terça-feira, 15 de setembro de 2020

IMMANUEL (EMMANUEL) KANT - AULA ZOOM DE FILOSOFIA E SOCIOLOGIA - SEGUNDOS ANOS DO ENSINO MÉDIO e EP2 CEDJA 2020 (Prof. José Antônio Brazão.)

 

SECRETARIA DA EDUCAÇÃO DE GOIÁS

COORDENAÇÃO REGIONAL METROPOLITANA DE EDUCAÇÃO DE GOIÂNIA

COLÉGIO ESTADUAL DEPUTADO JOSÉ DE ASSIS

ENSINO MÉDIO – SEGUNDOS ANOS e EP2

FILOSOFIA e SOCIOLOGIA – PROF. JOSÉ ANTÔNIO BRAZÃO.

AULA DE 16 DE SETEMBRO DE 2020.

IMMANUEL KANT (1724 – 1804) (Prof. José Antônio Brazão.)

Por que estudar Immanuel Kant hoje, no século XXI? Kant foi um dos maiores filósofos iluministas do século XVIII e início do XIX. Foi um homem devotado aos estudos, servindo, ainda hoje, como exemplo de dedicação, de esforço, de grande empenho em tudo que fazia. E tudo que fazia procurava fazer muito bem feito. Exemplo de vida para todos, no mundo atual. Kant estudou o conhecimento, a moral/ética, o poder, a educação, as ciências, entre outras tantas áreas da cultura e do conhecimento humanos. Escreveu: CRÍTICA DA RAZÃO PURA (sobre o conhecimento), CRÍTICA DA RAZÃO PRÁTICA (sobre a moral, a ética), O QUE É ILUMINISMO?, À PAZ PERPÉTUA  e uma boa porção de outros livros. Homem extremante culto e disciplinado. Fazia caminhadas na praça perto de sua casa, em Konnigsberg, na Alemanha (hoje, na Rússia), e era tão exato na chegada àquele lugar que as pessoas vizinhas e comerciantes até acertavam a hora como base nisto. Isto e os cuidados com a saúde, como o sono e a alimentação simples, permitiram a ele que vivesse até os oitenta anos de idade! Hoje, vivemos em um tempo em que as pessoas fazem caminhadas, vão às academias de ginástica e tomam outros cuidados parecidos com os de Kant.

E por que o conhecimento? Ora, cientistas querem saber das leis que regem o universo, como funciona a estrutura de um vírus, como funciona o corpo humano e como este reage a enfermidades, como os planetas giram em torno do Sol, entre uma infinidade de outros estudos e pesquisas. Os filósofos, como Descartes, Locke, Hume, Kant e outros tantos se perguntaram e se perguntam: como é possível o conhecimento? De onde o conhecimento provém? Como é possível entender as leis naturais e as descobrir? Perguntas destes tipos e outras!

Para entender o pensamento complexo (complicado) de Kant, correndo o risco de o simplificarmos demasiadamente, vamos partir de um exemplo simples, nascido do dia a dia de casa: a história da elaboração de um bolo de peras com maçãs. Contudo, sem dúvida, apesar do risco de simplificação, haverá de valer a pena.

Enfrentemos o desafio!

Um grande chef de cozinha precisou fazer um bolo de peras. Encontrou três peras que não amaciavam, duras. Não as podendo comer, resolveu usá-las no bolo que ia fazer. Inicialmente, o bolo ia ser somente de pera. Porém, como ia precisar de cinco, mas apenas três estavam disponíveis, decidiu colocar duas maçãs para complementar. Cortou as frutas cuidadosamente, acomodou as partes cortadas no fundo de uma forma devidamente untada e esfarinhada, fez uma massa e a colocou por cima. No meio da massa, antes, acrescentou rum com um pouco de canela. Que explosão de sensações!

O aroma do rum com um pouco de canela, unido ao das peras e das maçãs, a textura do bolo, a configuração redonda (não havia forma de bolo inglês, como a receita pedia), com aquelas tiras das frutas em cima, depois de pronto o bolo e uma leve calda de açúcar que fez parte, o barulhinho da espátula a cortar cada camada do bolo e, depois, do garfo ao bater no prato, reforçavam a água na boca do cliente, tornando o bolo convidativo e aumentando o prazer do conjunto dos sabores experimentados pela língua e pela boca. Uma experiência sensorial e tanto, como aquelas que levaram René Descartes, John Locke, David Hume e Immanuel [Emmanuel] Kant a filosofar a respeito do conhecimento humano. (Filosofia do bolo! Kkk)

“Penso, logo existo”, dizia o racionalista Descartes. Ora, o ser que pensa é o mesmo ser que experimenta, que faz a experiência do mundo com seus cinco sentidos e a formação de ideias na mente humana, como defendia, para além de Descartes, John Locke, como o bolo gostoso feito e que passou pelo crivo da experiência sensorial.  Um bolo tornado possível pelo hábito, desde longa data, de uso dos sentidos e do acúmulo de informações, como dizia Hume. O cozinheiro e o cliente tinham largo hábito nascido de experiências sensoriais, mas sempre descobrindo algo novo, no sabor, na cor, na textura, na visualização e noutras informações advindas das gostosuras culinárias. E Immanuel Kant, a que se o pode comparar?

