segunda-feira, 30 de maio de 2011

KARL MARX (1818 - 1883) (Prof. José Antônio Brazão.)

Karl Marx, alemão, viveu no século XIX e teve uma tripla formação intelectual: economia, filosofia e história.
Para bem compreender suas ideias é preciso situá-lo no contexto histórico em que viveu. O século XIX presenciou a afirmação definitiva do modo de produção capitalista. A burguesia, que vinha sendo ainda mais enriquecida com a revolução industrial, há mais de um século, reforçou sua exploração sobre os trabalhadores, cuja forma principal era e ainda é o que Marx chamou de mais valia, isto é, um trabalho extra, não pago ao trabalhador, que se transforma em lucro para os capitalistas, dentre os quais podiam se destacar industriais, comerciantes, grandes fazendeiros, grandes banqueiros e outros enriquecidos.
A exploração dos trabalhadores nas fábricas era terrível e fonte de altos lucros para os capitalistas. Homens, mulheres e até crianças trabalhavam 14, 15, 16 horas a fio, em troca de um mísero salário. A imensa miséria do proletariado (trabalhadores) constrastava com a enorme riqueza dos poucos donos dos meios de produção, do capital. Não havia direitos trabalhistas definidos legalmente, de forma nítida. Estes, com efeito, vieram a ser fruto de muitas lutas e mesmo de mortes de muitos trabalhadores. Milhares e milhares de crianças eram obrigadas a trabalhar nas fábricas para complementar aquilo que os pais recebiam e, como as mulheres, recebiam pagamentos inferiores aos dos homens e adultos.
O que os trabalhadores recebiam servia basicamente para a sobrevivência e à reprodução da força de trabalho, ou seja, poder trabalhar no dia seguinte e ser obrigado a isto. Os lucros dos capitalistas eram exorbitantes.
Diante desta realidade, e já tendo tido contato com sindicatos e grupos de luta em prol dos trabalhadores, Marx engajou nessa luta, seja diretamente, através de participação em passeatas, manifestações e no Partido Comunista, seja através de um estudo sistemático e minucioso do funcionamento do sistema capitalista, buscando uma compreensão mais profunda de suas raízes na própria história humana. Marx, de fato, foi um grande pesquisador, cientista político-econômico e filósofo, homem muito culto. Todas as suas obras praticamente nasceram desse empenho pela compreensão da realidade histórica, econômica e filosófica.
Dentre as pessoas com quem conviveu encontrou-se Friedrich Engels, filho de um industrial alemão. Outro homem de excepcional cultura que, como Marx, também interessava-se por economia, história e filosofia, além de dispor de grande cultura geral. Sua parceria com Marx se manifestou na participação no Partido Comunista e na elaboração de diversas obras pessoais e, algumas, conjuntas, sempre trocando ideias entre si. Juntos, a pedido do Partido Comunista, elaboraram o Manifesto do Partido Comunista (ou, simplesmente, Manifesto Comunista), no qual tratam de temas como a exploração capitalista, as lutas dos trabalhadores, as contradições internas do capitalismo, o socialismo e o comunismo, terminando por convocar os trabalhadores do mundo inteiro à luta em prol de uma nova sociedade, livre das relações de exploração entre os homens e, mais especificamente, livre da exploração capitalista. A frase final é, justamente: “Trabalhadores de todos os países, uni-vos.”
Dentre as influências teóricas sofridas pelo pensamento de Karl Marx encontram-se a dialética hegeliana, a economia política inglesa e o pensamento dos chamados socialistas utópicos.
Hegel (1770 – 1831), filósofo alemão, havia dito que o espírito (a cultura e as realizações intelectuais) evolui dialeticamente, isto é, por meio da contradição interna, que se encontra em sua evolução, com diferentes etapas, não destruídas ou separadas de forma estanque, mas que são assimiladas e superadas através de um processo de tese (afirmação), antítese (negação) e síntese (negação da negação, envolvendo as etapas anteriores). A síntese torna-se uma tese que, por sua vez, carregando consigo sua própria contradição, é superada pela antítese e esta pela síntese, continuamente. O espírito absoluto é o auge dessa evolução, etapa na qual o espírito se reconhece como realizador da história. Eis aí uma dialética idealista.
Marx, tendo estudado a dialética hegeliana, aplicou-a na compreensão da história concreta humana, vendo-a como uma realização de pessoas concretas e não como resultante da evolução do espírito. Muito pelo contrário, Marx perceberá que mesmo as realizações espirituais, intelectuais e ideais humanas são fruto, em sua base, de relações materiais de produção que se estabelecem entre as pessoas, a partir do momento em que passam a transformar a natureza através de seu trabalho.
A dialética explica a história por meio da contradição, tendo, em Marx, um caráter materialista. Para Marx, com efeito, a história humana manifesta conflitos que brotam no interior dos modos de produção que surgem ao longo daquela, com destaque para os conflitos entre grupos e classes sociais determinados.
Marx parte da produção concreta da vida material humana e afirma que ela é o que define seu modo de viver, de ser e de agir, até mesmo suas idéias e realizações culturais, como o direito, a educação, a religião, etc. O modo de produção de uma determinada época determina a vida das pessoas, ainda que não absolutamente, mas dialeticamente, pois, dentro de si mesmo, ele carrega sua contradição. Por exemplo: a burguesia que viria a tomar o poder, depois de vários séculos, nasceu dentro do próprio modo de produção feudal.
A produção da vida material é o que move a história e, mais especificamente, transformada em conflito, através da luta de classes: senhores x escravos, patrícios x plebeus, burgueses x senhores feudais, proletariado x burguesia, etc. De acordo com a Wikipedia:
“Modo de produção, em economia marxista, é a forma de não organização socioeconômica associada a uma determinada etapa de desenvolvimento das forças produtivas e das relações de produção. Reúne as características do trabalho preconizado, seja ele artesanal, manufaturado ou industrial. São constituídos pelo objeto sobre o qual se trabalha e por todos os meios de trabalho necessários à produção (instrumentos ou ferramentas, máquinas, oficinas, fábricas, etc.” (In: http://pt.wikipedia.org/wiki/Modo_de_produ%C3%A7%C3%A3o)
