SECRETARIA DA EDUCAÇÃO DE GOIÁS
COORDENAÇÃO REGIONAL METROPOLITANA DE EDUCAÇÃO DE
GOIÂNIA
COLÉGIO ESTADUAL DEPUTADO JOSÉ DE ASSIS
ENSINO MÉDIO –
TERCEIROS ANOS e EP3
FILOSOFIA e SOCIOLOGIA – PROF. JOSÉ ANTÔNIO BRAZÃO.
AULA DE 17 DE SETEMBRO DE 2020.
GEORG W. FRIEDRICH
HEGEL e KARL MARX (Prof. José Antônio Brazão.)
Hegel
e Marx foram dois grandes pensadores alemães da era industrial (séculos XVIII –
XIX), sendo que o segundo viveu bem no auge desta. Hegel foi professor e diretor de escola e, inclusive, professor universitário, tendo vivido, praticamente, sem problemas
com sua família, em sua relação com o Estado. Marx, jornalista, por conta de
suas críticas ao sistema capitalista e seu envolvimento com o Partido Comunista
e os movimentos de trabalhadores, foi perseguido diversas vezes, inclusive
expulso, vivendo, com a família, entre a Alemanha, a França e a Inglaterra,
principalmente. Ambos foram grandes pesquisadores e escritores. O que ambos têm
em comum e o que têm de diferente? Qual é o impacto de suas ideias, ainda hoje?
Ambos
se interessaram muito pelo estudo da história humana. Muito. Ambos estudavam
com afinco (“garra”), isto é, com grande vontade, tendo ambos se tornado
doutores (um elevado grau de estudos), ainda que em épocas diferentes. Em sua
curiosidade e em suas investigações, Hegel percebeu que a história humana é
regida pelo que ele chamava (e chama em seus livros) de “espírito”, que tem,
entre outros significados, os de pensamento, ideia, como também de cultura e
valores intelectuais, morais e outros. O espírito rege a história, a conduz,
desenvolvendo-se, aprimorando-se, elevando-se de forma dialética. Como assim?
Cada
época da história humana não é igual à outra. O que há em comum é o ser humano
que se desenvolve, descobre, inventa e reinventa, por conta de sua capacidade
intelectual (o seu “espírito”). As sociedades primitivas não eram como as de
hoje. Moravam em cavernas e, depois, em cabanas. Hoje, em casas de tijolos e
prédios com apartamentos, entre outros tipos de moradias. De lá para cá, o que
conduziu e tem conduzido, conforme Hegel, a história? Mais uma vez: o espírito.
E o que é dialética? O que ela tem haver com a história?
Dialética
é uma palavra de origem grega, língua que Hegel conhecia bem. Dialética quer
dizer, basicamente, a arte do diálogo, troca de palavras (logoi, em grego, que
provém de logos) entre pessoas. É claro, na troca de palavras e ideias, algo de
novo sempre se aprende, algo de novo, com certeza, aparece. Contudo, Hegel
tomará essa palavra dialética também em outro significado: contradição,
oposição. Ao dizer que o movimento do espírito, na história, é dialético, Hegel
quer dizer que a história, conduzida pelo espírito, não fica na mesmice para
sempre, ela passa por transformações. Como dizia Heráclito de Éfeso (que foi,
aliás, bem estudado por Hegel), alguns séculos antes de Cristo: “Não se pode
banhar nas mesmas águas de um rio duas vezes”. Tudo muda, tudo se transforma,
dentro do tempo e do espaço.
