sábado, 25 de novembro de 2017

UMA SEGUNDA QUESTÃO DE FILOSOFIA ENEM 2017 COMENTADA: (Prof. José Antônio Brazão.)

Questão número 50 do Caderno 3 Branco, do primeiro dia de provas.
QUESTÃO 50: Uma conversação de tal natureza transforma o ouvinte; o contato de Sócrates paralisa e embaraça; leva a refletir sobre si mesmo, a imprimir à atenção uma direção incomum: os temperamentais, como Alcibíades, sabem que encontrarão junto dele todo o bem de que são capazes, mas fogem porque receiam essa influência poderosa, que os leva a se censurarem. É sobretudo a esses jovens, muitos quase crianças, que ele tenta imprimir sua orientação. (BRÉHIER, E. História da Filosofia. São Paulo: Mestre Jou, 1977.)
O texto evidencia características do modo de vida socrático, que se baseava na
(A) contemplação da tradição mítica.
(B)  sustentação do método dialético.
(C)  relativização do saber verdadeiro.
(D) valorização da argumentação retórica.
(E)  investigação dos fundamentos da natureza.
RESPOSTA: Letra (B).
Duas pistas são claramente dadas para a resposta exata da questão, bem presentes no texto: as palavras conversação e ouvinte. Conversação é a ação de conversar, dialogar, bater papo. Ouvinte é quem ouve. Se ouve é porque tem alguém que fala e, geralmente, numa conversação, quem ouve fala também, trocando ideias com a(s) outra(s) pessoa. E nas alternativas, o que há de similar? Duas palavras das alternativas são possíveis, por envolverem ouvintes: dialético(da alternativa B) e retórica (da alternativa D). E o que significam?
Dialético é uma palavra que provém de dialética. Dialético, ao pé da letra (literalmente), aquele que pratica a dialética, ao nos referirmos a pessoas; pode ser também um método que envolve a contradição. Dialética, por sua vez, tem sua raiz em diálogo. Em seu significado primário, dialética é a arte do diálogo. E o que é diálogo? Diálogo é uma conversa, uma troca de ideias entre pessoas por meio das palavras, um bate papo, enfim, uma conversação!
Retórica é a arte de falar bem em público, oratória, segundo os dicionários de língua portuguesa. A retórica é usada por políticos, pessoas que fazem discursos, por advogadas e advogados e outras tantas pessoas que precisam falar bem em público. Porém, é diferente de conversação. Geralmente, a retórica é usada para se pronunciar discursos inflamados, calorosos, como os dos políticos e das políticas, para defender clientes, como os das advogadas e dos advogados, e assim por diante.
Nos significados destas duas palavras podemos ver o quanto o conhecimento da significação das palavras presentes na língua portuguesa é fundamental! A língua portuguesa é uma imensa parceira no aprendizado de qualquer matéria escolar e, particularmente, de Filosofia. Estudante, quando você for estudar livros, apostilas e outros materiais escolares, de quaisquer matérias, especialmente, neste caso, de Filosofia, tenha sempre do lado um dicionário de língua portuguesa. Pode ser um bom dicionário básico. Dicionários não são luxo e nem são caros. Outros livros também. Caro é você não conseguir a pontuação do ENEM! Lembre-se sempre disto. Muitos estudantes têm celulares caros e não têm o costume de comprar sequer um bom dicionário. Outros bons livros (e os ler) também. Estou ou não estou certo disto?!
Então, diante das duas definições que apontei a respeito de dialético e retórica, qual das duas encaixaria melhor em CONVERSAÇÃO? Dialético, é claro! Então, por aí você já praticamente teria a resposta da questão: letra B.
Outras palavrinhas que aparecem nas alternativas e que você pode, de hoje em diante, buscar o significado no dicionário de língua portuguesa: contemplação (palavra da qual, comumente, temos alguma ideia do significado), tradição, mítica, sustentação, método, relativização (!), argumentação, investigação, além de dialético e retórica. Dê uma olhada nos diferentes significados destas palavras no dicionário e, tendo um caderninho, vá anotando os significados destas e de outras palavras filosóficas, científicas e comuns não tão bem conhecidas que aparecerem nas aulas de Filosofia, na escola, bem como nos livros, com destaque para o de Filosofia. Ok?
Duas palavras que aparecem na letra B, antes de dialético: sustentação e método. O que significam? Sustentação é a ação de sustentar, suportar, manter firme, mas também significa defesa, ação de defender, sentido este que marca o significado de sustentação na questão. E método? Método, em sua etimologia (significado original da palavra, raiz da palavra), é caminho, ou seja, o caminho que alguém percorre. Então Sócrates sustentou (defendeu, manteve firme) o caminho (método) do diálogo (dialético) com seus ouvintes e, diversos deles, igualmente debatedores, dialogadores. Ora, ninguém conversa sozinho.
