FILOSOFIA E LÍNGUA PORTUGUESA – DIÁLOGOS INTERDISCIPLINARES POSSÍVEIS:
(Prof. José Antônio Brazão.)
Abaixo vai uma possibilidade de trabalho interdisciplinar entre Filosofia, Língua Portuguesa e, com certeza, entre diferentes matérias escolares. Nascido da necessidade de mostrar o caráter integrador dos conhecimentos. Para você que é professor, professora, que trabalha Filosofia ou outros conteúdos, além de professores da Língua Portuguesa, pode, de repente, ser muito útil. O texto não é tão grande assim e está cheio de exemplos.
Este
texto e pequeno projeto é resultado da necessidade, cada vez mais crescente, do
diálogo interdisciplinar entre componentes curriculares de diferentes áreas –
neste caso: Filosofia, da área de Ciências Humanas, e Língua Portuguesa, da
área de Linguagens. Sociologia também.
Um
trabalho que pode ser de muita utilidade metodológica para o ensino de
Filosofia é o diálogo com a Língua Portuguesa e, além dela, outros componentes
curriculares. Tanto pode ajudar uma quanto a outra matéria (disciplina, área)
da escola. A Filosofia tanto pode ser auxiliada pelo contato e com ideias da
Língua e da Literatura Portuguesas, além da Redação, quanto, vice-versa, pode
ajudar no aprendizado destas duas. Abaixo vão algumas ideias. Algumas possíveis
atividades serão apresentadas a seguir.
No
trabalho filosófico com MITOS\MITOLOGIA, citar: CAMÕES (Os Lusíadas é um livro carregado de referências à mitologia
greco-romana da antiguidade); trechos de poetas do Arcadismo, corrente
literária que também fez referências ao mundo clássico greco-romano.
Os Lusíadas contêm também um trecho
muito interessante, poético, de Camões a respeito do UNIVERSO GEOCÊNTRICO. Vale
lembrar que o modelo geocêntrico persistiu até os séculos XVI (Copérnico teve
que se defrontar com ele) e XVII (chegou a vez de Galileu Galilei defrontar-se
com o modelo geocêntrico e defender o heliocentrismo de Copérnico). Temática
que pode ser trabalhada no conteúdo Revolução Científica Moderna (segundos
anos, geralmente) ou Aristóteles e o Helenismo (conteúdo dos primeiros anos).
Ainda
de Camões, os Sonetos são carregados de uma PERSPECTIVA PLATÔNICA e
NEOPLATÔNICA do amor. Pode ser um texto interessante de ser trabalhado ao
estudar Platão e o neoplatonismo. Bons livros didáticos de Língua Portuguesa
trazem comentários sobre o neoplatonismo renascentista. Camões insere-se no
Renascimento Artístico-Cultural moderno e na preocupação deste com os modelos
clássicos (classicismo). Comparar com Romeu e Julieta, de William Shakespeare
(puxando o diálogo, ao mesmo tempo, com a Língua Inglesa).
Apontamentos
à NOVA ORTOGRAFIA (2009 em diante) podem ser feitos nas anotações de
informações filosóficas no quadro e em textos, bem como na fala do(a)
professor(a) de Filosofia. As mudanças na ortografia da língua portuguesa, no
mundo, de fato, têm pouco mais de uma década. Sempre que possível, citar
exemplos, nos escritos que no quadro e em textos estudados, de Filosofia, em
sala de aula, buscando reforçar o aprendizado também das mudanças sofridas
recentemente no Português (língua\matéria escolar). O próprio livro didático de
Filosofia teve sua adaptação para a nova ortografia, podendo-se aproveitar
disto também no trabalho. O aprendizado, além da Língua Portuguesa, ocorre
também em Filosofia!
Levantamentos
podem ser feitos, durante as aulas, no diálogo com as e os estudantes, aqui e
ali, de palavras filosóficas cujas raízes encontram-se em prefixos, sufixos e
raízes das línguas grega e latina (ou outras) referidas em gramáticas.
Na
busca do sentido das palavras e ideias, mensagens, em um texto
filosófico-literário e\ou literário, a Filosofia pode ajudar no aprendizado de
interpretação textual, também presente em estudos de Língua Portuguesa.
