MATERIAL COMPLEMENTAR DE ESTUDO.
BREVE ESTUDO DO VÍDEO-DOCUMENTÁRIO “COSMOS, EPISÓDIO7: A ESPINHA DORSAL DA NOITE”, DE CARL SAGAN (Prof. José Antônio Brazão.)
VÍDEO COSMOS 7, DE CARL SAGAN (LINK):
https://www.youtube.com/watch?v=Fr8OWHnwcTA
VÍDEO-DOCUMENTÁRIO “COSMOS, EPISÓDIO 7: A ESPINHA
DORSAL DA NOITE”, DE
CARL SAGAN: (Prof. José Antônio Brazão.)
O
astrônomo estadunidense Carl Sagan, no episódio 7 da série-documentário
“COSMOS”, propõe-se buscar as origens da ciência ocidental. Curiosamente, tais
origens são, exatamente, as da filosofia.
Carl
Sagan toma como ponto de partida, inicialmente, o bairro em que viveu
A
seguir, para demonstrar como a curiosidade é inerente às crianças, foi até a
escola em que estudou naquele bairro e visitou a turma que, naquele ano,
ocupava uma sala em que ele mesmo havia estudado. Sagan conversou com as
crianças a respeito da astronomia e da ciência, tendo-lhes dado inclusive fotos
tiradas pelas naves Voyager, referentes a planetas, à Via Láctea e ao Sistema
Solar. Tirou dúvidas das crianças – “O que é a Via Láctea?”, “Por que a Terra é
redonda e não de outra forma?”, etc. A Via Láctea, esclareceu, é uma galáxia
onde se encontram milhões de estrelas. A Terra é redonda por causa da força da
gravidade, que puxa tudo para o centro.
Sagan
elogia os pais e os professores que teve, os quais o incentivaram e instigaram
sua curiosidade. A respeito da curiosidade das crianças, Sagan afirma que elas
têm um grande senso de curiosidade e uma mente aberta.
Na
cena seguinte, Sagan aparece em um ancoradouro junto ao mar, onde, através da
fala, faz uma volta ao passado da história humana, até sociedades tribais.
Segundo ele, alguém, no passado distante, deve ter-se perguntado acerca do que
seriam aquelas luzes no céu. Para uma tribo de caçadores, por exemplo, poderiam
ter sido consideradas fogueiras no céu, mantidas por seres que deveriam ter,
portanto, grandes poderes. Com isto, Sagan faz uma consideração a respeito da
origem de deuses e mitos.
Continuando,
Sagan cita o exemplo de uma tribo africana para a qual a Via Láctea era
considerada a espinha dorsal dos céus noturnos. Por sua vez, para os gregos
antigos, ela seria o leite derramado da deusa Hera. Isto demonstra que os mitos
e as religiões são formas explicativas da realidade. Ambos nasceram a partir de
perguntas como aquela das estrelas, fruto da curiosidade humana. Acreditando na
existência de seres celestiais, cujos poderes seriam enormes, relatos foram
sendo criados, frutos da imaginação. Deuses e deusas foram surgindo, bem como a
necessidade de cultuá-los. Com isto, também sacerdotes, mediadores do culto.
Na
ilha de Samos, Sagan mostra ruínas de um antigo templo dedicado à deusa Hera,
feito com uma simetria e uma precisão muito grandes. Sagan fala de cultos
sangrentos e de outros, que por sua vez, eram simples e suaves.
Sagan
adentra na origem da ciência – e, com ela, da filosofia ocidental – e diz que
ela surgiu nas “remotas ilhas do Mar Egeu”. Mas, por que ali? Justamente porque
ali houve liberdade de pensar suficiente para o surgimento de novas ideias.
Aquelas ilhas não eram sedes de grandes impérios, nem de estados em que a
religião já se havia cristalizado e nos quais tinha poder. Além disto, aquela
foi uma região em que aportavam mercadores e marinheiros de diversos lugares
dos mares próximos, do Mediterrâneo. Havia ali também pescadores. O comércio
incrementou o movimento e os contatos entre culturas e ideias diferentes. A
soma desses fatores tornou possível o livre pensar e o viajar da mente em busca
de outras respostas para as perguntas acerca da origem das coisas e do mundo.
Dois
deuses (ou mais) reivindicando a origem: um deles deve estar certo e o outro
errado. “Por que não os dois?” Dúvidas surgiram e com elas a busca de
respostas, não mais partindo da religião e dos mitos, mas da própria natureza.