Só
para comparar, Charles Darwin, que viveu bem na época de Marx (Hegel é um pouco
anterior), dizia que o tempo, em grande escala, é fundamental à evolução dos
seres vivos. Hegel, antes dele, percebeu que o tempo é também essencial. Com o
tempo, pela elevação constante do espírito de forma dialética, tudo se
transforma, tudo muda. Não que se dê um fim ao passado. Não, de modo algum! O
movimento do espírito, que se dá por meio dialética, tem três aspectos
importantes: a tese, a antítese e a síntese. A tese é a afirmação (também
posição), quando o espírito, num dado momento, se posiciona no mundo,
constituindo, pouco a pouco, progressivamente, a cultura. A antítese é a
oposição, é o oposto (anti-) da tese, sua negação, isto é, o novo que desponta,
que surge, que nasce. E a síntese? É a composição, a reunião entre elementos da
tese e da antítese, elevando-se o espírito a um novo patamar: as descobertas
novas, as novas invenções e novas criações não põem fim ao passado, mas se
afirmam como algo novo, frutos da ação do espírito. Se houvesse uma aniquilação
do passado, não haveria história para ser contada. Mas, por conta da síntese,
contar a história é possível. Mas criações e novidades não permanecem para
sempre. A síntese se transforma em uma tese, que vem a ser encarada por uma
antítese, uma nova síntese e, assim, permanentemente, ao longo da imensidão do
tempo histórico.
Continuando,
uma citação de Bismarque Maciel de Oliveira: “O espírito, segundo Hegel, é a
ideia em si e por si, e se manifesta de três formas: espírito subjetivo,
espírito objetivo e espírito absoluto. O espírito subjetivo refere-se à alma, à
consciência e à razão. O espírito objetivo envolve o Direito, a Moralidade e o
Costume. O espírito absoluto, por sua vez, a Arte, a Religião e a Filosofia,
sendo, portanto, uma síntese do espírito subjetivo e objetivo.(...)” (ver
referencial). Ideia em si e por si é a ideia independente da materialidade. De
fato, a gente não vê um espírito ou uma ideia andando daqui para li. Espírito e
ideia são invisíveis. E quem tem o espírito? O ser humano. Quem tem ideias na
mente? O ser humano. Mas Hegel não está preocupado com o caráter materialista,
busca o espírito, buscas as realizações espirituais: culturas, invenções,
criações, etc., frutos, de fato, do espírito.
O
espírito subjetivo, como o
nome diz, é o espírito voltado para si mesmo (sujeito), que se encontra no
mundo, presente nas primeiras coletividades, que vai descobrindo o mundo que o
cerca. À medida que vai conhecendo esse mundo, o espírito vai se afirmando em
novas criações, vai se objetivando, devagar, com o tempo e o devir (vir a ser,
movimento, transformação). Torna-se espírito
objetivo em sociedades mais avançadas, como a grega e a romana:
filosofia, a moral, o Direito, a religião organizada, entre outras. É o
espírito da cultura e da ciência. Alguns milênios se passam e o espírito
objetivo avança mais ainda, tornando-se capaz de se perceber como constituidor
da história e das realizações ocorridas no transcurso desta: torna-se espírito absoluto. O
espírito absoluto vai além do objetivo, assume autoconsciência, em alto grau de
desenvolvimento. Hegel acreditava que seu tempo era o tempo da manifestação do
espírito absoluto. Só para lembrar, pondo em plano concreto, dos séculos
próximos de Hegel: Renascimento artístico-cultural, científico, com descobertas
e criações significativas cujo auge encontra-se em Isaac Newton, mas que teve
as contribuições de outros. Enfim, a Revolução Industrial, com o uso das
descobertas da Física, da Química (nesta, por exemplo, Antoine Lavoisier,
francês), do magnetismo, além de muitas outras. Um mundo em que o espírito
mostrou sua grande pujança (exuberância, poderio).
Mas
vale reforçar: HEGEL É IDEALISTA, RACIONALISTA: o espírito é a própria RAZÃO, a
razão que está no mundo e que faz a história, com suas transformações,
acontecer. Tanto que o linguajar que usa é muito abstrato (separado do
concreto; o que pertence ao domínio das ideias, do pensamento). O espírito é a
consciência. Para aproveitar do que Marx dirá, no caso de Hegel, a consciência
(o espírito) determina a vida. Tudo que se fez, ao longo da história, é fruto
do espírito. E como Marx entra nessa história? Marx também viu que as mudanças
são lentas e contraditórias, mas acontecem.
Marx
foi um grande estudioso de Hegel. Admirava as ideias de Hegel. Mas fez uma
reviravolta no pensamento dialético hegeliano. Como assim? Marx dirá que não é
a consciência que determina a vida. É a vida que determina a consciência. Ou
seja, são as condições da vida material, as relações econômicas e a luta de
classes concreta, real, que põem em movimento a história. Uma luta antiga.