Kant defende o pensamento de que todo conhecimento, de fato, tem sua raiz na experiência sensorial (experiência dos cinco sentidos: olfato, tato, paladar, audição e visão). Isto é o que ele chama de conhecimento a posteriori, isto é, conhecimento que advém da experiência, que se segue após a experiência (que vem depois da experiência) por meio do trabalho da razão em cima das informações sensoriais (sabores/gostos, texturas, formas vistas, barulhos, odores [o cheiro do bolo!], etc.). Mas poderia haver algum conhecimento a priori? A priori [expressão do latim] é todo conhecimento que antecede a experiência, que vem antes desta. Curioso, Kant se pôs a refletir.

Ora, uma criança que já queimou o dedo por tê-lo posto na parede da panela quente ou diretamente no fogo não o colocará de novo. Sabe que o fogo queima. Portanto, esse conhecimento vai anteceder outra possível experiência do fogo e ajudar a evitar queimar o dedo de novo! Um conhecimento que é fruto da experiência (o toque anterior do dedo no fogo ou na panela quente), mas que, ao mesmo tempo, em outra, a antecede (portanto, a priori) e evita um mal.

A experiência do bolo citado põe outro fato interessante estudado por Kant: o conhecimento como SÍNTESE. Que é isto? Síntese é uma palavra grega que significa COMPOSIÇÃO (ação de por junto [com]). Vejamos o bolo: no início era um conjunto de materiais que forneciam variadas sensações (cores, odores, sabores...). Mas, pondo tudo junto, ocorreu uma SÍNTESE, que deu origem a um conhecimento de algo novo, o bolo, fruto da união daqueles diferentes elementos. Síntese fruto da experiência sensível, a posteriori. Mas, Kant vai além: seria possível uma SÍNTESE A PRIORI ou um CONHECIMENTO SINTÉTICO A PRIORI? Um conhecimento puro, não ligado diretamente à experiência? Pondo-se a refletir, Kant encontrou alguns exemplos.

Um desses exemplos, na Matemática: 1 + 1 = 2. Dois é fruto da síntese (composição, união) entre 1 e 1. Esses números são unidos no mundo sensível? Não. São unidos pela mente, de forma abstrata (= não concreta). Oh, que interessante! A síntese a priori é possível, como provado pela Matemática. Mas e na Física? Como é possível a Física constituir-se como ciência, com leis rigorosas acerca do universo e da natureza?

Vamos tomar o exemplo da teoria da gravidade, de Isaac Newton, que viveu bem próximo do tempo de Kant e cuja ciência foi muito estudada por este. A lei da gravidade diz que matéria atrai matéria na razão direta de suas massas e na razão inversa dos quadrados de suas distâncias, isto é, quanto mais perto uma da outra maior o poder de atração de uma massa sobre a outras, quanto mais longo, menor o poder. Mas massa é matéria visível. Ah! De fato, todo conhecimento nasce da experiência (lá no início do livro Crítica da Razão Pura, livro de Kant), mas, no caso, vai além. É preciso abstrair (separar mentalmente do concreto) para se conseguir unir fenômenos diversos como a queda da maçã e o movimento dos planetas em torno de uma lei única a explicar esses diferentes fenômenos. Para tanto, é preciso juntar (sintetizar) esses diferentes fenômenos, mas de modo abstrato (separado do concreto, na mente). Ocorre uma SÍNTESE (composição, união) desses elementos pela mente do cientista. E o A PRIORI, como fica? O trabalho da mente vai além do que é dado pela experiência (observação, percepção dos fenômenos). A síntese a priori nasce do trabalho com os elementos da experiência, mais o trabalho da razão.

Ora, o trabalho da razão de dá de forma organizada. Como? Com a ajuda das FORMAS A PRIORI DA SENSIBILIDADE. Quais? O TEMPO e o ESPAÇO. Essas duas formas são A PRIORI, independentes da experiência. Então, as informações experimentais de Newton foram organizadas pela mente com a ajuda das formas a priori da sensibilidade! O  CONHECIMENTO COMO SÍNTESE A PRIORI é possível, portanto, também na Física!

No entanto, vamos esmiuçar (detalhar) um pouquinho mais o que são as FORMAS A PRIORI DA SENSIBILIDADE. Quem poderá nos ajudar? O cozinheiro lá do início! Como? Vejamos. 

Para fazer o bolo, que é uma síntese (composição) dos materiais sensíveis (farinha, ovos, peras, maçãs, gordura, etc.), experienciáveis. Mas são necessários também um bom forno e formas! Pois bem, vamos comparar:

Os materiais sensíveis do bolo seriam os materiais advindos (provindos) da experiência sensível, início do conhecimento).

