COMANDO DE
ENSINO POLICIAL MILITAR
CEPMG -
VASCO DOS REIS
Divisão de
Ensino / Coordenação Pedagógica
TERCEIRO BIMESTRE
AULA 25 DE SOCIOLOGIA DOS PRIMEIROS ANOS:
KARL MARX (1818 -1883) (Prof. José
Antônio Brazão.)
Karl Marx, alemão, viveu no século
XIX e teve uma tripla formação intelectual: economia, filosofia e história.
Para bem compreender suas ideias é
preciso situá-lo no contexto histórico em que viveu. O século XIX presenciou a
afirmação definitiva do modo de produção capitalista. A burguesia, que vinha
sendo ainda mais enriquecida com a revolução industrial, há mais de um século,
reforçou sua exploração sobre os trabalhadores, cuja forma principal era e
ainda é o que Marx chamou de mais valia, isto é, um trabalho extra, não pago ao
trabalhador, que se transforma em lucro para os capitalistas, dentre os quais
podiam se destacar industriais, comerciantes, grandes fazendeiros, grandes
banqueiros e outros enriquecidos.
A exploração dos trabalhadores nas
fábricas era terrível e fonte de altos lucros para os capitalistas. Homens,
mulheres e até crianças trabalhavam 14, 15, 16 horas a fio, em troca de um
mísero salário. A imensa miséria do proletariado (trabalhadores) constrastava
com a enorme riqueza dos poucos donos dos meios de produção, do capital. Não
havia direitos trabalhistas definidos legalmente, de forma nítida. Estes, com
efeito, vieram a ser fruto de muitas lutas e mesmo de mortes de muitos
trabalhadores. Milhares e milhares de crianças eram obrigadas a trabalhar nas
fábricas para complementar aquilo que os pais recebiam e, como as mulheres,
recebiam pagamentos inferiores aos dos homens e adultos.
O que os trabalhadores recebiam
servia basicamente para a sobrevivência e à reprodução da força de trabalho, ou
seja, poderem trabalhar no dia seguinte e serem obrigados a isto. Os lucros dos
capitalistas eram exorbitantes.
Diante desta realidade, e já tendo
tido contato com sindicatos e grupos de luta em prol dos trabalhadores, Marx
engajou nessa luta, seja diretamente, através de participação em passeatas,
manifestações e no Partido Comunista, seja através de um estudo sistemático e
minucioso do funcionamento do sistema capitalista, buscando uma compreensão
mais profunda de suas raízes na própria história humana. Marx, de fato, foi um
grande pesquisador, cientista político-econômico e filósofo, homem muito culto.
Todas as suas obras praticamente nasceram desse empenho pela compreensão da
realidade histórica, econômica e filosófica.
Dentre as pessoas com quem conviveu
encontrou-se Friedrich Engels, filho de um industrial alemão. Outro homem de
excepcional cultura que, como Marx, também interessava-se por economia,
história e filosofia, além de dispor de grande cultura geral. Sua parceria com
Marx se manifestou na participação no Partido Comunista e na elaboração de
diversas obras pessoais e, algumas, conjuntas, sempre trocando ideias entre si.
Juntos, a pedido do Partido Comunista, elaboraram o Manifesto do Partido
Comunista (ou, simplesmente, Manifesto Comunista), no qual tratam de temas como
a exploração capitalista, as lutas dos trabalhadores, as contradições internas
do capitalismo, o socialismo e o comunismo, terminando por convocar os
trabalhadores do mundo inteiro à luta em prol de uma nova sociedade, livre das
relações de exploração entre os homens e, mais especificamente, livre da
exploração capitalista. A frase final é, justamente: “Trabalhadores de todos os
países, uni-vos.”
Dentre as influências teóricas
sofridas pelo pensamento de Karl Marx encontram-se a dialética hegeliana, a
economia política inglesa e o pensamento dos chamados socialistas utópicos.
Hegel (1770 – 1831), filósofo alemão,
havia dito que o espírito (a cultura e as realizações intelectuais) evolui
dialeticamente, isto é, por meio da contradição interna, que se encontra em sua
evolução, com diferentes etapas, não destruídas ou separadas de forma estanque,
mas que são assimiladas e superadas através de um processo de tese (afirmação),
antítese (negação) e síntese (negação da negação, envolvendo as etapas
anteriores). A síntese torna-se uma tese que, por sua vez, carregando consigo
sua própria contradição, é superada pela antítese e esta pela síntese,
continuamente. O espírito absoluto é o auge dessa evolução, etapa na qual o
espírito se reconhece como realizador da história. Eis aí uma dialética
idealista.