Tese, antítese e síntese são constituídas pela ação concreta de classes sociais
que foram se formando e surgindo ao longo do tempo histórico. Não são
espirituais. São reais. É o materialismo histórico, de Marx e Friedrich Engels que
foi se desenvolvendo. Onde Hegel via o espírito subjetivo, o espírito objetivo
e o absoluto, Marx e Engels verão MODOS DE PRODUÇÃO reais, concretos. O modo
como as pessoas, em sociedade, produzem, em cada época, sua vida material é que
determinou, determina e determinará sua consciência, seu espírito, ou seja: a
religião, o Direito, as invenções, as criações humanas, que vão servir a
interesses de classes e à luta entre estas. A luta de classes é o motor da
história, isto é, aquilo que põe a história concreta, real, em movimento. Não é
o espírito! Leia-se o MANIFESTO DO
PARTIDO COMUNISTA, de Marx e Engels. Texto simples e tranquilo de se
entender.
QUADRO
COMPARATIVO SIMPLES (Prof. José Antônio Brazão.) |
|
G.W.F. HEGEL |
KARL MARX |
A história é resultado do movimento do Espírito. |
A história é resultado da luta de classes: entre as
classes dominante e dominadas de cada época histórica e entre as classes
dominantes (ex.: burguesia X senhores feudais) pelo predomínio. |
O Espírito (a Razão)
é o produtor da cultura, da religião, do Direito, de toda produção e
realização de origem intelectual, racional. |
Os homens concretos, em bandos ou reunidos em
classes, são os responsáveis pela história. |
Idealista e racionalista – vê na história o
movimento do Espírito (Razão, Ideia...). |
Materialista – vê a história a partir do trabalho
produtivo e das contradições concretas nascidas da produção da vida material. |
Dialética idealista: o Espírito, por meio da
contradição e da superação, realiza a história. |
Dialética materialista: materialismo histórico.
Materialismo por conta da contradição se constituir no movimento das forças
produtivas. E histórico, porque a história é feita a partir dos modos de
produção, envolvendo a luta de classes como motor. |
Três grandes fases do movimento do Espírito:
Espírito Subjetivo, Espírito Objetivo, Espírito Absoluto. (No próximo quadro
abaixo.) |
Vários modos de produção da vida material: Comunitário
ou primitivo (grupos, tribos), Escravista, Feudal, Capitalista [e
Socialista]. |
“O espírito, segundo Hegel, é a ideia em si e por
si, e se manifesta de três formas: espírito subjetivo, espírito objetivo e
espírito absoluto. O espírito subjetivo refere-se à alma, à consciência e à
razão. O espírito objetivo envolve o Direito, a Moralidade e o Costume. O
espírito absoluto, por sua vez, a Arte, a Religião e a Filosofia, sendo,
portanto, uma síntese do espírito subjetivo e objetivo.(...)” (Site ÂMBITO JURÍDICO – Citação 1: endereço
abaixo.) Comentário: O espírito absoluto vai além, assume autoconsciência
(Prof. José Antônio.). |
No modo de produção primitivo ou comunitário não
havia classes, pessoas andavam em bandos nômades. Com a sedentarização
(fixação na terra), formação de sociedades mais complexas e o nascimento das
classes de forma muito clara lutando entre si. Modo de produção escravista,
por exemplo: na Grécia e na Roma Antigas. Modo de Produção Feudal: produção
em feudos dominados por senhores (feudais). Modo de produção capitalista: o
capital se sobrepõe à posse da terra e acaba por derrubar o feudalismo. Modo
de produção socialista: ideal, sem classes. PRODUÇÃO ECONÔMICA DA VIDA
MATERIAL. |
PARTE 2: a seguir.
PARTE
2:
HEGEL |
MARX |
O real é
racional, o racional é real. Ou seja, a realidade tem uma ordem racional que
a constitui. A razão (espírito, ordem, organização...) constituinte de toda a
realidade histórica é real, existe de fato. [Visão idealista.] |
A vida determina
a consciência. Isto é, todas as produções espirituais (culturais) humanas são
frutos da produção da vida material, em cada modo de produção. [Visão
materialista.] |
Dialética =
contradição, oposição. Dialética idealista, isto é, resultado do movimento do
espírito, num processo de tese, antítese e síntese. Tese: afirmação.
