quinta-feira, 14 de outubro de 2021

PROJETO FILOSOFIA E LÍNGUA PORTUGUESA – DIÁLOGOS INTERDISCIPLINARES POSSÍVEIS: (Prof. José Antônio Brazão.)

 FILOSOFIA E LÍNGUA PORTUGUESA – DIÁLOGOS INTERDISCIPLINARES POSSÍVEIS:

(Prof. José Antônio Brazão.)

Abaixo vai uma possibilidade de trabalho interdisciplinar entre Filosofia, Língua Portuguesa e, com certeza, entre diferentes matérias escolares. Nascido da necessidade de mostrar o caráter integrador dos conhecimentos. Para você que é professor, professora, que trabalha Filosofia ou outros conteúdos, além de professores da Língua Portuguesa, pode, de repente, ser muito útil. O texto não é tão grande assim e está cheio de exemplos.

Este texto e pequeno projeto é resultado da necessidade, cada vez mais crescente, do diálogo interdisciplinar entre componentes curriculares de diferentes áreas – neste caso: Filosofia, da área de Ciências Humanas, e Língua Portuguesa, da área de Linguagens. Sociologia também.

Um trabalho que pode ser de muita utilidade metodológica para o ensino de Filosofia é o diálogo com a Língua Portuguesa e, além dela, outros componentes curriculares. Tanto pode ajudar uma quanto a outra matéria (disciplina, área) da escola. A Filosofia tanto pode ser auxiliada pelo contato e com ideias da Língua e da Literatura Portuguesas, além da Redação, quanto, vice-versa, pode ajudar no aprendizado destas duas. Abaixo vão algumas ideias. Algumas possíveis atividades serão apresentadas a seguir.

No trabalho filosófico com MITOS\MITOLOGIA, citar: CAMÕES (Os Lusíadas é um livro carregado de referências à mitologia greco-romana da antiguidade); trechos de poetas do Arcadismo, corrente literária que também fez referências ao mundo clássico greco-romano.

Os Lusíadas contêm também um trecho muito interessante, poético, de Camões a respeito do UNIVERSO GEOCÊNTRICO. Vale lembrar que o modelo geocêntrico persistiu até os séculos XVI (Copérnico teve que se defrontar com ele) e XVII (chegou a vez de Galileu Galilei defrontar-se com o modelo geocêntrico e defender o heliocentrismo de Copérnico). Temática que pode ser trabalhada no conteúdo Revolução Científica Moderna (segundos anos, geralmente) ou Aristóteles e o Helenismo (conteúdo dos primeiros anos).

Ainda de Camões, os Sonetos são carregados de uma PERSPECTIVA PLATÔNICA e NEOPLATÔNICA do amor. Pode ser um texto interessante de ser trabalhado ao estudar Platão e o neoplatonismo. Bons livros didáticos de Língua Portuguesa trazem comentários sobre o neoplatonismo renascentista. Camões insere-se no Renascimento Artístico-Cultural moderno e na preocupação deste com os modelos clássicos (classicismo). Comparar com Romeu e Julieta, de William Shakespeare (puxando o diálogo, ao mesmo tempo, com a Língua Inglesa).

Apontamentos à NOVA ORTOGRAFIA (2009 em diante) podem ser feitos nas anotações de informações filosóficas no quadro e em textos, bem como na fala do(a) professor(a) de Filosofia. As mudanças na ortografia da língua portuguesa, no mundo, de fato, têm pouco mais de uma década. Sempre que possível, citar exemplos, nos escritos que no quadro e em textos estudados, de Filosofia, em sala de aula, buscando reforçar o aprendizado também das mudanças sofridas recentemente no Português (língua\matéria escolar). O próprio livro didático de Filosofia teve sua adaptação para a nova ortografia, podendo-se aproveitar disto também no trabalho. O aprendizado, além da Língua Portuguesa, ocorre também em Filosofia!

Levantamentos podem ser feitos, durante as aulas, no diálogo com as e os estudantes, aqui e ali, de palavras filosóficas cujas raízes encontram-se em prefixos, sufixos e raízes das línguas grega e latina (ou outras) referidas em gramáticas.

