terça-feira, 27 de novembro de 2012

A HUMANIDADE E OS MITOS (Prof. José Antônio Brazão.)

O ser humano destaca-se dos demais seres vivos em razão de dispor de capacidades e habilidades como a imaginação, o raciocínio, a memória histórica e a linguagem expressa por meio de gestos e sinais visuais, da palavra falada e escrita, de símbolos. Somam-se a isto a cultura, a arte e a ciência enquanto conjunto de diferentes saberes a respeito do mundo terrestre, do universo e do próprio homem a respeito de si mesmo.

Vive-se hoje em um mundo altamente desenvolvido em termos tecnológicos e econômicos, ainda que com problemas graves como a continuação da fome, da pobreza e da miséria de milhões, talvez bilhões, de pessoas, além de problemas ambientais, todos enraizados na história de exploração e devastação dos últimos séculos. Houve, sem dúvida, avanços significativos na melhoria das condições de vida, estendidos a muitas pessoas. Em termos tecnológicos, exemplos podem ser citados: os supercomputadores, os notebooks, telefones celulares de última geração, radiotelescópios, vacinas, muitas descobertas científicas, etc.

No entanto, nem sempre foi assim. Aliás, ainda hoje há sociedades que têm culturas e modos de viver e produzir simples, com seus modos próprios de explicar e de conviver entre si e com o mundo circundante. Dentre essas sociedades, algumas tribos indígenas do Brasil e de outras partes do mundo, aborígenes da Austrália, algumas tribos africanas.

No início da história do homo sapiens, o convívio com a natureza era direto e impunha sérias dificuldades de sobrevivência. Vivendo em bandos, o ser humano tornou-se coletor e caçador, aprendeu, pouco a pouco, a dominar a técnica do fogo, a fabricar armas e outros instrumentos a partir da pedra lascada, depois polida, a agricultura e, a seguir, com o largo domínio do uso do fogo, também aprendeu a lidar com metais. Com condições melhores de vida em determinadas regiões e, principalmente, com o desenvolvimento da agricultura, os seres humanos foram-se sedentarizando, isto é, fixando-se na terra. As sociedades foram se ampliando e complexificando suas relações político-sociais.

Se, no começo, não havia distinção entre os membros dos grupos humanos, com o passar do tempo e com a passagem do domínio de alguns sobre os demais, as distinções foram ocorrendo, tanto economica quanto politicamente. Dentro das sociedades, uma clara divisão do trabalho foi surgindo: nas primeiras sociedades, entre o trabalho masculino e o feminino; com o passar do tempo, entre os que comandam e os que cuidam do sustento da sociedade, entre os que realizam um trabalho intelectual e os que cuidam do trabalho braçal, entre os que cuidam do trabalho sagrado e os demais da tribo ou da cidade (sociedade mais complexa).

Terras foram sendo tomadas e controladas por determinados membros, que passaram a ocupar as melhores – chefes, militares (generais ou o equivalente, por exemplo), sacerdotes, etc. Uma maioria, destituída de bens próprios, passa a depender daqueles e a trabalhar para eles. Os seres humanos aprenderam, através da guerra e de dívidas, a escravizar os sobreviventes e até mesmo famílias.

A percepção do sagrado, juntamente com a capacidade de simbolizar e de articular a linguagem, fez com que os seres humanos fossem formando uma compreensão da realidade, passando a crer na existência de forças, poderes e seres sobrenaturais que atuariam no mundo. Não dispondo ainda de condições de explicar objetiva e cientificamente os fenômenos – a filosofia e a ciência nasceriam bem depois –, os seres humanos passaram a divinizar e a sacralizar a natureza e o cosmos.

Com o passar do tempo e com o desenvolvimento econômico e político e o crescimento das populações, à medida em que as sociedades foram se complexificando, foram sendo criados deuses, deusas e outros seres divinos, em torno dos quais foram criados mitos e cultos os mais diversos, sendo-lhes separados sacerdotes e locais especiais, próprios, para o culto e a veneração.

É importante lembrar que a presença do sagrado e a criação de mitos encontra-se em desde sociedades tribais até grandes cidades e impérios que foram se formando, sofrendo acréscimos e perdas de seres divinos e/ou assimilação de outros povos com os quais se fez contato. Um bom exemplo de assimilação de deuses encontra-se no domínio romano da Grécia. Os romanos assimilaram muito da cultura e até mesmo da religião dos gregos, tendo muitos deuses em comum com eles, ainda que com nomes diferentes.

