TERCEIRA QUESTÃO
COMENTADA DE FILOSOFIA DO ENEM 2018: (Prof. José Antônio Brazão.)
QUESTÃO
62 CADERNO BRANCO – ENEM 2018:
O
século XVIII é, por diversas razões, um século diferenciado. Razão e
experimentação se aliavam no que se acreditava ser o verdadeiro caminho para o
estabelecimento do conhecimento científico, por tanto tempo almejado. O fato, a
análise e a indução passavam a ser parceiros fundamentais da razão. É ainda no
século XVIII que o homem começa a tomar consciência de sua situação na
história.
(ODALIA,
N. In: PINSKY, J.; PINSKY, C. B. História da cidadania. São Paulo: Contexto,
2003.)
No
ambiente cultural do Antigo Regime, a discussão filosófica mencionada no texto
tinha como uma de suas características a
(A)
aproximação entre inovação e saberes antigos.
(B)
conciliação entre revelação e metafísica platônica.
(C)
vinculação entre escolástica e práticas de pesquisa.
(D)
separação entre teologia e fundamentalismo religioso.
(E)
contraposição entre clericalismo e liberdade de pensamento.
RESPOSTA:
(E) contraposição entre clericalismo e liberdade de pensamento.
Vamos tomar o
texto e a questão proposta a partir dele parte por parte:
·
“O
século XVIII é, por diversas razões, um século diferenciado.”
É
importante lembrar o que antecedeu o século XVIII, na Europa e no mundo
Ocidental (mundo cultural e diretamente influenciado pela Europa): (a) o
Renascimento artístico, cultural e científico; (b) as grandes navegações e
descobertas marítimas europeias pelo mundo afora (Américas, Brasil, novos
caminhos para as Índias, a circunavegação do mundo, etc.); (c) a Revolução
Científica Moderna (Renascimento científico); (d) a Reforma Protestante e a
Contrarreforma; (e) a filosofia moderna de cunho racionalista e empirista (não
entrando aqui na filosofia política). O século XVIII foi herdeiro de todos
esses acontecimentos. E ao longo dele, ademais, viu-se na Europa o impulso da
Revolução Industrial, que culminará no século XIX. Houve um fortalecimento
grande da burguesia. Porém, a sociedade guardará muito da estrutura feudal (o
Antigo Regime), em que havia grupos separados dentro da sociedade europeia,
tendo ainda como fundamento a terra (feudos – daí, feudal – grandes extensões
de terras): clérigos (religiosos, Igreja), reis e rainhas, senhores feudais,
servos (camponeses, em grande parte), burguesia (ao longo dos séculos XV em
diante, em expansão e fortalecimento). O século XVIII irá diferenciar-se dos
demais por carregar consigo as descobertas dos anteriores, um grande
desenvolvimento no modo de produzir mercadorias (Revolução Industrial), com
máquinas e fábricas, o reforço no poder econômico e na influência política da
burguesia, no Iluminismo, movimento filosófico que deu grande valor à razão em
seu poder de descobrir, inventar, criar, levar ao progresso.
·
“Razão e
experimentação se aliavam no que se acreditava ser o verdadeiro caminho para o
estabelecimento do conhecimento científico, por tanto tempo almejado.”
Uma
das grandes preocupações de parte da filosofia moderna foi a questão do
conhecimento humano: de onde provém?, qual é sua base?, como se formam as
ideias?, etc. A corrente racionalista
defendia que a razão é a base principal do conhecimento, na constituição das
ideias e na compreensão do mundo. René Descartes, no século XVII, inclusive
defendeu a existência de certas ideias inatas (nascidas com a pessoa) na mente
humana. De acordo com Japiassú e Marcondes: “Em Descartes, as ideias inatas são
aquelas que se originam da própria mente, independentemente de qualquer
experiência anterior, e incluindo as ideias de um Deus Perfeito, da substância
pensante e da matéria extensa.” (JAPIASSÚ, Hilton e
MARCONDES, Danilo. Dicionário Básico de
Filosofia. 5.ed. Rio de Janeiro: Zahar, 2008. Citado em: Dicionário de
Filosofia. Disponível em: https://sites.google.com/view/sbgdicionariodefilosofia/ideia-inata-pr%C3%A9concebida
. Acesso em 09 de junho de 2019.). O racionalismo não
nega a experiência sensível, mas desconfia profundamente dos sentidos, dando
ênfase à razão como elemento fundante do conhecimento humano.
A
corrente empirista (empiria, em grego é experiência – aqui se referindo à
experiência sensível), por sua vez, afirmou a preponderância da experiência
sensorial ou sensível na elaboração do conhecimento. Experiência sensível é a
observação direta da realidade e do mundo através dos cinco sentidos (olfato,
tato, paladar, audição e visão). Segundo os empiristas, nada há na mente que
não tenha passado antes pelos cinco sentidos. Dos filósofos empiristas modernos
podem ser citados, por exemplo: Francis Bacon, John Locke e David Hume.