A ilha
de Samos, séculos antes de Cristo, foi governada por Polícrates, um ditador que
fez construir uma extensa muralha e um canal subterrâneo que levou cerca de
quinze anos para ser construído, projeto do arquiteto Teodoro, fruto do uso brilhante da mente. Diz Sagan que, segundo
relatos antigos, Teodoro teria sido também o criador da chave, da régua e do
esquadro.
Nesse
contexto histórico e cultural, entre 600 e
Sagan
fala, então, de Tales de Mileto, que acreditava ser a água o elemento
primordial de tudo que existe. Mas como explicar a terra seca? De acordo com o
mito, o deus babilônico Marduk teria lançado um manto sobre as águas e com ele
fez a terra seca. Tales, não admitindo as explicações míticas, deve ter partido
de informações de que as águas do rio Nilo, na África, durante as inundações,
depositava sedimentos sobre as terras. Conforme Sagan, para Tales, nos
princípios, a formação da terra seca deve ter seguido um processo similar.
Sagan
refere-se, a seguir, a Anaximandro, conterrâneo de Tales, que aprendeu a fazer
uso de um bastão para medir o tempo, por meio da sombra (relógio solar),
servindo-lhe inclusive para medir as estações as estações do ano. Sagan diz,
então, que, durante séculos, os seres humanos usaram bastões para ferir,
machucar. Anaximandro aprendeu a utilizá-lo para medir o tempo.
Na
sequência, Sagan fala de Anaxímenes, que fez uma descoberta impressionante: a
de que o ar é uma matéria extremamente fina. Um raciocínio desse tipo viria a
permitir, posteriormente, o lampejar daquilo que Demócrito afirmaria ser o
átomo.
Na
linha de Anaxímenes, Empédocles de Agrigento fez uma experiência interessante –
retomada por Sagan: colocou em um balde de água um instrumento de cozinha
chamado “ladrão de água”, composto de uma esfera metálica perfurada contendo um
gargalho com um furo que dá para o exterior. Ao colocá-lo na água, ele se
enchia. Tapando com o dedo o orifício do gargalo era possível retirar água do
balde e de despejá-la em outro utensílio ou mesmo no balde. Colocando esse
instrumento como gargalo fechado, não havia possibilidade de entrada da água. O
que isto queria dizer? Que havia algo que bloqueava a entrada? O quê?
Empédocles identificou-o com o ar. Estudando-o, percebeu sua finura, de modo
até mesmo a permitir ver através dele. O caminho para o levantamento daquela
hipótese do átomo estava assim aberto.
Sagan
aparece em meio a um grupo de pessoas que estavam festejando, ali na ilha. Fala
então de Demócrito, que afirmava que na escala do muito pequeno existe uma
partícula diminuta e “incortável”, indivisível, à qual deu o nome de átomo. Os
átomos seriam, pois, os elementos primordiais que tudo compunham.
Ao
longo dos séculos seguintes, as descobertas daqueles cientistas (filósofos)
foram avante? De acordo com Sagan, não. Por quê? Em razão do pensar
científico-filosófico ter tomado um outro rumo: o do misticismo. A título de
exemplo, Sagan cita um grupo de filósofos místicos e que se reuniam, de acordo
com a tradição, em uma caverna: os pitagóricos. Pitágoras e seus discípulos
fizeram vários estudos matemáticos, tendo descoberto as propriedades de figuras
matemáticas como o cubo, a pirâmide, o dodecaedro e outras duas.
Ao
trabalhar com cálculos relacionados ao dodecaedro, os pitagóricos depararam-se
com uma raiz quadrada de dois, cujo resultado era irracional. Ora, o irracional
não seria admissível. Portanto, a raiz quadrada de dois e o dodecaedro deveriam
ser escondidos do público. Aliás, as próprias reuniões realizadas pelos
pitagóricos eram secretas. Para eles o mundo material era passageiro e
enganador. Caíram no misticismo.
O
misticismo pitagórico entrou de cheio no pensamento de Platão, filósofo
ateniense que viveu entre os séculos V e IV a.C. Platão radicalizou o idealismo
pitagórico e suprimiu a pesquisa com experimentos, criticou e não retomou as
ideias de dos filósofos que o precederam, como as de Demócrito, por se voltarem
em direção ao mundo material.
