CORREÇÃO DE
PROVAS E EXAMES COMO RECURSO DE ENSINO-APRENDIZADO DE FILOSOFIA (Prof. José
Antônio Brazão.)
Uma boa
oportunidade de ensino-aprendizagem de Filosofia, no ensino médio e no
Fundamental, pode ser a correção de provas e outros tipos de exames filosóficos
como recurso de aprendizado.
Dois exemplos, a
seguir, envolvendo o uso de textos filosóficos em exames:
PROVA BIMESTRAL
– PRIMEIROS ANOS DO ENSINO MÉDIO.
(Filosofia –
Prof. José Antônio Brazão.)
LEIA O TEXTO A
SEGUIR ATENTAMENTE E RESPONDA AS QUESTÕES:
LEIA ATENTAMENTE O TEXTO A
SEGUIR: A TEORIA DAS QUATRO CAUSAS DE ARISTÓTELES.
“…temos que examinar as causas,
quais e quantas são. Dado que o objeto desta investigação é o conhecer e não
acreditamos conhecer algo se antes não estabelecemos em cada caso o “por quê”
(que significa captar a causa primeira), é evidente que teremos que examinar
tudo que se refere à geração e à
destruição e a toda mudança natural, a fim de que, conhecendo seus princípios,
possamos tentar fazer referência a eles em cada uma de nossas investigações.
Neste sentido se diz que é causa (1) aquele constitutivo interno de que algo é
feito, como por exemplo o bronze a respeito da estátua ou a prata a respeito da
taça, e os gêneros do bronze ou da prata. [É a causa material.] Em outro
sentido (2) é a forma ou o modelo, isto é, a definição da essência e seus
gêneros (…) e as partes da definição. [É a causa formal.] Em outro sentido (3)
é o princípio primeiro de onde vem a mudança ou o repouso, como o que quer algo
é causa, como é também o pai é causa de seu filho, e de modo geral o que faz
algo é causa do que é feito, e o que faz mudar é causa do que é mudado. [É a
causa eficiente.] E em outro sentido (4) causa é o fim, isto é, aquilo para o
qual é algo, por exemplo: o caminhar é a causa da saúde. Pois por que
caminhamos? Ao que respondemos: para ficar saudáveis, e ao dizer isso cremos
ter indicado a causa. E também qualquer coisa que, sendo movida por outra
coisa, chega a ser um meio para obter um fim, como os medicamentos e os instrumentos
cirúrgicos são meios para obter a saúde. Todas essas coisas são para um fim, e
se diferenciam entre si em que umas são atividades e outras, instrumentos. [É a
causa final.] Tais são, portanto, os sentidos em que diz que algo é causa. Mas,
como se diz causa em vários sentidos, ocorre também que uma mesma coisa tem
várias causas, e não por acaso. Assim, no caso de uma estátua, tanto a arte do
escultor [a causa eficiente] quanto o bronze [a causa material] são causas
dela, e causas da estátua enquanto estátua e não causas de outra coisa; pois
não são do mesmo modo: um é a causa como matéria, outra aquilo de onde provêm o
movimento. Há também coisas que são reciprocamente causas; assim, o exercício é
causa do bom estado do corpo, e este é causa do exercício, ainda que não do
mesmo modo: o bem estar do corpo é causa como fim, o exercício é causa como
princípio do movimento [causa eficiente].” (ARISTÓTELES. A teoria das quatro
causas. In: Física. Disponível em: http://oficinadefilosofia.com/2012/11/16/a-teoria-das-quatro-causas-de-aristoteles/ Acesso em 15 de
setembro de 2017. )
CADA QUESTÃO DE 1 A 5, A SEGUIR, VALE 1,5 (UM PONTO E MEIO):
QUESTÃO 1: Aristóteles, filósofo
grego de origem macedônica, do século IV a.C., buscou entender as causas do
movimento e acabou criando uma teoria que, por muito tempo, foi aceita. Dentre
as causas não se encontra a:
(a)( ) Causa eficiente.
(b)( ) Causa formal.
(c)( ) Causa divina.