Dentre os modos de produção surgidos no transcurso da história estão: o modo de produção primitivo, o asiático, escravista, feudal, capitalista e comunista.
O modo de produção primitivo caracterizou-se por uma forma de produzir simples, baseada na caça e na coleta, principalmente, não havendo divisão acentuada do trabalho nem divisão em classes sociais. Porém, à medida em que as relações de trabalho foram se complexificando, começou a ocorrer uma divisão do trabalho cada vez mais acentuada e nítida: entre o trabalho da mulher e o do homem, entre o trabalho manual e o intelectual (incluindo-se aqui o sagrado).
Alguns membros da comunidade começaram a usurpar parte dos bens pertencentes à coletividade, tomando-os como seus. Além disto, aprenderam que, escravizando outros, poderiam desocupar-se dos trabalhos duros e difíceis e colocar outros para trabalhar em seu lugar. Surgiu, então, o modo de produção escravista. Como seu próprio nome dias, sua base foi a escravidão. Os escravos advinham, basicamente, de algumas fontes, como a guerra (todos os sobreviventes derrotados eram escravizados) e as dívidas.
Dentre as sociedades escravistas antigas, no mundo ocidental, as que mais se destacaram foram a Grécia e Roma. A escravidão predominou fortemente nessas duas sociedades, sendo que o escravo era tido como uma mercadoria. Contudo, o escravismo reapareceu em outras épocas e em outros modos de produção. No mundo moderno ocidental, destacadamente a partir do século XVI em diante, a escravidão de indígenas e, sobretudo, de negros africanos foi muito acentuada.
Quanto ao modo de produção asiático:
“O chamado modo de produção asiático ou sociedades hidráulicas, caracteriza os primeiros Estados surgidos na Ásia Oriental, Índia, China e Egito. A agricultura, base da economia desses Estados, era praticada por comunidades de camponeses presos à terra, que não podiam abandonar seu local de trabalho e viviam submetidos a um regime de trabalho compulsório. Na verdade, esses camponeses (ou aldeões) tinham acesso à coletividade das terras de sua comunidade, ou seja, pelo fato de pertencerem a tal comunidade, eles tinham o direito e o dever de cultivar as terras desta.” (In: http://pt.wikipedia.org/wiki/Modo_de_produ%C3%A7%C3%A3o_asi%C3%A1tico)
O trabalho compulsório era um trabalho obrigatório que era prestado pelos camponeses e cidadãos pobres, com destaque para as obras realizadas pelo Estado. No Egito antigo, por exemplo, em construções, monumentos, na construção de canais para o escoamento das águas e da irrigação, etc. Havia também escravidão, sem dúvida. Por exemplo, para citar um documento antigo: na Bíblia fala-se da escravidão de José, um dos patriarcas, no Egito (ver livro do Gênesis), juntamente com outros, e dos hebreus (no livro do Êxodo).
Na Europa, com a decadência do Império Romano, que adotara o modo de produção escravista, por volta dos séculos IV/V da era cristã, foi-se formando uma maneira diferente de produzir: grandes unidades de terras (latifúndios) foram se formando, controladas por senhores e trabalhadas por servos (camponeses), que não eram escravos, mas estavam ligados à terra. Progressivamente, foi-se formando uma sociedade estratificada, tendo o poder político sido concentrado nas mãos dos senhores feudais e da Igreja Católica Romana – também detentora de terras, do poder religioso e intelectual, além de exercer forte influência política. Formou-se, então, paulatinamente, o que viria a ser chamado modo de produção feudal. A produção era basicamente a produção agrícola. Os servos pagavam tributos, seja em espécie, seja, com o passar do tempo, em moeda, para os senhores feudais e a Igreja, e ainda trabalhavam nas terras dos respectivos senhores feudais em determinados dias da semana. Dispunham de parte da terra do feudo e nela trabalhavam.
Os senhores feudais tinham sob seu comando exércitos próprios. Diversos feudos formavam reinos, dirigidos por reis que, por sua vez, eram senhores feudais e definidos entre seus iguais, cada rei sendo um primus inter pares (latim), isto é, o primeiro entre os iguais. A base da sociedade, como se pôde ver acima, era composta, principalmente, pelos servos (camponeses), mas havia também tecelões, sapateiros e outros artesãos, além de comerciantes.
O comércio não acabou no modo de produção feudal. Com o crescimento populacional e das cidades, esse comércio foi-se intensificando cada vez mais. Com isto, a burguesia (comerciantes) fortaleceu-se gradativamente, enriquecendo-se. O capitalismo estava, então, em gestação. Posteriormente, com as grandes navegações, o Renascimento, a Reforma e a Revolução Industrial, a burguesia foi tomando, cada vez mais, espaços no meio social, até que, entre os séculos XVII e, sobretudo, XVIII e XIX, foi-se rebelando contra a ordem feudal e implementou sociedades cujo poder passou a ser dirigido por ela mesma. Exemplos disto foram as Revoluções Inglesas, Industrial, Francesa e a Independência dos EUA. A base desse novo modo de produção capitalista continuará sendo a exploração do trabalhador, com a destituição deste em relação às suas ferramentas e a outros meios de produção, que passaram para as mãos da burguesia. A mais valia passou a ser um dos instrumentos de exploração dos trabalhadores e de enriquecimento burguês. No entanto, de acordo com Marx, o capitalismo criou também aqueles que serão os responsáveis por sua queda: os componentes do proletariado.
Marx e Engels defenderam a luta dos trabalhadores e a implementação do socialismo e, posteriormente, do comunismo. Suas ideias, sem dúvida, influenciaram, no século XX, as mentes daqueles que viriam a levar adiante a Revolução Russa, a Revolução Chinesa, a Revolução Cubana e tantas outras, além de partidos e sindicatos que se espalharam, praticamente, pelo mundo todo em defesa das causas dos trabalhadores.

segunda-feira, 18 de abril de 2011

FRIEDRICH NIETZSCHE (séc. XIX) (Prof. José Antônio Brazão.)