Quanto à alternativa (A)contemplação da tradição mítica. Tradição é aquilo que é transmitido, passado adiante pelas sociedades às pessoas, ao longo da história e da vida. Mítica é dos mitos. Transmissão dos mitos, relatos fantásticos e de fé (muitas pessoas acreditavam piamente neles) a respeito das deusas, dos deuses e de outros seres que viveram nos primórdios dos tempos e, a seguir, da história humana. No caso da Grécia antiga: Zeus, Diana, Hélios (Apolo), Dioniso e muitos(as) outros(as). Essa tradição era passada, através da educação, dos sacerdotes e das sacerdotisas, de poetas (aedos e rapsodos) e por outros meios às pessoas, desde a infância. Sócrates não foi um contemplador da tradição dos mitos, com certeza. É claro, ele tinha fé, como comenta bem em livros de Platão chamados Defesa de Sócrates, Fédon, etc.
Quanto à alternativa (C)relativização do saber verdadeiro. Relativização é a ação de relativizar. Relativizar é tornar relativo. Neste caso da questão, relativo é aquilo que depende de cada um, da opinião e das concepções de cada um. O saber deixaria de ser verdadeiro universalmente (para todos, do mesmo modo) e passaria a depender de cada um. E quem ensinava a relativização do saber verdadeiro? Os sofistas! Quem eram estes? Professores-filósofos ou filósofos-professores que vendiam seus conhecimentos em troca de dinheiro. Ensinavam, principalmente, àqueles que queriam seguir alguma carreira, especialmente a de político. Cobravam bem.
Quanto à alternativa (D)valorização da argumentação retórica. De retórica já vimos os significados básicos, fundamentais à sua compreensão. E o que é argumentação? É a ação de usar argumentos, instrumentos linguísticos (de uso da língua) do discurso que têm por finalidade defender posições (os argumentos dos políticos, por exemplo), convencer pessoas (políticos, advogados, etc.), derrubar posições contrárias, etc. Novamente, foram os sofistas os que, em suas aulas, ensinaram a seus estudantes a fazer bom uso da argumentação retórica. Sócrates não queria ensinar pessoas a falarem bem em público, ainda que tivesse uma preocupação grande com as palavras e seu uso.
Quanto à alternativa (E)investigação dos fundamentos da natureza. Vale lembrar que os que estiveram preocupados com buscar os fundamentos da natureza, isto é, seus princípios originários e fundantes foram os filósofos pré-socráticos (veja o comentário sobre Demócrito – nele aparecem outros filósofos pré-socráticos).
Então, o que sobra? A letra (B)sustentação do método dialético.
Cara estudante, caro estudante, ficam as dicas para o ENEM:
(1)   Preste muita atenção às aulas.
(2)   Tenha em mãos o livro didático de Filosofia. Estude-o sempre. Adquira o hábito de ler diariamente, desenvolva-o.
(3)   Tenha em mãos um bom dicionário de língua portuguesa. Ele é uma ferramenta extremamente importante em seu aprendizado. Vital.
(4)   Leia sempre com um dicionário de língua portuguesa do lado. Por quê? Porque ajuda a entender melhor as palavras do texto em leitura, enriquecendo, consequentemente, o seu próprio vocabulário e ajudando você a compreender melhor o que lê, estuda.
(5)   Tire dúvidas com sua professora ou seu professor de Filosofia diante de qualquer incompreensão de termos e ideias  em sala de aula
(6)   Adquira e leia bons livros
(7)   E assim por diante.
(8)   E mais: lembre-se sempre que CARO É VOCÊ TIRAR NOTA RUIM NO ENEM por conta de descuidos de atenção nos textos, de desconhecimento de palavras-chaves e outras, por falta de mais dedicação aos estudos (leituras e outros recursos escolares e extra-escolares), por falta de conhecimentos filosóficos básicos, adquiríveis em aulas, boas leituras e por outros meios (são muitos – descubra!).
(9) E o essencial, que todos podem aprender com Sócrates: Filosofia não é para passar no ENEM, ainda que ajude muitos(as) nesse sentido. Ela, com outras matérias, não sozinha, é para ajudar você a desenvolver habilidades de leitura crítica (problematizadora, questionadora, analítica) do mundo, da realidade, e aprender, também com outras matérias (interdisciplinarmente), a ser um(a) cidadão(ã) consciente, agente transformador(a) da história! O ENEM é só um momento, ainda de grande importância em sua vida. A história continua, incluindo a de sua vida. Aprenda muito e aprenda conscientemente, afim de ser pleno(a) cidadão(ã), com outros(as) cidadãos(ãs).
E para você, professor(a) de Filosofia, fica a dica, de diálogo com a Língua Portuguesa: o Dicionário de Filosofia e Língua Portuguesa. Um caderno só para palavras de filosofia e de língua portuguesa desconhecidas ou pouco conhecidas por estudantes. Neste blog você encontrará um modelo. Vá em Postagens Antigas. Uma delas é a proposta desse dicionário. Use outros recursos também: o diálogo, a problematização e o questionamento foram muito usados por Sócrates. Há outros - busque fazer uso dos três propostos por Sócrates, descubra e até crie os seus. Dê asas à imaginação e ao conhecimento. Há bons livros de recursos didáticos de Filosofia - um deles, por exemplo, é o da Professora Lídia Maria Rodrigo, além de outros tantos. Neste site você encontrará também sugestões.

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