Dicionários de Língua Portuguesa, de Filosofia e até mesmo gramáticas podem
ajudar. Assim, continua o diálogo entre as duas matérias escolares.
Um
outro trabalho interessante para FILOSOFIA e LÍNGUA PORTUGUESA pode ser a
extração de informações comuns a ambas matérias escolares presentes em um texto
filosófico e\ou de língua portuguesa que tenham pertinência filosófica e\ou
linguística (por exemplo, trechos do Romanceiro
da Inconfidência, de Cecília Meireles, em que esta autora cita filósofos e
ideias iluministas que influenciaram os inconfidentes). O iluminismo, por
exemplo, é tema de estudo, geralmente, nos segundos anos do ensino médio.
Apontar
elementos gramaticais e literários que possam ser encontrados em textos
filosóficos, permitindo aos e às estudantes uma melhor compreensão dos
elementos filosóficos e linguístico-literários ali presentes. O estudo da
etimologia das palavras, além de ajudar no conhecimento das ideias filosóficas,
tem seus fundamentos nas origens da língua portuguesa, enriquecida, ao longo
dos séculos, pelos contatos entre portugueses, brasileiros e outros povos do
mundo, em especial o grego dos tempos do Império Romano e depois.
Pontos
da filosofia do iluminista Rousseau aparecem nas ideias dos escritores
indianistas brasileiros, como José de Alencar e Gonçalves Dias. Vale a pena
trabalhar textos de Rousseau e de algum(ns) desses escritores que mostrem, por
exemplo, o bom selvagem, o diálogo e o aprendizado com o mundo natural, além de
outros pontos.
Levantar
elementos filosóficos que possam estar patentes (claros, explícitos) e\ou
subjacentes (escondidos) em ideias expostas em poesia e prosa por escritores
brasileiros e\ou de língua portuguesa em geral. Por exemplo: o poema EU, ETIQUETA, de Carlos Drummond de
Andrade, permite ilustrar a discussão marxiana (de Marx) a respeito da
alienação e da reificação; trechos de VIDAS
SECAS, de Graciliano Ramos, podem ilustrar e enriquecer o entendimento das
ideias de Marx e Engels, além de outros pensadores posteriores, a respeito do
trabalho (ex.: trecho de Vidas Secas + trecho de Marx e Engels sobre a
reificação\alienação). Graciliano Ramos, na cadeia, por causa de ditadura Vargas,
escreveu o livro MEMÓRIAS DO CÁRCERE.
Curiosamente, Antonio Gramsci, um marxista italiano preso na ditadura de
Mussolini, escreveu os CADERNOS DO
CÁRCERE. Ainda que as perspectivas destes dois divirjam na forma de
escrever, sem dúvida, uma comparação pode ser feita, buscando-se muitos pontos
em comum (ex.: rigor, densidade, conteúdo...).
João
Guimarães Rosa apresenta reflexões próximas da filosofia em seus livros, por
exemplo, em Grande Sertão Veredas.
Duas
palavras, MAL e MAU, BEM e BOM, às vezes, podem gerar confusão na cabeça dos e
das estudantes. Ao falar do MAL em Santo Agostinho (Aurélio Agostinho) e do BEM
em Platão, um breve comentário do(a) professor(a) de Filosofia pode ajudar a
reforçar o conteúdo aprendido em Língua Portuguesa e vice-versa, com o(a)
professor(a) desta matéria escolar exemplificando a diferença daquelas
palavras, na escrita, fazendo pequenas referências àqueles filósofos e\ou
outros que tratam da questão do bem e do mal. O bom e o mau aparecem em
discussões estéticas, quando se estuda o gosto (p. ex.: na expressão: bom ou
mau gosto).
O
cuidado com a correção linguística durante as aulas e nos debates de Filosofia,
em sala de aula, buscando aproximar-se o máximo possível e manter-se dentro da
linguagem padrão, pode contribuir para um bom aprendizado de Língua Portuguesa
de todos(as) os(as) estudantes, ligando-a, é claro, à linguagem filosófica e às
ideias filosóficas em estudo. Reforço mútuo!
