domingo, 3 de dezembro de 2023

TERCEIRO BIMESTRE - AULA 27 DE TCH DOS SEGUNDOS ANOS: GOIÁS NO SÉCULO XIX – SEGURANÇA, INSTRUÇÃO E SALUBRIDADE PÚBLICAS EM GOIÁS, SEGUNDO IGOR EUZÉBIO BATISTA, COMENTADO PELOO PROF. JOSÉ ANTÔNIO.

  

SECRETARIA DE SEGURANÇA PÚBLICA/SECRETARIA DE EDUCAÇÃO

COMANDO DE ENSINO POLICIAL MILITAR

 CEPMG - VASCO DOS REIS

Divisão de Ensino / Coordenação Pedagógica

TERCEIRO BIMESTRE

AULA 27 DE TCH DOS SEGUNDOS ANOS:

GOIÁS NO SÉCULO XIX – SEGURANÇA, INSTRUÇÃO E SALUBRIDADE PÚBLICAS EM GOIÁS, SEGUNDO IGOR EUZÉBIO BATISTA, COMENTADO PELO PROF. JOSÉ ANTÔNIO.

Ao tratar da participação goiana na Guerra do Paraguai, Igor Euzébio Batista expõe a situação do povo nesse momento do século XIX. Uma guerra que foi de 1864 a 1870, seis anos. Uma parte da população, composta de homens advindos da Guarda Nacional e outros voluntários e não voluntários (obrigados a ir para a guerra), foi, de fato, como já visto, para a guerra. Porém, uma parte considerável da população continuava. Da vida de todas essas pessoas três pontos precisam ser vistos: a segurança, a instrução e a questão da saúde popular (salubridade pública).

Por que tratar desses assuntos? Para se poder entender a vida das pessoas comuns nesse tempo e, com certeza, até mesmo antes da própria guerra. Vale lembrar que as décadas anteriores, com a decadência da produção aurífera, foram um tempo de ruralização de parte da população, mas mantendo cidades de destaque ainda existindo, numa convivência entre a roça e a cidade. Vamos, pois, aos tópicos propostos acima para verificação e discussão.

Eis o que Igor Euzébio Batista comenta:

“2.1 Segurança Pública, Individual e de Propriedade de Goiás

Juntamente com os problemas financeiros para custear as vias de comunicações, como a navegação dos rios e a construção de estradas, a província de Goiás também enfrentava problemas como a criminalidade principalmente pela falta de autoridades policiais e de 14 alfabetização dos deveres humanos. Com isso, havia facilidade para a prática de crime de toda ordem. Isso foi registrado nos relatórios provinciais. 

Essa falta de autoridade policial na província gerou consequências à administração da justiça. Os crimes não eram frequentemente julgados, devido à ausência de juízes que pudessem aplicar a lei contra as transgressões cometias pelos criminosos. Isso era uma questão preocupante para os governadores da província, pois estes reconheciam somente dispor de juízes leigos. E assim mesmo, embora fossem com boas intenções, alguns julgamentos acarretavam revoltas na sociedade, ocasionando uma desorganização temporária em determinadas localidades da província, que acabava por dispersar trabalhadores e, consequentemente, atrasando o avanço econômico de Goiás.

Durante os anos da guerra a Guarda Nacional da província de Goiás – responsável pela segurança na província – era composta de 8 comandos superiores, a saber: o primeiro destacado no munícipio da Capital, Rio Verde, Jaraguá e Pilar; o segundo em Meia Ponte, São José do Tocantins; o terceiro os de Bonfim e Santa Luzia; o quarto Catalão e Santa Cruz; o quinto em Cavalcante e Arraias; o sexto com os comandos de Flores e Villa de Formosa; o sétimo que cuidava dos municípios de Palma, Conceição e S. Domingos; e, por fim, o oitavo que compunha as forças de Porto Imperial e Natividade. Estes comandos superiores compreendem 6 esquadrões de cavalaria, 1 companhia avulsa de artilharia, 18 batalhões de infantaria com 98 companhias e 3 secções de batalhão com 7 companhias do serviço cativo; 3 secções de batalhão com 6 companhias, 9 companhias avulsas, e 8 secções de companhia de reserva. (RELATORIO DE PROVINCIA DE GOIÁS, GOMES SIQUEIRA, 1868, p. 8)

Inicialmente era desses contingentes que o governo provincial deveria destacar um número de guardas para seguir em direção ao Mato Grosso invadida pelos paraguaios. Evidente que o número baixo de soldados e a recusa de muitos deles em ir a guerra foi preciso que as autoridades decretassem o recrutamento forçado e recorresse aos corpos de Voluntários da Pátria. Cada comarca, julgado, vila e cidade tinham que oferecer um número de soldados, o que acabou criando dificuldades na província com a debandada de homens que fugiam do recrutamento. 5 FRANÇA, Augusto Ferreira. GOIAS (PROVINCIA) PRESIDENTE 1 AGO. 1866, p. 4 15

2.2 Instrução Pública

A situação da província de fato era delicada. Mal desenvolvida, com problemas estruturais em sua economia e justiça, tudo colaborava para a péssima situação de Goiás. A educação era outra questão importante. Os proprietários de terras não tinham preparação educacional e, muitos deles se quer possuíam uma escolaridade básica. Assim, a província de Goiás enfrentava dificuldades com relação à instrução pública. A própria estrutura da educação na província não era significante. Os professores não tinham conhecimentos de conteúdos e didáticas necessárias para o magistério. Os recursos financeiros eram insignificantes, tudo isso explicitado nos relatórios de presidente de província. “Os professores da instrução primária salvas poucas exceções, não tem as necessárias habilitações para o magistério.” (RELATORIO DE PROVINCIA DE GOIÁS, AUGUSTO FERREIRA FRANÇA, 1867, p. 4).