Na busca do sentido das palavras e ideias, mensagens, em um texto filosófico-literário e\ou literário, a Filosofia pode ajudar no aprendizado de interpretação textual, também presente em estudos de Língua Portuguesa. Dicionários de Língua Portuguesa, de Filosofia e até mesmo gramáticas podem ajudar. Assim, continua o diálogo entre as duas matérias escolares.

Um outro trabalho interessante para FILOSOFIA e LÍNGUA PORTUGUESA pode ser a extração de informações comuns a ambas matérias escolares presentes em um texto filosófico e\ou de língua portuguesa que tenham pertinência filosófica e\ou linguística (por exemplo, trechos do Romanceiro da Inconfidência, de Cecília Meireles, em que esta autora cita filósofos e ideias iluministas que influenciaram os inconfidentes). O iluminismo, por exemplo, é tema de estudo, geralmente, nos segundos anos do ensino médio.

Apontar elementos gramaticais e literários que possam ser encontrados em textos filosóficos, permitindo aos e às estudantes uma melhor compreensão dos elementos filosóficos e linguístico-literários ali presentes. O estudo da etimologia das palavras, além de ajudar no conhecimento das ideias filosóficas, tem seus fundamentos nas origens da língua portuguesa, enriquecida, ao longo dos séculos, pelos contatos entre portugueses, brasileiros e outros povos do mundo, em especial o grego dos tempos do Império Romano e depois.

Pontos da filosofia do iluminista Rousseau aparecem nas ideias dos escritores indianistas brasileiros, como José de Alencar e Gonçalves Dias. Vale a pena trabalhar textos de Rousseau e de algum(ns) desses escritores que mostrem, por exemplo, o bom selvagem, o diálogo e o aprendizado com o mundo natural, além de outros pontos.

Levantar elementos filosóficos que possam estar patentes (claros, explícitos) e\ou subjacentes (escondidos) em ideias expostas em poesia e prosa por escritores brasileiros e\ou de língua portuguesa em geral. Por exemplo: o poema EU, ETIQUETA, de Carlos Drummond de Andrade, permite ilustrar a discussão marxiana (de Marx) a respeito da alienação e da reificação; trechos de VIDAS SECAS, de Graciliano Ramos, podem ilustrar e enriquecer o entendimento das ideias de Marx e Engels, além de outros pensadores posteriores, a respeito do trabalho (ex.: trecho de Vidas Secas + trecho de Marx e Engels sobre a reificação\alienação). Graciliano Ramos, na cadeia, por causa de ditadura Vargas, escreveu o livro MEMÓRIAS DO CÁRCERE. Curiosamente, Antonio Gramsci, um marxista italiano preso na ditadura de Mussolini, escreveu os CADERNOS DO CÁRCERE. Ainda que as perspectivas destes dois divirjam na forma de escrever, sem dúvida, uma comparação pode ser feita, buscando-se muitos pontos em comum (ex.: rigor, densidade, conteúdo...).

João Guimarães Rosa apresenta reflexões próximas da filosofia em seus livros, por exemplo, em Grande Sertão Veredas.

Duas palavras, MAL e MAU, BEM e BOM, às vezes, podem gerar confusão na cabeça dos e das estudantes. Ao falar do MAL em Santo Agostinho (Aurélio Agostinho) e do BEM em Platão, um breve comentário do(a) professor(a) de Filosofia pode ajudar a reforçar o conteúdo aprendido em Língua Portuguesa e vice-versa, com o(a) professor(a) desta matéria escolar exemplificando a diferença daquelas palavras, na escrita, fazendo pequenas referências àqueles filósofos e\ou outros que tratam da questão do bem e do mal. O bom e o mau aparecem em discussões estéticas, quando se estuda o gosto (p. ex.: na expressão: bom ou mau gosto).

O cuidado com a correção linguística durante as aulas e nos debates de Filosofia, em sala de aula, buscando aproximar-se o máximo possível e manter-se dentro da linguagem padrão, pode contribuir para um bom aprendizado de Língua Portuguesa de todos(as) os(as) estudantes, ligando-a, é claro, à linguagem filosófica e às ideias filosóficas em estudo. Reforço mútuo!

