domingo, 12 de março de 2023

PRIMEIRO BIMESTRE - AULA 7 DE FILOSOFIA DOS PRIMEIROS ANOS. CONTEÚDO: OS PRIMEIROS FILÓSOFOS GREGOS. ZENÃO DE ELEIA (séc. V a.C.): (Prof. José Antônio Brazão.)

 

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COMANDO DE ENSINO POLICIAL MILITAR

 CEPMG - VASCO DOS REIS

Divisão de Ensino / Coordenação Pedagógica

PRIMEIRO BIMESTRE

AULA 7 DE FILOSOFIA DOS PRIMEIROS ANOS:

CONTEÚDO: OS PRIMEIROS FILÓSOFOS GREGOS

ZENÃO DE ELEIA (séc. V a.C.):  (Prof. José Antônio Brazão.)

Diálogo interdisciplinar com a Arte, a Sociologia e a História.

*Discípulo de Parmênides de Eleia.

*Defendeu as ideias de Parmênides quanto à ilusão da crença no movimento.

*O movimento é uma ilusão.

*Para provar a tese da ilusão do movimento, Zenão apresentou quatro argumentos. Vejamos:

ARGUMENTO 1:

“Fragmento 8 – Há quatro argumentos de Zenão sobre o movimento de dificuldades para quem os quiser resolver. No primeiro a impossibilidade do movimento é deduzida do seguinte modo: o móvel transportado deve atingir primeiro a metade antes de atingir o termo (...).” (BORNHEIM, 1998, p. 63).

Um esclarecimento preliminar: argumento é uma exposição (afirmação ou negação) que tem uma ideia ou sequência de ideias apresentada de forma a defender, reforçar ou derrubar uma outra ideia ou conjunto de ideias, uma teoria ou uma tese (afirmação).

A tese (afirmação) de Parmênides defendida por Zenão, como vimos antes, é que o movimento é uma ilusão ou, como o texto acima diz, uma “impossibilidade” (frag. 8 de Zenão de Eleia). De acordo com Parmênides, de fato, só o caminho do SER (eterno, perfeito, esférico, imóvel, ...) é que é verdadeiro.

O argumento de Zenão para comprovar a tese de Parmênides e sua crença na impossibilidade do movimento é que “o móvel transportado deve atingir primeiro a metade antes de atingir o termo” (frag. 8 de Zenão de Eleia). Como assim? Móvel é aquilo que move. Esse móvel é transportado – carregado ou impulsionado. “Termo”, aqui, é final, indicando o final do caminho. Entre o início do movimento e o seu “termo” (fim, ponto de chegada) há o meio do caminho (“a metade”). Se o movimento é o deslocamento de um lugar inicial a outro final, há uma metade do caminho (50%). Depois dessa metade, entre ela e o fim, há uma metade (25%). Depois desta segunda metade, há uma outra (12,5%), e assim por diante. Ora, de acordo com o argumento, tendo o móvel que atravessar metades, ainda que cada vez menores, jamais chegará ao fim (o “termo”). PORTANTO, isto prova que O MOVIMENTO É IMPOSSÍVEL.

IMAGENS (Zenão de Eleia):  https://en.wikipedia.org/wiki/Zeno_of_Elea

Conjunto 1 de slides:

https://en.wikipedia.org/wiki/Zeno_of_Elea#/media/File:Zeno_of_Elea_Tibaldi_or_Carducci_Escorial.jpg

Conjunto 2 de slides:

https://en.wikipedia.org/wiki/Zeno_of_Elea#/media/File:Zeno_Achilles_Paradox.png

ARGUMENTO 2:

Frag. 8 (contin.) – “O segundo [argumento] chama-se de Aquiles. É o seguinte: o mais lento em uma corrida jamais será alcançado pelo mais rápido; pois este, o perseguidor, deverá primeiro atingir o ponto de onde partiu o fugitivo e assim o lento estará sempre mais adiantado. É o mesmo raciocínio que o da dicotomia [divisão]: a única diferença está em que, se a grandeza sucessivamente acrescentada estiver bem dividida, ela não o será em dois. Conclui-se do argumento que o mais lento não será alcançado pelo mais rápido; e isto pela mesma razão da dicotomia [divisão]: nos dois casos conclui-se pela impossibilidade em atingir o limite, estando a grandeza de uma e mesma maneira; mas, neste, acrescenta-se que mesmo este herói [Aquiles] em velocidade não poderá alcançar, em sua perseguição, o mais lento [a tartaruga] (...).” (BORNHEIM, 1998, p. 63). (O que está entre colchetes foi posto para esclarecimento pelo Prof. José Antônio Brazão.)