Mas o que são mitos? Mitos são relatos sagrados que contam o que se passou na origem do mundo, das coisas e da humanidade, além de histórias e ações de seres e forças sobrenaturais, deuses e deusas, que atuam na natureza, no universo e na própria história humana. São também formas de explicar a realidade. Por exemplo: 1) entre os hebreus (judeus), o mito da Torre de Babel, descrito no livro bíblico do Gênesis, conta a história de homens e mulheres que formavam uma sociedade que resolveu construir uma torre muito alta, a fim de alcançar os céus, porém, vendo a presunção daquelas pessoas, Deus misturou suas línguas, dificultando-lhes o entendimento uns dos outros, fazendo assim com que acabassem por separar-se e desistirem da construção; 2) ainda entre os hebreus, o relato bíblico de Adão e Eva conta que Deus criou o homem (Adão) e o colocou no Paraíso, porém, estando sozinho, Deus resolveu dar-lhe uma mulher, acabando por criar Eva a partir de uma das costelas de Adão, simbolizando, com isto, que ambos têm a mesma dignidade e o mesmo valor, sendo, inclusive, parte um do outro; 3) entre os gregos antigos, a história do dilúvio enviado pelos deuses, dele sobrando Deucalião e sua mulher, os quais, a mando dos deuses, pegando pedras e jogando-as ao longo do caminho, delas nasceram, respectivamente, homens e mulheres; 4) entre os hebreus antigos, também um mito do dilúvio, que conta a história de um homem chamado Noé, que foi escolhido, com sua família, para construir uma arca (enorme barco), na qual transportariam casais de animais de todas as espécies, sendo todos salvos dentro da embarcação, no momento do dilúvio e, ao baixar das águas, sendo responsáveis pela reconstituição das espécies vivas, tanto animais quanto, no caso daquela família, da humanidade, após o dilúvio que havia durado 40 dias e 40 noites; 5) entre os indígenas brasileiros, o mito da mandioca, que relata como surgiu esse alimento – conta que uma menina chamada Mani morreu e foi enterrada na oca (cabana) da própria família, nascendo, tempos depois, de seu túmulo, uma planta nova, desconhecida, com tubérculos (raízes) grossos, que passaram a servir de alimento, daí mani-oca o nome dado àquela planta, ou melhor, mandioca, que quer dizer casa de Mani; 6) o mito grego de Pandora conta que Prometeu, para ajudar a humanidade, deu a esta uma fagulha do fogo que ele havia roubado do Olimpo, que é a morada eterna dos deuses, os quais, para se vingar do roubo e da manipulação do fogo pelos homens, prenderam Prometeu numa alta montanha, acorrentando-o, e durante o dia, todos os dias, vinha um abutre comer-lhe as entranhas, refeitas ao longo da noite, e para o humano Epimeteu, irmão de Prometeu, deram uma mulher chamada Pandora (a que tem todos os dons) com uma caixa que não poderia ser aberta, mas que a curiosidade fez com que isto ocorresse, saindo dela todos os males, sobrando apenas, no fundo, a esperança, fechada ali, em tempo, pelo casal. Este mito é uma explicação para a origem e a existência dos males (doenças, sofrimentos, etc.) no mundo. 7) Na busca de uma explicação para a existência dos males, os hebreus continuam a história de Adão e Eva (Gênesis 2 – 3) contando que esta foi tapeada pela serpente e induzida a comer um fruto que havia sido proibido por Deus no Jardim do Édem, Eva ofereceu-o ao seu marido e, com isto, ambos deixaram a inocência e foram expulsos do Paraíso, tendo que sofrer para lavrar a terra, partejar e passar por outros males, e a serpente foi condenada a rastejar-se pela terra e a comer o pó. 8) Os antigos gregos contavam que, certo dia, Zeus, o rei dos deuses, teve uma terrível dor de cabeça e pediu que Hefesto furasse-lhe a têmpora para eliminar a dor. Do furo na cabeça de Zeus surgiu uma bela moça, Atenas, considerada por gregos e romanos (para estes é Minerva) a deusa da sabedoria, das artes e até como guerreira.

Juntamente com os mitos, a criação de ritos e festas anuais, a partir de calendários determinados, fruto do conhecimento do tempo das estações e do movimento dos astros, principalmente do Sol e da Lua. Em sociedades sedentárias maiores, como cidades e impérios, a construção de templos e lugares sagrados específicos. Na Grécia, por exemplo, templos a Zeus, Hera, Atenas, Apolo (Hélios), entre outros.

