SECRETARIA DA EDUCAÇÃO DE GOIÁS
ENSINO MÉDIO – PRIMEIROS ANOS
CULTURA GOIANA– PROF. JOSÉ ANTÔNIO BRAZÃO.
AULA 13 DO SEGUNDO
SEMESTRE DE 2021 DE CULTURA GOIANA
GOIAS NA ÉPOCA
COLONIAL E DO OURO – A VISITA DE AUGUSTE DE SAINT-HILAIRE EM 1816 (Parte 3/Comentários)
(Prof. José Antônio Brazão.):
Tendo
vindo ao Brasil, ao passar por Goiás, Auguste de Saint-Hilaire, o naturalista e
pesquisador francês, fez todo um levantamento de espécies animais e vegetais
por onde passou, tendo observado muito as populações que moravam, então, no
país e, especialmente, neste Estado.
Vejamos um comentário que fez a uma fazenda situada na região de Pirenópolis(CONCLUSÃO):
“Uma
Fazenda Modelo [Fazenda Babilônia](Conclusão)
(...)
Durante minha
permanência na casa do comandante de Meia-Ponte visitei as várias dependências
de sua fazenda, o chiqueiro, o paiol, o moinho de farinha, o local onde era
ralada a mandioca e onde ficava instalada a máquina de descaroçar o algodão, a
fábrica de fiação, etc. etc., e em toda parte encontrei uma ordem e uma limpeza
incomparáveis. Os fornos do engenho-de-açúcar não tinham sido feitos de acordo
com as especificações da técnica moderna. Seu aquecimento era feito pelo lado
de fora, o que pelo menos tornava menos penosa para os trabalhadores a operação
de cozimento. Um tambor horizontal movido a água punha em movimento doze
pequenas máquinas de descaroçar algodão.
IMAGENS (descaroçador de algodão do
século XIX):
IMAGENS (O casarão da fazenda):
https://www.fazendababilonia.com.br/galerias/galeria?id=3
Produçao:
Era também a água
a máquina de ralar mandioca, da qual darei aqui uma descrição. A casa onde se
achava instalada era construída sobre estacas e embaixo do assoalho fora
colocada uma roda em posição horizontal, que era movida pela água que caía de
uma calha em plano inclinado. O eixo da roda atravessava o assoalho e se
elevava até certa altura, tendo na extremidade outra roda horizontal cujo aro
era revestido por um ralo de metal. O eixo e a roda superior ficavam encaixados
dentro de um quadrado formado por quatro estacas, cada uma das quais tinha uma
chanfradura na parte interna, ao nível do ralo. Quando a roda começava a girar,
quatro pessoas seguravam as mandiocas, encaixando-as nas chanfraduras. Tendo
esse ponto de apoio, seus braços podiam manter-se firmes e a ação da máquina
não sofria interrupção.
IMAGENS (máquina de ralar
mandioca):
Conjunto 1:
Conjunto 2:
Numa parte de suas
terras o comandante de Meia-Ponte [Pirenópolis] tinha deixado de lado o método
primitivo adotado geralmente pelos brasileiros em suas lavouras. Passara a usar o arado e adubava a
terra com o bagaço da cana. Dessa forma não havia necessidade de queimar novas
matas todo ano. A cana era replantada sempre no mesmo terreno, que
ficava situado perto da casa para facilitar a supervisão do dono e poupar tempo
aos escravos. O açúcar e a cachaça eram vendidos em Meia-Ponte e Vila Boa, mas
o algodão era exportado para o Rio de Janeiro e Bahia. Joaquim Alves foi o
primeiro, como já disse, a demonstrar a vantagem dessas exportações, e seu
exemplo foi seguido por vários outros colonos.
VISUALIZANDO:
Conjunto1:
Conjunto2:
Por ocasião de
minha viagem ele estava planejando aumentar ainda mais suas plantações de
algodão e tinha intenção de instalar no próprio arraial de Meia-Ponte uma
descaroçadora, bem como uma fiação onde pretendia empregar as mulheres e as
crianças sem trabalho. Depois de descaroçado, o algodão da região, cuja
qualidade é excelente, era vendido no local a 3.000 réis a arroba. O transporte
de Meia-Ponte à Bahia custava 1.800 réis a arroba, e até o Rio de Janeiro
2.000. O lucro obtido com as exportações a esse preço era tão garantido que
Joaquim Alves não vacilara em se oferecer para comprar, à razão der 3.000 réis,
o algodão produzido por todos os agricultores das redondezas.