IMAGEM:

https://en.wikipedia.org/wiki/Zeno_of_Elea#/media/File:Zeno_Dichotomy_Paradox_alt.png

Também:

http://filosofianodia-a-dia.blogspot.com/2014/03/

Resumindo: Aquiles, que foi um herói e corredor, que lutou na Guerra de Troia (mencionada na Ilíada, de Homero), ao disputar corrida com uma tartaruga, se esta der o primeiro passo, ele jamais a alcançará. Portanto: O MOVIMENTO É ILUSÃO, É IMPOSSÍVEL.

Que absurdo! Absurdo se visto pela visão (um dos cinco sentidos do corpo). Mas Zenão de Eleia apela para a matemática, ou seja, para a abstração (o que está fora do nível concreto, que está a nível de pensamento). Como assim? A matemática, como aprendemos, diz que uma reta é constituída por infinitos pontos. Aquiles e a tartaruga correndo numa reta, com ponto de saída e ponto de chegada (início e fim do movimento – algo parecido com o argumento 1, mas um pouquinho diferente, por vir a apelar para frações do espaço menores que a metade).

(Lembra a história da Lebre e a Tartaruga, ainda que um pouco diferente também.)

Vejamos aqui uma reta constituída de infinitos pontos, mesmo uma semirreta também é subdivisível ao infinito:

.......................................................................................

Início...................................................................Chegada.

*A tartaruga deu um passo à frente de Aquiles.

*Aquele passo é um pedaço de reta, uma semirreta.

*Aquiles tem que passar ponto por ponto para alcançar a tartaruga.

*A tartaruga dá um passo adiante.

*Aquiles tem que atravessar cada ponto desse segundo passo.

*E assim por diante.

*Como a matemática mostra, O ESPAÇO É SUBDIVÍSVEL: divisível em partes cada vez menores, ao infinito, em frações (pedaços menores).

Deste modo, como a matemática prova, é matematicamente impossível Aquiles alcançar a tartaruga. Portanto: O MOVIMENTO É UMA ILUSÃO, É IMPOSSÍVEL! Parmênides acertou!

(O argumento 1 também é matemático.)

ARGUMENTO 3:

Fragmento 8 (contin.): “Estes são dois dos argumentos. O terceiro [argumento] (...) pretende que a flecha, em voo, esteja imóvel. Deriva-se da suposição de um tempo composto de instantes; recusada essa hipótese [quase tese; possibilidade], cessa o silogismo [argumento, conjunto de afirmações de onde se tira uma conclusão].” (BORNHEIM, 1998, p. 63). (O que está entre colchetes foi posto para esclarecimento pelo Prof. José Antônio Brazão. O grifado e sublinhado é meu também.)

IMAGEM (na Wikipédia):

https://en.wikipedia.org/wiki/Zeno_of_Elea#/media/File:Zeno_Arrow_Paradox.png

Também: http://filosofianodia-a-dia.blogspot.com/2014/03/

Explicando:

*Um arqueiro, no dia a dia, estica o arco e lança uma flecha.

*A flecha percorre um caminho do arqueiro (A) até o alvo (B).

*Pelos olhos sensíveis (olhos do corpo) a flecha aparece como ter estado em movimento o tempo todo, do ponto A (arqueiro) até o ponto B (alvo), tendo parado somente ao atingir este.

*Mas Zenão pensa matematicamente.

*Entre o ponto A e o ponto B há um espaço. Ora, o espaço, na matemática, pode ser subdivido (divido em espaços menores). Quais espaços? No caso, os espaços compostos pelo comprimento da flecha. Cada pedaço do espaço é o comprimento da flecha. Vejamos:

PONTO A (ARQUEIRO)-ESPAÇO 1 [FLECHA]-ESPAÇO 2[FLECHA]-ESPAÇO 3 [FLECHA]-ESPAÇO 4 [FLECHA]-ESPAÇO 5, etc. .... –ESPAÇO 20 [FLECHA] – PONTO B (ALVO).

*Em cada espaço a flecha esteve parada, em cada instante.

*Esteve parada, num instante, no espaço 1.

*Esteve parada, num outro instante, no espaço 2.

*Esteve parada, num outro instante, no espaço 3.

*Esteve parada, num outro instante, no espaço 4.

*Nos espaços 5, 6, 7,...20.

*No alvo: parada.

*Ora, se em todos esses espaços a flecha esteve PARADA, isto indica que O MOVIMENTO NÃO EXISTE, É UMA ILUSÃO, É IMPOSSÍVEL. Parmênides está certo.

ARGUMENTO 4:

As imagens a seguir ajudarão a entender parte do argumento 4 de Zenão.