Em
textos escritos pelos(as) estudantes, na área de Filosofia (questionários,
respostas dissertativas de provas, redações, artigos, etc.), observar
incorreções de língua portuguesa e aponta-los para que aqueles(as) possam corrigir, pode ajudar no melhor
aprendizado desta e daquela, inclusive na REDAÇÃO. A correção é uma forma de
ajudar professor-estudantes e até mesmo autocorreção auxiliada pelo professor.
Poemas
de escritores(as) brasileiros(as) e outros(as), contendo temas correlatos de
Filosofia, podem também ser muito úteis. Há livros didáticos de Filosofia que,
inclusive, citam alguns. Temas como a existência, a transitoriedade da vida e
do mundo, dentre outros, costumam aparecer tanto em escritores quanto em
filósofos (os filósofos existencialistas que o digam!). É claro, o enfoque pode
ser diferente entre uns e outros, mas há, sem dúvida, algo em comum. Uma
comparação textual pode ser enriquecedora. O poema Navio Negreiro, de Antônio Frederico de Castro Alves, por exemplo,
pode entrar na discussão do tema escravidão-liberdade, estabelecendo um diálogo
possível também com a Sociologia e a História, além da Língua Portuguesa e da
Geografia.
Ao
analisar textos de filósofos e em redações filosóficas dos(as) estudantes podem
ser trabalhados elementos estruturais, como a sequência de introdução,
desenvolvimento e conclusão, não precisando estarem obrigatoriamente na mesma
sequência, e estilísticos (ex.: figuras de linguagem) podem ser levados em
conta pelo(a) professor de Filosofia no trabalho interdisciplinar com a Língua
Portuguesa e em diálogo com ela. Filósofos(as) e escritores(as) fazem muito uso
da metáfora e de outras figuras. Perceber e analisar tais figuras em textos
filosóficos, como em literários, pode contribuir para um maior entendimento e
até mesmo aplicação discente (das e dos estudantes) em textos, redações e outros
meios de escrita de que façam uso. Também poderão aprender a aplicar termos
filosóficos em tais textos redacionais.
Filósofos
e filósofas, como escritores e escritoras de língua portuguesa e diferentes
línguas, tiveram e têm estilos de escrita. Esses estilos podem, sem dúvida
alguma, ser comparados com os da língua portuguesa, podendo-se comparar textos
e ideias, por exemplo, além dos estilos propriamente ditos. Nietzsche e
Voltaire, por exemplo, além da prosa, escreveram também poesias. O Assim Falou Zaratustra, de Nietzsche, é
uma obra-prima da literatura mundial, além de filosófica, por exemplo.
Com a
História pode-se contextualizar textos literários de língua portuguesa em seu
tempo, podendo-se também encontrar aí elementos histórico-filosóficos (que
podem fazer referência, direta ou indireta, à história da Filosofia). Exemplos:
O neoplatonismo em poemas de amor (com destaque para os Sonetos) de Camões e
textos de outros escritores do mundo moderno, como Shakespeare e Cervantes, os
quais viveram bem na época do Renascimento Artístico-Cultural moderno. Assim,
junto com o Português e a Filosofia, une-se a História.
Temas
atualíssimos da língua e das literaturas brasileira e portuguesa em geral, com
certeza, aparecem na Filosofia também, ainda que o modo de encará-los
diferencie-se, em algum ponto, entre escritores e filósofos. Textos
jornalísticos igualmente são carregados de questões éticas (Filosofia – Ética),
políticas (Filosofia Política), sociais, fazendo constante uso da língua
portuguesa e de figuras de linguagem, além de outros elementos da linguagem,
que podem servir ao diálogo entre Filosofia e Língua Portuguesa.
O
diálogo interdisciplinar entre FILOSOFIA e LÍNGUA PORTUGUESA, juntamente com
outras matérias escolares afins (especialmente as das áreas de ciências humanas
e linguagens) pode ser muito valioso para o aprendizado das e dos estudantes,
permitindo-lhes uma percepção mais ampla dos conteúdos aprendidos e
reforçando-os. Conteúdos das áreas de ciências também podem ser discutidos com
aquelas matérias: Camões, o neoplatonismo renascentista e os primórdios da
ciência moderna conviveram ao mesmo tempo, entre os séculos XV e XVI. Acima foi
comentado acerca do geocentrismo. Além de aparecer em Os Lusíadas, é contestado pelo cientista (astrônomo e matemático)
Copérnico. A percepção científica de mundo, a partir do século XX, também
influenciou a filosofia e as literaturas (dentre elas a de língua portuguesa)
em todo o mundo.
