SECRETARIA DE EDUCAÇÃO DE GOIÁS
ENSINO MÉDIO – SEGUNDOS ANOS
PROF. JOSÉ ANTÔNIO BRAZÃO.
AULA ZOOM 34 DE SOCIOLOGIA DOS SEGUNDOS
ANOS:
MUNDO DO TRABALHO E DESIGUALDADE
SOCIAL:
ESTRATIFICAÇÃO E DESIGUALDADES SOCIAIS - CLASSE:
TEXTO
DO LIVRO DIDÁTICO:
Classe
para Marx
Os trabalhos de Karl Marx representam a
primeira grande teoria sociológica da estratificação
social. Valendo-se do conceito de classe social, o autor critica de modo contundente a ideia de igualdade
política e jurídica proclamada pelos liberais, entendidos como aqueles que, orientados pelos interesses da burguesia, defendem a
democraciarepresentativa e o livre mercado.
Para Marx, os direitos inalienáveis de
liberdade e justiça – propostos pelos liberais – não resistem às evidências das desigualdades sociais promovidas pelas
relações de produção capitalistas, que
dividem os homens em proprietários e não proprietários dos meios de produção.
Dessa divisão se originam duas classes
sociais centrais: o proletariado – aqueles que
vendem sua força de trabalho em troca de salário – e a burguesia – dona dos
meios de produção sob a forma legal da
propriedade privada, que se apropria do produto do trabalho dos operários e lhes paga um valor inferior ao que foi
gerado pelo uso da mão
de obra. Essas duas classes possuem
interesses em constante conflito.
Por exemplo, durante uma greve, os
trabalhadores lutam por melhores condições de
trabalho e de remuneração, enquanto os patrões têm interesse em atingir o maior lucro possível, o que só pode ser
obtido se eles explorarem ainda mais os trabalhadores.
E o atendimento das reivindicações destes
leva à diminuição do lucro dos patrões. Isso demonstra
a oposição entre os interesses de classe.
A polarização entre essas duas classes não significa para Marx que não existam
outras, como as dos pequenos
proprietários rurais, comerciários
e diferentes tipos de profissionais
liberais.
Estas, no entanto, exercem um papel
intermediário no conflito entre o
proletariado e a burguesia, aproximando-se
ora de uma, ora de outra,dependendo do momento. Assim, para Marx, a classe social de um indivíduo é
determinada pela posição que ele
ocupa no processo produtivo, como
proprietário ou como trabalhador.
[SILVA, Afrânio et
alii. Trabalho e Sociedade. In: __________. Sociologia
em Movimento. 2.ed. São Paulo, Moderna, 2016. (Cap. 9 e 10)]
COMENTÁRIO (Prof. José Antônio Brazão.):
Karl
Marx,
alemão, viveu no século XIX e teve uma tripla formação intelectual: economia,
filosofia e história.
Para bem compreender suas ideias é preciso
situá-lo no contexto histórico em que viveu. O século XIX presenciou a
afirmação definitiva do modo de produção capitalista. A burguesia, que vinha sendo ainda mais enriquecida com a
revolução industrial, há mais de um século, reforçou sua exploração sobre os
trabalhadores, cuja forma principal era e ainda é o que Marx chamou de mais
valia, isto é, um trabalho extra, não pago ao trabalhador, que se transforma em
lucro para os capitalistas, dentre os quais podiam se destacar industriais,
comerciantes, grandes fazendeiros, grandes banqueiros e outros enriquecidos. Em
cada indústria, fábrica, a
exploração era intensa.
A exploração
dos trabalhadores nas fábricas era terrível e fonte de altos lucros para os
capitalistas. Homens, mulheres e até crianças trabalhavam 14, 15, 16 horas a
fio, em troca de um mísero salário. A imensa miséria do proletariado
(trabalhadores) constrastava com a enorme riqueza
dos poucos donos dos meios de
produção, do capital.
Não havia direitos trabalhistas definidos legalmente, de forma nítida. Estes,
com efeito, vieram a ser fruto de muitas lutas e mesmo de mortes de muitos
trabalhadores. Milhares e milhares de crianças
eram obrigadas a trabalhar nas
fábricas para complementar aquilo que os pais recebiam e, como as mulheres, recebiam pagamentos
inferiores aos dos homens e adultos. A exploração é histórica.
O que cada trabalhador e os trabalhadores recebiam servia basicamente
para a sobrevivência e à reprodução da força de trabalho, ou seja, poderem
trabalhar no dia seguinte e serem obrigados a isto. Os lucros dos capitalistas
eram exorbitantes.
Diante desta realidade, e já tendo tido
contato com sindicatos e grupos de luta em prol dos trabalhadores, Marx engajou
nessa luta, seja diretamente, através de participação em passeatas,
manifestações e no Partido Comunista,
seja através de um estudo sistemático e minucioso do funcionamento do sistema
capitalista, buscando uma compreensão mais profunda de suas raízes na própria
história humana. Marx, de fato, foi um grande pesquisador, cientista
político-econômico e filósofo, homem muito culto. Todas as suas obras
praticamente nasceram desse empenho pela compreensão da realidade histórica,
econômica e filosófica.