IMAGENS (Estádio e Olímpia [cidade das Olimpíadas antigas]):

https://pt.wikipedia.org/wiki/Est%C3%A1dio

https://pt.wikipedia.org/wiki/Ol%C3%ADmpia

Conjunto 1 de slides:

https://pt.wikipedia.org/wiki/Est%C3%A1dio#/media/Ficheiro:Est%C3%A1dio_da_Luz_em_dia_de_jogo.jpg

Conjunto 2 de slides:

https://pt.wikipedia.org/wiki/Ol%C3%ADmpia#/media/Ficheiro:Olympie_Temple_Zeus.JPG

Conjunto 3 de slides:

https://el.wikipedia.org/wiki/%CE%9F%CE%BB%CF%85%CE%BC%CF%80%CE%AF%CE%B1#/media/%CE%91%CF%81%CF%87%CE%B5%CE%AF%CE%BF:Olympie_Temple_Zeus.JPG

Conjunto 4 de slides:

https://en.wikipedia.org/wiki/Olympia,_Greece#/media/File:Ancient_Olympia,_Greece2.jpg

Fragmento 8 (contin.): “O quarto [argumento] baseia-se no movimento em sentido contrário de massas iguais, em um estádio, ao longo de outras massas iguais, umas a partir do fim do estádio, outras no meio, em velocidades iguais; pretende-se na conclusão que a metade do tempo seja igual ao seu dobro. O paralogismo [raciocínio falso, de acordo com Aristóteles, que citou este argumento] consiste em aceitar que uma grandeza igual move-se, com igual velocidade, em um tempo igual, quer seja ao longo do que é movido, quer ao longo do que está em repouso. Isto, contudo, [dirá Aristóteles], é um erro. (Aristóteles, Física, VI, 9, 239b)” (BORNHEIM, 1998, p. 63). (O que está entre colchetes foi posto para esclarecimento pelo Prof. José Antônio Brazão.)

VER IMAGENS EM: https://en.wikipedia.org/wiki/Zeno_of_Elea

Também: https://it.wikipedia.org/wiki/Paradossi_di_Zenone

Conjunto 1 (slides):

https://en.wikipedia.org/wiki/Zeno_of_Elea#/media/File:Zeno_of_Elea_Tibaldi_or_Carducci_Escorial.jpg

Conjunto 2 (slides):

https://it.wikipedia.org/wiki/Paradossi_di_Zenone#/media/File:Due_masse_nello_stadio_Zenone.png  (Ver explicação embaixo.)

*”(...)movimento em sentido contrário de massas iguais, em um estádio, ao longo de outras massas iguais(...)” (p. 63). No caso citado da Wikipédia, com o estádio de futebol: os jogadores, em sentidos contrários, têm a mesma massa (conteúdo e peso), ainda que, no desenho para ilustrar, com cores de peles diferentes. Um se move em direção ao outro: só para lembrar, no caso do futebol, certamente, seria para tomar a bola do outro, impedindo-o de fazer gol, por exemplo.

https://it.wikipedia.org/wiki/Paradossi_di_Zenone#/media/File:Due_masse_nello_stadio_Zenone.png

*”(...) ao longo de outras massas iguais, umas a partir do fim do estádio, outras no meio, em velocidades iguais(...)” (p.63). No caso do desenho da Wikipédia, no estádio de futebol: dois jogadores, em outra posição , mas igualmente opostos (parte dos times adversários), no meio do caminho.

*Conclusão: “(...)pretende-se na conclusão que a metade do tempo seja igual ao seu dobro.” (p. 63). (Grifo e sublinhado meus.) A Wikipédia mostra uma explicação interessante, através do futebol, que, vale lembrar, não existia na Grécia Antiga:

“Na imagem, os dois corredores, A e B, correm na direção oposta: A terá, portanto, a sensação de se mover muito mais rápido do que na realidade, ou seja, uma velocidade igual à sua somada à do corredor B; o mesmo acontece com B. O observador C, por outro lado, está parado e consegue perceber a velocidade real dos dois corredores.” (WIKIPÉDIA, 2021, verbete Paradossi di Zenone [Paradoxos de Zenão, na versão brasileira do nome dado Wikipédia italiana]. Texto traduzido diretamente pelo Google Tradutor.)

Explicação complementar (Prof. José Antônio.): Por que os jogadores A e B têm “a sensação de se mover muito mais rápido do que na realidade, ou seja, uma velocidade igual à somada à do corredor B”? Um: Porque, estando na mesma velocidade um do outro (ver o argumento), a velocidade é somada (no caso, 10 mais 10 = 20 km/h.), dando a impressão (sensação) de que estão correndo mais rápido em direção ao outro (no futebol em si, um com a bola para fazer gol, o outro para impedir e tentar fazer gol no campo adversário).

