segunda-feira, 5 de maio de 2008

A FILOSOFIA NA GRÉCIA, SÉCULOS V E IV A.C. (Parte 2) (Prof. José Antônio Brazão.)

SÓCRATES (c.470/469-399 a.C.): Filósofo ateniense. Destaca-se pelo fato de voltar-se para as questões éticas e políticas de seu tempo, tendo uma preocupação humanística muito forte. Contam os relatos de sua vida que ele gostava de ensinar em ruas, praças e locais públicos da cidade. Seu modo de ensinar era baseado, basicamente, no diálogo, na discussão de idéias. Para tanto, fazia uso do método da ironia e da maiêutica. Ironia quer dizer 'perguntar simulando não saber'. Uma das frases atribuídas a Sócrates é que "só sei que nada sei", atestando não a falta pura e simples de conhecimentos a respeito da realidade, mas a humildade que se deve ter diante da busca de compreensão e aprendizado a respeito dessa mesma realidade, seja ela humana ou cósmica ou outra. Ninguém pode se dizer dono da verdade, idéia subjacente nessa frase. Ser 'dono da verdade' implica aceitação e até mesmo obediência e submissão de outros a pretensas verdades que se diz possuir. Sócrates gostava de colocar aqueles que com ele conversavam em situações embaraçosas, através de perguntas e dúvidas, levando, conseqüentemente, as pessoas a perceberem suas contradições e reais incompreensões a respeito dos assuntos em debate. Havia pessoas importantes, postas em questionamento, que saíam envergonhadas desses debates, algumas das quais tornaram-se inimigas de Sócrates. Na segunda parte do debate, Sócrates fazia uso do que chamava de "maiêutica", isto é, a arte de partejar idéias. Ele acreditava que as respostas se encontravam, de alguma forma, dentro das pessoas e que precisavam aflorar. Através de novas perguntas, Sócrates levava seus interlocutores, justamente, a "partejar" novas idéias, a refletir e a compreender com mais clareza o(s) assunto(s) em questão. Tempos depois, Sócrates foi acusado de ensinar coisas erradas aos jovens e de não adorar os deuses da cidade, pregando divindades estranhas. Diante do tribunal (uma grande assembléia), Sócrates defendeu-se, porém, por causa das mentiras de seus inimigos, acabou sendo sentenciado à morte (vejam-se os textos "Apologia [Defesa] de Sócrates", uma de Platão e uma de Xenofonte. Depois de cerca de um mês na prisão, foi, finalmente, obrigado a beber um veneno forte (sicuta). De acordo com Platão (no "Fédon"), morreu em paz e tranqüilamente, rodeado por amigos e discípulos.
Sócrates é um grande exemplo para a educação no mundo atual. Ensina que é preciso haver uma abertura constante para o diálogo e a discussão de idéias, em que o educador ou a educadora não é o(a) 'dono(a) da verdade', mas alguém que se põe no meio, conduzindo o debate, sem imposição de idéias prontas e pré-definidas. Ao levar o estudante à reflexão, ao auto-questionamento e ao questionamento da realidade, o(a) educador(a) contribui para o desenvolvimento do pensar reflexivo e da busca do conhecimento. Curiosamente, Paulo Freire (já falecido), Rubem Alves e outros pensadores da educação, do passado e de hoje, também defendem (ou defenderam) a importância do diálogo no interior do processo educativo. Paulo Freire, por exemplo, falava dos círculos de cultura, nos quais se aprendia junto o beabá, tanto da realidade quanto das letras propriamente ditas. Nesse aprendizado, o destaque dado ao debate de idéias, ao questionamento, à reflexão, feito em grupo. Rubem Alves fala da necessidade do cultivo de "jardins" dentro das pessoas, isto é, de valores, idéias, de um novo modo de encarar a vida e a realidade, de compreender o mundo, da necessidade de plantio de coisas boas no interior das pessoas. Para tanto, é também necessário o diálogo entre educando e educador, mediado pelo aprendizado mútuo do mundo. Augusto Cury, em um livro que escreveu para pais e professores, fala da necessidade da pergunta, de colocar as educandos e educadores em roda, do questionamento. Volta e meia, educadores, educadoras, pensadores da educação e outros põem em movimento aquilo que Sócrates defendia, como foi acima exposto, enriquecendo e aprofundando seu modo de propor o ato de ensinar-aprender mutuamente. Eis aí a atualidade de Sócrates.
(Texto de José Antônio Brazão.)

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