Assim
sendo, é preciso estar atento(a) aos conteúdos ensinados em Filosofia, em
Língua Portuguesa e em outras áreas de aprendizado, aproveitando oportunidades
ricas de aprendizado das e dos estudantes. O diálogo só pode trazer bem para
todos(as), mostrando que as matérias escolares não são componentes curriculares
estanques, separados, mas que interagem entre si. Com tal diálogo todos têm a
ganhar!
Muitas
vezes, pergunta-se para que serve a filosofia. Servir para nada é algo positivo,
pois, como se pode brincar, do nada surgiu (ou foi criado) o universo. Perceber
que ela influenciou e ainda influencia, direta e\ou indiretamente escritores,
escultores, artistas e até mesmo cientistas (Pitágoras era filósofo e
matemático, tendo demonstrado um teorema que leva seu nome; Leibniz foi
matemático e filósofo; Pascal, filósofo e matemático, inventou uma máquina de
calcular, Leibniz também inventou uma; Einstein fez referência à compreensão de
Espinosa acerca do universo, comparando-a à sua visão), e vice-versa, pode
ajudar a ver que do nada filosófico pode nascer algo muito rico. Grande Sertão Veredas, de Guimarães
Rosa, começa com Nonada (nãonada)! No site DOMÍNIO PÚBLICO se encontram muitas
obras literárias.
Numa
sociedade em que há globalização, a lida constante com o trabalho, o
corre-corre do dia a dia e a preocupação com o fato de que os saberes e as
ideias devem ter uma serventia prática, o nada da filosofia incomoda, mas abre
espaço para o diálogo com outras áreas de conhecimento, tanto na escola quanto
fora dela. E num universo curvo, em que até a luz faz dobra, no vergar da luz
dos conhecimentos é possível o diálogo entre saberes. Neste momento em que, no
Brasil a proposta de diálogos interdisciplinares se torna cada vez mais
patente, é preciso o diálogo da Filosofia, da Língua Portuguesa, enfim, de
todos os componentes curriculares (matérias escolares) entre si. Este pequeno
projeto é uma proposta possível.
Exemplos
gerais:
1)Poema Eu Etiqueta.
O texto
referido, poema de Carlos Drummond de Andrade, encontra-se no livro FILOSOFANDO: INTRODUÇÃO À FILOSOFIA, de
Maria Lúcia de Arruda Aranha e Maria Helena Pires Martins. Aqui escaneado e
colado, como exemplo. O poeta depara-se de frente com a questão do consumismo e
do modismo, levando as pessoas à alienação e à perda de identidade própria,
coisificando-se (na linguagem do marxismo: reificando-se). A alienação é um
tema que aparece em Ludwig Feuerbach, filósofo alemão do século XIX, que
discute a questão da alienação religiosa. Aparece também em Marx, outro alemão
do séc. XIX, que tratou da alienação no mundo do trabalho. É um texto que pode
ser trabalhado juntamente com um de Marx sobre o tema alienação. Aparece também
nas reflexões dos filósofos Adorno e Horkheimer sobre a indústria cultural. O
poema, portanto, oferece um trabalho interdisciplinar muitíssimo rico.
2)Dicionário Básico Ilustrado de Filosofia
e Língua Portuguesa. Em um caderno, a cada aula e antecedendo conteúdos que
serão trabalhados, solicitar que os e as estudantes façam um levantamento
vocabular e anotem, separando, de acordo com letras dispostas em diferentes
páginas, palavras e expressões tanto da filosofia quanto da língua portuguesa
que estejam ou estarão em uso. LEVANTAMENTO VOCABULAR pode ajudar estudantes na compreensão prévia
e simultânea dos conteúdos ensinados. Uma porção de imagens, recortadas de
jornais, panfletos e outros materiais que costumam ir para o lixo ou para a
reciclagem, poderá ser posta no dicionário, enriquecendo o conteúdo de cada
vocábulo estudado.