O culto aos seres divinos era fundamental para manter o equilíbrio do universo, colheitas abundantes, supressão de secas, etc. O trabalho dos sacerdotes tornou-se de grande importância para a vida das sociedades. Em tribos indígenas e em outras sociedades, os sacerdotes chegaram a ter até mesmo funções médicas, através do trabalho sagrado de expulsar forças sobrenaturais negativas (maus espíritos), provocadoras de doenças. Muitos deles tornaram-se conhecedores também de plantas e remédios, sem dúvida, trazendo, com isto, contribuições para a medicina.

Entre os antigos hebreus, os sacerdotes eram encarregados de verificar as feridas persistentes das pessoas. Em caso de lepra detectada, as pessoas eram separadas do convívio social, só podendo ser reintegradas após verificação e atestação daqueles homens.

Curiosamente, até hoje (século XXI) se fala de curas através de bênçãos e da oração! Uma boa prova disto são sacerdotes (padres, pastores evangélicos e outros) que se encarregam de trabalhos de oração de cura e expulsão de espíritos malignos que estariam atuando nas pessoas.

No Egito, por exemplo, os faraós passaram a ter um caráter divino, sendo responsáveis pelo cuidado da população. A religião fundamentava e explicava a divisão social, servindo de esteio ou base para as relações políticas. Na Índia, por exemplo, até hoje, a divisão de castas baseia-se nas crenças religiosas. A ideologia religiosa era e, neste caso, é fundamental para manter o status quo social! A hierarquia social refletia-se também na hierarquia celestial. Entre os gregos, por exemplo, o rei dos deuses, o deus dos relâmpagos e de poder descomunal, era Zeus. Junto dele, no Olimpo, outros deuses e, além destes, deuses e deusas em todo o cosmos e no mundo natural, regendo todas as coisas com seu poder. Entre os vikings, os deuses também tinham sua hierarquia, sendo o soberano de Asgard o deus Odin. A seguir, os nomes de deuses gregos e romanos e escandinavos, conforme a Enciclopédia Encarta (uma enciclopédia digital):

Antigos deuses romanos e gregos

Conforme o Império Romano se expandia, assimilava os elementos culturais das terras que conquistava. Na religião, este processo denominou-se interpretatio romana, interpretação romana. Quando Roma conquistou a Grécia no século III a.C., os deuses e deusas romanos fundiram-se com os da civilização grega. O quadro mostra os principais deuses e deusas e suas atribuições nas mitologias grega e romana.

NOME GREGO / NOME ROMANO

PAPEL NA MITOLOGIA

Afrodite /Vênus Deusa da beleza e do desejo sexual (na mitologia romana, deusa dos campos e jardins)

Apolo /Febo Deus da profecia, da medicina e da arte do arco e flecha (mitologia greco-romana posterior: deus do Sol)

Ares /Marte Deus da guerra

Ártemis /Diana Deusa da caça (mitologia greco-romana posterior: deusa da Lua)

Asclépio /Esculápio Deus da medicina

Atena /Minerva Deusa das artes e ofícios, e da guerra; auxiliadora dos heróis (mitologia greco-romana posterior: deusa da razão e da sabedoria)

Crono /Saturno Deus do céu; soberano dos titãs (mitologia romana: deus da agricultura)

Démeter /Ceres Deusa dos cereais

Dionísio /Baco Deus do vinho e da vegetação

Eros /Cupido Deus do amor

Géia /Terra Mãe Terra

Hefesto /Vulcano Deus do fogo; ferreiro dos deuses

Hera /Juno Deusa do matrimônio e da fertilidade; protetora das mulheres casadas; rainha dos deuses

Hermes /Mercúrio Mensageiro dos deuses; protetor dos viajantes, ladrões e mercadores

Héstia /Vesta Guardiã do lar

Hipnos /Sonho Deus do sonho

Hades /Plutão Deus dos mundos subterrâneos; senhor dos mortos

Posêidon /Netuno Deus dos mares e dos terremotos

Réia /Cibele Esposa de Crono/Saturno; deusa-mãe

Urano /Urano Deus dos céus; pai dos titãs

Zeus /Júpiter Soberano dos deuses olímpicos

Mitologia escandinava

NOME PAPEL NA MITOLOGIA

Odin Pai da Humanidade, deus da guerra, da sabedoria e da poesia.

Thor Deus do trovão, dos raios e das chuvas.

