terça-feira, 15 de setembro de 2020

GEORG W. F. HEGEL e KARL MARX - AULA ZOOM DE FILOSOFIA E SOCIOLOGIA - TERCEIROS ANOS DO ENSINO MÉDIO e EP3 CEDJA 2020 (Prof. José Antônio Brazão.)

 

SECRETARIA DA EDUCAÇÃO DE GOIÁS

COORDENAÇÃO REGIONAL METROPOLITANA DE EDUCAÇÃO DE GOIÂNIA

COLÉGIO ESTADUAL DEPUTADO JOSÉ DE ASSIS

ENSINO MÉDIO – TERCEIROS ANOS e EP3

FILOSOFIA e SOCIOLOGIA – PROF. JOSÉ ANTÔNIO BRAZÃO.

AULA DE 17 DE SETEMBRO DE 2020.

GEORG W. FRIEDRICH HEGEL e KARL MARX (Prof. José Antônio Brazão.)

Hegel e Marx foram dois grandes pensadores alemães da era industrial (séculos XVIII – XIX), sendo que o segundo viveu bem no auge desta. Hegel foi professor e diretor de escola e, inclusive, professor universitário, tendo vivido, praticamente, sem problemas com sua família, em sua relação com o Estado. Marx, jornalista, por conta de suas críticas ao sistema capitalista e seu envolvimento com o Partido Comunista e os movimentos de trabalhadores, foi perseguido diversas vezes, inclusive expulso, vivendo, com a família, entre a Alemanha, a França e a Inglaterra, principalmente. Ambos foram grandes pesquisadores e escritores. O que ambos têm em comum e o que têm de diferente? Qual é o impacto de suas ideias, ainda hoje?

Ambos se interessaram muito pelo estudo da história humana. Muito. Ambos estudavam com afinco (“garra”), isto é, com grande vontade, tendo ambos se tornado doutores (um elevado grau de estudos), ainda que em épocas diferentes. Em sua curiosidade e em suas investigações, Hegel percebeu que a história humana é regida pelo que ele chamava (e chama em seus livros) de “espírito”, que tem, entre outros significados, os de pensamento, ideia, como também de cultura e valores intelectuais, morais e outros. O espírito rege a história, a conduz, desenvolvendo-se, aprimorando-se, elevando-se de forma dialética. Como assim?

Cada época da história humana não é igual à outra. O que há em comum é o ser humano que se desenvolve, descobre, inventa e reinventa, por conta de sua capacidade intelectual (o seu “espírito”). As sociedades primitivas não eram como as de hoje. Moravam em cavernas e, depois, em cabanas. Hoje, em casas de tijolos e prédios com apartamentos, entre outros tipos de moradias. De lá para cá, o que conduziu e tem conduzido, conforme Hegel, a história? Mais uma vez: o espírito. E o que é dialética? O que ela tem haver com a história?

Dialética é uma palavra de origem grega, língua que Hegel conhecia bem. Dialética quer dizer, basicamente, a arte do diálogo, troca de palavras (logoi, em grego, que provém de logos) entre pessoas. É claro, na troca de palavras e ideias, algo de novo sempre se aprende, algo de novo, com certeza, aparece. Contudo, Hegel tomará essa palavra dialética também em outro significado: contradição, oposição. Ao dizer que o movimento do espírito, na história, é dialético, Hegel quer dizer que a história, conduzida pelo espírito, não fica na mesmice para sempre, ela passa por transformações. Como dizia Heráclito de Éfeso (que foi, aliás, bem estudado por Hegel), alguns séculos antes de Cristo: “Não se pode banhar nas mesmas águas de um rio duas vezes”. Tudo muda, tudo se transforma, dentro do tempo e do espaço.

