SECRETARIA DE SEGURANÇA
PÚBLICA/SECRETARIA DE EDUCAÇÃO
COMANDO DE
ENSINO POLICIAL MILITAR
CEPMG -
VASCO DOS REIS
Divisão de
Ensino / Coordenação Pedagógica
QUARTO BIMESTRE - RECUPERAÇÃO. REVISÃO.
AULA 40 DE FILOSOFIA DOS PRIMEIROS ANOS
O QUE É FILOSOFIA? (Prof. José Antônio Brazão.)
No transcurso dos
milênios de sua história, a humanidade vem produzindo uma enorme gama de
conhecimentos, fruto de necessidades e interesses os mais variados dos
diferentes grupos humanos. Dentre esses conhecimentos encontra-se a filosofia.
A filosofia ocidental
nasceu entre os antigos gregos. A palavra deriva do grego e significa,
justamente: amizade com a sabedoria ou amor à sabedoria. Philo(gr.) = amigo.
Sophia(gr.) = sabedoria. Mas o que é sabedoria? Essa palavra tem diversos
significados. Reflita e anote alguns deles, brotados da reflexão. A seguir,
busque também em dicionários de língua portuguesa e, principalmente, de
filosofia, a fim de obter um entendimento maior a respeito dessa palavra. Ela
trata de assuntos variados, buscando uma reflexão mais aprofundada e crítica
sobre eles, no intuito de ir a fundo em sua compreensão. De forma crítica quer
dizer questionadora de pressupostos (ideias básicas), valores, preconceitos,
ideias gerais a respeito do mundo e das pessoas, etc.
A filosofia não pretende,
em hipótese nenhuma, ser dona da verdade e, de fato, não é. A filosofia é um
conhecimento interdisciplinar, ou seja, que busca contínuo diálogo com outras
áreas do conhecimento, como a história, a sociologia, a antropologia e outras
ciências. Esse diálogo contribui para que não haja absolutização da verdade,
nem dogmatismo (afirmação, lei ou norma tomada como dogma, como verdade
inquestionável e incontestável).
O dogmatismo é perigoso.
Ao longo dos séculos, gerou até mesmo perseguições, sofrimentos e mortes – três
bons exemplos disto são: a Inquisição (surgida na época medieval e que perdurou
até o século XVIII, aproximadamente), o fascismo e o nazismo (doutrinas
totalitárias desenvolvidas e praticadas no século XX).
Ao posicionar-se
reflexiva e criticamente, dialogando com outras áreas de conhecimento, a
filosofia quer, exatamente, questionar e desalojar os fundamentos do
dogmatismo.
Além disto, a filosofia empenha-se por refletir sobre a vida humana, levantando
questões e colocando-se numa busca contínua, permanente, de respostas, jamais
acabadas e dogmatizadas, mas em constante construção e reelaboração.
A filosofia cruza-se com
a vida e empenha-se por obter uma compreensão da mesma. Os problemas e as
questões vitais não fogem a ela, mas servem de matéria-prima para as discussões
filosóficas. Daí, constantemente ver-se temas como a origem, a liberdade, a
angústia, o desespero, o sofrimento, o amor, etc., aparecerem e reaparecerem na
filosofia, desde a antiguidade até hoje.
O que é a vida? De onde
tudo surgiu? Como? O que é o mundo? Quem somos nós? Por que existimos? Por que
há muitas pessoas preconceituosas? O que são preconceitos? Por que as pessoas
vivem juntas? Como surgiu a sociedade? O dogmatismo interessa a quem e por quê?
Por que há miséria no mundo? A quem interessa a miséria e por quê? Por que há
desemprego? A quem este interessa no mundo atual e por quê? A vida tem um
sentido mais profundo? O que é eternidade? Por que as coisas mudam, se
transformam, continuamente? Para além dessas transformações há algo que
permanece, que é eterno? O que é o amor? Por que existe o ser e não o nada? Etc.
