O
xamã, andando ao redor da fogueira, olhava nos olhos de cada membro da tribo
ali presente. Meninas e meninos ficavam espantados com o poder dos seres
divinos, com o poder dos raios e as incríveis forças da natureza comandadas por
deusas e deuses. Por que tudo brota do chão e por que comemos as coisas
brotadas e frutos das árvores?, perguntou uma indiazinha. Assim quiseram o deus
e a deusa, que, no seu imenso amor, geraram todo tipo de vida: plantas,
insetos, animais ferozes e animais mansos, os seres humanos, nosso povo., dizia
o xamã, sacerdote, feiticeiro e médico.
Uma
velha índia, lembrando-se das histórias contadas pelos pais, dizia que o
todo-poderoso Deus do Céu, juntando-se com a Mãe Terra, propiciou e propicia os
alimentos, como uma dádiva, um grande presente, a todos os seus filhos e
filhas. Por isso, por conta desse amor divino, todos os seres vivos estão
interligados, irmanados pela criação.
E
quando ficamos doentes?, perguntou um indiozinho. As doenças vêm de espíritos
maus, que tocam as pessoas da tribo e lhes trazem mal. Por conta disto, é
preciso fazer as orações certas, do modo certo, como foram aprendidas, há
muito, com os bons seres divinos e nossos ancestrais. Contamos com a ajuda do
xamã., respondia um velho índio.
As
chuvas muito fortes, que destroem ocas, com ventos impetuosos, são causadas por
algum deus ou deusa?, perguntou outro indiozinho, curioso por saber das coisas
que não sabia entender e explicar. Sim, tanto as chuvas, quanto os ventos fortes,
quanto as secas e as luzes que caem do céu com força destrutiva, são obras
resultantes da ira de deuses e deusas, quando não os e as cultuamos devidamente
ou quando praticamos alguma ofensa contra eles e elas., falou o chefe da tribo,
homem sábio e corajoso, entrando na conversa calorosa que se abria entre todos.
E
por que sonhamos?, perguntou, curiosa, uma índia. Os sonhos são meios como os
deuses e deusas encontraram de comunicar-se conosco!, respondeu o velho xamã. Já
meio tarde, todos foram dormir. E, no sono, sonhos divinos todos tiveram e, com
eles e a imaginação, novas histórias bons contadores, entre os índios e as índias,
acordados, criaram. E, como quem conta um conto aumenta um ponto, os velhos, os
pais e as mães, que aprenderam com os avós e as repassavam a filhas e filhos,
acrescentavam, aqui e ali, algum elemento novo, espantoso, uma novidade dentro
de cada relato, com conteúdo sagrado.
Além
da oralidade, um elemento novo, uns com os outros, toda a tribo aprendeu a
pintar os corpos e a pintar paredes, usando dedos, palmas e pincéis grosseiros,
simples, feitos com tiras naturais, barro colorido e ocre (uma argila colorida
por óxido de ferro) e tinturas naturais, tiradas de folhas e cascas. Arte,
vontade de guardar histórias e religiosidade juntas!
Papai,
será que alguém, algum dia, no futuro, verá essas imagens? Com certeza. Elas
também nos lembram de seres divinos, cujas imagens e ações retratamos, de
histórias ancestrais. Mas também deixam nossa marca, lembrando a quantos as
verem que, um dia, passamos por aqui, minha filha. Elas ainda nos servem para trazer boa sorte na caça, bem como nos lembrar de cada época, em que cada tipo de bicho passa pelas matas e por prados distantes. Ali, de fato, estão animais que são tão necessários à vida da tribo, do nosso povo.
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