Em textos escritos pelos(as) estudantes, na área de Filosofia (questionários, respostas dissertativas de provas, redações, artigos, etc.), observar incorreções de língua portuguesa e aponta-los para que aqueles(as) possam corrigir, pode ajudar no melhor aprendizado desta e daquela, inclusive na REDAÇÃO. A correção é uma forma de ajudar professor-estudantes e até mesmo autocorreção auxiliada pelo professor.

Poemas de escritores(as) brasileiros(as) e outros(as), contendo temas correlatos de Filosofia, podem também ser muito úteis. Há livros didáticos de Filosofia que, inclusive, citam alguns. Temas como a existência, a transitoriedade da vida e do mundo, dentre outros, costumam aparecer tanto em escritores quanto em filósofos (os filósofos existencialistas que o digam!). É claro, o enfoque pode ser diferente entre uns e outros, mas há, sem dúvida, algo em comum. Uma comparação textual pode ser enriquecedora. O poema Navio Negreiro, de Antônio Frederico de Castro Alves, por exemplo, pode entrar na discussão do tema escravidão-liberdade, estabelecendo um diálogo possível também com a Sociologia e a História, além da Língua Portuguesa e da Geografia.

Ao analisar textos de filósofos e em redações filosóficas dos(as) estudantes podem ser trabalhados elementos estruturais, como a sequência de introdução, desenvolvimento e conclusão, não precisando estarem obrigatoriamente na mesma sequência, e estilísticos (ex.: figuras de linguagem) podem ser levados em conta pelo(a) professor de Filosofia no trabalho interdisciplinar com a Língua Portuguesa e em diálogo com ela. Filósofos(as) e escritores(as) fazem muito uso da metáfora e de outras figuras. Perceber e analisar tais figuras em textos filosóficos, como em literários, pode contribuir para um maior entendimento e até mesmo aplicação discente (das e dos estudantes) em textos, redações e outros meios de escrita de que façam uso. Também poderão aprender a aplicar termos filosóficos em tais textos redacionais.

Filósofos e filósofas, como escritores e escritoras de língua portuguesa e diferentes línguas, tiveram e têm estilos de escrita. Esses estilos podem, sem dúvida alguma, ser comparados com os da língua portuguesa, podendo-se comparar textos e ideias, por exemplo, além dos estilos propriamente ditos. Nietzsche e Voltaire, por exemplo, além da prosa, escreveram também poesias. O Assim Falou Zaratustra, de Nietzsche, é uma obra-prima da literatura mundial, além de filosófica, por exemplo.

Com a História pode-se contextualizar textos literários de língua portuguesa em seu tempo, podendo-se também encontrar aí elementos histórico-filosóficos (que podem fazer referência, direta ou indireta, à história da Filosofia). Exemplos: O neoplatonismo em poemas de amor (com destaque para os Sonetos) de Camões e textos de outros escritores do mundo moderno, como Shakespeare e Cervantes, os quais viveram bem na época do Renascimento Artístico-Cultural moderno. Assim, junto com o Português e a Filosofia, une-se a História.

Temas atualíssimos da língua e das literaturas brasileira e portuguesa em geral, com certeza, aparecem na Filosofia também, ainda que o modo de encará-los diferencie-se, em algum ponto, entre escritores e filósofos. Textos jornalísticos igualmente são carregados de questões éticas (Filosofia – Ética), políticas (Filosofia Política), sociais, fazendo constante uso da língua portuguesa e de figuras de linguagem, além de outros elementos da linguagem, que podem servir ao diálogo entre Filosofia e Língua Portuguesa.

