domingo, 17 de novembro de 2013

USO DE IMAGENS DE QUADROS, AFRESCOS E OUTRAS PINTURAS NO ENSINO DE FILOSOFIA (Prof. José Antônio Brazão.)

Um recurso didático que tem aparecido com frequência nos livros didáticos de Filosofia é a pintura: quadros, afrescos e outras pinturas de artistas diversos e até muito renomados. E, para além dos livros didáticos, esse material encontra-se também em livros de arte, banners, na internet e outras formas de apresentação.

O uso de obras artísticas pictóricas pode ajudar a desenvolver a capacidade de análise de elementos estético-filosóficos, aguçar o uso dos sentidos (principalmente a visão), aprimorar o conhecimento e a apreciação da arte, aprender como a filosofia e a arte frequentemente adentram uma no campo da outra, dialogando entre si, junto com outras habilidades.

O que se ser aqui, é claro, é o aprendizado de Filosofia, mas o uso de pinturas de artistas comuns e outros reconhecidos até mesmo internacionalmente vem de encontro ao aprofundamento no aprendizado filosófico e vice-versa. Além disto, vale lembrar que a filosofia, igualmente, analisa a arte: Platão via nela uma cópia da cópia do Mundo Inteligível, Adorno e Horkheimer perceberam que ela, em diferentes modos de expressão, foi assimilada pela indústria cultural, Kant avaliou o caráter sublime da arte, e assim por diante.

As obras de arte (neste caso, pinturas) contidas, retratadas, nos livros didáticos expõem elementos da filosofia que serão objeto de discussão e estudo em cada capítulo, aparecendo no início e/ou ao longo deste(s). Portanto, podem ajudar no entendimento das ideias filosóficas em estudo nos capítulos, contribuindo para sua melhor compreensão e assimilação.

Além do livro didático, ao estudar textos de filósofos diretamente, pinturas em livros de arte, bem avaliadas e escolhidas, podem ser muito úteis no entendimento daqueles. Abaixo seguem duas análises de pinturas, com estudantes, em sala de aula, em 2013:

 ANÁLISE BÁSICA DA IMAGEM DO AFRESCO “A ESCOLA DE ATENAS”, DE RAFAEL SANZIO, QUE CONSTA NO LIVRO FILOSOFANDO, PÁG. 149:

*Pessoas (estudiosos, figuras de destaque no mundo do pensamento e das ciências) dentro de um salão.

*O salão é decorado com várias estátuas.

*O corredor que conduz para o centro e se estende para fora e para dentro, dando impressão, a quem vê, de estar dentro dele ou que o quadro seja uma extensão do exterior.

*Visão de profundidade = perspectiva.

*Pintura detalhada, com vivacidade: naturalismo.

*Atenas: cidade da Grécia, sede da Academia, de Platão, e do Liceu, de Aristóteles.

*No centro: à esquerda, Platão; à direita, Aristóteles. Dois grandes filósofos do mundo grego antigo. Com eles, dois grupos reunidos e separados.

*Escada: pode estar indicando, como imagem, subida, elevação de nível, tendo, em cima e ao centro, Platão e Aristóteles; possibilita a visão de diferentes estudiosos, evitando que fiquem escondidos atrás de outros.

*Por que Platão (de barba clara) e Aristóteles (de barba escura) aparecem centralizados? Porque representam a culminância do pensamento antigo, tendo deixado escritos e ideias que tiveram grande repercussão no mundo ocidental. Deixaram grande legado intelectual.

*Espaço geométrico ao redor dos estudiosos, no salão, e, ao fundo, natural.

*Cores vivas e claras, até mesmo das vestimentas.

*Vestimentas: em sua maioria, longas, indicando sobriedade e alguma formalidade, porém com cores alegres (vermelha, azul, branca, verde, bege, marrom clara, dentre outras).

*Céu, ao fundo: azul claro, com nuvens brancas, indicando dia.

*Luminosidade e clareza.

*Retorno renascentista à cultura greco-latina (Grécia e Roma antigas).

*Platão aponta com o dedo direito para cima, referindo-se ao Mundo das Ideias. Aristóteles aponta com a palma para baixo, valorizando a realidade sensível. Descrevem embate de tendências no mundo filosófico.

