
transformar em atividade comercial e altamente moderna, só alimentava as
pessoas em volta dos pequenos arraiais, e a pecuária, antes de se transformar
em intensiva e altamente científica e tecnológica, foi praticada
extensivamente, à solta, sobre as imensas pastagens naturais.” (NETO, Antônio Teixeira. Pequena história da agropecuária goiana. Disponível em: < https://files.cercomp.ufg.br/weby/up/215/o/teixeira_neto_ant_nio_pequena_hist_agropecu_ria.pdf > Acesso em 18/03/2023. Pp.7-8.)
Ao longo do tempo da
descoberta do ouro em Goiás e da expansão da sociedade goiana, mas também antes
com a exploração progressiva do bandeirantismo e a formação de pequenos
vilarejos, a agricultura e a pecuária viriam a ser fundamentais na manutenção
da alimentação e da vida de muitas pessoas, inclusive em termos de comércio.
Uma agricultura e uma pecuária que eram, originalmente, de subsistência, mas
que viriam a crescer e a tomar vulto com o passar dos últimos séculos.
Vale lembrar que, quando
a mineração entra em decadência, a agricultura e a pecuária, como o comércio em
parte, é que manterão de pé a economia de Goiás, ainda que não tão forte quanto
hoje, mas que teve seu peso. Com efeito, muita gente não estava envolvida
diretamente com a mineração, ou seja, nem todo mundo era garimpeiro ou dono de
garimpo. A agricultura e a pecuária contribuíram para o fornecimento do
necessário à mineração, sem sombra de dúvida. Com a mineração entrando em
falência progressiva, quem tinha terras e uma vida estabelecida, seja no campo
ou nos vilarejos e pequenas cidades não quis sair daí. Veja-se o comentário
mais abaixo também.
Mais um trecho a citar do
texto já apresentado:
“(...)Todas as outras atividades – o comércio,
sobretudo – dependiam direta e indiretamente do que era duramente produzido na
roça e nos pastos. Social, política e economicamente, as oligarquias que
exerceram por muito tempo o poder em terras goianas provinham do meio rural, e
a figura mais representativa dessa classe poderosa – como nos mostrou Francisco
Itami Campo em sua mais importante obra sobre as origens agrárias da sociedade
goiana –, sem dúvida, é a do Coronel. Ao escrever sobre a história de nossa
terra, não há como ignorar o coronelismo como a forma de exercício do poder que
melhor retrata as relações políticas e sociais de nossa sociedade, sobretudo no
campo. Aliás, o coronelismo se situa na base de uma das questões sociais mais
emblemáticas [significativas, importantes], senão a mais emblemática, de nosso
tempo: a reforma agrária e o movimento que a ela está intimamente associado – o
dos trabalhadores sem terras, cuja sigla – MST – soa como um flagelo para a
grande burguesia.” (NETO, Antônio Teixeira. Op. Cit., pp. 8-9.) [O que está
entre chaves é meu, para esclarecimento de termos.]
Do texto acima, vale
destacar dois pontos importantes: a dependência, com o tempo, do comércio em
relação à agricultura e a pecuária; a formação de uma oligarquia coronelista.
De fato, como foi estudado no ano passado, com a decadência progressiva e o fim
do período de produção do ouro em Goiás, o que viria a manter Goiás de pé
seriam a agricultura e a pecuária, principalmente, e o comércio que, como o
texto apresenta, dependia também de ambas. Mas o que era produzido em Goiás, no
século XIX e que, sem dúvida, permaneceria em parte ou no todo no século XX? Um
texto do visitante europeu AUGUSTE DE SAINT-HILAIRE, ao falar da Fazenda
Babilônia, dá uma excelente dica. Para lembrar de um estudo outrora feito em
sala de aula, veja-se o que ele diz:
“Durante minha permanência na casa do comandante de
Meia-Ponte [antigo nome de Pirenópolis] [Comandante Joaquim Alves de Oliveira]
visitei as várias dependências de sua fazenda, o chiqueiro, o paiol, o
moinho de farinha, o
local onde era ralada a mandioca e
onde ficava instalada a máquina de descaroçar o algodão, a fábrica de fiação, etc. etc., e em toda parte encontrei uma
ordem e uma limpeza incomparáveis. Os fornos do engenho-de-açúcar não tinham sido feitos de acordo com as
especificações da técnica moderna. Seu aquecimento era feito pelo lado de
fora, o que pelo menos tornava menos penosa para os trabalhadores a operação de
cozimento. Um tambor horizontal movido a água punha em movimento doze
pequenas máquinas de descaroçar algodão. Era também a água a máquina de ralar mandioca, da qual darei aqui uma descrição. A casa
onde se achava instalada era construída sobre estacas e embaixo do assoalho
fora colocada uma roda em posição horizontal, que era movida pela água que caía
de uma calha em plano inclinado. O eixo da roda atravessava o assoalho e se
elevava até certa altura, tendo na extremidade outra roda horizontal cujo aro
era revestido por um ralo de metal. O eixo e a roda superior ficavam encaixados
dentro de um quadrado formado por quatro estacas, cada uma das quais tinha uma
chanfradura na parte interna, ao nível do ralo. Quando a roda começava a girar,
quatro pessoas seguravam as mandiocas, encaixando-as nas chanfraduras
[aberturas]. Tendo esse ponto de apoio, seus braços podiam manter-se firmes e a
ação da máquina não sofria interrupção.