3)Leitura de opúsculo de Filosofia. Exemplo:
a obra NOVA ATLÂNTIDA, de Francis
Bacon (1561 -1626), filósofo empirista inglês, lida e estudada, a título de
experimentação, por algumas estudantes do terceiro e do segundo anos, em 2015
(há registro da leitura no blog Filosofia no Dia a Dia – endereço do blog: http://filosofianodia-a-dia.blogspot.com/2015/08/pequenas-obras-filosoficas-e-outras-que.html
). Um conto de Voltaire pode ser
comparado com um conto de Cora Coralina, buscando-se pontos em comum e de
diferença na estrutura e no conteúdo, inclusive no uso das palavras.
4)Estudo
de textos dos livros didáticos de Língua Portuguesa que tratam do neoplatonismo renascentista que
aparece, inclusive, em Camões (por
exemplo: o amor ideal nos sonetos camonianos que tratam dessa temática – o
amor), clara influência da visão platônica a respeito do mundo das Ideias
perfeitas (em A República e no Banquete, livros de Platão, por
exemplo).
5)LEVANTAMENTO
VOCABULAR de textos filosóficos, de língua portuguesa, com ajuda de dicionários
comuns e dicionários online (via internet). Palavras desconhecidas ou pouco
conhecidas, com seus prefixos, sufixos, raízes, etimologias, etc. Pode contar,
inclusive, com caça-palavras complementar, fácil de ser feito e muito útil,
além de lúdico. Pode ser feito com uso do quadro escolar e anotações nos
cadernos durante as aulas, por meio de pesquisa feita diretamente pelos(as)
estudantes (como, por exemplo, se propõe fazer no Dicionário Básico
Ilustrado..., proposto acima), em folhas impressas previamente preparadas pelo
professor de Filosofia e mostradas à professora de Língua Portuguesa. Pode ser
feito por meio do caderno de cada estudante, antes das aulas de um dado
assunto. Com efeito, costumam anotar o que o professor passa no quadro:
resumos, comentários escritos, trechos de textos, etc., podendo incluir aí,
antes ou durante os estudos, o levantamento vocabular. A biblioteca da escola tem, com certeza, bons dicionários de
língua portuguesa (mesmo os antigos servem para ajudar a entender os
significados das palavras). Neste caso, o trabalho pode ser realizado na sala
de aula, com os dicionários trazidos, ou diretamente na biblioteca, o que
contribui para se perceber um bom uso desta e mostrar que ali é um lugar onde
se pode adquirir muitos conhecimentos por meio do empréstimo gratuito e das
leituras. Tomar gosto pelas leituras pode ser incentivado e só trará bem a toda
a comunidade escolar, da qual fazem parte, entre outras, as comunidades
estudantil e docente.
6)CAÇA-PALAVRAS:
podem ser usados no levantamento vocabular prévio ou durante, até mesmo, alguma
aula. Repassados pelo professor. No caso, o caça-palavras e uma lista das
mesmas palavras. OU, mais ricamente
ainda, as palavras no texto, marcadas e seus sinônimos e/ou antônimos
diretamente no caça-palavras!!! Outras possibilidades poderão ser desenvolvidas.
A criatividade é essencial! Nos casos de uso dos caça-palavras, o trabalho em
sala de aula, por exemplo, poderá ser feito individualmente e/ou em dupla,
um(a) colega ajudando outro(a), particularmente útil para colegas que têm
dificuldades. Neste sentido, a parceria poderá ter bons resultados.
Caça-palavras ajudam a desenvolver, igualmente, habilidades de: lateralidade (percepção da direita para a esquerda,
da esquerda para a direita, de cima para baixo, de baixo para cima,
diagonalmente, conforme a disposição das palavras na atividade), concentração,
visualização, curiosidade, diálogo (quando um[a] colega troca ideias com
outros[as] sem meramente copiar o que foi por estes[as] encontrado), foco,
atenção, aumento vocabular, procura de
elementos mesclados em outros, entre outras tantas habilidades.