Friedrich Nietzsche, filósofo alemão. Descendente de uma família de pastores evangélicos, desde pequeno Nietzsche demonstrou interesse pelo conhecimento humanístico, científico e religioso. A família desejava-o pastor, no futuro.Lia muito e veio a tornar-se um grande erudito. Ainda muito jovem, tornou-se doutor em filologia e professor universitário.

Junto com a filologia, um forte interesse pela filosofia. Dentre seus estudos, a descoberta da existência de dois princípios básicos da arte da Grécia antiga: o apolíneo e o dionisíaco, nomes relacionados, respectivamente, aos deuses Apolo e Dionísio (também Dioniso ou Baco). O primeiro é o princípio da ordem e da unidade. O segundo, da dissolução e do desregramento. A harmonização de ambos encontra-se na escultura, na arquitetura, no teatro, na arte e na cultura gregas de um modo geral. Esse estudo aparece já em O Nascimento da Tragédia, livro que não rendeu a Nietzsche muita divulgação em seu tempo. Apolo (Hélios, no grego) e Dionísio foram deuses gregos muito cultuados na antiguidade e tinham templos em diversos lugares da Grécia antiga. Apolo (Hélios) era o deus do Sol e da luz, responsável por guiar o carro do Sol em seu percurso diurno, em sua travessia pela abóbada celeste.

O Sol simboliza vida e poder. Sua luz é necessária à manutenção da vida de todos os seres vivos, passando pelas plantas, os animais, até os seres humanos. Ademais, a luz permite ver com nitidez todas as coisas e distinguir todas as cores, sendo fundamental para a percepção da beleza daquelas coisas e mesmo para os afazeres diários dos seres humanos. De fato, é durante o dia que a imensa maioria das atividades humanas são realizadas. Apolo era ainda de fundamental importância para a agricultura. Sem sua luz as plantas não crescem! Por esta e pelas razões já expostas, o culto de Apolo tinha um imenso valor e grande significado para os antigos gregos.

Dionísio ou Baco, por sua vez, era o deus das vinhas e do vinho. A tomada de vinho traz alegria e ânimo às pessoas, portanto Dionísio liga-se também à alegria. Mas o consumo exagerado de vinho traz o desregramento, isto é, a fuga das regras convencionais da sociedade, fazendo liberar forças instintivas e desejos. Curiosamente, uma das formas de culto de Dionísio eram as orgias sagradas, realizadas em templos onde ele era cultuado. Nesse sentido, Baco representava algo imprescindível à vida pessoal e social: a fecundidade, presente na vida de plantas, animais, pessoas e outras formas de vida. Seu culto era, pois, de grande importância para a agricultura. Seu culto garantia a fecundidade de campos e vinhedos. A fecundidade dos animais, por exemplo, possibilita a reprodução de outros alimentos necessários à vida humana e às trocas econômicas, como a carne, a lã, o leite e outros produtos. A fecundidade dos seres humanos garante a continuidade da vida social. Logo, o culto de Dionísio também contribuía para manter essa fecundidade necessária.

O princípio apolíneo representa a preocupação com o ordenamento, a seriedade, a regularidade e a perfeição. Contudo, contrapondo-se a ele e, ao mesmo tempo, complementando-o, o princípio dionisíaco representa a despreocupação, a dissolução, a alegria, a fuga das regras, a desordem. Vale lembrar, por exemplo, a embriaguez provocada pelo vinho e o que ela faz com as pessoas. O equilíbrio entre ambos princípios é dialético, conjugando a contradição e a síntese ou interação entre eles. O vinho de Dionísio amolece os membros e solta as pessoas, além de ser uma bebida ou alimento delicioso(a), trazendo prazer ao corpo e ao espírito. Mas o que o desregramento tem em haver com a arte? Muito. Ele permite fugir de regras rígidas que possam tolher a criatividade, dando maior liberdade à expressão. É interessante ver, por exemplo, como a deformidade faz parte de algumas máscaras teatrais gregas, enquanto que o regramento, a forma e a harmonia, próprios do apolíneo, aparecem em outras. Essa dualidade traz um equilíbrio ao interior da representação teatral, permitindo que as mensagens nela contidas fluam com maior flexibilidade, liberdade e vivacidade, sem rigidez, trazendo desconcentração e renovação de energias.

No campo moral, o dionisíaco, em Nietzsche, representa a fuga de regras morais e religiosas rígidas, que possam engessar a vida humana, impedindo seu livre e espontâneo andamento. Uma moral dionisíaca seria aquela em que as regras que regem a vida humana trouxessem consigo maior liberdade e flexibilidade ao agir humano. Isto não quer dizer que não possam e não devam haver leis e regras morais bem estruturadas para a vida social, mas que elas não caiam na rigidez, na inflexibilidade e no moralismo vazios, frutos, muitas vezes, do dogmatismo. Aliada ao moralismo, Nietzsche constatou a massificação das pessoas, destituídas de um pensamento crítico e de uma reflexão mais profunda. O termo utilizado por ele para referir-se a essas pessoas foi “rebanho”, que lembra um conjunto dócil de animais que pastam juntos, obedientes aos chamados e aos comandos do pastor ou vaqueiro.