O diálogo interdisciplinar entre FILOSOFIA e LÍNGUA PORTUGUESA, juntamente com outras matérias escolares afins (especialmente as das áreas de ciências humanas e linguagens) pode ser muito valioso para o aprendizado das e dos estudantes, permitindo-lhes uma percepção mais ampla dos conteúdos aprendidos e reforçando-os. Conteúdos das áreas de ciências também podem ser discutidos com aquelas matérias: Camões, o neoplatonismo renascentista e os primórdios da ciência moderna conviveram ao mesmo tempo, entre os séculos XV e XVI. Acima foi comentado acerca do geocentrismo. Além de aparecer em Os Lusíadas, é contestado pelo cientista (astrônomo e matemático) Copérnico. A percepção científica de mundo, a partir do século XX, também influenciou a filosofia e as literaturas (dentre elas a de língua portuguesa) em todo o mundo.

Assim sendo, é preciso estar atento(a) aos conteúdos ensinados em Filosofia, em Língua Portuguesa e em outras áreas de aprendizado, aproveitando oportunidades ricas de aprendizado das e dos estudantes. O diálogo só pode trazer bem para todos(as), mostrando que as matérias escolares não são componentes curriculares estanques, separados, mas que interagem entre si. Com tal diálogo todos têm a ganhar!

Muitas vezes, pergunta-se para que serve a filosofia. Servir para nada é algo positivo, pois, como se pode brincar, do nada surgiu (ou foi criado) o universo. Perceber que ela influenciou e ainda influencia, direta e\ou indiretamente escritores, escultores, artistas e até mesmo cientistas (Pitágoras era filósofo e matemático, tendo demonstrado um teorema que leva seu nome; Leibniz foi matemático e filósofo; Pascal, filósofo e matemático, inventou uma máquina de calcular, Leibniz também inventou uma; Einstein fez referência à compreensão de Espinosa acerca do universo, comparando-a à sua visão), e vice-versa, pode ajudar a ver que do nada filosófico pode nascer algo muito rico. Grande Sertão Veredas, de Guimarães Rosa, começa com Nonada (nãonada)! No site DOMÍNIO PÚBLICO se encontram muitas obras literárias.

Numa sociedade em que há globalização, a lida constante com o trabalho, o corre-corre do dia a dia e a preocupação com o fato de que os saberes e as ideias devem ter uma serventia prática, o nada da filosofia incomoda, mas abre espaço para o diálogo com outras áreas de conhecimento, tanto na escola quanto fora dela. E num universo curvo, em que até a luz faz dobra, no vergar da luz dos conhecimentos é possível o diálogo entre saberes. Neste momento em que, no Brasil a proposta de diálogos interdisciplinares se torna cada vez mais patente, é preciso o diálogo da Filosofia, da Língua Portuguesa, enfim, de todos os componentes curriculares (matérias escolares) entre si. Este pequeno projeto é uma proposta possível.

Exemplos gerais:

1)Poema Eu Etiqueta.

O texto referido, poema de Carlos Drummond de Andrade, encontra-se no livro FILOSOFANDO: INTRODUÇÃO À FILOSOFIA, de Maria Lúcia de Arruda Aranha e Maria Helena Pires Martins. Aqui escaneado e colado, como exemplo. O poeta depara-se de frente com a questão do consumismo e do modismo, levando as pessoas à alienação e à perda de identidade própria, coisificando-se (na linguagem do marxismo: reificando-se). A alienação é um tema que aparece em Ludwig Feuerbach, filósofo alemão do século XIX, que discute a questão da alienação religiosa. Aparece também em Marx, outro alemão do séc. XIX, que tratou da alienação no mundo do trabalho. É um texto que pode ser trabalhado juntamente com um de Marx sobre o tema alienação. Aparece também nas reflexões dos filósofos Adorno e Horkheimer sobre a indústria cultural. O poema, portanto, oferece um trabalho interdisciplinar muitíssimo rico.

2)Dicionário Básico Ilustrado de Filosofia e Língua Portuguesa. Em um caderno, a cada aula e antecedendo conteúdos que serão trabalhados, solicitar que os e as estudantes façam um levantamento vocabular e anotem, separando, de acordo com letras dispostas em diferentes páginas, palavras e expressões tanto da filosofia quanto da língua portuguesa que estejam ou estarão em uso. LEVANTAMENTO VOCABULAR  pode ajudar estudantes na compreensão prévia e simultânea dos conteúdos ensinados. Uma porção de imagens, recortadas de jornais, panfletos e outros materiais que costumam ir para o lixo ou para a reciclagem, poderá ser posta no dicionário, enriquecendo o conteúdo de cada vocábulo estudado.

