Dentre
as grandes formas de expressão da percepção humana do mundo circundante
encontra-se a arte. E nela se encontram diversidades de expressão: a pintura, a
escultura, a literatura, o desenho, a música com suas diferenciações (clássica,
hip hop, rock, sertaneja, instrumental, oral, oral-instrumental, etc.), a
modelagem, a arquitetura, além de muitas outras. A arte é linguagens carregadas
da capacidade de transmitir ideias e valores, em cada tempo da história.
Através dela pode-se justificar ou criticar a realidade social, econômica e
política, comunicar valores como o amor ou o ódio, a alegria ou a tristeza,
dentre outros tantos usos e significações.
A
arte é muito antiga: agrupamentos humanos que viviam junto ao mar, há milhares
de anos, perfuravam conchas e as entrelaçavam com linhas feitas de fibras e
formavam colares, com certeza usados, por exemplo, como enfeites e formas de
embelezamento das mulheres. A vaidade, seguramente, é antiga e significativa! Houve
outros grupos que, vivendo nas cavernas, ao aprender a dominar a técnica de
extrair cores de certas rochas e\ou do carvão e\ou de plantas, misturando um
pouco de água e\ou cuspe, fizeram pinturas em paredes de suas respectivas cavernas.
As
mais famosas pinturas rupestres de cavernas são, provavelmente, as de Lascaux,
na França, em razão do detalhismo nelas presente. Mas também encontráveis até
no nordeste e no norte do Brasil. Isto prova a importância dos elementos
artísticos para a vida das pessoas primitivas, seja como formas de certo
domínio ritual sobre os animais que eram caçados (muitas pinturas rupestres
são, de fato, de animais), para dar sorte nas caçadas, seja como forma de
registro para outras pessoas, num tempo em que a escrita propriamente dita
ainda não havia surgido.
A
pintura do corpo, seja no momento dos rituais de passagens de fases da vida,
seja como preparação para a guerra, seja para separar os chefes ou por qualquer
outro motivo, foi ainda outro tipo de arte presente em tempos bem recuados,
sendo, aliás, ainda em nosso tempo. Curiosamente, quanto ao corpo, a estética
facial, a modelagem corporal, a maquiagem, a radicalidade das tatuagens, dentre
outras, são formas vivas do quanto as pessoas são capazes de usar a arte para
transmitir ideias de beleza, de atratividade humana, de expressão do amor ou do
desejo de transmitir certas mensagens, de pertença a algum grupo (a alguma
tribo, como se diz no dia a dia) ou até de crítica social e política (há pessoas que tatuam símbolos políticos
e\ou sociais).
Outra
arte fundamental, desde o momento em que os seres humanos primitivos aprenderam
a articular a linguagem falada, foi a arte de contar histórias. Para tanto, a
capacidade de criar (a criatividade) e a imaginação foram fundamentais, aliadas
à observação do mundo, à curiosidade e ao desejo de entender a realidade,
inserindo nela a vida da tribo, das pessoas, dos seres humanos. A arte de
contar histórias chegou a um grau tão grande e significativo que passou a ser
usada como um meio educativo de transmissão de valores e ideias às novas
gerações, como meio, juntamente com a religiosidade, de criar mitos, formas
primitivas de explicação do mundo, tão fortes que até hoje são usados na arte
contemporânea, desde a pintura, passando pela ciência psicanalítica e
junguiana, até o cinema (inúmeros filmes contêm elementos da mitologia
greco-romana, chinesa e de outros povos).
Ao
sair das cavernas e com a sedentarização de grupos e tribos, a arte da
arquitetura, em diferentes sociedades, para uso público ou privado e como forma
de embelezamento e de poder: pirâmides no Egito e na América Central, zigurates
na Mesopotâmia, prédios públicos e templos magníficos nesses lugares, na Grécia
e em Roma. No mundo atual: grandiosas e magníficas obras arquitetônicas em
muitos lugares.
Retomando
o campo do relato do sagrado, do mítico, a arte de contar histórias foi
enriquecida com a invenção da escrita. Dois bons exemplos disto, no mundo
ocidental, foram Hesíodo e Homero, poetas gregos que viveram há vários séculos
antes de Cristo e cujas obras-primas (Teogonia,
Os Trabalhos e os Dias, do primeiro; Ilíada e Odisseia, do segundo) foram copiadas e recopiadas, transmitidas e
retransmitidas ao longo dos últimos milênios, chegando aos tempos atuais.
Com
o passar do tempo e com a complexificação das relações
político-economico-sociais, a arte foi também complexificando-se. No campo
religioso, por exemplo, com o surgimento das cidades e de novos deuses que
antes não existiam em tribos caçadoras. Houve a
incorporação, em alguns casos (o gregos, por exemplo, adoravam Pã, Diana e
outros), de deuses da caça e do campo. O fato é que, juntamente com as
novidades, com as novas relações sociais e políticas, a arte também foi tomando
novas formas: no Egito antigo, na Grécia antiga, na Mesopotâmia com suas
cidades-estados, Persas, além de outros povos antigos, a arte foi aprimorada a
um alto grau de desenvolvimento: formas e contornos mais precisos e
naturalísticos, uma imensa quantidade de tonalidades de cores, com novas
técnicas de produção material destas, etc. A arte também passou a expressar,
mais profunda e significativamente, o poder: desde o poder político-social
humano até o poder de deuses e deusas e, com estes, dos seus representantes
religiosos, os sacerdotes e as sacerdotisas.