IMAGENS:
Obs.:
Arroba = (METROLOGIA [estudo das
medidas]) antiga unidade de medida de peso que corresponde a 32 arráteis
(cerca de 14,7 kg). (Definições Oxford Languages, Google).
Ao dedicar sua
atenção a um produto que podia ser exportado com proveito, o comandante de
Meia-Ponte [Pirenópolis] incentivava seus compatriotas a tomar novos rumos,
indicando-lhes o que devia ser feito para arrancar sua região do estado de
penúria em que a mergulhara uma exportação
do ouro mal orientada. Enquanto ele agia de maneira prática, vários de
seus concidadãos afirmavam que só havia salvação para a província numa ideia
absurda apresentada por Luís Antônio da Silva e Souza. Segundo eles, a única
maneira de deter a decadência sempre crescente da província seria impedir a
saída do ouro para fora de suas fronteiras, criando-se para isso uma moeda
provincial.
VISUALIZAÇÃO:
Ouro:
Moedas:
Poder-se-ia
argumentar, entretanto, que se essa moeda não tivesse valor como metal não
haveria força humana capaz de lhe dar algum crédito. Se, pelo contrário, ela
fosse de cobre, de ouro ou de prata, acabaria saindo da província de uma forma
ou outra, por mais rigorosa que fosse a proibição, como acontecem todos os dias
com o ouro em pó. Uma vez fora de suas fronteiras, porém, ela só seria aceita
pelo seu valor intrínseco, e em consequência os comerciantes de Goiás passarão
a vender suas mercadorias por um preço que compense a sua desvalorização. O
ouro adulterado que circula em Goiás já pode ser considerado uma espécie de
moeda provincial, pois só é aceito ali, e quando o comerciante o remete para
fora ele se vê obrigado a reduzi-lo ao seu valor real, purificando-o, para em
seguida reajustar os seus preços de acordo com a redução de peso sofrida pelo
ouro.
OBS.: Ouro adulterado era ouro
misturado com outros metais, a fim de aumentar o peso. Por exemplo, com parte
de prata ou outro metal. (Prof. José Antônio.)
IMAGENS (ouro misturado):
Depois de tantas
jornadas tediosas e cansativas através dos sertões, senti-me feliz por me achar
numa casa que reunia todo o conforto que a região podia oferecer, onde eu
gozava de inteira liberdade e cujo proprietário, um homem esclarecido, tinha
por mim toda consideração. O tempo que
passei na casa de Joaquim Alves foi muito proveitoso. Meus homens fizeram uma
esplêndida caçada nas margens de uma lagoa situada nas proximidades. Quanto a
mim, passei para o papel uma parte dos dados que recolhera sobre vários
assuntos e obtive novas informações em conversas com meu hospedeiro. [Grifo
feito pelo Prof. José Antônio, a título de destaque.]
Deixei a fazenda
cheio de gratidão pela excelente acolhida que me deu o seu proprietário e me
dirigi a Meia-Ponte, distante dali uma légua.”
(SAINT-HILAIRE, Auguste de. Uma
fazenda modelo. Disponível em: < https://pirenopolis.tur.br/cultura/historia/saint-hilaire#Uma%20Fazenda%20Modelo
> Acesso em 01 de novembro de 2021.) (O que está entre chaves e/ou grifado é
meu.)
O
que há de muito interessante nesses relatos de Auguste de Saint-Hilaire, em sua
visita à Fazenda Babilônia, em Pirenópolis, são elementos que marcaram muito a
história e a cultura do Brasil e, particularmente, de Goiás nos séculos XVIII e
XIX, como, por exemplo:
1) A
produção de açúcar e derivados da cana (ex.: cachaça).
2) O
poder de fazendeiros e a importância das grandes fazendas.
3) A
influência do poder desses grandes fazendeiros em sua região.
4) O
trabalho escravo nas fazendas, nas minas, em diferentes funções e trabalhos.
5) A
produção de algodão. Exportado como matéria-prima para as indústrias europeias.
Época do auge da Revolução Industrial.
6) O
cuidado dos naturalistas visitantes em registrar o máximo de informações
possíveis, desde a natureza até mesmo locais e costumes.
7) A
utilização do bagaço de cana de açúcar na adubação da terra, no intuito de
evitar maiores desmatamentos.
8) O
comentário do risco de uma moeda própria na Província de Goiás, de sua não
aceitação até a desvalorização (no penúltimo parágrafo do texto de
Saint-Hilaire acima).
9) Etc.
VISUALIZAÇÃO
(COMPLEMENTO):
https://tertuliabibliofila.blogspot.com/2011/05/auguste-de-saint-hilaire-apontamentos.html
Nenhum comentário:
Postar um comentário