3)Leitura de opúsculo de Filosofia. Exemplo: a obra NOVA ATLÂNTIDA, de Francis Bacon (1561 -1626), filósofo empirista inglês, lida e estudada, a título de experimentação, por algumas estudantes do terceiro e do segundo anos, em 2015 (há registro da leitura no blog Filosofia no Dia a Dia – endereço do blog: http://filosofianodia-a-dia.blogspot.com/2015/08/pequenas-obras-filosoficas-e-outras-que.html  ). Um conto de Voltaire pode ser comparado com um conto de Cora Coralina, buscando-se pontos em comum e de diferença na estrutura e no conteúdo, inclusive no uso das palavras.

4)Estudo de textos dos livros didáticos de Língua Portuguesa que tratam do neoplatonismo renascentista que aparece, inclusive, em Camões (por exemplo: o amor ideal nos sonetos camonianos que tratam dessa temática – o amor), clara influência da visão platônica a respeito do mundo das Ideias perfeitas (em A República e no Banquete, livros de Platão, por exemplo).

5)LEVANTAMENTO VOCABULAR de textos filosóficos, de língua portuguesa, com ajuda de dicionários comuns e dicionários online (via internet). Palavras desconhecidas ou pouco conhecidas, com seus prefixos, sufixos, raízes, etimologias, etc. Pode contar, inclusive, com caça-palavras complementar, fácil de ser feito e muito útil, além de lúdico. Pode ser feito com uso do quadro escolar e anotações nos cadernos durante as aulas, por meio de pesquisa feita diretamente pelos(as) estudantes (como, por exemplo, se propõe fazer no Dicionário Básico Ilustrado..., proposto acima), em folhas impressas previamente preparadas pelo professor de Filosofia e mostradas à professora de Língua Portuguesa. Pode ser feito por meio do caderno de cada estudante, antes das aulas de um dado assunto. Com efeito, costumam anotar o que o professor passa no quadro: resumos, comentários escritos, trechos de textos, etc., podendo incluir aí, antes ou durante os estudos, o levantamento vocabular. A biblioteca da escola tem, com certeza, bons dicionários de língua portuguesa (mesmo os antigos servem para ajudar a entender os significados das palavras). Neste caso, o trabalho pode ser realizado na sala de aula, com os dicionários trazidos, ou diretamente na biblioteca, o que contribui para se perceber um bom uso desta e mostrar que ali é um lugar onde se pode adquirir muitos conhecimentos por meio do empréstimo gratuito e das leituras. Tomar gosto pelas leituras pode ser incentivado e só trará bem a toda a comunidade escolar, da qual fazem parte, entre outras, as comunidades estudantil e docente.

6)CAÇA-PALAVRAS: podem ser usados no levantamento vocabular prévio ou durante, até mesmo, alguma aula. Repassados pelo professor. No caso, o caça-palavras e uma lista das mesmas palavras. OU, mais ricamente ainda, as palavras no texto, marcadas e seus sinônimos e/ou antônimos diretamente no caça-palavras!!! Outras possibilidades poderão ser desenvolvidas. A criatividade é essencial! Nos casos de uso dos caça-palavras, o trabalho em sala de aula, por exemplo, poderá ser feito individualmente e/ou em dupla, um(a) colega ajudando outro(a), particularmente útil para colegas que têm dificuldades. Neste sentido, a parceria poderá ter bons resultados. Caça-palavras ajudam a desenvolver, igualmente, habilidades de: lateralidade (percepção da direita para a esquerda, da esquerda para a direita, de cima para baixo, de baixo para cima, diagonalmente, conforme a disposição das palavras na atividade), concentração, visualização, curiosidade, diálogo (quando um[a] colega troca ideias com outros[as] sem meramente copiar o que foi por estes[as] encontrado), foco, atenção,  aumento vocabular, procura de elementos mesclados em outros, entre outras tantas habilidades.

