ANAXÁGORAS, LEUCIPO E DEMÓCRITO: OBSERVAÇÃO DE FENÔMENOS NATURAIS E CONCLUSÕES – ESTUDO PRELIMINAR: A OBSERVAÇÃO DA ÁGUA (Prof. José Antônio Brazão.)
Anaxágoras
de Clazômenas, Leucipo e Demócrito de Abdera, que viveram entre os séculos VI e
V a.C., filósofos da cultura grega, observando fenômenos cotidianos da
natureza, chegaram a conclusões similares e curiosas, que se resumem
basicamente em: tudo é feito de partículas minúsculas e que não podem ser
vistas a olhos nus, ou seja, invisíveis por conta do tamanho pequeníssimo.
Unir-se-iam, por meio de encaixes, formando todos os seres existentes, tudo que
existe.
Anaxágoras
chamava tais partículas homeomerias – de homo, da língua grega, igual, pois os
corpos por elas formados teriam qualidades que estariam, igualmente, nas
homeomerias que os estruturam. Leucipo e Demócrito definiram o termo átomo,
indivisível (grego: a-, não; tomo, divisão – basta lembrar dos tomos das
enciclopédias em bibliotecas comuns). Mas que fenômenos naturais teriam
contribuído para que chegassem à existência de partículas tão minúsculas, bem
antes que John Dalton e outros, bem posteriores pudessem ter redescoberto? Que
fenômenos e, certamente, experimentos simples podem ter feito?
Leucipo
e Demócrito ainda adicionaram um componente fundamental, o VAZIO. Aqui não
trataremos dele. Será objeto de outro estudo desses pensadores.
Vamos
tomar um componente simples da natureza, muito comum e sem o qual uma imensidão
de seres vivos não poderiam existir: a ÁGUA. A água está nos rios, nos lagos,
no copo d’água que se toma, no leite, nos oceanos, na neve, dentro do corpo
humano, nas nuvens e em muitos lugares. Ela tem a capacidade de se manter
líquida ou gasosa ou sólida (gelo), conforme a temperatura. Tales de Mileto,
bem antes dos três acima, já dissera que tudo teve sua origem na água e dela é
formado. Mas o que tem a água a ver com partículas minúsculas que se encaixa
formando seres?
Um
experimento do dia a dia pode ter contribuído para se ver que a água é feita de
partes minúsculas, capazes, depois, de se reunirem! Como? Numa vasilha de
metal, num fogão a lenha a queimar, coloque neve. De seu estado sólido a água
passa para o estado líquido. Até aí tudo bem, não houve divisão em minúsculas
partes. Mas mantenha o fogo, a água vai se tornar GÁS (estado gasoso) e se
dispersar pelo ar, indo até partes elevadas do céu azul. Dispersão é divisão, é
separação. Como? Em partes menores.
Observe
algo interessante e muito simples: a água em seu estado sólido (gelo) pode ser
tocada pelas mãos, que de neve ou de gelo podem se encher; para lavar o rosto,
é possível encher as mãos com água em seu estado líquido. Até aqui também tudo
bem. Mas coloque as mãos a certa altura da água a borbulhar dentro de uma
vasilha sobre o fogo. Você sentirá o vapor da água e até mesmo sentir a
umidade, mas não poderá segurar mais a água nas mãos, como fez com o punhado de
neve/gelo ou de água. Por quê? Porque partes cada vez menores de água se
separaram do líquido original e, como são mais leves [para usarmos uma
linguagem aristotélica], subiram para o alto.
Ademais,
o gelo pode ser visto, a água do rio ou da torneira (líquida) pode ser vista,
mas e a água evaporada, depois que se espalhou totalmente pelo ar e se elevou?
Portanto, Anaxágoras, Leucipo e Demócrito poderiam aí ter tido UMA evidência da
existência de partículas minúsculas e invisíveis – curiosamente, neste caso da
água evaporada, partículas que se espalham e se elevam. E da junção dessas
partículas? Mais uma observação simples, mas fruto da imensa curiosidade daqueles
homens: a formação das nuvens e a chuva.
Pessoas
comuns, por séculos e milênios, observaram o ressecamento de lagos e fontes de
água e, depois, a formação de nuvens e a queda de água advinda do céu azul.
Contudo, a mente aguçada e curiosa de Anaxágoras, Leucipo e Demócrito pode ter
ido além, e certamente foi: perceberam que a água é composta de partes
minúsculas [partículas] que, ao evaporar, não podem ser contidas pelas mãos ou
por uma vasilha em sua totalidade. Entretanto, o vapor de água se reúne com
outras partes evaporadas, cada parte minúscula e antes invisível se une a
outra, formando agrupamentos de nuvens.
Das
nuvens, curiosamente, por conta do ar, por cujas partes vazias (eis o VAZIO
aqui) têm que atravessar, as partes de água são divididas em GOTAS, compostas
de muitas partículas que antes eram vapor invisível, agora encaixadas umas nas
outras, por conta do peso, a cair na terra e voltarem a formar caudais de água,
até grandes enchentes de água líquida!
Esses
fenômenos relacionados à água, entre outros da natureza, parecidos, podem ter
contribuído e, com certeza, contribuíram para se ver, filosófica e
racionalmente (cientificamente), que tudo é formado de partes minúsculas
capazes de encaixar-se, separar-se e reagrupar-se.
O
próprio AR, sem o qual muitos seres vivos, incluindo o humano, podem vir a
óbito em poucos minutos, é composto de partes minúsculas e invisíveis, que se
agrupam, ainda que não se solidifiquem em temperaturas baixas comuns. As
partículas do ar seriam invisíveis por quê? Uma possível simples explicação:
porque estão espalhadas em meio ao vazio.
E
como o VAZIO pode ser constatado? Simples também: se não existisse o vazio não
seria possível caminhar por entre as incontáveis partículas de ar. Simples
ainda: não se pode atravessar uma parede, pois os espaços vazios entre os
tijolos são muito pequenos! Nada há que impeça, portanto, de se poder andar,
correr e até brincar ao ar livre. NADA, VAZIO. Se se olhar para frente,
para os lados e até para as regiões celestiais visíveis, é possível ver seres
dos mais diversos tipos, desde um simples cão até a Lua e outros astros, como
as longínquas estrelas. Nada impede de se ver. O vazio é real. A própria água –
até certo ponto, em um pequeno riacho se pode ver, dada sua transparência, mas
a partir de certa profundidade, não, o conjunto das partículas reunidas não
permite a partir dessa profundidade.
Não
se pode ver além de um bloco de gelo. Mas é possível ver através da água
líquida, como dito logo acima, e através da água evaporada, similarmente ao ar.
E o que diferencia o ar da água, poderiam ter-se perguntado Anaxágoras, Leucipo
e Demócrito? As formas das partículas (homeomerias ou átomos) que formam o ar e
a água, formas que interferem no modo como se encaixam as partículas formadoras
de cada, inclusive.
Além
disto, como a observação simples, mas atenta e curiosa, filosófica
(científica!), pode apontar: em meio ao sólido não se pode ver, em meio ao
líquido, até certa parte, por entre o gasoso, mais facilmente, embora seja
difícil se ver em meio à névoa ou à neblina – mas quando estas se espalham, a
visibilidade é possível. Outro fenômeno a apontar a existência de partículas
minúsculas, pois se pode atravessar a névoa ou a neblina.
E
outros líquidos, por que não permitem ver entre eles? Um chá escuro, por
exemplo? Um chá é feito de água e substâncias que liberam partículas que se
misturam entre os espaços vazios da água – e não se misturam no gelo
diretamente. No meio da água do chá, partículas de materiais que ali se
misturaram. Na antiguidade se tomavam chás e também infusões medicinais! O
próprio leite contém água e não se pode ver além dele. Por quê? Porque as
formas e os encaixes das partículas que formam a estrutura do leite são
diferentes, mas capazes de se entremearem na água, cujos espaços vazios, no
líquido, assim permitem.
Se
alguém perguntar como foi possível que homens da antiguidade foram capazes de
descobrir homeomerias e os átomos, partículas invisíveis a formar todos os
seres, muitos séculos antes de cientistas da Idade Moderna e do Mundo
Contemporâneo, este texto propõe parte da resposta, partindo da água e do ar,
com foco sobre a água. Por meio de observações simples, mas muito atentas e
curiosas além da conta, mais o desejo de conhecer a estrutura da realidade para
além do que as pessoas comuns estavam acostumadas.
Sem
dúvida, não se pode comparar a pesquisa filosófica de Anaxágoras, Leucipo e
Demócrito com as descobertas científicas de um pouco mais de dois mil anos
depois. Contudo, mostram o poder da razão humana, aliada à observação atenta e
até mesmo à imaginação, fundamentais à filosofia e também às demais ciências!
Quem
quiser conhecer as ideias desses primeiros filósofos gregos, acesse o seguinte
material:
Livro
OS FILÓSOFOS PRÉ-SOCRÁTICOS, de Gerd A. Bornheim, via Google Docs:
Também por meio de
uma pesquisa simples, via Google ou outro portal de pesquisa: Filósofos
Pré-Socráticos; Anaxágoras; Leucipo; Demócrito.
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