(d)( ) Causa final.
(e)( ) Causa material.
QUESTÃO 2: O objeto da
investigação contida no texto de Aristóteles é:
(a)( ) O duvidar.
(b)( ) A curiosidade.
(c)( ) O intuir.
(d)( ) O concluir.
(e)( ) O conhecer.
QUESTÃO 3: Uma mesma coisa, como
uma estátua, por exemplo:
(a)( ) Tem apenas uma causa.
(b)( ) Tem várias causas.
(c)( ) Tem duas causas.
(d)( ) Tem cinco causas.
(e)( ) Tem três causas.
QUESTÃO 4: O exercício físico e o
bom estado do corpo são:
(a)( ) Causas análogas.
(b)( ) Causas recíprocas.
(c)( ) Causas materiais.
(d)( ) Causas superficiais.
(e)( ) Causas conjunturais.
QUESTÃO 5: Cada causa tem um
número no texto. Coloque o número
correspondente de causa: (1,0 cada)
(a)( ) Arte do escultor.
(b)( ) Bronze.
(c)( )Estátua para honrar Zeus.
(d)( )Forma da estátua.
“A SABEDORIA É A COISA PRINCIPAL,
PORTANTO ADQUIRA A SABEDORIA”. (Provérbios 4:7)
A prova acima é
uma prova objetiva (com questões objetivas). Prova básica, bem simples, de
leitura e interpretação básica de texto filosófico, no caso, de Aristóteles,
filósofo grego que viveu no século 4 antes de Cristo e que foi discípulo de Platão,
na escola chamada Academia, em Atenas. Posteriormente, fundou uma escola
própria, o Liceu. Também escreveu muitos livros, sobre assuntos diversos pelos
quais se interessou, dentre os quais a física (estudo da physis, palavra grega que se traduz por natureza). O texto da prova
versa a respeito das quatro causas do movimento, segundo Aristóteles.
PROVA BIMESTRAL
– SEGUNDOS ANOS DO ENSINO MÉDIO
(Filosofia –
Prof. José Antônio Brazão.)
LEIA O TEXTO A
SEGUIR ATENTAMENTE E RESPONDA AS QUESTÕES:
Trecho de David
Hume sobre o conhecimento:
“Cada um admitirá prontamente que
há uma diferença considerável entre as percepções do espírito, quando uma
pessoa sente a dor do calor excessivo ou o prazer do calor moderado, e quando
depois recorda em sua memória esta sensação ou a antecipa por meio de sua
imaginação. Estas faculdades podem imitar ou copiar as percepções dos sentidos,
porém nunca podem alcançar integralmente a força e a vivacidade da sensação
original. (...) Todas as cores da poesia, apesar de esplêndidas, nunca podem
pintar os objetos naturais de tal modo que se tome a descrição pela paisagem
real. O pensamento mais vivo é sempre inferior à sensação mais embaçada. (...)
Quando refletimos sobre nossas sensações e impressões passadas, nosso
pensamento é um reflexo fiel e copia seus objetos com veracidade, porém as
cores que emprega são fracas e embaçadas em comparação com aquelas que
revestiam nossas percepções originais. (...) Podemos, por conseguinte, dividir
todas as percepções do espírito em duas classes ou espécies, que se distinguem
por seus diferentes graus de força e de vivacidade. As menos fortes e menos
vivas são geralmente denominadas pensamentos ou ideias. A outra espécie não
possui um nome em nosso idioma e na maioria dos outros, porque, suponho,
somente com fins filosóficos era necessário compreendê-las sob um termo ou
nomenclatura geral. Deixe-nos, portanto, usar um pouco de liberdade e
denominá-las impressões, sempre usando esta palavra num sentido de algum modo
diferente do usual. Pelo termo impressão entendo, pois, todas as nossas
percepções mais vivas, quando ouvimos, vemos, sentimos, amamos, odiamos,
desejamos ou que temos. E as impressões diferenciam-se das ideias, que são as
percepções menos vivas, das quais temos consciência, quando refletimos sobre
quais quer das sensações ou dos movimentos acima mencionados.” (Início da Seção
II do Ensaio Sobre o Entendimento Humano, de David Hume, intitulada Da Origem
das Ideias.) [Grifos do Prof. José Antônio.]