*O paralogismo (raciocínio falso): “uma grandeza [número, valor, valor numérico, quantidade...] igual move-se, com igual velocidade, em um tempo igual, quer seja ao longo do que é movido, quer ao longo do que está em repouso” (p.63). Ver a explicação do futebol acima.

Conjunto 2 (slides):

https://it.wikipedia.org/wiki/Paradossi_di_Zenone#/media/File:Due_masse_nello_stadio_Zenone.png

Comentário complementar do Prof. José Antônio:

O que este quarto argumento quer reforçar? Além dos outros três, que os sentidos são enganosos. Não se pode confiar neles. O movimento percebido pelos sentidos pode enganar – para dar um outro exemplo bem atual de móveis se movendo em direção um do outro, com massas iguais: dois carros da mesma marca, um em direção ao outro, numa rodovia. No caso, o descuido dos motoristas pode ser fruto dos sentidos, entre os quais, a visão – um motorista acredita que pode sair de sua faixa para ultrapassar outro veículo, acreditando que o carro que vem do lado oposto vem em velocidade menor, mas, na verdade, velocidade igual. O risco de choque, portanto, será grande, mesmo porque as velocidades terão se somado, fazendo o dobro: suponhamos que 100 km/h mais 100 km/h, dando 200 km/h. (Acreditamos que a perícia de um dos motoristas, usando a RAZÃO e a destreza, virá, efetivamente a evitar o acidente!)

A RAZÃO matematicamente, de forma abstrata (não concreta, a partir de que o exemplo é concreto), consegue apreender (captar) o que os sentidos não conseguem, indo além do que estes podem mostrar. A razão tem o poder de PENSAR, libertando-se das coisas sensíveis e elevando o PENSAMENTO até o SER que, de acordo com Parmênides, é eterno, perfeito, imóvel, completo, pleno (cheio) em si mesmo, esférico (completo). Como diz Parmênides em seu poema, através da deusa Têmis: “Pensar e ser são o mesmo”.

Aristóteles, filósofo greco-macedônico, que viveu no século IV a.C., vê o raciocínio (trabalho da razão passando de um ponto a outro até atingir uma conclusão) de Zenão como um paralogismo, isto é, um raciocínio enganoso. Na verdade, o que Zenão queria é levar seus leitores e ouvintes, no caso de uma exposição oral ou textual, a perceberem o caráter enganoso dos sentidos, que o movimento percebido pelos sentidos, principalmente a visão, é enganoso (exemplo citado: a visão do movimento do carro B que vem na direção oposta, que dá a falsa impressão de se poder ultrapassar e ter tempo para voltar à faixa da estrada original do carro A).

Hoje, a teoria da relatividade de Einstein (cientista que viveu entre os séculos XIX e XX), que fala de dois móveis (seres em movimento) ou um em movimento e outro parado, em posições diferentes e que, dependendo de quem vê, a percepção do tempo-espaço é diferente. Curiosamente, a teoria de Einstein é fundamental para o sistema de GPS (Global Positioning System – Sistema Global de Posicionamento), reunindo os movimentos relativos (relacionados um com o outro) da Terra (em contínuo movimento) e do veículo, graças ao posicionamento de satélites.

Como se vê, os paradoxos (raciocínios incomuns) de Zenão de Eleia, mesmo não sendo científicos no sentido atual de ciência, são capazes de pôr a RAZÃO para trabalhar, apontando uma visão que vai além da posição das pessoas comuns, em seu dia a dia. Apontam para a certeza e a veracidade (caráter verdadeiro) do SER DE PARMÊNIDES, em contraposição ao engano dos cinco sentidos (ainda que o mundo das coisas sensíveis deva ser conhecido também, de acordo com o que diz a deusa Têmis a Parmênides) e ao movimento (devir, vir a ser) heracliteano (como concebeu Heráclito de Éfeso). Outros filósofos tiveram que se haver (lidar) com as posições de Heráclito e Parmênides, entre eles, além de pré-socráticos como Leucipo e Demócrito, especialmente Platão, que será estudado num futuro próximo.

Para mais detalhes, o livro de Gerd Bornheim é indicado.

REFERÊNCIAS:

ARANHA, Maria L. de A. e MARTINS, Maria H. P. Filosofando: Introdução à Filosofia. 4.ed. São Paulo, Moderna, 2009.

BORNHEIM, Gerd. Os Filósofos Pré-Socráticos. 14.ed. São Paulo, Cultrix, 1998.

CHAUÍ, Marilena. Iniciação à Filosofia. 3.ed. São Paulo, Ática, 2017.

WIKIPÉDIA. Verbetes: ZENÃO DE ELEIA, PARADOXOS DE ZENÃO. Disponível em: < https://pt.wikipedia.org/wiki/Wikip%C3%A9dia:P%C3%A1gina_principal > Acesso em 07 de março de 2021.

 

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