Um
outro elemento importante foi a experimentação,
no sentido de realizar experimentos – de acordo com o Google: experimento é um
“trabalho científico que se destina a verificar um fenômeno físico”, ou seja uma
atividade prática, sujeita à observação dos sentidos (principalmente a visão),
que permite a compreensão de um ou mais fenômenos da natureza (physis, em grego, daí: física). Para
citar alguns exemplos: Copérnico, Galileu Galilei, Isaac Newton e outros cientistas
fizeram uma série de observações do mundo e da natureza. Junto com a experimentação, por sua vez, caminha a razão –
novamente, de acordo com o Google: razão é: (substantivo feminino) 1.faculdade
de raciocinar, apreender, compreender, ponderar, julgar; a inteligência. (...)
2.raciocínio que conduz à indução ou dedução de algo.” (Razão, em Dicionário
Google. Disponível em: https://www.google.com/search?rlz=1C2CAFA_enBR772BR772&ei=8D_9XLL_Ktay5OUPnNi5-AQ&q=significado+de+raz%C3%A3o&oq=significado+de+raz%C3%A3o&gs_l=psy-ab.12...0.0..174308...0.0..0.0.0.......0......gws-wiz.tfAQ-Of7lEA
.
Acesso em 09 de junho de 2019.). De fato, o material obtido pela experimentação
(informações daí advindas) foi trabalhado intensamente pela razão e
transformado em leis naturais descobertas, máquinas, etc.
·
“O fato, a
análise e a indução passavam a ser parceiros fundamentais da razão.”
Continuando o
raciocínio (trabalho da razão, analisando e sintetizando – compondo, reunindo –
ideias) anterior que vimos fazendo, os fatos (informações advindas da
experimentação) foram analisados, investigados, permitindo novas descobertas.
Um tipo de raciocínio muito usado foi a indução: raciocínio que une premissas
particulares diversas e delas tira uma conclusão universal, geral. Como assim:
premissas são afirmações que antecedem a conclusão, neste caso, uma série de
observações de fenômenos naturais e experimentos, dos quais os cientistas
citados tiraram conclusões universais. Por exemplo: a lei da gravidade, de
Newton; a lei da queda livre, de Galileu; o heliocentrismo, de Copérnico; etc.
·
“É ainda no
século XVIII que o homem começa a tomar consciência de sua situação na
história.”
Capazes de
conhecer o mundo e transforma-lo com o auxílio da ciência e das invenções, os
seres humanos, de fato, puderam ter uma consciência cada vez mais clara da
realidade do mundo e da história da qual faziam parte, incluindo seu momento
vivido. Para a burguesia, por exemplo, um momento de afirmação de seu poder, o
que ocorrerá em várias revoluções, como a Independência dos EUA, a Revolução
Francesa e outras que viriam a ocorrer. O Iluminismo do século XVIII,
inclusive, contribuiu profundamente para que estas ocorressem.
No
ambiente cultural do Antigo Regime ... Que ambiente é
esse? O Antigo Regime, como já foi referido, foi o feudalismo, cuja estrutura
ainda se mantinha muito presente no mundo do século XVIII – no campo das
ideias, por exemplo, a religião, que era um dos sustentáculos desse regime,
mantinha, ainda, muitos traços de tradicionalismo, até mesmo de superstição e
intolerância. Na Europa, na época, guerras de religião (católicos versus protestantes e vice-versa) eram
constantes. Chegava-se ao absurdo de condenar pessoas que não estavam ou
aparentemente não estavam de acordo com a religião oficial – o filósofo
iluminista Voltaire, por exemplo, teve que se haver com vários casos e teve, às
vezes, até de fugir por conta de suas críticas à estrutura social e aos
desmandos que observava. O clericalismo – a influência intensa do clero (da
Igreja) – era forte e procurava tolher ideias novas. Assim sendo, a liberdade
de pensamento tornava-se extremamente essencial. Immanuel Kant, no livretro
(livrinho) “O que é Iluminismo [O que é Ilustração]”, inclusive, fala da
necessidade dos governantes darem ao povo o direito de pensar por si, sem a
intervenção contínua dos “tutores”. (Livro que fica aqui como sugestão de
leitura.) Daí a resposta dessa questão proposta pelo ENEM 2018:
“No
ambiente cultural do Antigo Regime, a discussão filosófica mencionada no texto
tinha como uma de suas características a
(E)
contraposição entre clericalismo e liberdade de pensamento.”
Sugestões de
leitura que poderão ajudar a entender bem a resposta:
·
O
QUE É ILUMINISMO, de Immanuel (Emmanuel) Kant.
·
CONTOS,
de Voltaire.
·
CARTAS
FILOSÓFICAS, de Voltaire.
·
O seu livro didático de Filosofia, em
uso em sua escola. Procure nas partes Conhecimento, Filosofia Moderna,
Filosofia da Ciência (Ciência Moderna) e no índice de nomes, para os nomes de
pensadores modernos citados aqui.
·
Livros de História – partes: história
moderna, Renascimento, Reforma, Iluminismo, Independência dos Estados Unidos da
América, Revolução Francesa, etc. O didático de História, usado em sua escola,
é uma opção, além de outros possíveis que poderão ser encontrados na biblioteca
de sua escola ou numa biblioteca pública, até mesmo na internet (mais uma boa
opção), de forma rápida.
Dos livros
mencionados você os poderá encontrar na biblioteca de sua escola, em uma
biblioteca municipal, numa boa livraria e até no site Domínio Público, que
publica obras completas gratuitamente (de repente, você encontra algum deles
aí).
Nenhum comentário:
Postar um comentário