O fogão com seu forno poderia ser comparado à mente humana, à razão.

As duas fôrmas onde vai a matéria misturada do futuro bolo seriam, respectivamente (seguidamente), o TEMPO e o ESPAÇO. No caso, estando dentro do forno, antes do trabalho dos sentidos (comparáveis ao trabalho do cozinheiro). O tempo e o espaço vão organizar essa mistura, transformando-a em algo novo: o bolo! Qual bolo? O bolo do CONHECIMENTO!

E a degustação (comilança) do bolo? O uso que se faz do conhecimento!

Então temos a experiência (empiria, em grego), bem apresentada na palavra SENSIBILIDADE (capacidade de perceber elementos sensíveis, como sabores, sons, odores [cheiros], formas visíveis, etc.), e a RAZÃO (o intelecto humano). Esta última, a razão, com as FORMAS A PRIORI DA SENSIBILIDADE. As FORMAS: tempo e espaço. Veja a palavra fôrma (com acento, ainda que não necessário na Nova Ortografia): fôrmas dão forma (estrutura). No caso, uma fôrma de coração dará forma de coração ao bolo. Uma quadrada, forma quadrada ao bolo. E assim por diante. Que delícia! Hummm! A PRIORI sim, mas elas não são inatas, isto é, o tempo e o espaço não nascem com as pessoas. Adriana Pereira comenta: "Ao explicar a origem do espaço e do tempo, perguntando-se sobre serem ambos inatos ou adquiridos, Kant diz não serem eles obtidos através dos sentidos, mas tampouco serem inatos. Para ele (no que repete Locke), o inatismo é a filosofia dos preguiçosos, pois invoca uma causa primeira e abandona qualquer outro questionamento posterior." (PEREIRA, 2004, p. 200).

A experiência sensível, com o amontoado de materiais que ela oferece (sabores, odores, sensações táteis, formas visíveis, sons...), é caótica, ou seja, é bagunçada como a massa do bolo crua! Quem dá forma ao “bolo” (conhecimento que nascerá do trabalho da razão) são o tempo e o espaço. Deste modo, é possível o CONHECIMENTO COMO SÍNTESE A PRIORI na Matemática e na Física! As ciências são possíveis!

Curiosamente, Immanuel (Emmanuel) Kant faz filosofia do conhecimento e da ciência ao mesmo tempo.

Como se pôde ver, Immanuel Kant levanta a possibilidade de que o nosso conhecimento empírico (fruto da experiência, empiria, em grego) disponha de duas fontes: a primeira seria constituída pelas impressões sensíveis, como marcas perceptíveis (= que podem ser percebidas, observadas), impressas na mente humana pelo contato direto com o mundo; a segunda seria o que nossa capacidade de conhecer produz por si mesma, ou seja, aquilo que a mente, posta em movimento ou em ação pelas impressões, pode desenvolver, em termos de apreensão (assimilação...) ou conhecimento de uma realidade, sem uma conexão (ligação) exclusiva com a experiência sensíveis, mas sim de forma abstrata (mental, não concreta). A mente precisa das informações sensíveis, como matéria-prima para a elaboração do conhecimento, contudo essa mesma mente dispõe de condições que lhe permitem extrapolar, através da abstração (separação do concreto, transformando em ideias e pensamentos), os dados imediatos, fornecidos por aquelas impressões sensíveis (odores, sabores, cores, formas, barulhos, texturas [o que pode ser sentido pelo toque, tato], etc.). Quem ajuda? Como foi visto: As FORMAS A PRIORI DA SENSIBILIDADE: o TEMPO e o ESPAÇO.

Que bolo gostoso!

REFERENCIAIS:

BRAZÃO, José Antônio. O Conhecimento Como Síntese a Priori. Trabalho Monográfico Qualificado apresentado ao Departamento de Filosofia da Universidade Federal de Goiânia em 2005.

CHAUÍ, Marilena. Unidade 5: O conhecimento. In: _________________. Iniciação à Filosofia. 3.ed. São Paulo, Ática, 2017. (pp. 147 – 193)

PEREIRA, Adriana. Hume e Kant a respeito do inato. In: FACULDADE DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS - UNESP. Revista de Iniciação Científica da FFC, v. 4, n. 3, 2004.

OBSERVAÇÃO: (1) Os exemplos citados não aparecem, necessariamente, nos textos referenciados. São frutos da imaginação, no intuito de ajudar estudantes do Ensino Médio num melhor entendimento da complexidade das ideias de Kant. Podem simplificar muito, mas podem também ajudar. Quis-se aqui ajudar. (2) Os grifos no texto servem para reforçar elementos de destaque a ajudar na compreensão das ideias apresentadas e discutidas.

OBS.: Diálogo interdisciplinar FILOSOFIA, SOCIOLOGIA e HISTÓRIA. 

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