Perguntas como estas e
muitas outras fizeram e fazem com que as pessoas parem e busquem respostas. A
filosofia questiona e busca respostas mais claras e objetivas (precisas),
embasadas na pesquisa profunda das raízes daqueles problemas. Ao mesmo tempo, quer
ajudar a buscar e apontar caminhos para a solução desses problemas que
aparecem, brotados da concretude da vida humana.
As ideias expostas acima são uma pequena reflexão a respeito do que é
filosofia.
Vale a pena ver outros
autores que tratam do assunto, a fim de obter outras visões e enriquecer a
compreensão a respeito do que seja a filosofia! Procurar também em dicionários
de filosofia. Podem ajudar muito.
ONDE, QUANDO E COMO
NASCEU A FILOSOFIA OCIDENTAL?
A filosofia ocidental
teve sua origem nas colônias gregas da Ásia Menor (atual Turquia) e Magna
Grécia (Sul da Itália), entre os séculos VII e V antes de Cristo (ou Antes da
Era Comum).
Que condições históricas
permitiram o surgimento da filosofia nessas regiões e quais foram os primeiros
filósofos gregos?
Para ajudar a visualizar,
o vídeo COSMOS, episódio 7 (A Coluna Vertebral da Noite/ A
Espinha Dorsal da Noite), de Carl Sagan (cientista estadunidense do século
XX), no seguinte link:
https://www.youtube.com/watch?v=YQl0IQ4A4Fs
Um resumo:
VÍDEO-DOCUMENTÁRIO “COSMOS, EPISÓDIO 7: A
ESPINHA DORSAL DA NOITE”, DE CARL SAGAN: (Prof. José Antônio Brazão.)
O astrônomo estadunidense
Carl Sagan, no episódio 7 da série-documentário “COSMOS”, propõe-se buscar as
origens da ciência ocidental. Curiosamente, tais origens são, exatamente, as da
filosofia.
Carl Sagan toma como
ponto de partida, inicialmente, o bairro em que viveu em Nova Iorque. Sagan
fala de seu interesse científico desde a infância. Exemplifica esse interesse
com uma pergunta que fez a adultos: “O que são as estrelas?”. Descontente com as
respostas simples das pessoas, que diziam-lhe serem elas luzes no céu, resolveu
investigar por conta própria e se dirigiu a uma biblioteca não muito distante
do local onde morava. Ali encontrou um livro que lhe disse que elas são sóis,
porém estando muito distantes. O Sol seria, pois, uma estrela próxima.
A seguir, para demonstrar
como a curiosidade é inerente às crianças, foi até a escola em que estudou
naquele bairro e visitou a turma que, naquele ano, ocupava uma sala em que ele
mesmo havia estudado. Sagan conversou com as crianças a respeito da astronomia
e da ciência, tendo-lhes dado inclusive fotos tiradas pelas naves Voyager,
referentes a planetas, à Via Láctea e ao Sistema Solar. Tirou dúvidas das
crianças – “O que é a Via Láctea?”, “Por que a Terra é redonda e não de outra
forma?”, etc. A Via Láctea, esclareceu, é uma galáxia onde se encontram milhões
de estrelas. A Terra é redonda por causa da força da gravidade, que puxa tudo
para o centro.
Sagan elogia os pais e os
professores que teve, os quais o incentivaram e instigaram sua curiosidade. A
respeito da curiosidade das crianças, Sagan afirma que elas têm um grande senso
de curiosidade e uma mente aberta.
Na cena seguinte, Sagan
aparece em um ancoradouro junto ao mar, onde, através da fala, faz uma volta ao
passado da história humana, até sociedades tribais. Segundo ele, alguém, no
passado distante, deve ter-se perguntado acerca do que seriam aquelas luzes no
céu. Para uma tribo de caçadores, por exemplo, poderiam ter sido consideradas
fogueiras no céu, mantidas por seres que deveriam ter, portanto, grandes
poderes. Com isto, Sagan faz uma consideração a respeito da origem de deuses e
mitos.