Essa análise simples, básica, foi feita com turmas do primeiro ano do Ensino Médio, introduzindo o estudo de Platão e Aristóteles. Tal análise contou com a participação das respectivas turmas, com boa parte das e dos estudantes tendo o livro em mãos.

ANÁLISE SIMPLES DA PINTURA “O SENTIDO DA VISÃO”, DE JAN BRUEGEL, O VELHO, E PETER PAUL RUBENS, DE 1617, QUE APARECE NO LIVRO FILOSOFANDO, PÁG. 364:

*Detalhista e vívida: naturalismo.

*Apresenta o uso da perspectiva, isto é, visão de profundidade.

*Manifesta o classicismo greco-romano: mitologia (ex.: Cupido e sua mãe Vênus), estátuas desenhadas de personagens do mundo antigo).

*Valorização do humano: traço marcante do humanismo.

*Nudez ou seminudez do corpo humano.

*Precisão matemática nos traços e nas imagens, na disposição destas e nas figuras.

*Um quadro menor, à direita, mostra Maria (Madona) e o menino Jesus.

*A pintura mostra instrumentos científicos, como, por exemplo: o telescópio (luneta), um globo terrestre e outro celeste, astrolábio, compasso, dentre outros.

*Cores vivas.

*Presença da natureza.

*A pintura mostra um salão cheio de obras de arte e outras. Do lado de fora do salão: jardim, prédio (possivelmente um castelo), nuvens, fonte, água.

*Do lado direito do corredor, um corredor também cheio de obras de arte.

*O salão mostrado na pintura parece elevado em relação ao exterior, dando visão para fora.

*Aparecem animais: cachorros, macaco, pássaros..., enfim, a natureza.

A pintura “O sentido da visão”, de Bruegel e Rubens, de 1617, como o próprio nome indica, faz um apelo à visão humana e demonstra, através de muitas imagens, como esse sentido humano é capaz de captar imagens, formas (figuras), cores, tonalidades, elementos luminosos diversos, seja simultaneamente (em conjunto), seja separadamente (cada aspecto separado, singular, de uma imagem), aqui, particularmente, de uma obra artística. Acima, pode-se ver alguns elementos observados e anotados.

Curiosamente, os autores (Bruegel e Rubens), em sua pintura, deixam entrever aspectos vitais e históricos de seu tempo. Por exemplo: navegações (globos terrestre e celeste, luneta, astrolábio e outros instrumentos  usados por navegadores); desenvolvimento científico (os instrumentos já citados, p. ex.); classicismo greco-romano (ver os elementos indicados no início); Renascimento Artístico-Cultural (algumas de suas características foram, de fato: o classicismo, o humanismo, o uso da perspectiva, o naturalismo, o antropocentrismo); religiosidade (ex.: Maria e o menino Jesus); conflitos (um quadro menor, acima, na pintura, exalta os feitos em uma batalha, a luta); a riqueza acumulada com o comércio (ex.: moedas espalhadas pelo chão, quadros artísticos – ostentação de ricos daquela época, muitos dos quais eram mecenas, isto é protetores e financiadores de artistas, aos quais solicitavam obras). (Comentário do Prof. José Antônio Brazão.)

Essa análise simples, básica, foi feita com turmas do segundo ano do Ensino Médio, introduzindo o estudo do Renascimento e da Filosofia Moderna. Tal análise contou com a participação das respectivas turmas, com boa parte das e dos estudantes tendo o livro em mãos.

Cada asterisco indica uma colaboração de estudantes, estimulados(as) pelo professor.

Vale ainda lembrar que, às vezes, uma imagem rica, presente no livro didático, pode passar despercebida. É preciso, pois, que professoras e professores de Filosofia atentem para imagens pictóricas. Livros (os livros didáticos de Filosofia inclusive) e até mesmo a internet costumam trazer interpretações boas, bem feitas daquelas obras artísticas. Cabe, pois, aos e às docentes fazerem uma integração entre a arte e a Filosofia.

O trabalho interdisciplinar, com o conteúdo curricular Arte, pode enriquecer mais ainda o aprendizado. Deste modo, o diálogo entre professores(as) de Filosofia e Arte pode ser de grande valor, ajudando-se mutuamente. Isto permite que as e os estudantes percebam que os conteúdos escolares não são estanques, isto é, separados, mas adentram-se e contribuem uns com os outros.

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