Antítese: negação, oposição... Síntese: composição. Com o tempo, a síntese se
transforma em tese, que sofre a contradição (antítese). |
Dialética da
luta de classes, levando a novos modos de produzir a vida material. Por
exemplo: da luta entre burguesia e senhores feudais ocorreu a afirmação
definitiva do modo de produção capitalista, que vinha sendo gestado e,
depois, gerado no próprio modo de produção feudal. Exploração X Reação. |
Hegel não foi
revolucionário em termos político-econômicos. Não propunha a luta do
proletariado contra os capitalistas. |
Marx, junto com
Engels, tornou-se um revolucionário do Partido Comunista. Propuseram a luta
do proletariado contra os capitalistas, luta armada inclusive. |
Hegel: de
origens cristãs. |
Marx: de raízes
originalmente judaicas. |
O Direito é
fruto do progresso do Espírito. Universal (válido para toda a sociedade). Uma criação do Espírito. |
O Direito é
fruto dos interesses da classe dominante, que o impõe às demais. |
A religião
também é outra criação do Espírito. |
“A religião é
ópio do povo.” Ou seja, serve para dopar (amortecer, suavizar) as
consciências e manter as pessoas servis à classe dominante. Fruto igualmente
do movimento da produção humana da vida material. |
O Espírito:
universal, ainda que sua evolução dialética varie de sociedade para
sociedade, como as sociedades indígenas e as sociedades industriais. |
Ideologia:
conjunto de ideias e valores da classe dominante impostos, sutilmente (de
modo refinado e quase imperceptível), às demais classes, como se fosse
universal. |
O Espírito
absoluto alcança seu auge no tempo de Hegel, de acordo com este. |
O capitalismo se
firma sobre as ruínas do sistema ou modo feudal de produção e não permanecerá
para sempre, será superado. |
REFERÊNCIAS:
CHAUÍ, Marilena. Iniciação à Filosofia. 3.ed. São Paulo,
Ática, 2017.
CHAUÍ, Marilena et alii. Primeira Filosofia: Lições Introdutórias.
7.ed. São Paulo, Brasiliense, 1987.
OLIVEIRA, Bismarque
Maciel de. A visão hegeliana de estado e
a primazia do direito internacional sobre o direito interno. Disponível em:
< https://ambitojuridico.com.br/cadernos/direitos-humanos/a-visao-hegeliana-de-estado-e-a-primazia-do-direito-internacional-sobre-o-direito-interno/#:~:text=O%20esp%C3%ADrito%20subjetivo%20refere%2Dse,do%20esp%C3%ADrito%20subjetivo%20e%20objetivo.
> Acesso em 14 de setembro de 2020.
OBS.: (1) O Manifesto Comunista ou Manifesto do Partido Comunista foi uma
obra feita por Marx e Engels, a pedido do Partido Comunista, do qual fizeram
parte, no século XIX. Trechos dele já foram apresentados em atividades
anteriores, no Google Classroom (veja-se). O linguajar do Manifesto é voltado para os trabalhadores e as trabalhadoras,
principalmente, operários e operárias de fábricas, além de camponeses e outros
tipos de trabalhadores(as), no século XIX, até hoje continuando bem atual em
muitos pontos, senão em sua totalidade. Vale a pena ser lido e estudado mais detalhadamente
(investigado, interpretado, analisado...).
Livro curto e muito interessante. (2) Sobre Marx: foi economista,
historiador e filósofo. O pai de Karl Marx, Heinrich Marx, era advogado. De
família originalmente judia, convertida, por conveniência e necessidade de
trabalho, ao cristianismo. (3) Engels também dispunha de excelentes
conhecimentos nessas áreas. Foi filho de um industrial.
OBS.: Vejam o filme O
JOVEM MARX, no Youtube.
Diálogo interdisciplinar: Sociologia, Filosofia e História.
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