Dentre as pessoas com quem conviveu
encontrou-se Friedrich Engels, filho de um industrial alemão. Outro homem de
excepcional cultura que, como Marx, também interessava-se por economia,
história e filosofia, além de dispor de grande cultura geral. Sua parceria com
Marx se manifestou na participação no Partido Comunista e na elaboração de
diversas obras pessoais e, algumas, conjuntas, sempre trocando ideias entre si.
Juntos, a pedido do Partido Comunista, elaboraram o Manifesto do Partido Comunista (ou, simplesmente,
Manifesto Comunista), no qual tratam de temas como a exploração
capitalista, as lutas dos trabalhadores, as contradições internas do
capitalismo, o socialismo e o comunismo, terminando por convocar os
trabalhadores do mundo inteiro à luta em prol de uma nova sociedade, livre das
relações de exploração entre os homens e, mais especificamente, livre da
exploração capitalista. A frase final é, justamente: “Trabalhadores de todos os
países, uni-vos.”
Dentre as influências teóricas sofridas
pelo pensamento de Karl Marx encontram-se a dialética hegeliana, a economia
política inglesa e o pensamento dos chamados socialistas utópicos.
Friedrich Hegel (1770 – 1831), filósofo alemão, havia dito que o espírito (a cultura e as
realizações intelectuais) evolui dialeticamente, isto é, por meio da
contradição interna, que se encontra em sua evolução, com diferentes etapas,
não destruídas ou separadas de forma estanque, mas que são assimiladas e
superadas através de um processo de tese
(afirmação), antítese
(negação) e síntese (negação
da negação, envolvendo as etapas anteriores). A síntese torna-se uma tese que,
por sua vez, carregando consigo sua própria contradição, é superada pela
antítese e esta pela síntese, continuamente. O espírito absoluto é o auge dessa
evolução, etapa na qual o espírito se reconhece como realizador da história.
Eis aí uma dialética idealista.
Marx, tendo estudado a dialética
hegeliana, aplicou-a na compreensão da história concreta humana, vendo-a como
uma realização de pessoas concretas e não como resultante da evolução do
espírito. Muito pelo contrário, Marx perceberá que mesmo as realizações
espirituais, intelectuais e ideais humanas são fruto, em sua base, de relações
materiais de produção que se estabelecem entre as pessoas, a partir do momento
em que passam a transformar a natureza
através de seu trabalho.
Se, para Hegel, o movimento dialético do
Espírito, passando por várias etapas, até o Espírito Absoluto, portanto a consciência, é o que determina
a história, para Marx, ao contrário, é a vida que determina a consciência, isto
é, são as relações de produção, ligadas ao(s) modo(s) de produção de cada
época, é que determinam a consciência, ou seja, o pensamento, a compreensão de
mundo, o Direito, a religião e a cultura
A dialética
explica a história por meio da contradição, tendo, em Marx, um caráter
materialista. Para Marx, com efeito, a história humana manifesta conflitos que
brotam no interior dos modos de produção que surgem ao longo daquela, com
destaque para os conflitos entre grupos e classes sociais determinados.
Marx parte da produção concreta da vida
material humana e afirma que ela é o que define seu modo de viver, de ser e de
agir, até mesmo suas idéias e realizações culturais, como o direito, a educação,
a religião, etc. O modo de produção de uma determinada época determina a vida
das pessoas, ainda que não absolutamente, mas dialeticamente, pois, dentro de
si mesmo, ele carrega sua contradição. Por exemplo: a burguesia que viria a
tomar o poder, depois de vários séculos, nasceu dentro do próprio modo de
produção feudal.
A produção
da vida material é o que move
a história e, mais especificamente, transformada em conflito, através da luta de classes: senhores x
escravos, patrícios x plebeus, burgueses x senhores feudais, proletariado x
burguesia, etc. De acordo com a Wikipedia:
“Modo de produção, em economia marxista, é a forma de não organização socioeconômica associada a uma
determinada etapa de desenvolvimento das forças produtivas e das relações de produção. Reúne as características
do trabalho
preconizado, seja ele artesanal, manufaturado
ou industrial.
São constituídos pelo objeto sobre o qual se trabalha e por todos os meios de
trabalho necessários à produção (instrumentos ou ferramentas,
máquinas, oficinas, fábricas,
etc.” (In: http://pt.wikipedia.org/wiki/Modo_de_produ%C3%A7%C3%A3o)
Dentre os modos de produção surgidos no
transcurso da história estão: o modo de produção primitivo, o asiático,
escravista, feudal, capitalista e comunista.
O modo
de produção comunitário, primitivo caracterizou-se por uma forma de
produzir simples, baseada na caça e na coleta, principalmente, não havendo
divisão acentuada do trabalho nem divisão em classes sociais. Porém, à medida
em que as relações de trabalho foram se complexificando, começou a ocorrer uma divisão do trabalho cada vez
mais acentuada e nítida: entre o trabalho da mulher e o do homem, entre o trabalho manual e o intelectual
(incluindo-se aqui o sagrado).