A falta de reflexão e de conhecimento mais aberto e profundo do mundo faz com que as pessoas encontrem referenciais tão somente em seus guias espirituais, políticos e intelectuais, o que torna fácil o comando daquelas. Fazer parte do “rebanho” é, de certo modo, agradável e não incomoda. A necessidade de fazer parte de algo comum é, sem dúvida, intrínseca aos seres humanos. Porém, o perigo encontra-se no momento em que a mentalidade formada em comum, sob o comando dos líderes, embota a diferenciação no modo de pensar, de sentir, de desejar e até de agir. Para exemplificar isto, a crítica severa que Nietzsche faz à mudança ocorrida na música do compositor Richard Wagner que, inebriado pelo sucesso e aclamado até mesmo diante dos poderes constituídos, alterou seu modo de compor, tornando suas músicas mais ao gosto do povo e daqueles que o dirigem. Seus concertos chegaram a fazer enorme sucesso e a serem assistidos por muita gente. Se, em um primeiro momento, Nietzsche acreditou haver na música wagneriana uma manifestação do dionisíaco, agora passa a ver sua decadência, pendendo para a mentalidade comum do “rebanho”. Nietzsche, inclusive, perdeu sua amizade com Wagner. Eis aqui um exemplo da ação e da força da mentalidade de rebanho, presente até mesmo no gosto artístico massificado das pessoas.

Um outro exemplo em que a mentalidade de rebanho se manifestava em seu tempo, de acordo com Nietzsche, era a religião, com destaque para o cristianismo, que continuava a agregar muitas pessoas ao seu redor, formando sua mentalidade (modo de pensar e conceber o mundo) e moldando seu modo de agir. Um perigo real que Nietzsche via na mentalidade religiosa era a não aceitação da contestação e do diferente, fruto do dogmatismo, aliada à falta de reflexão e de opinião próprias, tudo gravado a fundo na mente das pessoas. Para se ter uma ideia, vale lembrar que, no século XIX, a teoria de Darwin[1] sobre a evolução das espécies foi duramente criticada pelas igrejas e não aceita por muitas pessoas, vindo a firmar-se um bom tempo depois com novas descobertas e evidências advindas de diversas ciências, como a arqueologia e a genética, por exemplo. Voltando um pouquinho no tempo, Immanuel Kant[2], outro filósofo alemão, perguntado a respeito do que seria o iluminismo, já havia chamado a atenção para a falta de um pensar crítico e reflexivo das pessoas, ao escrever que o iluminismo consistiria na “saída da menoridade”, implicando capacidade de pensar pela própria cabeça, sem a condução de outros. E, de acordo com Kant, para que as pessoas pudessem pensar por si próprias seria preciso que lhes fosse dada a devida liberdade de pensamento, que precisaria ser assegurada pelos próprios governantes.

No século XX, Theodor Adorno e Max Horkheimer, filósofos alemães, chamaram a atenção para a “indústria cultural”, ou seja, para uma nova forma massificada de produzir cultura, capaz de transformar em comuns e aceitos por multidões certos estilos de músicas e gostos artístico-culturais, produção cultural aliada à produção econômica capitalista e à geração de altos lucros às empresas em geral e, mais diretamente, àquelas produtoras diretas dos novos produtos culturais. A massificação retira das pessoas a capacidade de pensarem por si próprias, de formular seu próprios conceitos de mundo e de agirem no sentido de buscar uma mudança.

Adorno e Horkheimer foram grandes leitores de Nietzsche, Kant, Marx e de outros pensadores. No mundo atual, em pleno século XXI, a indústria cultural continua existindo e atuando firmemente. A reprodução do capital depende do consumo, por parte de milhões de pessoas pelo Brasil e pelo mundo afora, de produtos culturais os mais diferenciados. Para incentivá-lo, a massificação[3] tornar-se valiosa, sendo incentivada e promovida principalmente pelos meios de comunicação social, com destaque direto para a televisão, com o uso conjugado de imagens em movimento e sons, por montagens elaboradas e transmitidas por profissionais muito bem preparados. A mentalidade de “rebanho” se manifesta nitidamente na moda, constantemente revista e renovada, na assistência de programas televisivos comuns, em estilos de músicas, estilos de vida e valores sutilmente despejados sobre as pessoas, como o consumismo, chegando a impor-se sobre elas, moldando seus gostos e interesses de acordo com os interesses do capital, servindo tanto a propósitos econômicos quanto políticos, como a manutenção do status quo sócio-econômico-político. Indubitavelmente, o pensamento de Nietzsche, aqui, ao final conjugado com outras leituras de pensadores que foram fortemente influenciados por suas ideias, adaptado e relido, continua muito atual, valendo a pena ser lido e estudado.

E, dentre suas obras, sugestões de leituras: Além do Bem e do Mal, A Gaia Ciência, Crepúsculo dos Ídolos, Assim Falou Zaratustra e O nascimento da Tragédia. Nietzsche escreveu ainda uma autobiografia: Ecce Homo.

Outros tópicos ou pontos fundamentais no pensamento de Nietzsche: a morte de Deus, o eterno retorno do mesmo, a oposição ao cristianismo de seu tempo, vontade de poder (ou vontade de potência).