7)Imensas
possibilidades de diálogo poderão ser imaginadas, criadas e, particularmente,
aplicadas, na busca contínua de diálogo entre a Filosofia e a Língua Portuguesa!
Muitas
são as possibilidades. Faz-se mister, pois, (re)descobri-las e explora-las!
Vale lembrar que as palavras da filosofia, no dia a dia, são, na verdade,
palavras pertencentes à língua portuguesa! Portanto, o diálogo é possível e
necessário.
Com a Sociologia e outras matérias o
diálogo com a Língua Portuguesa e a Filosofia é igualmente possível e
proveitoso, podendo-se adaptar o que é dito acima.
REFERÊNCIAS BÁSICAS:
ARANHA, Maria L. e MARTINS, Maria H.P. Filosofando: Introdução à Filosofia. 6.ed.
São Paulo, Moderna, 2016.
CHAUÍ, Marilena. Iniciação à Filosofia. 3.ed. São Paulo, Ática, 2017.
SILVA, Afrânio et alii. Sociologia em Movimento. São Paulo,
Moderna, 2013.
SISTEMA FARIAS BRITO. Filosofia e Sociologia. São Paulo, FB/Moderna, 2021.
EU, ETIQUETA
Em minha calça está grudado um nome
que não é meu de batismo ou de cartório,
um nome... estranho.
Meu blusão traz lembrete de bebida
que jamais pus na boca, nesta vida.
Em minha camiseta, a marca de cigarro
que não fumo, até hoje não fumei.
Minhas meias falam de produto
que nunca experimentei
mas são comunicados a meus pés.
Meu tênis é proclama colorido
de alguma coisa não provada
por este provador de longa idade.
Meu lenço, meu relógio, meu chaveiro,
minha gravata e cinto e escova e pente,
meu copo, minha xícara,
minha toalha de banho e sabonete,
meu isso, meu aquilo,
desde a cabeça ao bico dos sapatos,
são mensagens,
letras falantes,
gritos visuais,
ordens de uso, abuso, reincidência,
costume, hábito, premência,
indispensabilidade,
e fazem de mim homem-anúncio itinerante,
escravo da matéria anunciada.
Estou, estou na moda.
É duro andar na moda, ainda que a moda
seja negar minha identidade,
trocá-la por mil, açambarcando
todas as marcas registradas,
todos os logotipos do mercado.
Com que inocência demito-me de ser
eu que antes era e me sabia
tão diverso de outros, tão mim mesmo,
ser pensante, sentinte e solidário
com outros seres diversos e conscientes
de sua humana, invencível condição.
Agora sou anúncio,
ora vulgar ora bizarro,
em língua nacional ou em qualquer língua
(qualquer, principalmente).
E nisto me comparo, tiro glória
de minha anulação.
Não sou - vê lá - anúncio contratado.
Eu é que mimosamente pago
para anunciar, para vender
em bares festas praias pérgulas piscinas,
e bem à vista exibo esta etiqueta
global no corpo que desiste
de ser veste e sandália de uma essência
tão viva, independente,
que moda ou suborno algum a compromete.
Onde terei jogado fora
meu gosto e capacidade de escolher,
minhas idiossincrasias tão pessoais,
tão minhas que no rosto se espelhavam
e cada gesto, cada olhar
cada vinco da roupa
sou gravado de forma universal,
saio da estamparia, não de casa,
da vitrine me tiram, recolocam,
objeto pulsante mas objeto
que se oferece como signo de outros
objetos estáticos, tarifados.
Por me ostentar assim, tão orgulhoso
de ser não eu, mas artigo industrial,
peço que meu nome retifiquem.
Já não me convém o título de homem.
Meu nome novo é coisa.
Eu sou a coisa, coisamente.
Carlos Drummond de Andrade ANDRADE,
C. D. Obra poética, Volumes 4-6. Lisboa: Publicações Europa-América, 1989.
O texto acima
encontra-se em:
ARANHA, Maria Lúcia de Arruda e MARTINS,
Maria Helena Pires. Propaganda e Ideologia. IN: _________________________. FILOSOFANDO:
Introdução à Filosofia. São Paulo, Moderna, 1994. P. 50.
ANDRADE, Carlos Drummond de. Eu, etiqueta. Apud: PENSADOR UOL.
Disponível em: https://www.pensador.com/frase/MjAyODM0/
Acesso em 04 de junho de 2017.
O
texto de Carlos Drummond de Andrade presta-se a um trabalho interdisciplinar
muito bom entre Filosofia e Língua Portuguesa (dentro desta, a literatura
brasileira contemporânea, no campo da poética). Nele encontram-se temáticas
como: (1)Moda – Filosofia: Theodor Adorno e Max Horkheimer, com a Indústria Cultural.
(2)Alienação – Filosofia: Ludwig Feuerbach e Karl Marx. (3)Identidade –
o EU em diversos filósofos. (4)Ser sentinte, pensante e outros – Filosofia: o
ser, ser humano, ser pensante (ex.: René Descartes). (5)Existência e vida –
Filosofia: o Existencialismo. (6)Liberdade – Na Filosofia: vários filósofos e
filósofas (ex.: Hannah Arendt). (7)(Várias outras temáticas e filósofos[as].)
Escolher textos curtos bons das temáticas desses(as) filósofos(as) e pôr em
discussão com o texto literário do escritor.
O POEMA EU, ETIQUETA, DE CARLOS
DRUMMOND DE ANDRADE E A ALIENAÇÃO EM LUDWIG FEUERBACH E KARL MARX – Um estudo
introdutório e comparativo: (Março de 2014. Revisto e ampliado em 2017.)
POEMA
EU,
ETIQUETA – ESTUDO:
Leia o texto todo e
responda no caderno:
I – No nome do poema Eu, etiqueta a vírgula substitui, por
elipse, que palavra(s) faltante(s)?
____________________________________________________________.
II – Levantamento
vocabular (use um dicionário de língua portuguesa) – Dê o significado dos
seguintes termos:
(1)EU -
_______________________________________________________________.
(2)ETIQUETA -
________________________________________________________.
(3)NOME -
____________________________________________________________.
(4)LEMBRETE -
_______________________________________________________.
(5)PROCLAMA -
______________________________________________________.
(6)MENSAGEM -
______________________________________________________.
(7)ORDEM -
__________________________________________________________.
(8)REINCIDDÊNCIA -
_________________________________________________.
(9)PREMÊNCIA -
______________________________________________________.
(10)ITINERANTE -
_____________________________________________________.
(11)ESCRAVO -
________________________________________________________.
(12)IDENTIDADE -
_____________________________________________________.
(13)MARCA -
__________________________________________________________.
(14)LOGOTIPO -
_______________________________________________________.
(15)SENTINTE -
_______________________________________________________.
(16)PENSANTE (ser) -
__________________________________________________.
(17)CONDIÇÃO -
______________________________________________________.
(18)HUMANA CONDIÇÃO -
_____________________________________________
______________________________________________________________________.
(19)VULGAR -
_________________________________________________________.
(20)BIZARRO -
________________________________________________________.
(21)MIMOSAMENTE -
__________________________________________________.
(22)PÉRGULA(S) -
_____________________________________________________.
(23)ESSÊNCIA -
_______________________________________________________.
(24)IDIOSSINCRASIA(S)
-_______________________________________________.
(25)VINCO -
___________________________________________________________.
(26)ESTÉTICA -
_______________________________________________________.
(27)SIGNO (de objetos) -
________________________________________________.
(28)COISA - __________________________________________________________.
(29)COISAMENTE -
___________________________________________________.
REFERÊNCIAS:
ANDRADE, Carlos Drummond de. Eu, etiqueta.
Apud: PENSADOR UOL. Disponível em: https://www.pensador.com/frase/MjAyODM0/ Acesso em 04 de junho de 2017.
ARANHA, Maria Lúcia de Arruda e MARTINS,
Maria Helena Pires. Propaganda e Ideologia. IN: _________________________. FILOSOFANDO: Introdução à Filosofia. São
Paulo, Moderna, 1994.
ARANHA, Maria Lúcia de Arruda e MARTINS,
Maria Helena Pires. FILOSOFANDO:
Introdução à Filosofia. São Paulo, Moderna, 2012.
O
texto poético acima, de Carlos Drummond de Andrade, pode ser encontrado também em
livros de Sociologia e até mesmo diretamente na internet.