Só para comparar, Charles Darwin, que viveu bem na época de Marx (Hegel é um pouco anterior), dizia que o tempo, em grande escala, é fundamental à evolução dos seres vivos. Hegel, antes dele, percebeu que o tempo é também essencial. Com o tempo, pela elevação constante do espírito de forma dialética, tudo se transforma, tudo muda. Não que se dê um fim ao passado. Não, de modo algum! O movimento do espírito, que se dá por meio dialética, tem três aspectos importantes: a tese, a antítese e a síntese. A tese é a afirmação (também posição), quando o espírito, num dado momento, se posiciona no mundo, constituindo, pouco a pouco, progressivamente, a cultura. A antítese é a oposição, é o oposto (anti-) da tese, sua negação, isto é, o novo que desponta, que surge, que nasce. E a síntese? É a composição, a reunião entre elementos da tese e da antítese, elevando-se o espírito a um novo patamar: as descobertas novas, as novas invenções e novas criações não põem fim ao passado, mas se afirmam como algo novo, frutos da ação do espírito. Se houvesse uma aniquilação do passado, não haveria história para ser contada. Mas, por conta da síntese, contar a história é possível. Mas criações e novidades não permanecem para sempre. A síntese se transforma em uma tese, que vem a ser encarada por uma antítese, uma nova síntese e, assim, permanentemente, ao longo da imensidão do tempo histórico.

Continuando, uma citação de Bismarque Maciel de Oliveira: “O espírito, segundo Hegel, é a ideia em si e por si, e se manifesta de três formas: espírito subjetivo, espírito objetivo e espírito absoluto. O espírito subjetivo refere-se à alma, à consciência e à razão. O espírito objetivo envolve o Direito, a Moralidade e o Costume. O espírito absoluto, por sua vez, a Arte, a Religião e a Filosofia, sendo, portanto, uma síntese do espírito subjetivo e objetivo.(...)” (ver referencial). Ideia em si e por si é a ideia independente da materialidade. De fato, a gente não vê um espírito ou uma ideia andando daqui para li. Espírito e ideia são invisíveis. E quem tem o espírito? O ser humano. Quem tem ideias na mente? O ser humano. Mas Hegel não está preocupado com o caráter materialista, busca o espírito, buscas as realizações espirituais: culturas, invenções, criações, etc., frutos, de fato, do espírito.

O espírito subjetivo, como o nome diz, é o espírito voltado para si mesmo (sujeito), que se encontra no mundo, presente nas primeiras coletividades, que vai descobrindo o mundo que o cerca. À medida que vai conhecendo esse mundo, o espírito vai se afirmando em novas criações, vai se objetivando, devagar, com o tempo e o devir (vir a ser, movimento, transformação). Torna-se espírito objetivo em sociedades mais avançadas, como a grega e a romana: filosofia, a moral, o Direito, a religião organizada, entre outras. É o espírito da cultura e da ciência. Alguns milênios se passam e o espírito objetivo avança mais ainda, tornando-se capaz de se perceber como constituidor da história e das realizações ocorridas no transcurso desta: torna-se espírito absoluto. O espírito absoluto vai além do objetivo, assume autoconsciência, em alto grau de desenvolvimento. Hegel acreditava que seu tempo era o tempo da manifestação do espírito absoluto. Só para lembrar, pondo em plano concreto, dos séculos próximos de Hegel: Renascimento artístico-cultural, científico, com descobertas e criações significativas cujo auge encontra-se em Isaac Newton, mas que teve as contribuições de outros. Enfim, a Revolução Industrial, com o uso das descobertas da Física, da Química (nesta, por exemplo, Antoine Lavoisier, francês), do magnetismo, além de muitas outras. Um mundo em que o espírito mostrou sua grande pujança (exuberância, poderio).

Mas vale reforçar: HEGEL É IDEALISTA, RACIONALISTA: o espírito é a própria RAZÃO, a razão que está no mundo e que faz a história, com suas transformações, acontecer. Tanto que o linguajar que usa é muito abstrato (separado do concreto; o que pertence ao domínio das ideias, do pensamento). O espírito é a consciência. Para aproveitar do que Marx dirá, no caso de Hegel, a consciência (o espírito) determina a vida. Tudo que se fez, ao longo da história, é fruto do espírito. E como Marx entra nessa história? Marx também viu que as mudanças são lentas e contraditórias, mas acontecem.