E
quanto aos mundos mitológicos greco-romano e egípcio, vale a pena lembrar que a
poesia dos aedos (poetas), no caso dos gregos, ou dos sacerdotes, no caso dos
egípcios, a escrita e a escultura de deuses e deusas, juntamente com a pintura
nas paredes, com a arte da ourivesaria e outras ligadas ao culto das
divindades, mostram o quanto tipos diferentes de artes podem ser usados. No
mundo atual, curiosamente, nos meios de comunicação social e, para citar
novamente, no cinema, pode-se perceber claramente a conjugação de diferentes
artes, tanto auditivas quanto visuais, gráficas e computacionais, tornando-os
fortemente atrativos, convidativos. Conjunção de formas artísticas com
finalidades comerciais (incentivo ao consumo e ao consumismo), políticas (artes
usadas para transmitir ideias de poder e para garantir sua manutenção), ou
simplesmente para expressar o amor e a vida, as relações entre as pessoas,
dando a tais relações significados novos. Conjunção também presente igualmente
em tendências artísticas, com sua rica expressividade e sua beleza própria, sem
desmerecer toda a riqueza do caráter histórico da arte e que acrescentam à
história desta algo novo ou revisto com novos olhos, dentro de cada contexto.
Os
filósofos também pensaram a arte. Para Platão (grego, séculos V\IV a.C.), como
expõe na República, a arte é uma
imitação da imitação, uma cópia da cópia do mundo inteligível, isto é, cópia
imperfeita do mundo sensível, que é, por sua vez, cópia do Mundo das Ideias
(mundo inteligível). Para Hegel (séculos XVIII\parte do XIX d.C.), em sua Fenomenologia do Espírito, uma
manifestação do espírito objetivo e do conjunto da evolução do espírito, desde
o espírito subjetivo, passando pelo objetivo, até o momento em que o espírito
(a cultura humana tomada em um caráter abstrato, ou seja, a nível de
pensamento, separadamente do real) alcança seu nível mais alto: o espírito
absoluto. Para Nietzsche (séc. XIX) a arte carrega a vitalidade da vida, uma
manifestação dos princípios apolíneo e dionisíaco, da dialética entre a
preocupação com a precisão e a ponderação do apolíneo, o desequilíbrio (como a
da embriaguez do vinho produzido nas vinhas de Baco-Dioniso), a desordem, a
vitalidade e a alegria do dionisíaco. Para Marx e Engels, também do século XIX,
como mostram, por exemplo, o Manifesto do
Partido Comunista e A Ideologia Alemã,
a arte faz parte da superestrutura nascida da base econômica, da produção da
vida material e das relações que aí se estabelecem a cada época da história.
No
século XIX, Freud e Jung, os grandes pesquisadores da psicologia humana,
souberam explorar bem o conhecimento da arte e de como nela encontram-se também
elementos da expressão do inconsciente humano, como forma de sublimação dos
impulsos sexuais (Freud) ou como expressão do inconsciente coletivo da
humanidade e da capacidade criativa do inconsciente (Jung). Com certeza, a arte
é uma das grandes manifestações da criatividade consciente e inconsciente
humana. No século XX, Adorno e Horkheimer, ambos da Escola de Frankfurt,
chamaram atenção para a transformação econômica da arte, como objeto de consumo
e servindo ao mundo do consumo, por meio da indústria cultural. É claro, mesmo
percebendo que essa indústria é capaz de incorporar diferentes formas de arte,
souberam distinguir, por exemplo, entre o tipo próprio, mais comum da música da
indústria cultural (citam, p. ex., entre outras, o jazz, marcante em sua época),
com suas repetições e pouca complexidade, que atinge um grande público, e as
obras da música clássica, com sua rica complexidade.
Curiosamente,
nos primeiros meses de 2014, uma discussão acerca da arte e de sua relação com
a vida social e a indústria cultural abriu-se, por ocasião de uma prova
aplicada para estudantes em Brasília, em torno de uma pergunta proposta por um
professor de Filosofia, o que mostra a atualidade da discussão frankfurtiana.
No
mundo atual, a arte encontra-se espalhada em muitos lugares: nas ruas (p. ex.:
cantores e cantoras de ruas, grafites nos muros, na arquitetura dos prédios),
nas paredes de diversas repartições públicas, nos teatros, nos ateliês, nos
museus e assim por diante.
Enfim,
manifestada como expressão do espírito humano e mesmo posta em leves ou acirradas
discussões, o fato é que sem a arte, com certeza, a vida humana tornar-se-ia
entediante e poderia perder muito de sua riqueza humanístico-cultural e até
mesmo de sua história (arqueólogos, pesquisadores e historiadores que o
digam!).
Professor(a) de
Filosofia: (1) proponha um trabalho em grupos sobre a arte em
diferentes épocas da história da arte, através de cartazes, slides e\ou vídeos
produzidos pelos e pelas estudantes; (2) que tragam o resultado para a sala de
aula e discutam, explorando diversos aspectos da arte e refletindo sobre eles;
(3) a seguir, por diferentes meios, trabalhe com textos de filósofos(as), de
diferentes épocas da história da Filosofia, sobre a arte e, com as turmas, como
eles(as) dela tratam; (4) reflita com as turmas sobre a arte e a estética hoje
e seus aspectos econômicos, sociais, políticos e ideológicos e como, mesmo
ligada a estes, a arte manifesta profundamente o humano, demasiadamente humano.
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