Referências:


[1] Nietzsche conhecia a teoria evolutiva de Darwin, sem dúvida, e viu nela um avanço na compreensão biológica dos seres vivos, ainda que a criticasse por não servir para explicar como a moral dos fracos, com ênfase para seu aspecto religioso, veio a prevalecer. Com efeito, Darwin afirmava que a seleção natural selecionava os mais aptos e mais fortes.
[2] Filósofo estudado e criticado por Nietzsche, em razão do caráter metódico e até certo ponto rígido da moral kantiana. Contudo, aqui E. Kant foi citado justamente por discutir o tema da necessidade de liberdade de pensar. O termo “menoridade” lembra, em Kant, as crianças, que têm necessidade de condução de outras pessoas para se protegerem e das quais, de certo modo, tornam-se dependentes.
[3] Termo atual que Nietzsche não chegou a utilizar, preferindo o termo “rebanho”, mas que aqui foi utilizado para facilitar a compreensão deste. Ambos lembram falta de reflexão própria por parte daqueles que neles estão incluídos.

terça-feira, 29 de março de 2011

DENIS DIDEROT (1713 - 1784) (Prof. José Antônio Brazão.)

Filósofo francês, iluminista. Também grande escritor. Teve uma sólida formação, tornando-se um homem extremamente culto, dispondo de conhecimentos em várias áreas, desde artes, até ciências, passando pelo teatro e outras áreas, como a literatura. Seu pensamento, como o de vários outros iluministas de seu tempo, voltou-se para uma crítica ferrenha, até mesmo satírica, da sociedade de seu tempo – uma sociedade dividida claramente em três estados: o primeiro estado, composto pelo clero, o segundo estado, composto pela nobreza, e o terceiro, composto pelos servos e a burguesia. Os dois primeiros exerciam o poder político e o controle da sociedade. O terceiro estado praticamente mantinha economicamente toda a sociedade. Diderot, também como outros, percebeu arbitrariedades cometidas pelo poder político de seu tempo e satirizou-as sem piedade. Mas por que a sátira? Justamente porque, através dela, direta e/ou indiretamente, se pode fazer críticas picantes e expor as baixezas, os conflitos e os interesses que se encontram por trás da vida social, e, ao mesmo tempo, levar ao riso. Conheceu e formou amizades com vários outros filósofos iluministas e intelectuais de seu tempo, como, por exemplo, Voltaire e D’Alembert. Juntamente com Jean Le Ronde D’Alembert, tomou a cargo a publicação de uma vasta obra: a Enciclopédia. Nela pretendiam publicar e, de certa forma, popularizar, uma série de conhecimentos, descobertas, informações científicas, culturais e técnicas as mais diversas, buscando fazer uma síntese do conhecimento humano produzido até então. Para discutir: A Enciclopédia demandou o trabalho de muitos intelectuais, desde filósofos, cientistas, até conhecedores de artes e técnicas aplicadas em diferentes ofícios e profissões. Diderot e D’Alembert não queriam uma obra que tratasse de assuntos puramente abstratos e distantes do tempo em que viviam. Diderot escreve com muita clareza e deixa, em sua obra filosófica e literária, transparecer como eram os costumes e os valores da França e da Europa em que viveu. É um filósofo e escritor sutil, sagaz e fortemente satírico. Sua cultura deveu-se muito à dedicação aos estudos, a muitas leituras e a um grande empenho no aprendizado. Quem lê todo dia passa a escrever bem e a compreender bem, preparando-se melhor para a vida. Lembre-se disto! Diderot viveu numa época de grande desenvolvimento industrial dentro da Europa, a época da Revolução Industrial, de grandes descobertas em várias áreas do conhecimento científico. Tal fato deixou marcas profundas na obra que produziu, alcançando auge na Enciclopédia. Nesta, inclusive, há desenhos detalhados de máquinas e artefatos produzidos pelos seres humanos. Para discutir: 1)Que benefícios e malefícios trouxe a revolução industrial europeia? 2) Sobre quais alicerces econômicos e interesses políticos ela assentou-se? 3) Como ela contribuiu para alicerçar o poder da burguesia europeia e, a seguir, a norte-americana? Deixando o deismo (uma forma de crer em Deus sem o recurso direto à religião), Denis Diderot tornou-se um materialista convicto. Para ele tudo passa a ser visto como formado de matéria, para além da qual nada existe. Por causa das posições sociais, éticas e religiosas, presentes em suas obras e, mais particularmente, na Enciclopédia, foi perseguido! Para discutir: Por que as pessoas, em geral, são perseguidas por suas posições intelectuais e por suas ideias? Diderot morreu em julho de 1784, em Paris, mas sua obra e seu pensamento continuam muito atuais. Questões para debate em sala de aula:
1) Que enciclopédias, hoje existentes, que você conhece? 2) O que as torna diferentes de outros livros? 3) Como elas, geralmente, estão dispostas, separadas? Por que e para que se encontram separadas em tomos e/ou letras? 4) E as enciclopédias virtuais? 5) Por que a Enciclopédia iluminista provocou tanta celeuma, na Europa do século XVIII? 6) Por que razões Diderot e outros filósofos iluministas, como Voltaire, fizeram uso da sátira em seus livros? 7) Como a sátira aparece hoje, na arte e na cultura em geral deste século XXI?
8) O que aponta a sátira utilizada no mundo atual? Que fins ela tem? Onde mais aparece? Por quê?

9) Escreva um pequeno texto, em forma de sátira, a respeito de uma realidade do mundo atualmente existente, no Brasil e/ou no mundo. (Cerca de 20 linhas.)


quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

VOLTAIRE (1694 - 1778) (Prof. José Antônio Brazão.)