Marx, tendo estudado a dialética
hegeliana, aplicou-a na compreensão da história concreta humana, vendo-a como
uma realização de pessoas concretas e não como resultante da evolução do
espírito. Muito pelo contrário, Marx perceberá que mesmo as realizações
espirituais, intelectuais e ideais humanas são fruto, em sua base, de relações
materiais de produção que se estabelecem entre as pessoas, a partir do momento
em que passam a transformar a natureza através de seu trabalho.
Se, para Hegel, o movimento dialético
do Espírito, passando por várias etapas, até o Espírito Absoluto, portanto a
consciência, é o que determina a história, para Marx, ao contrário, é a vida
que determina a consciência, isto é, são as relações de produção, ligadas ao(s)
modo(s) de produção de cada época, é que determinam a consciência, ou seja, o
pensamento, a compreensão de mundo, o Direito, a religião e a cultura em
geral. O ser humano é um ser que produz
os bens necessários ao seu viver, dentro de condições dadas, em determinada
época histórica, sendo que as relações que aí se instauram e as condições
materiais de vida, de produção, exercem diretamente influência sobre como esse
mesmo ser humano articula suas ideias a respeito de si e do mundo em que vive.
Isto não quer dizer que as ideias também não provoquem mudanças. Muito pelo
contrário, elas podem provocar, mas têm sua origem dentro da vida material
concreta e das condições impostas por esta, inerentes a ela.
A dialética explica a história por
meio da contradição, tendo, em Marx, um caráter materialista. Para Marx, com
efeito, a história humana manifesta conflitos que brotam no interior dos modos
de produção que surgem ao longo daquela, com destaque para os conflitos entre
grupos e classes sociais determinados.
Marx parte da produção concreta da
vida material humana e afirma que ela é o que define seu modo de viver, de ser
e de agir, até mesmo suas idéias e realizações culturais, como o direito, a
educação, a religião, etc. O modo de produção de uma determinada época
determina a vida das pessoas, ainda que não absolutamente, mas dialeticamente,
pois, dentro de si mesmo, ele carrega sua contradição. Por exemplo: a burguesia
que viria a tomar o poder, depois de vários séculos, nasceu dentro do próprio
modo de produção feudal.
A produção da vida material é o que
move a história e, mais especificamente, transformada em conflito, através da
luta de classes: senhores x escravos, patrícios x plebeus, burgueses x senhores
feudais, proletariado x burguesia, etc. De acordo com a Wikipedia:
“Modo de produção, em economia marxista, é a forma de não organização
socioeconômica associada a uma determinada etapa de desenvolvimento das forças produtivas e das relações de produção. Reúne as características
do trabalho
preconizado, seja ele artesanal, manufaturado ou industrial. São constituídos pelo
objeto sobre o qual se trabalha e por todos os meios de trabalho necessários à
produção (instrumentos ou ferramentas, máquinas, oficinas, fábricas,
etc.” (In:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Modo_de_produ%C3%A7%C3%A3o)
Dentre os modos de produção surgidos
no transcurso da história estão: o modo de produção primitivo, o asiático,
escravista, feudal, capitalista e comunista.
O modo de produção primitivo caracterizou-se por uma forma de
produzir simples, baseada na caça e na coleta, principalmente, não havendo
divisão acentuada do trabalho nem divisão em classes sociais. Porém, à medida
em que as relações de trabalho foram se complexificando, começou a ocorrer uma
divisão do trabalho cada vez mais acentuada e nítida: entre o trabalho da
mulher e o do homem, entre o trabalho manual e o intelectual (incluindo-se aqui
o sagrado).
Alguns membros da comunidade
começaram a usurpar parte dos bens pertencentes à coletividade, tomando-os como
seus. Além disto, aprenderam que, escravizando outros, poderiam desocupar-se
dos trabalhos duros e difíceis e colocar outros para trabalhar em seu lugar.
Surgiu, então, o modo de produção
escravista. Como seu próprio nome dias, sua base foi a escravidão. Os
escravos advinham, basicamente, de algumas fontes, como a guerra (todos os
sobreviventes derrotados eram escravizados) e as dívidas.
Dentre as sociedades escravistas
antigas, no mundo ocidental, as que mais se destacaram foram a Grécia e Roma. A
escravidão predominou fortemente nessas duas sociedades, sendo que o escravo
era tido como uma mercadoria. Contudo, o escravismo reapareceu em outras épocas
e em outros modos de produção. No mundo moderno ocidental, destacadamente a
partir do século XVI em diante, a escravidão de indígenas e, sobretudo, de
negros africanos foi muito acentuada.