O texto citado de Hume
encontra-se em:
HUME, David. Seção II: Da Origem das Ideias. In:
_____________________. Ensaio Sobre o
Entendimento Humano. [Investigação
Acerca do Entendimento Humano] Trad. Anoir Aiex. Disponível em: http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/cv000027.pdf Acesso em 28 de agosto de 2017.
QUESTÃO 1: Dentre os significados
da palavra percepção estão os seguintes, exceto:
(a)( ) Qualidade de perceber (sentir, notar,
enxergar, captar).
(b)( ) Absorção.
(c)( ) Sentidos.
(d)( ) Lesão física.
(e)( ) Ação de captar informações pelos cinco
sentidos.
QUESTÃO 2: Sensação tem vários
significados, dos quais o texto de Hume não permite inferir (concluir,
afirmar...):
(a)( ) Toda impressão gravada pelos sentidos.
(b)( ) Tudo que é assimilado de forma inata
pela razão humana.
(c)( ) Ação de sentir (perceber por meio dos
sentidos, captar por meio dos sentidos).
(d)( ) Observação do mundo através dos
sentidos.
(e)( ) Aquilo que é percebido (captado) por
meio da experiência sensorial.
QUESTÃO 3: “Cada um admitirá
prontamente que há uma diferença considerável entre as percepções do espírito,
quando uma pessoa sente a dor do calor excessivo ou o prazer do calor moderado,
e quando depois recorda em sua memória esta sensação ou a antecipa por meio de
sua imaginação. (...)” (David Hume) Um bom exemplo desta afirmação é:
(a)( ) Quando uma criança queima o dedo em um
dia e fica esperta para não queimar em outro.
(b)( ) O caso das ideias inatas, como a ideia
de Deus.
(c)( ) O Cogito (Cogito ergo sum. = Penso, logo
existo.).
(d)( ) Quando, por divino aviso, uma pessoa
foge do perigo iminente a que pode vir a estar sujeita.
(e)( ) Quando a alma lembra do que já
contemplou no mundo inteligível e sabe fazer o reconhecimento da diferença
entre o bem e o mal.
QUESTÃO 4: Por espírito, no
trecho citado na questão 3, Hume não quer dizer, necessariamente:
(a)( ) A parte interna do homem, capaz de
perceber sensações-percepções-impressões, formar ideias e refletir sobre elas,
pensar.
(b)( ) A mente humana unida às habilidades de
percepção.
(c)( ) A parte eterna do homem, que carrega
consigo informações advindas mesmo antes do nascimento.
(d)( ) A racionalidade humana.
(e)( ) A capacidade humana de juntar imagens
sensoriais (imaginar), pensar, refletir, criar conhecimentos.
QUESTÃO 5: “Estas faculdades
[percepções do espírito] podem imitar ou copiar as percepções dos sentidos,
porém nunca podem alcançar integralmente a força e a vivacidade da sensação
original. (...)” (David Hume) Hume quer dizer, basicamente, que:
(a)( ) Aquilo que você lembra é mais intenso
que aquilo que você capta pelos sentidos no momento da sensação.
(b)( ) Aquilo que é percebido diretamente pelos
cinco sentidos é mais intenso que aquilo que é gravado na memória e, tempos
depois, lembrado. Exemplo: Você vai à praia, sente a força do mar, das ondas, o
gosto da água salgada. Quando volta para casa, as lembranças (memórias) e
reflexões, por mais forte que sejam, não chegam nem perto daquilo que você
sentiu naquela hora, lá no mar, próximo à praia.
(c)( ) Aquilo que as faculdades (habilidades,
capacidades) da mente carregam dentro delas tem mais valor que aquilo que é
sentido pela experiência sensível.
(d)( ) A intensidade da memória e da reflexão
sobrepõe-se a qualquer experiência por meio dos cinco sentidos.