Alguns membros da comunidade começaram a
usurpar parte dos bens pertencentes à coletividade, tomando-os como seus. Além
disto, aprenderam que, escravizando outros, poderiam desocupar-se dos trabalhos
duros e difíceis e colocar outros para trabalhar em seu lugar. Surgiu, então, o
modo de produção escravista.
Como seu próprio nome dias, sua base foi a escravidão. Os escravos advinham,
basicamente, de algumas fontes, como a guerra
(todos os sobreviventes derrotados eram escravizados) e as dívidas.
Dentre as sociedades escravistas antigas, no mundo ocidental, as que
mais se destacaram foram a Grécia e Roma. A escravidão predominou fortemente nessas duas sociedades,
sendo que o escravo era tido como uma mercadoria. O filósofo Cícero falou sobre ela. Contudo,
o escravismo reapareceu em outras épocas e em outros modos de produção. No
mundo moderno ocidental, destacadamente a partir do século XVI em diante, a
escravidão de indígenas e, sobretudo, de negros africanos foi muito acentuada.
Quanto ao modo de produção asiático:
“O chamado modo de produção asiático ou sociedades
hidráulicas, caracteriza os primeiros Estados surgidos na
Ásia
Oriental, Índia, China
e Egito. A agricultura,
base da economia desses Estados, era praticada por comunidades de camponeses
presos à terra, que não podiam abandonar seu local de trabalho e
viviam submetidos a um regime de trabalho compulsório. Na
verdade, esses camponeses (ou aldeões) tinham acesso à coletividade das terras
de sua comunidade, ou seja, pelo fato de pertencerem a tal comunidade, eles
tinham o direito e o dever de cultivar as terras desta.” (In: http://pt.wikipedia.org/wiki/Modo_de_produ%C3%A7%C3%A3o_asi%C3%A1tico)
O trabalho compulsório era um trabalho obrigatório que era prestado
pelos camponeses e cidadãos pobres, com destaque para as obras realizadas pelo
Estado. No Egito antigo, por exemplo, em construções, monumentos, na construção
de canais para o escoamento das águas e da irrigação, etc. Havia também
escravidão, sem dúvida. Por exemplo, para citar um documento antigo: na Bíblia
fala-se da escravidão de José, um dos patriarcas, no Egito (ver livro do Gênesis), juntamente com outros, e dos
hebreus (no livro do Êxodo).
Na Europa, com a decadência do Império
Romano, que adotara o modo de produção escravista, por volta dos séculos IV/V
da era cristã, foi-se formando uma maneira diferente de produzir: grandes
unidades de terras (latifúndios) foram se formando, controladas por senhores e
trabalhadas por servos (camponeses), que
não eram escravos, mas estavam ligados à terra. Progressivamente, foi-se
formando uma sociedade estratificada, tendo o poder político sido concentrado
nas mãos dos senhores feudais e da Igreja Católica Romana – também detentora de
terras, do poder religioso e intelectual, além de exercer forte influência
política. Formou-se, então, paulatinamente, o que viria a ser chamado modo de
produção feudal. A produção
era basicamente a produção agrícola. Os servos pagavam tributos, seja em
espécie, seja, com o passar do tempo, em moeda, para os senhores feudais e a
Igreja, e ainda trabalhavam nas terras dos respectivos senhores feudais em
determinados dias da semana. Dispunham de parte da terra do feudo e nela
trabalhavam.
Os senhores feudais tinham sob seu comando
exércitos próprios. Diversos feudos formavam reinos, dirigidos por reis que,
por sua vez, eram senhores feudais e definidos entre seus iguais, cada rei
sendo um primus inter pares (latim),
isto é, o primeiro entre os iguais. A base da sociedade, como se pôde ver
acima, era composta, principalmente, pelos servos (camponeses), mas havia
também tecelões, sapateiros e outros artesãos, além de comerciantes.
O comércio não acabou no modo de produção
feudal. Com o crescimento populacional e das cidades, esse comércio foi-se
intensificando cada vez mais. Com isto, a burguesia (comerciantes)
fortaleceu-se gradativamente, enriquecendo-se. O capitalismo estava, então,
Marx e Engels defenderam a luta dos
trabalhadores e a implementação do socialismo por meio da revolução (armada, inclusive) e, posteriormente, do
comunismo. Suas ideias, sem dúvida, influenciaram, no século XX, as mentes
daqueles que viriam a levar adiante a Revolução Russa, a Revolução Chinesa,
a Revolução Cubana e tantas
outras, além de partidos e sindicatos que se espalharam, praticamente, pelo
mundo todo em defesa das causas dos trabalhadores.
Conteúdo
do capítulo 10 do livro SOCIOLOGIA EM
MOVIMENTO.
https://pt.calameo.com/read/0028993270bf48599a68e?authid=XBPlbB734l1t
Referências
Básicas:
GOOGLE IMAGENS. Disponível em: <
https://www.google.com.br/imghp?hl=pt-BR&ogbl
> Acessos em novembro de 2021.
SILVA,
Afrânio et alii. Trabalho e Sociedade. In: __________. Sociologia em Movimento. 2.ed. São Paulo, Moderna, 2016. (Cap. 9 e
10)
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