7)Imensas possibilidades de diálogo poderão ser imaginadas, criadas e, particularmente, aplicadas, na busca contínua de diálogo entre a Filosofia e a Língua Portuguesa!

Muitas são as possibilidades. Faz-se mister, pois, (re)descobri-las e explora-las! Vale lembrar que as palavras da filosofia, no dia a dia, são, na verdade, palavras pertencentes à língua portuguesa! Portanto, o diálogo é possível e necessário.

Com a Sociologia e outras matérias o diálogo com a Língua Portuguesa e a Filosofia é igualmente possível e proveitoso, podendo-se adaptar o que é dito acima.

REFERÊNCIAS BÁSICAS:

ARANHA, Maria L. e MARTINS, Maria H.P. Filosofando: Introdução à Filosofia. 6.ed. São Paulo, Moderna, 2016.

CHAUÍ, Marilena. Iniciação à Filosofia. 3.ed. São Paulo, Ática, 2017.

SILVA, Afrânio et alii. Sociologia em Movimento. São Paulo, Moderna, 2013.

SISTEMA FARIAS BRITO. Filosofia e Sociologia. São Paulo, FB/Moderna, 2021.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

EU, ETIQUETA

 

Em minha calça está grudado um nome

que não é meu de batismo ou de cartório,

um nome... estranho.

Meu blusão traz lembrete de bebida

que jamais pus na boca, nesta vida.

Em minha camiseta, a marca de cigarro

que não fumo, até hoje não fumei.

Minhas meias falam de produto

que nunca experimentei

mas são comunicados a meus pés.

Meu tênis é proclama colorido

de alguma coisa não provada

por este provador de longa idade.

Meu lenço, meu relógio, meu chaveiro,

minha gravata e cinto e escova e pente,

meu copo, minha xícara,

minha toalha de banho e sabonete,

meu isso, meu aquilo,

desde a cabeça ao bico dos sapatos,

são mensagens,

letras falantes,

gritos visuais,

ordens de uso, abuso, reincidência,

costume, hábito, premência,

indispensabilidade,

e fazem de mim homem-anúncio itinerante,

escravo da matéria anunciada.

Estou, estou na moda.

É duro andar na moda, ainda que a moda

seja negar minha identidade,

trocá-la por mil, açambarcando

todas as marcas registradas,

todos os logotipos do mercado.

Com que inocência demito-me de ser

eu que antes era e me sabia

tão diverso de outros, tão mim mesmo,

ser pensante, sentinte e solidário

com outros seres diversos e conscientes

de sua humana, invencível condição.

Agora sou anúncio,

ora vulgar ora bizarro,

em língua nacional ou em qualquer língua

(qualquer, principalmente).

E nisto me comparo, tiro glória

de minha anulação.

Não sou - vê lá - anúncio contratado.

Eu é que mimosamente pago

para anunciar, para vender

em bares festas praias pérgulas piscinas,

e bem à vista exibo esta etiqueta

global no corpo que desiste

de ser veste e sandália de uma essência

tão viva, independente,

que moda ou suborno algum a compromete.

Onde terei jogado fora

meu gosto e capacidade de escolher,

minhas idiossincrasias tão pessoais,

tão minhas que no rosto se espelhavam

e cada gesto, cada olhar

cada vinco da roupa

sou gravado de forma universal,

saio da estamparia, não de casa,

da vitrine me tiram, recolocam,

objeto pulsante mas objeto

que se oferece como signo de outros

objetos estáticos, tarifados.

Por me ostentar assim, tão orgulhoso

de ser não eu, mas artigo industrial,

peço que meu nome retifiquem.

Já não me convém o título de homem.

Meu nome novo é coisa.

Eu sou a coisa, coisamente.

 

Carlos Drummond de Andrade ANDRADE, C. D. Obra poética, Volumes 4-6. Lisboa: Publicações Europa-América, 1989.

 


O texto acima encontra-se em:


ARANHA, Maria Lúcia de Arruda e MARTINS, Maria Helena Pires. Propaganda e Ideologia. IN: _________________________. FILOSOFANDO: Introdução à Filosofia. São Paulo, Moderna, 1994. P. 50.