Marx foi um grande estudioso de Hegel. Admirava as ideias de Hegel. Mas fez uma reviravolta no pensamento dialético hegeliano. Como assim? Marx dirá que não é a consciência que determina a vida. É a vida que determina a consciência. Ou seja, são as condições da vida material, as relações econômicas e a luta de classes concreta, real, que põem em movimento a história. Uma luta antiga. Tese, antítese e síntese são constituídas pela ação concreta de classes sociais que foram se formando e surgindo ao longo do tempo histórico. Não são espirituais. São reais. É o materialismo histórico, de Marx e Friedrich Engels que foi se desenvolvendo. Onde Hegel via o espírito subjetivo, o espírito objetivo e o absoluto, Marx e Engels verão MODOS DE PRODUÇÃO reais, concretos. O modo como as pessoas, em sociedade, produzem, em cada época, sua vida material é que determinou, determina e determinará sua consciência, seu espírito, ou seja: a religião, o Direito, as invenções, as criações humanas, que vão servir a interesses de classes e à luta entre estas. A luta de classes é o motor da história, isto é, aquilo que põe a história concreta, real, em movimento. Não é o espírito! Leia-se o MANIFESTO DO PARTIDO COMUNISTA, de Marx e Engels. Texto simples e tranquilo de se entender.

QUADRO COMPARATIVO SIMPLES (Prof. José Antônio Brazão.)

G.W.F. HEGEL

KARL MARX

A história é resultado do movimento do Espírito.

A história é resultado da luta de classes: entre as classes dominante e dominadas de cada época histórica e entre as classes dominantes (ex.: burguesia X senhores feudais) pelo predomínio.

O Espírito (a Razão)  é o produtor da cultura, da religião, do Direito, de toda produção e realização de origem intelectual, racional.

Os homens concretos, em bandos ou reunidos em classes, são os responsáveis pela história.

Idealista e racionalista – vê na história o movimento do Espírito (Razão, Ideia...).

Materialista – vê a história a partir do trabalho produtivo e das contradições concretas nascidas da produção da vida material.

Dialética idealista: o Espírito, por meio da contradição e da superação, realiza a história.

Dialética materialista: materialismo histórico. Materialismo por conta da contradição se constituir no movimento das forças produtivas. E histórico, porque a história é feita a partir dos modos de produção, envolvendo a luta de classes como motor.

Três grandes fases do movimento do Espírito: Espírito Subjetivo, Espírito Objetivo, Espírito Absoluto. (No próximo quadro abaixo.)

Vários modos de produção da vida material: Comunitário ou primitivo (grupos, tribos), Escravista, Feudal, Capitalista [e Socialista].

“O espírito, segundo Hegel, é a ideia em si e por si, e se manifesta de três formas: espírito subjetivo, espírito objetivo e espírito absoluto. O espírito subjetivo refere-se à alma, à consciência e à razão. O espírito objetivo envolve o Direito, a Moralidade e o Costume. O espírito absoluto, por sua vez, a Arte, a Religião e a Filosofia, sendo, portanto, uma síntese do espírito subjetivo e objetivo.(...)” (Site ÂMBITO JURÍDICO – Citação 1: endereço abaixo.) Comentário: O espírito absoluto vai além, assume autoconsciência (Prof. José Antônio.).

No modo de produção primitivo ou comunitário não havia classes, pessoas andavam em bandos nômades. Com a sedentarização (fixação na terra), formação de sociedades mais complexas e o nascimento das classes de forma muito clara lutando entre si. Modo de produção escravista, por exemplo: na Grécia e na Roma Antigas. Modo de Produção Feudal: produção em feudos dominados por senhores (feudais). Modo de produção capitalista: o capital se sobrepõe à posse da terra e acaba por derrubar o feudalismo. Modo de produção socialista: ideal, sem classes. PRODUÇÃO ECONÔMICA DA VIDA MATERIAL.

PARTE 2:  a seguir.

PARTE 2:

HEGEL

MARX

O real é racional, o racional é real. Ou seja, a realidade tem uma ordem racional que a constitui. A razão (espírito, ordem, organização...) constituinte de toda a realidade histórica é real, existe de fato. [Visão idealista.]