Numa parte de suas terras o comandante de Meia-Ponte tinha
deixado de lado o método primitivo adotado geralmente pelos brasileiros em suas
lavouras. Passara a usar o arado e adubava a terra com o bagaço da cana. Dessa
forma não havia necessidade de queimar novas matas todo ano. A cana era
replantada sempre no mesmo terreno, que ficava situado perto da casa para
facilitar a supervisão do dono e poupar tempo aos escravos. O açúcar
e a cachaça eram vendidos em Meia-Ponte e Vila Boa, mas o algodão era exportado para o Rio de Janeiro e
Bahia. Joaquim Alves foi o
primeiro, como já disse, a demonstrar a vantagem dessas exportações, e seu
exemplo foi seguido por vários outros colonos. Por ocasião de minha viagem ele
estava planejando aumentar ainda mais suas plantações de algodão e tinha intenção de instalar no próprio
arraial de Meia-Ponte uma descaroçadora, bem como uma fiação onde pretendia empregar as mulheres e as
crianças sem trabalho. Depois de descaroçado, o algodão da região, cuja
qualidade é excelente, era vendido no local a 3.000 réis a arroba. O transporte de Meia-Ponte à
Bahia custava 1.800 réis a arroba, e até o Rio de Janeiro 2.000. O lucro obtido
com as exportações a esse preço era tão garantido que Joaquim Alves não
vacilara em se oferecer para comprar, à razão der 3.000 réis, o algodão
produzido por todos os agricultores das redondezas.
Ao dedicar sua atenção a um produto que podia ser exportado com
proveito, o comandante de Meia-Ponte incentivava seus compatriotas a
tomar novos rumos, indicando-lhes o que devia ser feito para arrancar sua
região do estado de penúria em que a mergulhara uma exportação do ouro mal orientada. Enquanto ele agia de maneira prática, vários
de seus concidadãos afirmavam que só havia salvação para a província numa ideia
absurda apresentada por Luís Antônio da Silva e Souza. Segundo eles, a única
maneira de deter a decadência sempre crescente da província seria
impedir a saída do ouro para fora de suas fronteiras, criando-se para isso uma
moeda provincial. Poder-se-ia argumentar, entretanto, que se essa moeda não
tivesse valor como metal não haveria força humana capaz de lhe dar algum crédito.
Se, pelo contrário, ela fosse de cobre, de ouro ou de prata, acabaria saindo da
província de uma forma ou outra, por mais rigorosa que fosse a proibição, como
acontecem todos os dias com o ouro em pó. Uma vez fora de suas fronteiras,
porém, ela só seria aceita pelo seu valor intrínseco, e em consequência os
comerciantes de Goiás passarão a vender suas mercadorias por um preço que
compense a sua desvalorização. O ouro adulterado que circula em Goiás já pode
ser considerado uma espécie de moeda provincial, pois só é aceito ali, e quando
o comerciante o remete para fora ele se vê obrigado a reduzi-lo ao seu valor
real, purificando-o, para em seguida reajustar os seus preços de acordo com a
redução de peso sofrida pelo ouro.” (SAINT-HILAIRE, Auguste de. Relato de viagem do naturalista
francês August Saint-Hilarie durante a sua estada na Fazenda Babilônia em 1819. Disponível em: < https://fazendababilonia.com.br/arquivo/saint-hilarie > Acesso em 18/03/2023.) (Tudo que está
entre colchetes e grifado/negritado é meu.)
Como se pode ver, no
texto, entre os elementos que fizeram parte da agropecuária goiana, além da
criação de bois, havia: a criação de porcos (chiqueiros), milho (paiol),
mandioca, algodão e cana de açúcar. Curiosamente, já naquele tempo, havia uma
preocupação do comandante e dono da fazenda Babilônia em aplicar métodos
modernos de cultivo e de produção na fazenda: adubação com bagaço de cana,
máquinas de descaroçar algodão, de moer a cana e a mandioca, entre outros
cuidados que outros fazendeiros e produtores rurais não tinham e pelos quais
aquele homem se destacou.