ANDRADE, Carlos Drummond de. Eu, etiqueta. Apud: PENSADOR UOL. Disponível em: https://www.pensador.com/frase/MjAyODM0/ Acesso em 04 de junho de 2017.

O texto de Carlos Drummond de Andrade presta-se a um trabalho interdisciplinar muito bom entre Filosofia e Língua Portuguesa (dentro desta, a literatura brasileira contemporânea, no campo da poética). Nele encontram-se temáticas como: (1)Moda – Filosofia: Theodor Adorno e Max Horkheimer, com a Indústria Cultural. (2)Alienação – Filosofia: Ludwig Feuerbach e Karl Marx. (3)Identidade – o EU em diversos filósofos. (4)Ser sentinte, pensante e outros – Filosofia: o ser, ser humano, ser pensante (ex.: René Descartes). (5)Existência e vida – Filosofia: o Existencialismo. (6)Liberdade – Na Filosofia: vários filósofos e filósofas (ex.: Hannah Arendt). (7)(Várias outras temáticas e filósofos[as].) Escolher textos curtos bons das temáticas desses(as) filósofos(as) e pôr em discussão com o texto literário do escritor.

O POEMA EU, ETIQUETA, DE CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE E A ALIENAÇÃO EM LUDWIG FEUERBACH E KARL MARX – Um estudo introdutório e comparativo: (Março de 2014. Revisto e ampliado em 2017.)

POEMA EU, ETIQUETA – ESTUDO:

Leia o texto todo e responda no caderno:

I – No nome do poema Eu, etiqueta a vírgula substitui, por elipse, que palavra(s) faltante(s)? ____________________________________________________________.

II – Levantamento vocabular (use um dicionário de língua portuguesa) – Dê o significado dos seguintes termos:

(1)EU - _______________________________________________________________.

(2)ETIQUETA - ________________________________________________________.

(3)NOME - ____________________________________________________________.

(4)LEMBRETE - _______________________________________________________.

(5)PROCLAMA - ______________________________________________________.

(6)MENSAGEM - ______________________________________________________.

(7)ORDEM - __________________________________________________________.

(8)REINCIDDÊNCIA - _________________________________________________.

(9)PREMÊNCIA - ______________________________________________________.

(10)ITINERANTE - _____________________________________________________.

(11)ESCRAVO - ________________________________________________________.

(12)IDENTIDADE - _____________________________________________________.

(13)MARCA - __________________________________________________________.

(14)LOGOTIPO - _______________________________________________________.

(15)SENTINTE - _______________________________________________________.

(16)PENSANTE (ser) - __________________________________________________.

(17)CONDIÇÃO - ______________________________________________________.

(18)HUMANA CONDIÇÃO - _____________________________________________

______________________________________________________________________.

(19)VULGAR - _________________________________________________________.

(20)BIZARRO - ________________________________________________________.

(21)MIMOSAMENTE - __________________________________________________.

(22)PÉRGULA(S) - _____________________________________________________.

(23)ESSÊNCIA - _______________________________________________________.

(24)IDIOSSINCRASIA(S) -_______________________________________________.

(25)VINCO - ___________________________________________________________.

(26)ESTÉTICA - _______________________________________________________.

(27)SIGNO (de objetos) - ________________________________________________.

(28)COISA - __________________________________________________________.

(29)COISAMENTE - ___________________________________________________.

REFERÊNCIAS:

ANDRADE, Carlos Drummond de. Eu, etiqueta. Apud: PENSADOR UOL. Disponível em: https://www.pensador.com/frase/MjAyODM0/  Acesso em 04 de junho de 2017.

ARANHA, Maria Lúcia de Arruda e MARTINS, Maria Helena Pires. Propaganda e Ideologia. IN: _________________________. FILOSOFANDO: Introdução à Filosofia. São Paulo, Moderna, 1994.

ARANHA, Maria Lúcia de Arruda e MARTINS, Maria Helena Pires. FILOSOFANDO: Introdução à Filosofia. São Paulo, Moderna, 2012.

O texto poético acima, de Carlos Drummond de Andrade, pode ser encontrado também em livros de Sociologia e até mesmo diretamente na internet.