Quanto ao modo de produção asiático:
“O chamado modo de produção asiático ou sociedades
hidráulicas, caracteriza os primeiros Estados surgidos na
Ásia
Oriental, Índia, China e Egito. A agricultura,
base da economia desses Estados, era praticada por comunidades de camponeses
presos à terra, que não podiam abandonar seu local de trabalho e
viviam submetidos a um regime de trabalho compulsório. Na
verdade, esses camponeses (ou aldeões) tinham acesso à coletividade das terras
de sua comunidade, ou seja, pelo fato de pertencerem a tal comunidade, eles
tinham o direito e o dever de cultivar as terras desta.” (In: http://pt.wikipedia.org/wiki/Modo_de_produ%C3%A7%C3%A3o_asi%C3%A1tico)
O trabalho compulsório era um
trabalho obrigatório que era prestado pelos camponeses e cidadãos pobres, com
destaque para as obras realizadas pelo Estado. No Egito antigo, por exemplo, em
construções, monumentos, na construção de canais para o escoamento das águas e
da irrigação, etc. Havia também escravidão, sem dúvida. Por exemplo, para citar
um documento antigo: na Bíblia fala-se da escravidão de José, um dos
patriarcas, no Egito (ver livro do Gênesis), juntamente com outros, e dos
hebreus (no livro do Êxodo).
Na Europa, com a decadência do
Império Romano, que adotara o modo de produção escravista, por volta dos
séculos IV/V da era cristã, foi-se formando uma maneira diferente de produzir:
grandes unidades de terras (latifúndios) foram se formando, controladas por
senhores e trabalhadas por servos (camponeses), que não eram escravos, mas estavam ligados à
terra. Progressivamente, foi-se formando uma sociedade estratificada, tendo o
poder político sido concentrado nas mãos dos senhores feudais e da Igreja
Católica Romana – também detentora de terras, do poder religioso e intelectual,
além de exercer forte influência política. Formou-se, então, paulatinamente, o
que viria a ser chamado modo de produção
feudal. A produção era basicamente a produção agrícola. Os servos pagavam
tributos, seja em espécie, seja, com o passar do tempo, em moeda, para os
senhores feudais e a Igreja, e ainda trabalhavam nas terras dos respectivos
senhores feudais em determinados dias da semana. Dispunham de parte da terra do
feudo e nela trabalhavam.
Os senhores feudais tinham sob seu
comando exércitos próprios. Diversos feudos formavam reinos, dirigidos por reis
que, por sua vez, eram senhores feudais e definidos entre seus iguais, cada rei
sendo um primus inter pares (latim),
isto é, o primeiro entre os iguais. A base da sociedade, como se pôde ver
acima, era composta, principalmente, pelos servos (camponeses), mas havia
também tecelões, sapateiros e outros artesãos, além de comerciantes.
O comércio não acabou no modo de
produção feudal. Com o crescimento populacional e das cidades, esse comércio
foi-se intensificando cada vez mais. Com isto, a burguesia (comerciantes)
fortaleceu-se gradativamente, enriquecendo-se. O capitalismo estava, então, em
gestação. Posteriormente, com as grandes navegações, o Renascimento, a Reforma
e a Revolução Industrial, a burguesia foi tomando, cada vez mais, espaços no
meio social, até que, entre os séculos XVII e, sobretudo, XVIII e XIX, foi-se
rebelando contra a ordem feudal e implementou sociedades cujo poder passou a
ser dirigido por ela mesma. Exemplos disto foram as Revoluções Inglesas,
Industrial, Francesa e a Independência dos EUA. A base desse novo modo de produção capitalista continuará
sendo a exploração do trabalhador, com a destituição deste em relação às suas
ferramentas e a outros meios de produção, que passaram para as mãos da
burguesia. A mais valia passou a ser um dos instrumentos de exploração dos
trabalhadores e de enriquecimento burguês. No entanto, de acordo com Marx, o
capitalismo criou também aqueles que serão os responsáveis por sua queda: os
componentes do proletariado.
Marx e Engels defenderam a luta dos
trabalhadores e a implementação do socialismo e, posteriormente, do comunismo.
Suas ideias, sem dúvida, influenciaram, no século XX, as mentes daqueles que
viriam a levar adiante a Revolução Russa, a Revolução Chinesa, a Revolução
Cubana e tantas outras, além de partidos e sindicatos que se espalharam,
praticamente, pelo mundo todo em defesa das causas dos trabalhadores.
REFERÊNCIAS:
BOTTOMORE, Tom. Dicionário do Pensamento Marxista. São Paulo, Zahar, [década de 2000]. Também
disponível em: < https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/7049739/mod_resource/content/1/Bottomore_dicion%C3%A1rio_pensamento_marxista.pdf
> Acesso em 10/08/2024.
WIKIPÉDIA. Modos de Produção. Disponível em:
< http://pt.wikipedia.org/wiki/Modo_de_produ%C3%A7%C3%A3o
> Acesso em 10/08/2024.
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