Outro ponto do texto,
quando Saint-Hilaire fala em “decadência sempre crescente da província”
(grifo meu). Com certeza, uma decadência advinda da redução da produção
aurífera, já detectada naquele tempo, primeira metade do século XIX. A
agricultura e a pecuária teriam, como já foi dito, destaque importantíssimo na
afirmação da economia goiana, não permitindo que ela viesse a afundar com o fim
da mineração. Produção para venda interna, mas também externa: “O
transporte de Meia-Ponte à Bahia custava 1.800 réis a arroba, e até o Rio de
Janeiro 2.000. O lucro obtido com as exportações a esse preço era tão garantido
que Joaquim Alves não vacilara em se oferecer para comprar, à razão der 3.000
réis, o algodão produzido por todos os agricultores das redondezas” (SAINT-HILAIRE, Auguste
de. Texto acima citado.).
Curiosamente, já se vê no
texto, uma marca do que viria a ser o coronelismo em Goiás, com a menção da
expressão “comandante de Meia-Ponte [Pirenópolis]”, isto é, um homem que
dispunha de prestígio, poder e influência em uma cidade e numa região de Goiás.
Com o crescimento das fazendas, ao longo dos séculos XIX e XX, principalmente,
então se estabeleceria o coronelismo, que deixou marcas profundas nas três
primeiras décadas da República brasileira em Goiás e, sem dúvida, no restante
do Centro-Oeste.
Com o passar do tempo,
entre os séculos XIX e XX, a produção agropecuária viria a aumentar
progressivamente.
Só para se ter uma ideia,
hoje, Goiás tem as seguintes produções principais, de acordo com o Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE):
“Maior valor de produção: Soja, 2021.
Maior quantidade produzida, Cana-de-açúcar, 2021.
Maior rebanho
Galináceos
2021
Ranking - Agricultura - Valor da produção (2021)
(1) Soja
(2) Milho em grão
(3) Cana-de-açúcar
(4) Sorgo
(5) Tomate
(6) Alho
(7) Banana
(8) Algodão herbáceo
(9) Batata
(10)
Cebola
(11)
Outros.
Ranking - Pecuária - Rebanhos (2021)
Galináceos
98.363.163 Cabeças
Bovinos (Bois e Vacas)
24.293.954 Cabeças
Suínos (Porcos)
1.592.498 Cabeças
Codornas
521.795 Cabeças
Equinos (Cavalos)
393.676 Cabeças
Ovinos (Ovelhas e Carneiros)
129.293 Cabeças
Caprinos (Bodes e Cabras)
36.464 Cabeças
Bubalinos (Búfalos)
20.898 Cabeças
Fontes
PAM: Valor da produção, Quantidade produzida,
Area colhida, Rendimento médio, Maior produtor
PPM: Tamanho do rebanho, Maior produtor”
(FONTE: IBGE. Produção Agropecuária – Goiás.
Disponível em: < https://www.ibge.gov.br/explica/producao-agropecuaria/go > Acesso em 18/03/2023.) [O que foi
enumerado entre parênteses: a enumeração foi feita por mim, para fins
didáticos.]
O que contribuiu para
esse grande avanço, entre os séculos XIX e XXI? Se dúvida alguma, o
desenvolvimento e uso de uma série de novas tecnologias, como máquinas,
técnicas de produção, adubação, entre outras novidades continuamente
incorporadas pela agricultura e a pecuária.
REFERÊNCIAS:
COMANDO
DE ENSINO DA POLÍCIA MILITAR DE GOIÁS. APOSTILA DE CULTURA GOIANA. [Década de 2010.]
IBGE.
Produção Agropecuária – Goiás. Disponível em: < https://www.ibge.gov.br/explica/producao-agropecuaria/go > Acesso em 18/03/2023.
NETO,
Antônio Teixeira. Pequena história da agropecuária goiana. Disponível
em: < https://files.cercomp.ufg.br/weby/up/215/o/teixeira_neto_ant_nio_pequena_hist_agropecu_ria.pdf > Acesso em
18/03/2023.
SAINT-HILAIRE,
Auguste de. Relato de viagem do naturalista francês August Saint-Hilarie
durante a sua estada na Fazenda Babilônia em 1819. Disponível em: < https://fazendababilonia.com.br/arquivo/saint-hilarie > Acesso em 18/03/2023.
Nenhum comentário:
Postar um comentário