TRECHO DO ROMANCEIRO DA INCONFIDÊNCIA:

Um trecho de Cecília Meireles em que cita VOLTAIRE, filósofo iluminista francês do século XVIII, em Romanceiro da Inconfidência:

Romance LXV ou dos maldizentes

- Ouves no papel a pena?

Agora, acumula embargos

à sentença que o condena

o que outrora, em altos cargos,

pelo mais breve conceito

as rendas do Real Erário

apenas do porto larga,

revertia em seu proveito.

- Assim o destino é vário!

Grande fim para habitantes

de um país imaginário,

que falam por consoantes

- E usam nomes fingidos.

(Aquilo havia mistério

nas letras dos apelidos...)

- Tanto ler o Voltério...

- E se não fosse o ladino

capitão Joaquim Silvério!

- Assim é vário, o destino:

negro, porém, é o desterro,

e há de arranjar palavreado

com que se lhe escuse o erro.

- Tanto impou de namorado!

E agora, quando se mira

vê-se um mísero coitado...

(como lá diz numa lira... )

- Se nas águas se mirasse,

veria ralo o cabelo

- Um par de esporas, somente.

e murcha e pálida, a face.

- Falta-lhe aquele desvelo

da sua pastora terna...

- Deveria socorrê-lo..

-... a quem dará glória eterna!...

- Ai, que ricos libertinos!

Tudo era Inglaterra e França,

e, em redor, versos latinos...

- lá se lhes foi a esperança!

- Mas segue com seus embargos.

(Quem porfia, sempre alcança...)

- Os argumentos são largos.

- Que tem luzes, ninguém nega,

- Mas são coisas da Fortuna,

que bem se sabe ser cega...

- Não lhe sendo a hora oportuna,

perder-se-á tudo que alega.

[Grifos meus.]

REFERÊNCIA:

MEIRELES, Cecília. Romanceiro da Inconfidência. Disponível em: < http://professor.pucgoias.edu.br/SiteDocente/admin/arquivosUpload/5628/material/CEC%C3%83%C2%ADLia%20Meireles%20-%20Romanceiro%20da%20Inconfid%C3%83%C2%AAncia%20%5BRev%5D%5B1%5D.pdf  > Acesso em 14 de outubro de 2021.

As palavras grifadas por mim podem gerar debates e estudos acerca de: destino, país imaginário, Voltério (Voltaire, adaptado para o português, nome de filósofo iluminista), Inglaterra e França (no século XVIII, destacaram-se nos campos da filosofia, da arte, do conhecimento, do iluminismo, etc.), luzes, Fortuna cega (ver destino também). O país imaginário que desejavam os inconfidentes mineiros, país livre das interferências da metrópole portuguesa, independente, etc. Os temas da independência e da liberdade política e econômica podem ser debatidos, por exemplo. O filósofo Voltaire (Voltério, no poema) e suas ideias, além das ideias de outros iluministas, como o americano Benjamin Franklin, citado em outro trecho do poema, podem ser trabalhadas e discutidas. O diálogo com a Língua Portuguesa, como se vê, pode ser extremamente produtivo, juntamente com a História, a Sociologia, entre outras matérias escolares. O levantamento vocabular, antes dos comentários, pode ajudar!

Este trecho pode introduzir uma aula sobre Voltaire e o Iluminismo, por exemplo. O levantamento vocabular, reforçando, é necessário e útil. Pode servir, ao mesmo tempo, à discussão de sociedades ideais propostas por filósofos como Platão, Santo Agostinho, Thomas More (Morus), os socialistas, o próprio cristianismo bíblico, etc. Ora, não seria a primeira vez na história em que alguém teria imaginado uma sociedade ideal. À discussão da crítica Voltairiana à ideia de melhor dos mundos possíveis apresentada por Leibniz. Há, pois, diferentes possibilidades de uso. O importante é que cada estudante possa ver que os conhecimentos e suas áreas não são estanques, isto é, separados, mas que se envolvem ou podem se envolver, enriquecendo-se, deste modo, mutuamente.

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