QUESTÕES
COMENTADAS DE FILOSOFIA DO ENEM 2018
FILOSOFIA DO
ENEM 2018 – PRIMEIRA QUESTÃO COMENTADA: ABORDAGEM SIMPLIFICADA. (Prof. José
Antônio Brazão.)
QUESTÃO 58 –
CADERNO 3 BRANCO DO ENEM 2018:
Desde que
tenhamos compreendido o significado da palavra “Deus”, sabemos, de imediato,
que Deus existe. Com efeito, essa palavra designa uma coisa de tal ordem que
não podemos conceber nada que lhe seja maior. Ora, o que existe na realidade e
no pensamento é maior do que o que existe apenas no pensamento. Donde se segue
que o objeto designado pela palavra “Deus”, que existe no pensamento, desde que
se entenda essa palavra, também existe na realidade. Por conseguinte, a
existência de Deus é evidente. (TOMÁS DE AQUINO. Suma Teológica. Rio de
Janeiro. Loyola, 2002.)
O texto
apresenta uma elaboração teórica de Tomás de Aquino caracterizada por
(A) Reiterar a ortodoxia religiosa contra os
heréticos.
(B) Sustentar racionalmente doutrina
alicerçada na fé.
(C) Explicar as virtudes teologais pela
demonstração.
(D) Flexibilizar a interpretação oficial dos
textos sagrados.
(E) Justificar pragmaticamente crença livre
de dogmas.
RESPOSTA: (B)
Sustentar racionalmente doutrina alicerçada na fé.
Uma abordagem
mais simples da questão 58 do caderno 3 branco do ENEM 2018, citada, pode ser a
seguinte, tomando cada alternativa:
Primeiro: ler e
reler o texto. Do que ele trata? De uma forma resumida: da existência real de
Deus, para além do pensamento. Tendo isto em mente, pode-se analisar cada
alternativa.
Alternativa
(A) Reiterar a
ortodoxia religiosa contra os heréticos.
Partamos do
significado de cada palavra: reiterar é reforçar, expor novamente; ortodoxia é
a opinião (doxa) correta (orto) defendida, aqui, no caso, pela religião (“religiosa”);
contra, em oposição a; os heréticos – pessoas que defendem heresias, doutrinas
contrárias a uma religião determinada, neste caso, a religião cristã, pois Tomás
de Aquino era cristão (católico romano). O texto não tem estrutura de defesa,
nem fala de algum herético ou de heresia. Portanto, não pode ser a alternativa (A).
Alternativa
(B) Sustentar racionalmente doutrina alicerçada na fé.
Sustentar racionalmente
é dar apoio racional a. A quê? Dar apoio racional à doutrina, isto é, usar a
razão (a filosofia, os argumentos lógicos...) a serviço da doutrina – conjunto de
ensinamentos e dogmas, neste caso, do cristianismo, da religião católica.
Alicerçada pela fé: a doutrina (conjunto de ensinamentos e dogmas) tem sua base
na fé, na crença em Deus e nas verdades aprendidas com a religião. De início,
Tomás de Aquino usa os termos compreendido, significado, palavra, pensamento, o
verbo designar e um raciocínio que desemboca numa conclusão:
1) Desde
que tenhamos compreendido o significado da palavra “Deus”, sabemos, de
imediato, que Deus existe. [Na sequência, vem a demonstração desta tese
(afirmação) – números 2, 3 e 4 a seguir.]
2) Com
efeito, essa palavra (Deus) designa uma coisa de tal ordem
que não podemos conceber nada que lhe seja maior. Ora, o que existe na
realidade e no pensamento é maior do que o que existe apenas no pensamento.
3) Donde
se segue que o objeto designado pela palavra “Deus”, que existe no pensamento,
desde que se entenda essa palavra, também existe na realidade.
4) Por
conseguinte, a existência de Deus é evidente. (Conclusão.)
Tomás usa a razão
alicerçada na fé para defender a doutrina de que Deus existe, é real.
Mas vamos analisar
as outras alternativas:
Alternativa
(C) Explicar as virtudes teologais pela demonstração.
Virtudes
teologais são virtudes que têm sua fonte em Deus (theos, em grego) e que a Ele ligam quem as pratica. São três: a fé,
a esperança e a caridade (o amor). Nenhuma delas é mencionada no texto, nem sua
prática. Portanto, pode-se descartar a alternativa (C) como resposta.
Alternativa
(D) Flexibilizar a interpretação oficial dos textos sagrados.
O significado de
palavras pode ajudar: flexibilizar é tornar flexível, ajustável, moldável,
dando a ideia de modificável. Vamos pensar um pouquinho: Que religião cristã (e
até mesmo não cristã), hoje, muda sua interpretação oficial (dada pela própria
religião) dos textos sagrados ou permite seus livres entendimento e interpretação?
Dificilmente ou de modo nenhum. Praticamente de modo nenhum. O que não quer
dizer que doutrinas não possam ser reinterpretadas. Mas de acordo com as
doutrinas (ensinamentos e dogmas religiosos) oficiais. Ainda mais na Idade Média
(Tomás de Aquino viveu na Idade Média): a Igreja Católica combatia heresias,
ideias contrárias aos dogmas e aos ensinamentos baseadas em interpretações não
oficiais dos textos sagrados (Bíblia). E o texto não propõe qualquer flexibilização
doutrinária. Pelo contrário, Tomás de Aquino quer reforçar a certeza doutrinária
da existência de Deus.
Alternativa
(E) Justificar pragmaticamente crença livre de dogmas.
Justificar pragmaticamente
quer dizer justificar de forma prática, realista e objetiva. Crença livre é
acreditar com liberdade, como se queira, sem intervenção, no caso, da religião.
Dogmas são verdades religiosas que são dadas como tão certas que não podem ser
discutidas, não podem ser contestadas (sofrer oposição), nem negadas.
As religiões são
baseadas, em boa parte, em dogmas. Nega-los ou contesta-los (opor-se a eles) é
negar a veracidade da religião, pondo em perigo a existência desta. O
cristianismo tem seus dogmas, indiscutíveis. E seria proibido justificar
liberdade de se crer ou não nos dogmas. Ora, se alguém é cristã(o), do ponto de
vista da religião, não pode negar os dogmas sobre os quais alicerça-se a crença
em Deus. E o que Tomás de Aquino quer é justamente o contrário: justificar e
defender a visão oficial (da religião) sobre Deus, demonstrando que Ele é
verdadeiro, real, efetivamente existente. Logo, a resposta não pode ser a (E).
Levando
em consideração todas as alternativas analisadas, a que melhor responde à questão
é a ALTERNATIVA (B). Resposta (B).
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