(e)( ) Mais vale pensar no gosto do docinho da
padaria ou da confeitaria que experimentar (sentir, degustar) o tal docinho.
QUESTÃO 6: Todas as percepções do
espírito podem ser divididas em duas espécies, a saber:
(a)( ) Pensamentos e ideias.
(b)( ) Ideias adventícias e ideias inatas.
(c)( )
Reflexões e meditações.
(d)( ) Espírito e matéria.
(e)( ) Ideias e impressões.
QUESTÃO 7: De acordo com Hume,
pode-se afirmar que:
(a)( ) A poesia não tem valor algum, por ser um
reflexo esmaecido da realidade.
(b)( ) A poesia e o pensamento descrevem a
realidade com uma imensa vivacidade, mais forte que as sensações e percepções.
(c)( ) A poesia é tudo aquilo que é percebido
diretamente pelos cinco sentidos.
(d)( ) A poesia e o pensamento mais vivo não
têm a força da impressão sensorial mais viva.
(e)( ) Ser poeta é criar e recriar o mundo por
meio de ideias inatas e vivas impressões.
BOA PROVA!
ENTREGA
E CORREÇÃO DAS PROVAS (ref.: terceiro bimestre de 2017.):
ATIVIDADE DE
CORREÇÃO – Valor complementar de 2,0 (dois pontos):
(1)Colar a prova
no caderno. Faça uma dobrazinha na beirada, passe cola e cole no caderno. [A
razão de pedir para colar a prova no caderno é que ela será usada em outra
aula, com a leitura do texto do respectivo filósofo e a discussão sobre o
mesmo, parte por parte. Isto possibilita uma compreensão maior do texto e de
cada parte que o compõe. Ademais, o caderno é um objeto de estudo que as e os
estudantes costumam levar para casa e trazer, dia a dia, para a escola. Colado,
o texto não é esquecido.]
(2)Passar TODAS
as respostas certas a limpo no caderno, anotando o anunciado de cada questão e
somente a resposta respectiva.
(3)Marcar, NO
TEXTO, o local onde se encontra a resposta de cada questão. Quando não tiver no
texto, explique a razão da resposta ou opine sobre ela.
(4)Tirar DO
TEXTO, anotando, os períodos textuais (trechos\partes do texto) correspondentes
às respostas.
(5)Deixar no
caderno. Quando estiver pronto, levar ao professor para visto e registro da
nota complementar.
Observação: Este
trabalho [simples] pode ser feito com um(a) colega, cada um(a) em seu caderno,
a limpo.
Os números (3) e
(4) darão uma pontuação extra de dois pontos.
Observações
complementares:
*Para os
primeiros anos: Na questão 5 (cinco) transcreva, ao passar a limpo:
(1)Causa
material: ______________________________,
(2)Causa formal:
________________________________.
(3)Causa
eficiente: ______________________________.
(4)Causa final:
_________________________________.
*Para os
segundos anos: Filosofia – Gabarito:
1d, 2b, 3ª, 4c, 5b, 6e, 7d.
Ao
estudar as quatro causas do movimento, segundo Aristóteles, a dica: complemente
o entendimento do texto com um trecho inicial do livro O QUE É IDEOLOGIA, de
Marilena Chauí, da Coleção Primeiros Passos, da Editora Brasiliense (ou outra
que o tenha publicado recentemente). Partindo daí, uma discussão sobre se a
ideologia contida nas quatro causas do movimento aristotélicas continua hoje
ainda ou não. Se sim, como será? E o que ela tem haver com o poder no mundo
capitalista?
No
caso de Hume, uma dica: o vídeo Ser ou
Não Ser, de Viviane Mosé, sobre David Hume. Discussões poderão surgir a
partir daí. E poder-se-á fazer uma comparação entre o vídeo e o texto, no
momento da correção. Este vídeo encontra-se no YOUTUBE.
Discussões, trocas de ideias, questionamentos, problematizações e uma boa conversa podem enriquecer bastante a correção de cada prova, de cada exame.
Nenhum comentário:
Postar um comentário