Se os símbolos, como foi visto antes,
são parte integrante da vida humana, vitais à existência, também podem marcar
ou definir relações de poder no interior das sociedades, historicamente
situadas. Mesmo em agrupamentos menores, como as tribos indígenas, por exemplo,
há símbolos de poder: os cocares dos chefes, os colares, as tatuagens dos
pajés, de chefes e guerreiros, as vestimentas cerimoniais, dentre outros
elementos, demarcam claramente relações de poder.
No Japão medieval, as bandeiras dos
clãs, as roupas dos chefes, as armaduras e outros elementos das vestimentas dos
samurais, por exemplo, constituíam símbolos de poder, de separação e de
prestígio social, de definição entre quem manda e quem é comandado.
No Egito antigo, as pirâmides foram e
ainda são (pois continuarão existindo por muito tempo) estruturas
arquitetônicas imponentes do poder dos faraós, símbolos de poder visíveis a
longas distâncias. Além delas, as vestimentas ricamente elaboradas, algumas das
quais cravejadas de ouro e pedras preciosas e semipreciosas, as pinturas no
corpo, os palácios ricamente elaborados e fortemente construídos, lembravam a
todos o poder divino no faraó, poder sustentado também pelos símbolos, pelos
relatos (mitos) religiosos e pelos sacerdotes. Curiosamente, os sacerdotes
egípcios costumavam raspar o corpo e estavam dentre aqueles poucos que
conheciam um símbolo fundamental, até mesmo de poder: a escrita hieroglífica,
também dominada por escribas. A maioria do povo não conhecia a língua escrita.
Portanto, quem a conhecia dispunha também de poder.
Ainda quanto ao conhecimento da
língua escrita e da interpretação dos textos sagrados, que definiam a vida e
até mesmo constituíam-se como normas legais, os sacerdotes israelitas
(saduceus, fariseus e sacerdotes do templo de Jerusalém), até nos tempos de
Cristo e tempos depois, juntamente com os escribas, estavam entre os poucos letrados
no antigo Israel. Consequentemente, eram os únicos que podiam interpretar as
leis judaicas condensadas nas sagradas escrituras, contribuindo, deste modo,
para manter seu poder e o poder dos reis, em meio a uma população cuja maioria
era, sem dúvida, analfabeta. E quanto a outros símbolos de seu poder, as roupas
sacerdotais ricamente decoradas (vejam-se, por exemplo, descrições nos livros
bíblicos do Levítico, do Êxodo, do Deuteronômio e dos Números), os altares aos quais
somente eles tinham acesso, dentre outros, marcavam uma clara separação entre o
sagrado e o profano, entre quem tem acesso direto a Deus e à interpretação de
suas leis e quem deve seguir suas normas, divinamente definidas. Ao poder divino, sagrado, sacerdotal, aliava-se o poder legal e político.
Quanto aos reis e rainhas, faraós e
outros chefes, durante muito tempo, o seu poder era reforçado simbolicamente
pela escolha divina, pela bênção e pela coroação feita por sacerdotes. Por quê?
Porque o poder político, investido de poder religioso, contribuía para reforçar
a obediência de súditos e súditas, mantendo seu respeito por aquele(s).
As construções também (as pirâmides,
comentadas acima, por exemplo) eram e são, ainda hoje, símbolos da imponência
do poder político: palácios, templos, tribunais, prédios de ministérios, dentre
outras edificações, além de locais de trabalho dos dirigentes, meios
simbólicos de demonstração do poder político e ideológico.
Estátuas e monumentos encontram-se
entre outros elementos simbólicos de poder: Alexandre Magno e os imperadores
romanos souberam usar de estátuas e bustos, em cópias espalhadas pela
totalidade de seus respectivos impérios, lembravam aos súditos quem manda e
quem deve obedecer. Ora mostravam o poder de dar vida, ora de, se necessário, matar,
ora com símbolos militares, ora mostrando-se, ao mesmo tempo, brandos, capazes
de sujeitar inimigos (a coluna de Trajano é um bom exemplo) e firmes em seu
poder.
Além dos prédios imponentes e das
estátuas, em pedra ou bronze, também as estelas, os obeliscos, as colunas ricamente
esculpidas, os zigurates, as esculturas em paredes mostrando vitórias sobre
inimigos (o palácio de Persépolis, do antigo império persa, é um exemplo), os
inimigos presos mostrados em paredes e montanhas, eis aí mais símbolos vivos do
poder.
Curiosamente, ainda hoje, escolas,
repartições públicas e outras trazem a foto do(a) presidente da república,
do(a) governador(a), do(a) prefeito(a), do rei ou da rainha, lembrando aos cidadãos
e cidadãs que, para além daquele ambiente em que se encontram, há um(a) chefe,
um(a) líder, com grande poder, respaldado(a) pelo referendo popular ou por
transmissão familiar (dinastia) ou por determinação religiosa ou por conquista.
É claro, nenhum(a) líder dirigiu ou dirige sozinho(a) seu país ou seu império,
precisando de ministros, sacerdotes, generais, administradores e outras pessoas
constituídas de certo poder para poder mandar. Aí, interessantemente, o poder
da classe ou da casta ou estamento social a quem o(a) governante representa ou
da(o) qual até mesmo faz parte e cujo poder econômico, político e social é mantido.
Os símbolos militares, definindo as
patentes de cada tipo de militar, lembram da hierarquia de poder e de
obediência no mundo militar e de respeito no mundo social e político.
Em termos econômicos, prédios
comerciais, marcas de roupas e outras tantas, logotipos, imagens, outdoors,
revistas prestigiadas de moda, de carros e outros, em outras mídias (a
televisão, que é mais vista pela maioria da população), etc., são símbolos
claros do poder econômico, social e de prestígio de empresas e de grupos
nacionais e multinacionais. São símbolos do poder e da força dos grupos e
classes cujo poder econômico é grande e que é preciso ser mantido e lembrado,
reforçando-o e mesmo ampliando-o significativamente.
Professor(a), proponha para as turmas um levantamento
de símbolos de poder político, econômico, social e ideológico, com cartazes
ou em vídeos ou slides feitos por grupos, em diferentes povos e épocas da
história e, especialmente, no mundo atual. Cada grupo pode ficar encarregado de
uma etapa (momento) histórica(o) ou de um povo ou de um aspecto atual dos símbolos no poder
político, religioso, econômico, etc. A seguir, cada grupo ficará encarregado de
apresentar os símbolos de poder que conseguiu, com sua pesquisa e seu trabalho,
obter. A pesquisa de tais símbolos poderá ser feita no laboratório de
informática da escola e\ou na internet em casa e\ou em livros e revistas
existentes na biblioteca da escola e\ou outra biblioteca a que os grupos tenham
acesso. Pode ser um trabalho imensamente enriquecedor do aprendizado de
Filosofia! Ademais, pode ser feito de forma interdisciplinar, com a ajuda da
História, da Geografia e de outras áreas do conhecimento estudadas nas escolas.
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