Continuando, Sagan cita o
exemplo de uma tribo africana para a qual a Via Láctea era considerada a
espinha dorsal dos céus noturnos. Por sua vez, para os gregos antigos, ela
seria o leite derramado da deusa Hera. Isto demonstra que os mitos e as
religiões são formas explicativas da realidade. Ambos nasceram a partir de
perguntas como aquela das estrelas, fruto da curiosidade humana. Acreditando na
existência de seres celestiais, cujos poderes seriam enormes, relatos foram
sendo criados, frutos da imaginação. Deuses e deusas foram surgindo, bem como a
necessidade de cultuá-los. Com isto, também sacerdotes, mediadores do culto.
Na ilha de Samos, Sagan
mostra ruínas de um antigo templo dedicado à deusa Hera, feito com uma simetria
e uma precisão muito grandes. Sagan fala de cultos sangrentos e de outros, que
por sua vez, eram simples e suaves.
Sagan adentra na origem
da ciência – e, com ela, da filosofia ocidental – e diz que ela surgiu nas
“remotas ilhas do Mar Egeu”. Mas, por que ali? Justamente porque ali houve
liberdade de pensar suficiente para o surgimento de novas ideias. Aquelas ilhas
não eram sedes de grandes impérios, nem de estados em que a religião já se
havia cristalizado e nos quais tinha poder. Além disto, aquela foi uma região
em que aportavam mercadores e marinheiros de diversos lugares dos mares
próximos, do Mediterrâneo. Havia ali também pescadores. O comércio incrementou
o movimento e os contatos entre culturas e ideias diferentes. A soma desses
fatores tornou possível o livre pensar e o viajar da mente em busca de outras
respostas para as perguntas acerca da origem das coisas e do mundo.
Dois deuses (ou mais)
reivindicando a origem: um deles deve estar certo e o outro errado. “Por que
não os dois?” Dúvidas surgiram e com elas a busca de respostas, não mais
partindo da religião e dos mitos, mas da própria natureza.
A ilha de Samos, séculos
antes de Cristo, foi governada por Polícrates, um ditador que fez construir uma
extensa muralha e um canal subterrâneo que levou cerca de quinze anos para ser
construído, projeto do arquiteto Teodoro, fruto do uso brilhante da mente. Diz
Sagan que, segundo relatos antigos, Teodoro teria sido também o criador da
chave, da régua e do esquadro.
Nesse contexto histórico
e cultural, entre 600 e 500 a.C., surgiram os primeiros cientistas – os
primeiros filósofos do Ocidente, gregos – em Mileto, junto ao Mar Egeu: Tales,
Anaximandro e Anaxímenes. Apareceram também, em outras cidades, Empédocles, Pitágoras,
Demócrito, dentre outros.
Sagan fala, então, de
Tales de Mileto, que acreditava ser a água o elemento primordial de tudo que
existe. Mas como explicar a terra seca? De acordo com o mito, o deus babilônico
Marduk teria lançado um manto sobre as águas e com ele fez a terra seca. Tales,
não admitindo as explicações míticas, deve ter partido de informações de que as
águas do rio Nilo, na África, durante as inundações, depositava sedimentos
sobre as terras. Conforme Sagan, para Tales, nos princípios, a formação da
terra seca deve ter seguido um processo similar.
Sagan refere-se, a
seguir, a Anaximandro, conterrâneo de Tales, que aprendeu a fazer uso de um
bastão para medir o tempo, por meio da sombra (relógio solar), servindo-lhe
inclusive para medir as estações as estações do ano. Sagan diz, então, que,
durante séculos, os seres humanos usaram bastões para ferir, machucar.
Anaximandro aprendeu a utilizá-lo para medir o tempo.