Frigg Deusa do amor conjugal.

Freya Deusa da fecundidade.

Frey Deus da prosperidade.

Balder Deus da luz, da justiça e da beleza.

Tyr Deus da guerra e das leis.

Njord Deus da fertilidade e dos oceanos.

Hel Deusa dos mortos.

Heimdall Guardião dos deuses.

Jord Deusa da terra.

Hoder Deus da obscuridade.

Valquírias Virgens guerreiras que servem a Odin."

(Microsoft ® Encarta ® Encyclopedia 2002. © 1993-2001 Microsoft Corporation.)

Muitos mitos foram criados em torno das forças sobrenaturais e dos seres divinos (deusas e deuses) e serviram, durante muito tempo, como forma de explicação e de compreensão do mundo terrestre e do mundo cósmico, até mesmo das relações entre as pessoas. Os gregos diziam que o amor entre duas pessoas é fruto da flecha de Cupido, filho de Afrodite, deusa do amor. Conforme Hesíodo, em seu livro poético Teogonia, a ação desse deus ocorre desde as origens do mundo, quando este surgiu por uma separação dos elementos, a partir do Caos primordial. Aliás, os gregos e os romanos tinham deuses e deusas para todas as coisas, até para algum deus desconhecido. Tais divindades cuidavam da harmonia do cosmos e da natureza, tendo em suas mãos até mesmo o destino de cada ser humano. E havia festas em honra às divindades e muitos templos.

Entre os egípcios antigos, por exemplo, podem ser encontrados templos magníficos, rica e detalhadamente construídos para adorar suas divindades. Os egípcios eram também politeístas, ou seja, tinham muitos deuses e deusas: Rá era o deus do Sol, Osíris o deus governante do mundo em que habitavam os mortos, Ísis era uma deusa da fertilidade e da maternidade, portanto fundamental para a agricultura e a procriação de seres humanos e outros animais, Anúbis, o deus dos mortos, Hórus, filho de Osíris e Íris, o “deus do céu, da luz e da bondade” (Encarta Encyclopedia), Amon, outro deus ligado à fertilidade e que veio a ser identificado, posteriormente, com o Sol (daí Amon-Rá), e muitas outras divindades. Em honra ao deus Hórus, identificado com o falcão, até mesmo muitos falcões foram sacrificados e mumificados. Até hoje encontram-se resquícios desse culto em túmulos e sítios arqueológicos antigos do Egito.

Os egípcios levavam sua religião tão a sério que começaram a identificar os faraós com divindades na Terra. Curiosamente, as pirâmides, túmulos dos faraós falecidos, são verdadeiras obras de arte da arquitetura e da engenharia egípcias. Dentro de cada pirâmide, em uma câmara ou sala grande, ficava o sarcófago do faraó, a urna em que era colocado. O corpo do faraó falecido era, antes de ser posto no sarcófago, embalsamado e mumificado – ressecado e envolvido em faixas.

Antes de mumificar o faraó, suas vísceras (órgãos internos) eram retiradas e colocadas em vasos chamados canupiais, ricamente adornados e embelezados. E, ao redor do sarcófago, iam joias, vasos com comidas (trigo, por exemplo), pedras preciosas, paredes artisticamente entalhadas e pintadas, contendo desenhos do mundo do além, iam também papiros, enfim, tudo que pudesse servir ao faraó em sua jornada no além-mundo e na eternidade. Eis aqui uma grande preocupação com a vida no além. Curiosamente, o submundo em que habitavam os mortos, para os gregos, era o Hades. No entanto, enquanto há uma caminhada e uma preparação para as alegrias eternas entre os egípcios, no Hades grego não há alegria, o que pode ser visto no livro A Odisseia, do poeta Homero, no relato em que Ulisses (Odisseu) visita o Hades, em busca do vaticinador que lhes indicaria o caminho de volta à ilha em que aquele habitava. No Hades, Odisseu também encontrou-se com sua mãe, que havia falecido de desgosto por ter acreditado que o filho desaparecido havia morrido.

No Egito Antigo os mitos religiosos serviam aindapara manter o poder do faraó, dos sacerdotes e da nobreza economica, politica e militarmente dominante, justificando-o, reforçando e justificando também a divisão social lá existente.

Algo muito interessante de ser observado em muitos mitos é o caráter cíclico dos eventos que eles relatam, caráter este que aparece claramente nos ritos e nas festas religiosas anuais celebradas pelos mais diversos povos, desde a antiguidade até praticamente os dias atuais. Esse ciclo, de um modo geral, é celebrado de ano em ano ou de tempos em tempos. A celebração dos ciclos da natureza anda passo a passo com as celebrações religiosas. Na época da colheita do trigo, na Grécia antiga, por exemplo, celebrava-se a Perséfone, deusa divina cuja planta símbolo de seu renascimento é o trigo. Outro exemplo desse caráter cíclico é o mito de Thor e Freya, deuses da mitologia escandinava, viking.

De acordo com Jostein Gaarder, em seu livro O Mundo de Sofia, a deusa Freya foi raptada pelos inimigos dos deuses de Asgard (reino dos deuses, algo parecido com o Olimpo dos deuses gregos), os Trolls. Ela era a deusa responsável pela primavera e pela fertilidade (ver no quadro acima), portanto fundamental para o sustento dos seres humanos. Os trolls roubaram também o martelo de Thor, com o qual este invocava as nuvens e os raios. O tempo em que Freya ficou na fortaleza dos Trolls trouxe frio e inverno para as pessoas. Porém, sabendo de um pretendido casamento do rei dos trolls com aquela deusa, Thor vestiu-se de mulher e foi à festa. No momento em que os trolls apresentaram o martelo de Thor como um troféu para os convidados, este invocou-o e com ele debelou os trolls e libertou a deusa, tornando, assim, possível o retorno da primavera. Este mito mostra claramente como os escandinavos explicavam os ciclos naturais e, com eles, o culto aos deuses, do qual estes também dependiam e que, de certo modo, os fortalecia. Era uma troca: de um lado o culto humano aos deuses e, do outro, os favores oferecidos por estes àqueles. Portanto, a garantia do retorno dos ciclos naturais dependia do culto aos seres divinos.

Até hoje encontra-se a ideia de ciclo na religião. Um bom exemplo disto é o ano litúrgico católico, durante o qual são celebrados e revividos os principais acontecimentos das origens e dos fundamentos do cristianismo, com várias festas distribuídas ao longo do ano. Tanto católicos quanto outros cristãos celebram festas religiosas, revivendo os mistérios e os valores contidos na vida do fundador, Jesus Cristo. O Natal e a Páscoa são bons exemplos disto. Há celebrações, cantatas, orações, ceias e outras cerimônias que se ligam a essas festas.

Outro ciclo é o do nascimento, da destruição ou morte e do renascimento. Para os hindus, por exemplo, o universo está nas mãos de Shiva (o deus supremo), que carrega em uma delas o tambor cujo som constitui o universo e, em outra, o fogo de sua destruição, passando o cosmos pelo ciclo da destruição e do renascimento eternos. E, dentro do hinduismo e do budismo, a crença na reencarnação das almas, passando por um ciclo também de morte e renascimento, para fins de aperfeiçoamento ou cumprimento do destino. A religião kardecista, de cunho cristão, também trabalha com a tese da reencarnação, num processo contínuo de evolução do espírito das pessoas.

É de grande importância salientar que os mitos religiosos não são mentira ou historinhas inventadas, mas, para todos os que neles criam e grupos que ainda creem, eles eram ou são verdade sagrada, religiosa, que deve ser respeitada, celebrada e revivida no interior dos rituais. Curiosamente, os ritos sagrados ou rituais são formas celebrativas, profundamente simbólicas, de revivenciar o que aconteceu nos primórdios, no momento em que os fatos sagrados estavam acontecendo: a origem do mundo, o (re)nascimento de um deus ou deusa, a constituição do casamento entre homens e mulheres (um exemplo disto: o relato da criação de Eva e sua entrega a Adão, em Gênesis cap. 2, simbolizando a união entre homem e mulher), etc.

Em tribos indígenas e em outras sociedades, ainda, os ritos ou rituais de passagem. Quando atingem a puberdade, os jovens e as jovens passam por rituais de passagem da infância para a vida adulta, tendo que experimentar provas até mesmo dolorosas e sacrifícios a fim de mostrarem que são merecedores(as) do nome de adultos(as). Em muitos casos, tendo passado por essas cerimônias, os jovens e as jovens, tornados adultos, podem até casar, passam a fazer parte dos grupos de caças e têm determinadas responsabilidades que até então não tinham diante da tribo.

Os mitos são ricos em termos de valores e ideias que transmitem. Através de sua compreensão pode-se até mesmo adentrar no significado daqueles valores para povos determinados, entender a constituição das sociedades que os cultivam e recordam e penetrar, de certo modo, no modo como encaram a vida.

E no mundo atual (século XXI), onde é possível encontrar resquícios do mito, para além das religiões, na sociedade? Um primeiro exemplo a citar poderia ser a criação de uma aura “sagrada”, de respeito e veneração, por pessoas famosas, que aparecem principalmente na mídia, com destaque para o cinema e a televisão: atores, esportistas, jornalistas, etc. Muitos dos mitos televisivos, por exemplo, têm um claro cunho comercial – vender produtos propagandeados por aquelas pessoas. Curiosamente, os meios visuais e áudio-visuais de mídia (TV, cinema, revistas, jornais e outros) apresentam constantemente a imagem da juventude, da beleza, da estética, da prolongação da vida e de sua exuberância, formando a mentalidade das pessoas a respeito desses temas e aumentando os gastos em sua manutenção e/ou em sua busca, rendendo para as empresas de beleza, de cosméticos, de alimentos e outras, anualmente, bilhões de dólares. Imagens de beleza e outras que tocam a psiqué das pessoas são criadas, moldadas e até divinizadas, gerando expectativas e verdadeira veneração, por trás das quais escondem-se interesses econômicos e até mesmo políticos, de poder! Na Grécia antiga, o mito da derrota do minotauro, morto por Teseu, simbolizava a derrota de Creta para os gregos! Já naquele tempo, o mito retratando relações fortes de poder, um poder fundado na força militar, capaz de sobrepujar os inimigos e dominá-los! E hoje? (Para debate, discussão de ideias e tiragem de conclusões comuns.)

ATIVIDADES COMPLEMENTARES POSSÍVEIS:

1ª) Filme (nova versão ou antiga versão remasterizada) de FÚRIA DE TITÃS. Referência: mitologia grega.

Solicitar um resumo, de dez a vinte linhas, a respeito do conteúdo do filme. Se possível, e melhor, passar folha digitada pronta, com as linhas definidas, para ganhar tempo e qualidade. E/OU:

Preencher a ficha que está sendo repassada (FICHA DE ASSISTÊNCIA DE VÍDEO EM FILOSOFIA). Ficha individual, de preferência.

FILMES E VÍDEOS RELACIONADOS AO TEMA:

a) Fúria de Titãs 1. (Já mencionado.)

b) Fúria de Titãs 2.

c) Documentário Cosmos, episódio 7 (A Espinha Dorsal da Noite), de Carl Sagan. Pode ser encontrado na VIDEOTECA da TV ESCOLA, em português.

d) O Senhor dos Anéis 1, 2 e 3.

e) Thor.

Outros. Professor, professora: faça um levantamento, com a ajuda dos e das estudantes. Pode ser muito útil e valioso.
2ª) Elaborar vídeo a respeito da mitologia grega, no qual apareçam informações sobre as principais divindades gregas antigas. Utilizar o Windows Movie Maker ou similar na plataforma Linux. E/OU:

3ª) Elaborar um cartaz, no Windows Publisher, a respeito do conteúdo acima. Use todos os recursos disponíveis nesse software para enriquecer o cartaz.

4ª) Montar, no Power Point, 20 slides sobre o tema acima, apresentando aí diversas divindades, cultos e templos a ele relacionados.

5ª) Outra. Professora, professor: use a criatividade para elaborar outra atividade, sempre contando com a ajuda das e dos estudantes.

Para aprender mais (sites que foram/podem ser consultados e estudados):
www.google.com.br
www.wikipedia.org
http://pt.wikipedia.org/wiki/Mitologia 
http://pt.wikipedia.org/wiki/Mitologia_grega
http://www.portalsaofrancisco.com.br/alfa/mitologia-grega/mitologia-grega.php
http://plato.stanford.edu/
http://plato.stanford.edu/search/searcher.py?query=god
http://agora.qc.ca/

Livros didáticos e outros (citação simples):
*Convite à Filosofia (de Marilena Chauí), da Ed. Ática.
*Filosofando: Introdução à Filosofia (de Maria Lúcia de Arruda Aranha e Maria Helena Pires Martins), Ed. Moderna.
*História da Filosofia, vol. 1 (de  Dario Antiseri), Ed. Paulus.
*O Mundo de Sofia (de Jostein Gaarder), da Companhia das Letras.

Enciclopédia eletrônica utilizada na pesquisa, conforme citação dela mesma:
Microsoft ® Encarta ® Encyclopedia 2002. © 1993-2001 Microsoft Corporation.

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