Platão
e seu discípulo Aristóteles concordavam com a escravidão, dada a diversidade
natural das pessoas, sendo que algumas nasceram para mandar e outras para
obedecer.
Muitos
séculos depois, na época moderna (séculos XV d.C. em diante), segundo Sagan, as
ideias daqueles primeiros filósofos foram redescobertas, aparecendo no novo
estilo de pesquisar e explicar o mundo, sem idealismo. Sagan cita como exemplo
Christian Huygens, cientista holandês do século XVII, que fez estudos sobre o
universo e as estrelas. Para demonstrar as grandezas das estrelas, Huygens fez
furos, com tamanhos diferentes, em um disco de metal. Por meio deles, Huygens
estudou a intensidade do brilho de estrelas e pôde determinar a grandeza de
muitas delas.
Sagan,
enfim, conclui dizendo que, no passado, fomos navegantes – como aqueles
marinheiros e pescadores das antigas colônias gregas – e assim continuamos a
ser, sempre buscando o conhecimento do mundo que nos rodeia.
O
vídeo-documentário de Sagan é muito rico. Ao tratar das origens da ciência – e,
portanto, da filosofia – ocidental, traça um percurso que parte desde sua
própria experiência pessoal, de sua curiosidade infantil, passando pela escola
em que estudou, chegou à Grécia e voltou ao presente. É uma forma didática
curiosa de apresentação, sem dúvida, mostrando também lugares, nomes, breves
informações biográficas, filosóficas e científicas, dentre outros recursos.
Fazendo uso dos instrumentos áudio-visuais, como a câmera e o computador, junto
com outros aparelhos e locais, Sagan conseguiu fazer uma viagem que ia da
realidade presente, passando pelas origens do mito e da religião, até chegar às
origens da ciência (e da filosofia!).
Esse
vídeo é um instrumento valioso que pode ser utilizado na escola, principalmente
no ensino de Filosofia, enriquecendo e aprofundando informações contidas em
livros e na fala do professor e da professora.
Ao
trabalhá-lo com os alunos, é bom ter alguns cuidados básicos:
Primeiramente:
Não utilizar o vídeo como “tapa-buraco”, isto é, como meio de substituição de
aulas. Pelo contrário, pode e deve introduzir o conteúdo a ser desenvolvido,
durante a exposição deste ou seguindo-o.
Em
segundo lugar: Solicitar que os estudantes façam, de memória, em pequenos
grupos, um resumo do vídeo. Isto permite a fixação, a memorização das
informações e demanda, da parte deles, uma maior atenção durante a exposição.
Em
terceiro lugar: É interessante, também, discutir o conteúdo do vídeo. Isto pode
ser feito por meio de uma técnica chamada GV/GO – Grupo Verbalizador/Grupo
Observador. Em dois círculos: um grupo de fora, ouvindo, observando a fala e o
debate dos colegas, e um grupo interno, que faz uma verdadeira “tempestade de
ideias”, falando de tudo que vem à cabeça a respeito do vídeo. Depois de um
tempo marcado, os dois grupos trocam de posição. O professor ou a professora,
ao término do debate, faz um apanhado geral e uma síntese do que foi debatido.
Em
quarto lugar: Você, professor, professora, pode trabalhar também com uma ficha
de vídeo, isto é, uma ficha em que sejam solicitados aspectos gerais e
específicos do vídeo. Ela deve ser entregue antes da assistência do vídeo e
pode ser feita
Em
quinto lugar: Preenchidas as fichas, poderão, a seguir, serem lidas e
discutidas. Professor(a), você pode pedir, por exemplo, que cada grupo ou um
representante sorteado ou escolhido vá à frente e apresente a ficha do grupo.
Depois, o debate conjunto. Portanto, é preciso que as carteiras estejam
dispostas em um círculo maior, englobando a todos. Enfim, professor(a), faça as
considerações finais e estabeleça um nexo entre o conteúdo estudado e o
conteúdo do vídeo.
REFERÊNCIA DO DVD:
SAGAN, Carl. A Espinha Dorsal de Noite. 2.ed.
São Paulo, Abril Cultural, 2008. (DVD da Série Cosmos, Vol. 3, episódio 7)
Parte do Programa Nacional Biblioteca da Escola para o Ensino Médio – PNBEM
2008, do Ministério da Educação.
No site da TV Escola também encontra-se esse
vídeo. Procurar em Videoteca, letra C, COSMOS – A Espinha Dorsal da Noite. Está
em português.
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