Voltaire (1694 – 1779), filósofo iluminista francês e um dos grandes escritores do século XVIII. Dentre seus escritos encontram-se contos, peças teatrais, milhares de cartas, ensaios, estudos os mais diversos, etc. Escrevia, praticamente, todos os dias.
Através de seus textos, buscou divulgar valores humanos e éticos, as descobertas nas áreas da ciência e da filosofia, novidades de seu tempo, e punha em discussão a questão da corrupção e das injustiças. Discutiu também a respeito da religião e da necessidade da boa convivência entre pessoas de religiões diferentes.
Boa parte de seus escritos encontra-se na forma de sátira. Neles critica preconceitos religiosos e sociais, problemas políticos e econômicos, etc.
Voltaire passou cerca de dois anos na Inglaterra, para onde foi exilado após discussão com um nobre e, subsequentemente, prisão. Naquele país, conviveu com intelectuais os mais diversos e buscou aprender muito.
Ao retornar à França, escreveu as Cartas Filosóficas ou Cartas sobre os ingleses. Nelas discutiu temas como a diversidade religiosa e a boa convivência com pessoas que pensam diferentemente, a produtividade da classe burguesa em contradição com a inépcia de muitos nobres, a ciência e as descobertas de seu tempo.
Outro de seus livros conhecidos é o conto Candide ou Do Otimismo.Através de uma viagem feita por seu personagem principal, Cândido, Voltaire trata de temas como o mundo, a natureza, a sociedade de seu tempo, injustiças, corrupções, a religião e ideias do filósofo alemão Leibniz. Este, em uma de suas obras, havia afirmado que vivemos no melhor dos mundos possíveis. Voltaire põe, justamente, em discussão essa afirmação. Através dos sofrimentos e das dificuldades que Cândido teve que enfrentar, demonstrou que não vivemos, exata e perfeitamente, no melhor dos mundos possíveis.
Curiosamente, muitas personagens dos contos de Voltaire deixam transparecer aspectos marcantes de sua própria vida. Cândido, Zadig e outros, por exemplo, fizeram viagens, empurrados por situações diversas a destinos diferentes. Voltaire também teve que viajar e viveu exilado vários anos de sua vida, em razão de sua sátira e das críticas que fazia à sociedade de seu tempo.
Voltaire foi um grande defensor da tolerância religiosa, tendo, inclusive, escrito um livro sobre esta, inspirado em outro de John Locke, que trata do mesmo tema. No tempo em que viveu, de fato, ainda ocorriam muitos conflitos causados pela intolerância religiosa, aliada à ambição. Milhares de pessoas morreram por causa disto.
Voltaire achava um absurdo pessoas morrerem ou serem discriminadas por sua religião e pelos valores em que acreditavam. Voltaire, em suas Cartas Filosóficas, afirma que onde há uma religião há tirania, onde há duas, há luta entre elas, mas onde há grande diversidade religiosa as pessoas vivem em paz. Curiosamente, é um recado ainda forte em nosso tempo, o século XXI. A tolerância se faz sempre necessária, pois trata-se de uma forma positiva de aceitação do diferente e de boa convivência com pessoas que têm pensamentos, ideias, valores e modos de ser diferentes das demais. A tolerância é justamente o respeito e o empenho em bem lidar com aqueles que têm posturas diferentes, valores, etc., como foi dito.
Voltaire também foi um filósofo extremamente interessado pela ciência e pelas descobertas de seu tempo. No campo da filosofia foi fortemente influenciado pelos filósofos empiristas ingleses, para os quais o conhecimento do mundo se dá por meio da experiência, isto é, da observação e da apreensão das informações sensíveis do mundo, em conjunção com o trabalho da razão, que elabora o conhecimento a partir daquelas informações, formando ideias dos mais variados tipos. Dentre esses filósofos encontra-se John Locke, que afirmava ser a mente uma tabula rasa, isto é um papel em branco, em que as informações sensíveis vão sendo escritas, e para o qual há ideias simples, como cavalo e homem, e complexas, como centauro e outras formadas a partir da junção das simples. Voltaire conheceu ainda Descartes, que menciona, por exemplo, nas Cartas Filosóficas, Leibniz e outros, que leu e com alguns dos quais conviveu na França, na Inglaterra e outros lugares por que passou.
No que diz respeito ao seu interesse pelas ciências de seu tempo, tornou-se um grande divulgador das descobertas de Newton e de outros cientistas dos séculos anteriores e do seu próprio século. Em suas Cartas Filosóficas, por exemplo, menciona a vacina contra a varíola, inoculada a partir do pus de pessoas que a tiveram e que vinha sendo aplicada na Inglaterra e em outros lugares, a lei newtoniana da gravidade, etc. Encantou-se pela forma como o universo passara a ser conhecido e tratado, com sua imensidão e sua harmonia.
Em seu conto Micrômegas, por exemplo, trata de dois gigantes, vindos um do sistema da estrela Sírius e outro do planeta Saturno, que viajaram pelo universo afora até chegar à Terra, onde encontraram-se com filósofos que viajavam em um minúsculo barco. Com eles discutiram temas como o conhecimento, as leis do universo, a sociedade humana e seus conflitos, etc. Nele Voltaire coloca o homem como um pequeno átomo, diante de um imenso universo, mas um ser dotado de grande valor e inteligência.
Os contos de Voltaire, com efeito, serviram imensamente à divulgação popular de uma série de ideias, valores e conceitos. Neles fez oposição à Inquisição (tribunal religioso que julgava casos considerados heréticos), chamou atenção para a questão da vida humana e de seu imenso valor, satirizou a corrupção (Zadig, por exemplo, tendo-se tornado conselheiro de um rei, teve que se deparar com a escolha de um ministro das finanças, acabando por propor o nome de um que, com outros, havia dançado em uma sala cheia de objetos de valor e jóias, não tendo se apossado de nada) e a nobreza parasitária de seu tempo (com algumas exceções), principalmente a dependente do rei, e defendeu os avanços da burguesia que, com o comércio, trazia riquezas para as nações de seu tempo, tratou da escravidão e de uma série de questões de seu tempo.
Em razão de suas críticas picantes, de sua sátira, Voltaire sofreu perseguição política e religiosa. Daí o fato de ter ficado fora da França por várias vezes. Isto, como foi dito anteriormente, refletiu-se em seus escritos. Voltaire é um filósofo e literato que escreve bem, com leveza e com riqueza de ideias. Vale a pena ser lido e estudado.
Voltaire foi um grande leitor e um excelente escritor, expositor e defensor de ideias. Dentre suas obras encontram-se: Édipo (uma tragédia), A Henriada, Cartas Filosóficas, Ensaio sobre os costumes e o espírito das nações, Dicionário Filosófico, contos como Zadig, Cândido, A Princesa da Babilônia, Micrômegas e muitos outros.