Na sequência, Sagan fala
de Anaxímenes, que fez uma descoberta impressionante: a de que o ar é uma
matéria extremamente fina. Um raciocínio desse tipo viria a permitir,
posteriormente, o lampejar daquilo que Demócrito afirmaria ser o átomo.
Na linha de Anaxímenes,
Empédocles de Agrigento fez uma experiência interessante – retomada por Sagan:
colocou em um balde de água um instrumento de cozinha chamado “ladrão de água”,
composto de uma esfera metálica perfurada contendo um gargalho com um furo que
dá para o exterior. Ao colocá-lo na água, ele se enchia. Tapando com o dedo o
orifício do gargalo era possível retirar água do balde e de despejá-la em outro
utensílio ou mesmo no balde. Colocando esse instrumento como gargalo fechado,
não havia possibilidade de entrada da água. O que isto queria dizer? Que havia
algo que bloqueava a entrada? O quê? Empédocles identificou-o com o ar.
Estudando-o, percebeu sua finura, de modo até mesmo a permitir ver através
dele. O caminho para o levantamento daquela hipótese do átomo estava assim
aberto.
Sagan aparece em meio a
um grupo de pessoas que estavam festejando, ali na ilha. Fala então de
Demócrito, que afirmava que na escala do muito pequeno existe uma partícula
diminuta e incortável, indivisível, à qual deu o nome de átomo. Os átomos
seriam, pois, os elementos primordiais que tudo compunham.
Ao longo dos séculos
seguintes, as descobertas daqueles cientistas (filósofos) foram avante? De
acordo com Sagan, não. Por quê? Em razão do pensar científico-filosófico ter
tomado um outro rumo: o do misticismo. A título de exemplo, Sagan cita um grupo
de filósofos místicos e que se reuniam, de acordo com a tradição, em uma
caverna: os pitagóricos. Pitágoras e seus discípulos fizeram vários estudos
matemáticos, tendo descoberto as propriedades de figuras matemáticas como o
cubo, a pirâmide, o dodecaedro e outras duas.
Ao trabalhar com cálculos
relacionados ao dodecaedro, os pitagóricos depararam-se com uma raiz quadrada
de dois, cujo resultado era irracional. Ora, o irracional não seria admissível.
Portanto, a raiz quadrada de dois e o dodecaedro deveriam ser escondidos do
público. Aliás, as próprias reuniões realizadas pelos pitagóricos eram
secretas. Para eles o mundo material era passageiro e enganador. Caíram no
misticismo.
O misticismo pitagórico
entrou de cheio no pensamento de Platão, filósofo ateniense que viveu entre os
séculos V e IV a.C. Platão radicalizou o idealismo pitagórico e suprimiu a
pesquisa com experimentos, criticou e não retomou as ideias de dos filósofos
que o precederam, como as de Demócrito, por se voltarem em direção ao mundo
material.
Platão e seu discípulo
Aristóteles concordavam com a escravidão, dada a diversidade natural das
pessoas, sendo que algumas nasceram para mandar e outras para obedecer.
Muitos séculos depois, na
época moderna (séculos XV d.C. em diante), segundo Sagan, as ideias daqueles
primeiros filósofos foram redescobertas, aparecendo no novo estilo de pesquisar
e explicar o mundo, sem idealismo. Sagan cita como exemplo Christian Huygens,
cientista holandês do século XVII, que fez estudos sobre o universo e as
estrelas. Para demonstrar as grandezas das estrelas, Huygens fez furos, com
tamanhos diferentes, em um disco de metal. Por meio deles, Huygens estudou a
intensidade do brilho de estrelas e pôde determinar a grandeza de muitas delas.
Sagan, enfim, conclui
dizendo que, no passado, fomos navegantes – como aqueles marinheiros e
pescadores das antigas colônias gregas – e assim continuamos a ser, sempre
buscando o conhecimento do mundo que nos rodeia.
A fim de podermos situar
esses pensadores, vejamos os seguintes mapas: