quinta-feira, 8 de setembro de 2016

FILOSOFIA EM POESIA: DO MITO A ARISTÓTELES. (Prof. José Antônio Brazão.)

FILOSOFIA EM POESIA 1: O mito e os pré-socráticos.
(Prof. José Antônio Brazão.)

Um possível bom meio ou recurso de trabalho didático no tratamento das ideias filosóficas é transformando-as em poesias simples e, com certeza, muito úteis. Um exemplo a seguir. Pode ser escrito no quadro ou repassado em slides ou cópias xerocopiadas.

UMA BELA HISTÓRIA (Prof. José Antônio Brazão.)

Uma bela história registrar

O nascimento da filosofia

Em suas origens

Eu vou narrar.


No início, de deuses e deusas

Por mitos se contava

Histórias fabulosas

Que a imaginação criava.


Deusas e deuses, de imensos poderes,

Na natureza e no cosmos atuavam

Para obter seus favores

Os seres humanos oravam.


Poetas chamados aedos

E outros conhecidos por rapsodos

Em seus poemas os cantavam

E feitos divinos registravam.


Agricultura, comércio, guerras e escravidão

Póleis, cidades-estados, a crescer

Monumentos e magníficos prédios em construção

Nesse contexto, novas ideias a florescer.


Por toda a Grécia antiga

Aqueles poetas se espalhavam

De deuses e deusas até alguma intriga

Não ocultavam.


Muito humanos os seres divinos pareciam

Seres poderosos eram com certeza

Eternos e imortais os relatos os definiam

Dos poetas que os contavam com presteza.


Ouvindo de outros povos pessoas comuns e mercadores

De deusas e deuses as histórias que contaram

Alguns homens argutos e observadores,

Por serem diferentes, desconfiaram.


Querendo melhor a natureza e o mundo entender

Respostas mais claras e profundas queriam achar

Observações e estudos começaram a empreender

E em princípios criam as poder encontrar.


Nas colônias gregas viviam

Da Ásia Menor e da Magna Grécia

Buscando fugir das certezas a inércia

Contrapondo ao que os mitos diziam.


O primeiro princípio foi a água

Do filósofo Tales de Mileto

Para além dos mitos navegava

Certo de que por ela tudo é feito.


A seguir, outros princípios

Por filósofos denodados

Foram levantados

Dando à filosofia seus inícios.


Dizia Anaxímenes que tudo do ar viera

Anaximandro, de um tal Ápeiron

Ou da terra de Xenófanes de Cólofon

Todo existente nascera.


Dos números surgiu o cosmos,

Como na música a beleza se tocava,

Segundo o filósofo de Samos,

Que Pitágoras se chamava.


Da filosofia o nome se originou

Do fato de que, com muita alegria,

Por crer-se amigo da sabedoria,

Pitágoras filósofo se chamou.


Da música a harmonia o inspirou

No monocórdio de diferentes sons

Sete notas Pitágoras descobriu

Percebendo aí o enlace de diferentes tons.


Parte de da matemática o sistema,

O quadrado da hipotenusa

Dos quadrados dos catetos a soma que se usa

De Pitágoras matemático o teorema.


De fogo, o princípio, para Heráclito de Éfeso

Todo existente se compõe

Mas algo mais viu o filósofo:

Em tudo o devir-movimento se dispõe.


Parmênides de Eleia a Heráclito contradiz

Movimento é ilusão

Para os olhos falsa diversão

Mas que de nada é matriz.


Em Eleia outro filósofo apareceu

Zenão por nome tratamento

Do mestre Parmênides o pensamento

Na forma de argumentos defendeu.


Empédocles quatro princípios resolveu juntar

Ar, água, terra e fogo

Que variados seres formam logo

Ao dar-se em precisos modos seu combinar.


Anaxágoras minúsculas partículas dizia

Comporem toda a pluralidade

Por disporem, em cada diverso, igualdades

Cada uma delas denominou homeomeria.


Leucipo e Demócrito observaram dos seres o dividir

A existência de muitas partículas indivisíveis

Aos olhos humanos, sozinhas, invisíveis

Usando a inteligência, acabaram por concluir.


Os átomos, indivisíveis partículas eram tidas,

Milênios depois, por cientistas comprovados

Postos em tabela por períodos dividida

Hoje, por fissão nuclear estilhaçados.


Da filosofia a grande história aí se iniciou

Com o uso do logos-palavra-razão-discurso

Nas colônias da antiga Grécia o curso

De um novo modo de pensamento se firmou.


Vale lembrar que um recurso útil de apresentação do pensamento filosófico, em suas origens, na Grécia antiga, foi a poesia, seguindo o jeito poético de exposição dos próprios mitos gregos – por exemplo: Homero e Hesíodo. A poesia foi, seguramente, um meio didático de histórias no passado, como entre os gregos mencionados, e pode, hoje também, contribuir para uma exposição rica de ideias filosóficas. Poesias que tratem da história da filosofia poderão ser feitas pelo(a) professor(a) e por estudantes, de diferentes turmas, que possam com as suas contribuir. Nesse sentido, é bom que seja feito um arquivo de poesias, seja numa pasta de papel, seja em pasta de computador, as quais poderão ser trocadas e apresentadas em turmas e grupos diversos. Ademais, de preferência, que sejam feitas em diálogo fecundo com a Língua Portuguesa. O trabalho interdisciplinar pode ser, portanto, muito valioso.

A poesia facilita a assimilação de conteúdos, podendo enriquecer imensamente o aprendizado, quer seja de Filosofia, quer de Língua Portuguesa, quer de Arte, a qual também pode entrar no trabalho interdisciplinar. Com efeito, ao lidar com a poesia, cada estudante toma contato com a versificação, a construção de estrofes, com as rimas e sílabas poéticas, entre outros elementos do estudo linguístico da poesia. Mais diálogos interdisciplinares são possíveis: com a História, com a Geografia, a Matemática, etc.

Outro elemento que a criação de poesias filosóficas põe em ação é o aprendizado de novas palavras, por conta da poesia demandar leituras, pesquisa, estudo de recursos poéticos, etc. Poesias simples, sem muito rigor, pelo fato de nem o(a) professor(a) de Filosofia, nem as suas e os seus estudantes serem poetas de profissão. Vale a pena tentar. Para tanto, o conhecimento, advindo do aprendizado constante, tornar-se imprescindível: conhecimento básico de filosofia, de língua portuguesa e da arte.

FILOSOFIA EM POESIA 2:

A FILOSOFIA DE SÓCRATES, PLATÃO E ARISTÓTELES (Prof. José Antônio Brazão.)

Dentre outros, três grandes filósofos

O mundo grego produziu

Em Atenas, cidade-estado, pelo logos

Um antropológico pensamento se infundiu.


Questões humanas, simples e doutas,

Puseram eles em discussão,

Da ética, da política e outras,

Em busca de mais clara compreensão.


Ao ouvir do deus do Sol, por amigo, o elogio,

Sócrates às ruas e praças a sair

E com muitas pessoas, nos dias, por horas a fio,

Questões diversas pôs-se a discutir.


De jovens e adultos, homens e mulheres, amigos,

Sócrates as mentes, dialogando, abriu

Mas acusado falsamente por inimigos,

Condenado, após beber sicuta, à eternidade partiu.


Discípulos de suas palavras lembraram

Para as socráticas ideias não perder

A forma de diálogo Platão e Xenofonte aplicaram

E por palavras e escritos as resolveram vivas manter.


Nos socráticos platônicos diálogos, o amor, o poder e a guerra,

Por seu valor, vieram a aparecer,

Também coisas divinas e coisas da Terra,

A atenção do discípulo filósofo puderam merecer.


Enfrentando do pensamento novos desafios, divergindo dos sofistas,

Filósofos-professores no mundo grego itinerantes,

Para além das ideias desses pensadores relativistas,

A verdade e os valores são realidades vivas e operantes.



Platão, seguindo os passos do mestre,

Muito dele, por anos, incansavelmente, aprendeu

E mesmo com a morte de Sócrates

De seus pensamentos e valores jamais se esqueceu.


Da caverna um mito ou alegoria

Em A República uma história a todos contou

Uma prisão de pessoas, sem vera alegria,

Naquele lugar subterrâneo imaginou.


Homens, mulheres, meninas e meninos

Naquela caverna, voltados para um paredão

Se encontravam presos desde pequeninos

E ali de sombras vistas criam na ilusão.


Certo dia, um dos prisioneiros foi liberto

Obrigado a sair, ficou da luz de uma fogueira quase cego,

Mas por um caminho a saída e lá fora, por esforço certo,

Vendo coisas novas, a verdade, superou o mal do ego.


Voltando à antiga prisão,

Para as coisas belas e novas lá de fora

Dos amigos e amigas chamou a atenção

Sair da caverna seria, de fato, boa hora.


Apesar de pelos ex-companheiros mal julgado,

O liberto não desistiu

Da verdade, insistente e ousado,

Ainda que sob risco de morte servil.


Para além daquela imaginária história,

Num mundo imutável Platão vinh’acreditar

Das ideias, formas perfeitas e eternas, pela memória,

Reminiscência, meio para as almas presas do sensível mundo se libertar.


No mesmo político livro, sem aristofânicas galhofas,

Uma cidade ideal o filósofo apresentou,

Governada por filósofos e filósofas

O platônico pensamento vislumbrou.


Em diálogos, seguindo do antigo mestre a ironia e a maiêutica,

Sobre o amor, a imortalidade e a justiça escreveu

Das discussões à maneira socrática

Calorosos debates Platão descreveu.


Em Atenas, uma nova escola Platão fundou

Da filosofia e das verdadeiras artes o conhecimento

Nova maneira de encarar se disseminou,

Abrindo de grandes discípulos, por séculos, o entendimento.


Destacando-se entre todos, na Academia, entre eles,

Um macedônico discípulo apareceu,

Nobre intelectual, filho de médico da corte, Aristóteles,

O Leitor por Platão apelidado, o nome era seu.


Tendo muito lido e pelo imenso empenho destacando,

Aristóteles homem extremamente culto se tornou,

Do mestre Platão, um mundo das Ideias não aceitando,

Nem ideais, uma filosofia muito própria fundou.


Em seus livros, condensou-se o aristotélico conhecimento:

Política, Ética, Física, Metafísica, do mundo e da natureza,

Pois por muitos temas  interessou-se seu filosófico pensamento

E sobre todos eles escreveu e, no Liceu, ensinou com segurança e muita destreza.


Ideias grandes teve o estagirita

Por estudos muitos contidas no pensamento

Do mundo seria mais rica pepita,

De aurífera grandeza, o conhecimento.


Sabendo de Empédocles as sentenças,

Aristóteles concordou que por quatro elementares

Princípios são feitas as coisas terrenas:

Terra, água, ar e fogo, esteios basilares.


Conforme reflexões do agrigênteo,

Arqués unidas por força do Amor

E desarticulados pelo Ódio,

Princípios de união e desagregação.


Para dar à linguagem fundamentação,

Criou Aristóteles o raciocínio silogismo:

De duas premissas tirando a conclusão,

Na lei geral o caso particular necessaríssimo.


Do que são os céus feitos,

Perguntava-se o peripatético,

De modo a serem tão perfeitos,

Senão do éter puro, arquetípico?


Do aristotélico éter a tese, há tempos, descartada,

Hoje, de cósmicas ondas gravitacionais o requinte,

Na união espaço-tempo, a hipótese comprovada

De um germânico cientista do século vinte.


Mas para Aristóteles e seu tempo um universo geocêntrico

Era, por conta do senso comum, uma imensa certeza,

Composto de planetares círculos concêntricos,

De cósmica harmonia e extrema beleza.


Sobre a queda dos graves corpos refletindo

Na sublunar, terrena, realidade,

O mais pesado ao chão primeiro acaba indo

Eis algo do que cria ser a mais pura verdade.


Matutando da ética o humano destino,

Acerca do que seria a virtude

Concluiu ser esta do meio o caminho,

Como a temperança, no correto alimentar atitude.


Num poeta consagrado, há trechos poéticos, como Dante Alighieri, em sua A Divina Comédia, que citam filósofos. No caso de Dante, o exemplo a seguir:


“Honrarias todos vão lhe oferecer;

Sócrates vejo entre eles e Platão,

mais próximos que os outros, a o entreter.


Demócrito que o acaso faz razão

do mundo, e Annaxágoras e Tales,

Empédocles, Heráclito e Zenão;


Dioscórides que às plantas deu avales,

e Túlio, Lino, Diógenes e Orfeu;

Sêneca, que indagou do mundo os males;


o geômetra Euclides, Ptolomeu,

Hipócrates, Avicena e Galeno,

e Averróis que o Comentário nos deu.”


(Trecho da primeira parte de A Divina Comédia, intitulada Inferno, Canto IV, versos 133 a 144. Ver citação completa no Referencial Bibliográfico.)


Trechos de poetas e poetisas consagrados(as) que façam citações de filósofos e filósofas podem ser também úteis no trabalho de ensino-aprendizado de Filosofia com o auxílio de poesias, aqui acrescidos às poesias feitas pelo(a), professor(a) e\ou por estudantes. Vale lembrar sempre da rica interdisciplinaridade com a Língua Portuguesa!

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