A vida determina a consciência. Isto é, todas as produções espirituais (culturais) humanas são frutos da produção da vida material, em cada modo de produção. [Visão materialista.]

Dialética = contradição, oposição. Dialética idealista, isto é, resultado do movimento do espírito, num processo de tese, antítese e síntese. Tese: afirmação. Antítese: negação, oposição... Síntese: composição. Com o tempo, a síntese se transforma em tese, que sofre a contradição (antítese).

Dialética da luta de classes, levando a novos modos de produzir a vida material. Por exemplo: da luta entre burguesia e senhores feudais ocorreu a afirmação definitiva do modo de produção capitalista, que vinha sendo gestado e, depois, gerado no próprio modo de produção feudal. Exploração X Reação.

Hegel não foi revolucionário em termos político-econômicos. Não propunha a luta do proletariado contra os capitalistas.

Marx, junto com Engels, tornou-se um revolucionário do Partido Comunista. Propuseram a luta do proletariado contra os capitalistas, luta armada inclusive.

Hegel: de origens cristãs.

Marx: de raízes originalmente judaicas.

O Direito é fruto do progresso do Espírito. Universal (válido para toda a sociedade). Uma criação do Espírito.

O Direito é fruto dos interesses da classe dominante, que o impõe às demais.

A religião também é outra criação do Espírito.

“A religião é ópio do povo.” Ou seja, serve para dopar (amortecer, suavizar) as consciências e manter as pessoas servis à classe dominante. Fruto igualmente do movimento da produção humana da vida material.

O Espírito: universal, ainda que sua evolução dialética varie de sociedade para sociedade, como as sociedades indígenas e as sociedades industriais.

Ideologia: conjunto de ideias e valores da classe dominante impostos, sutilmente (de modo refinado e quase imperceptível), às demais classes, como se fosse universal.

O Espírito absoluto alcança seu auge no tempo de Hegel, de acordo com este.

O capitalismo se firma sobre as ruínas do sistema ou modo feudal de produção e não permanecerá para sempre, será superado.

REFERÊNCIAS:

CHAUÍ, Marilena. Iniciação à Filosofia. 3.ed. São Paulo, Ática, 2017.

CHAUÍ, Marilena et alii. Primeira Filosofia: Lições Introdutórias. 7.ed. São Paulo, Brasiliense, 1987.

OLIVEIRA, Bismarque Maciel de. A visão hegeliana de estado e a primazia do direito internacional sobre o direito interno. Disponível em: < https://ambitojuridico.com.br/cadernos/direitos-humanos/a-visao-hegeliana-de-estado-e-a-primazia-do-direito-internacional-sobre-o-direito-interno/#:~:text=O%20esp%C3%ADrito%20subjetivo%20refere%2Dse,do%20esp%C3%ADrito%20subjetivo%20e%20objetivo. > Acesso em 14 de setembro de 2020.

OBS.: (1) O Manifesto Comunista ou Manifesto do Partido Comunista foi uma obra feita por Marx e Engels, a pedido do Partido Comunista, do qual fizeram parte, no século XIX. Trechos dele já foram apresentados em atividades anteriores, no Google Classroom (veja-se). O linguajar do Manifesto é voltado para os trabalhadores e as trabalhadoras, principalmente, operários e operárias de fábricas, além de camponeses e outros tipos de trabalhadores(as), no século XIX, até hoje continuando bem atual em muitos pontos, senão em sua totalidade. Vale a pena ser lido e estudado mais detalhadamente (investigado, interpretado, analisado...).  Livro curto e muito interessante. (2) Sobre Marx: foi economista, historiador e filósofo. O pai de Karl Marx, Heinrich Marx, era advogado. De família originalmente judia, convertida, por conveniência e necessidade de trabalho, ao cristianismo. (3) Engels também dispunha de excelentes conhecimentos nessas áreas. Foi filho de um industrial.

OBS.: Vejam o filme O JOVEM MARX, no Youtube.

Diálogo interdisciplinar: Sociologia, Filosofia e História.

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