TRECHO
DO ROMANCEIRO DA INCONFIDÊNCIA:
Um
trecho de Cecília Meireles em que cita VOLTAIRE, filósofo iluminista francês do
século XVIII, em Romanceiro da Inconfidência:
Romance LXV ou dos maldizentes
- Ouves no papel a pena?
Agora, acumula embargos
à sentença que o condena
o que outrora, em altos cargos,
pelo mais breve conceito
as rendas do Real Erário
apenas do porto larga,
revertia em seu proveito.
- Assim o destino é vário!
Grande fim para habitantes
de um país imaginário,
que falam por consoantes
- E usam nomes fingidos.
(Aquilo havia mistério
nas letras dos apelidos...)
- Tanto ler o Voltério...
- E se não fosse o ladino
capitão Joaquim Silvério!
- Assim é vário, o destino:
negro, porém, é o desterro,
e há de arranjar palavreado
com que se lhe escuse o erro.
- Tanto impou de namorado!
E agora, quando se mira
vê-se um mísero coitado...
(como lá diz numa lira... )
- Se nas águas se mirasse,
veria ralo o cabelo
- Um par de esporas, somente.
e murcha e pálida, a face.
- Falta-lhe aquele desvelo
da sua pastora terna...
- Deveria socorrê-lo..
-... a quem dará glória
eterna!...
- Ai, que ricos libertinos!
Tudo era Inglaterra e França,
e, em redor, versos latinos...
- lá se lhes foi a esperança!
- Mas segue com seus embargos.
(Quem porfia, sempre alcança...)
- Os argumentos são largos.
- Que tem luzes, ninguém nega,
- Mas são coisas da Fortuna,
que bem se sabe ser cega...
- Não lhe sendo a hora oportuna,
perder-se-á tudo que alega.
[Grifos meus.]
REFERÊNCIA:
MEIRELES, Cecília. Romanceiro da Inconfidência.
Disponível em: < http://professor.pucgoias.edu.br/SiteDocente/admin/arquivosUpload/5628/material/CEC%C3%83%C2%ADLia%20Meireles%20-%20Romanceiro%20da%20Inconfid%C3%83%C2%AAncia%20%5BRev%5D%5B1%5D.pdf
> Acesso em 14 de outubro de 2021.
As
palavras grifadas por mim podem gerar debates e estudos acerca de: destino, país
imaginário, Voltério (Voltaire, adaptado para o português, nome de filósofo
iluminista), Inglaterra e França (no século XVIII, destacaram-se nos campos da
filosofia, da arte, do conhecimento, do iluminismo, etc.), luzes, Fortuna cega
(ver destino também). O país imaginário que desejavam os inconfidentes
mineiros, país livre das interferências da metrópole portuguesa, independente,
etc. Os temas da independência e da liberdade política e econômica podem ser
debatidos, por exemplo. O filósofo Voltaire (Voltério, no poema) e suas ideias,
além das ideias de outros iluministas, como o americano Benjamin Franklin, citado
em outro trecho do poema, podem ser trabalhadas e discutidas. O diálogo com a Língua
Portuguesa, como se vê, pode ser extremamente produtivo, juntamente com a História,
a Sociologia, entre outras matérias escolares. O levantamento vocabular, antes
dos comentários, pode ajudar!
Este
trecho pode introduzir uma aula sobre Voltaire e o Iluminismo, por exemplo. O
levantamento vocabular, reforçando, é necessário e útil. Pode servir, ao mesmo
tempo, à discussão de sociedades ideais propostas por filósofos como Platão,
Santo Agostinho, Thomas More (Morus), os socialistas, o próprio cristianismo bíblico,
etc. Ora, não seria a primeira vez na história em que alguém teria imaginado
uma sociedade ideal. À discussão da crítica Voltairiana à ideia de melhor dos
mundos possíveis apresentada por Leibniz. Há, pois, diferentes possibilidades
de uso. O importante é que cada estudante possa ver que os conhecimentos e suas
áreas não são estanques, isto é, separados, mas que se envolvem ou podem se
envolver, enriquecendo-se, deste modo, mutuamente.
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