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

O ILUMINISMO (SÉC. XVIII) - Introdução. (Prof. José Antônio Brazão.)

O Iluminismo foi um movimento de ideias característico do século XVIII que teve repercussão em vários ramos do saber, inclusive no campo filosófico. Em nome do uso adequado e sábio da capacidade intelectual, racional, própria do ser humano, combateu duramente as superstições, a intolerância religiosa, o fanatismo e a ignorância. Caracterizou-se também por opor-se ao autoritarismo e por valorizar imensamente a razão, a ponto de se fazer, ainda hoje, uso da expressão luzes da razão para referir-se a esse período e à capacidade humana de compreender, com clareza e minúcia, o mundo ao redor, tanto natural quanto humano.
A razão bem conduzida pode contribuir para o progresso humano, nos campos científico, artístico, social, econômico, político, geral. A razão é comparada à luz. De fato, o termo iluminismo advém de iluminar, isto é, trazer luz, expor à luz, clarear. Tudo que se opõe ao avanço da condição humana (ao avanço da liberdade de expor as próprias ideias, por exemplo) pode colocar a humanidade em trevas e dificultar o progresso.
A intolerância religiosa, por exemplo, impede que ideias novas no campo das ciências e em outras áreas possam contribuir para trazer avanços significativos para a compreensão do mundo e até a melhoria da vida humana. Galileu Galilei, no século anterior, pode ser citado, dadas as perseguições que sofreu. No século XVIII, a Enciclopédia, que pretendia ser uma obra de divulgação de conhecimentos em diferentes áreas da(s) cultura(s) humana(s) e das ciências produzidas até então, teve sua publicação dificultada e até proibida por conta da intolerância.
A intolerância religiosa também esteve presente na vida de cidadãos comuns e renomados. Voltaire, filósofo francês, teve que lutar, em vários momentos, para limpar o nome de pessoas que haviam morrido por serem julgadas à revelia por não defenderem a opinião religiosa vigente ou por algum descuido, como foi o caso de um homem preso, julgado e condenado por não ter tirado o chapéu durante uma procissão. Voltaire lutou, do mesmo modo, para livrar outras da morte ou para limpar seus nomes.
Immanuel Kant, filósofo alemão desse século e início do seguinte, defendeu a ideia de que seria preciso que os governantes dessem a devida liberdade de opinião para que seus súditos pudessem pensar por si mesmos e a expressar-se livremente, contribuindo assim para o progresso de seus respectivos reinos e da humanidade.
O pensamento e as obras iluministas, com seu ideário, espalhou-se por vários lugares do mundo, como a América do Norte, influenciando na luta pela Independência dos EUA, o Brasil, também movimentos de independência, dentre outros. E decisivamente contribuiu para a divulgação de novas ideias, novos conhecimentos e valores.
Para se poder entender o iluminismo e a filosofia nele presente é preciso voltar aos séculos XVI e XVII, particularmente, durante os quais ocorreram mudanças significativas na economia, na política e na cultura europeias, dentre as quais se destacaram: as grandes navegações e descobertas marítimas, o Renascimento artístico e cultural, o Renascimento científico, com uma série de descobertas fundamentais na astronomia, na matemática, na física e outras ciências. No século XVIII, também a Revolução Industrial. Com elas, uma nova percepção de mundo. A essas influências pode-se acrescentar o absolutismo. As filosofias racionalista e empirista também exerceram influência.
Ao valorizar a cultura, os novos conhecimentos que vinham se desenvolvendo a respeito do mundo, das ciências e das técnicas, o iluminismo opôs-se à ignorância, que impede a abertura da mente para a descoberta e a crítica, tornando as pessoas mais vulneráveis a ideias falsas, a falsas crenças, ao dogmatismo, ao fanatismo e à manipulação.
O dogmatismo - imposição de determinadas ideias e valores como se fossem dogmas inquestionáveis -, aliado ao fanatismo, era (e ainda hoje é) perigoso, por não admitir o contrário, o diferente, a contraposição. No século XVIII, em plena Europa, pessoas iam para a fogueira ou outro tipo de morte em razão de suas ideias e/ou de sua religião. Era a intolerância religiosa, como foi visto logo acima.
Intolerante é uma pessoa que não tolera, não admite, o diferente: pensar, agir, ser ou viver de modo diferente. A intolerância religiosa e qualquer outra são extremamente perigosas. No mundo atual, um exemplo, são pessoas atacadas e agredidas por suas ideias, seu modo de vida, sua cor, por seu modo de ser e\ou por suas escolhas. Os iluministas, já no século XVIII, combatiam firmemente a intolerância, filha do dogmatismo, da ignorância e da falta de respeito pelo diferente, pois, juntos, punham em xeque o progresso e o crescimento humanos fundados no bom direcionamento e bom uso da razão.
Para saber mais:

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

DAVID HUME (1711 - 1776)

David Hume, filósofo escocês do século XVIII, escreveu dois livros importantes e fundamentais do empirismo inglês: o Tratado da Natureza Humana e a Investigação sobre o entendimento humano. Neles Hume defende que o HÁBITO ou COSTUME, partindo da experiência sensível, da observação dos fenômenos, é o meio ou caminho básico através do qual se processa o conhecimento humano.
Hume parte de ideia de que a experiência é a fonte primária dos conhecimentos, porém ela, por si só, não basta. É preciso algo mais. O quê? Experiências repetidas de um mesmo fenômeno. De tanto ver ou perceber um fenômeno sempre ocorrendo da mesma maneira, a mente estabelece uma relação de causa e efeito e extrai daí uma conclusão geral a respeito do fenômeno. De acordo com a lógica, este é um raciocínio indutivo, isto é, que vai dos fenômenos particulares, neste caso repetidos, a uma conclusão geral, fruto do hábito.
De tão acostumados que estamos a ver o dia vir depois da noite, e vice-versa, somos levados pelo hábito a concluir que amanhã, ou melhor, a cada dia, ocorrerá da mesma maneira. De tanto ver o fogo destruindo objetos, concluímos que o fogo queima e destrói. Na ciência ocorre algo semelhante: de tanto observar fenômenos ocorrendo sempre do mesmo jeito, os cientistas formulam leis gerais que sirvam para todos os casos.
No entanto, o hábito não dá certeza absoluta de que os fenômenos ocorrerão sempre do mesmo jeito. É preciso algo mais. O quê? A crença. Ou seja: acreditar que do modo como foi antes e é agora assim será no futuro.
Como se pode ver, na construção do conhecimento juntam-se, pois, para Hume, a experiência, o hábito e a crença. A experiência sensível dá a percepção direta e momentânea do fenômeno. O hábito é fruto de experiências repetidas, em momentos diferentes, daquele fenômeno. A crença, ligada ao hábito, enfim, faz uma ponte entre o presente, o passado e o futuro, tornando possível a elaboração de uma lei gera acerca do fenômeno estudado. Tem-se aqui, como foi dito, uma indução: de várias experiências particulares repetidas tira-se uma conclusão geral, universal, a respeito dos fenômenos. A conjunção desses três fatores é de extrema importância para a elaboração dos conhecimentos humanos.
Referências:
Encarta Enciclopédia.

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Baruch Spinoza (Benedito Espinosa) (séc. XVII) (Professor José Antônio Brazão.)

Benedito Espinosa, filósofo holandês, era de família judaica e poderia ter-se tornado um rabino. Grande intelectual, estudioso das tradições de seu povo e grande conhecedor da filosofia da antiguidade, do mundo medieval e de seu tempo. Dentre os filósofos cujo pensamento tiveram forte influência sobre o pensamento de Espinosa encontra-se René Descartes que, além de filósofo, foi ainda um excelente matemático. Espinosa conhecia também, sem dúvida os avanços que vinham ocorrendo na ciência da época em que viveu e seus significativos avanços.
Espinosa acabou sendo expulso do seio de sua comunidade judaica, em razão de ideias divergentes da tradição religiosa, como a que afirma a existência de uma substância única no universo. Porque essa ideia era divergente não é difícil de entender: deixa de haver uma dualidade de substâncias - espiritual e material, extensa e pensante, Deus e matéria. Deus passa a confundir-se com o universo, o que era inadimissível na tradição judaica e até mesmo na cristã e islâmica. Por exemplo: Deus aparece, no início da Torah judaica ou no início do Gênesis cristão (Gênesis capítulos 1, 2 e 3) como criador do universo e do mundo. Portanto, não se confunde com sua obra. Deus fez o mundo a partir do nada.
Ao ser expulso, Espinosa tornou-se polidor de lentes, ofício ao qual dedicou-se até o final da vida. Foi convidado para trabalhar em uma universidade, porém preferiu a liberdade de pensar que garantia-lhe aquele ofício simples. Contudo, essa dedicação tem também um significado subjacente: assim como as lentes polidas contribuem para ampliar a visão na percepção do universo, como no uso do telescópio, da natureza, com o uso da lupa, ou de seres microscópicos, com o uso do microscópio, da mesma forma é preciso que as pessoas ampliem sua visão da realidade e do mundo que as cerca. Tal ampliar da visão passa pela religião, a ciência, a política, o pensamento, a ética, geral.
No campo da ética, um dos livros mais divulgados de Espinosa é justamente sua ÉTICA DEMONSTRADA À MANEIRA DOS GEÔMETRAS. A ética lida com valores que atravessam, envolvem e dão sentido à vida humana. A ÉTICA de Espinosa é um grito ao valor da vida e ao seu grande significado, devendo ser permeada pela alegria. O nome do livro liga diretamente Ética e Matemática e sua apresentação através de axiomas e demonstrações tem influência do livro do matemático grego da antiguidade Euclides, cujo livro ELEMENTOS expõe a geometria plana e teoremas matemáticos diversos. A Matemática é uma ciência que busca a precisão e o rigor científico na resolução dos cálculos. A Ética, de modo similar, como se pode perceber ao ler o livro de Espinosa, precisa também ter o respeito e a precisão da ciência, ainda que envolva o sentido profundo da vida e dos valores que a devem fundamentar, não sendo, pois, fruto de cálculos puros.
Fica aqui um convite à leitura da ÉTICA de Espinosa, além de outras de suas obras.

Referências:

http://www.wikipedia.org/
http://www.google.com.br/ Ao escrever o nome de Espinosa e clicar em Pesquisa poder-se-á ver vários sites referentes a ele, além da Wikipedia.