2.3 Salubridade Pública

A província de Goiás nos tempos da guerra também enfrentou uma crise profunda em relação à saúde pública, pois sofria com dificuldades de investimentos nessa área. Na província havia muitas doenças que assolavam cidades e povoados, como foi o caso da varíola, que dizimou milhares de soldados durante a guerra.

Todavia, não podemos deixar de anotar que, antes mesmo da guerra, as províncias centrais do país enfrentavam graves problemas sanitários. Um dos motivos para o avanço de tantas doenças em Goiás foi percebido, em 1967, quando João Bonifácio Gomes de Siqueira tomou posse do governo da província. Em seu relatório disse que:

As febres intermitentes, que grassam anualmente em diversas localidades, desenvolveram-se como alguma intensidade no município de Jaraguá, talvez devido à reunião de animais e das pessoas empregadas no serviço da construção da ponte do Rio das Almas, sendo infelizmente vítimas das febres alguns trabalhadores, e também alguns passageiros. (RELATORIO DE PROVINCIA DE GOIÁS, JOÃO BONIFÁCIO GOMES DE SIQUEIRA, 1867, p. 3).

O que podemos constatar através dos relatórios de presidentes de província, em especial a da de Goiás, era que esta conviveu com problemas graves de saúde, com a falta de investimento nesta área o que causou inúmeras doenças. Essa situação sanitária agravou-se ainda mais com a chegada de tropas vindas de outras partes do império brasileiro, com destino a província do Mato Grosso. 1 (Páginas 13 a 15.)” (BATISTA, Igor E. GOIÁS E A GUERRA DO PARAGUAI (1865 – 1870). Disponível em: < https://repositorio.uft.edu.br/bitstream/11612/3872/3/Igor%20Euz%c3%a9bio%20Batista%20-%20Artigo.pdf > Acesso em 16/09/2023.)

Como se pode claramente ver, uma parte significativa da população goiana, principalmente a população mais pobre, encontrava-se destituída de bens essenciais, enfrentando a falta de segurança, de formação educacional formal adequada e de cuidados de saúde, sofrendo com doenças que poderiam ser evitadas com saneamento básico, com estudos (aqui entra o peso da educação formal que faltava), com ações possíveis para aquele tempo.

Infelizmente, ainda não havia vacinas, como hoje há, disponíveis, o que aumentava a incidência de doenças provocadas por vírus, bactérias e outros microrganismos e parasitas, como os que provocam verminoses. Ainda que as pesquisas na Europa já estivessem em andamento, como as de Louis Pasteur (1822 a 1895), as mesmas tardaram a chegar, com resultados, no Brasil. Ademais, os investimentos nessa e nas outras áreas apontadas, se eram poucos, ficaram piores com a Guerra do Paraguai e com os esforços de guerra.

Ainda no que diz respeito à salubridade, é importante citar um hospital: o Hospital São Pedro de Alcântara, na Cidade de Goiás, então capital da província. Segundo Sônia Maria Magalhães:

“O Hospital São Pedro de Alcântara de Goiás foi fundado em 1825, sob a proteção de d. Pedro I, pela Carta Imperial de 25 de janeiro, para servir de abrigo aos enfermos pobres e indigentes. Vinculava-se às preocupações da Câmara de Vereadores e do governo da província em torno da função de curar por caridade os enfermos pobres. Acolhia desse modo dementes, doentes e necessitados, fossem eles homens livres ou escravos. Funcionava com um regulamento que, ao longo dos anos, passou por mudanças em decorrência das suas necessidades e das peculiaridades locais, como aquelas de caráter sanitário e higiênico presentes no novo estatuto de 1835.

O hospital recebia os desamparados mediante apresentação de um atestado de pobreza emitido pelo pároco ou pelo governo provincial (AHEG, caixa 0010). Permitia-se também o tratamento de escravos, desde que o senhor custeasse sua sustentação e a ação terapêutica. Atendia, a preços módicos, os soldados do exército sediados na província e igualmente os presos da cadeia pública.

O dispensário era 'socorrido' por um médico, um cirurgião e dois enfermeiros, um para a enfermaria masculina e outro para a feminina. Antigos pacientes que permaneciam no hospital compunham, na maioria das vezes, a equipe de enfermeiros que, além de alguma prática na área, deveria ter uma conduta bastante regular, saber ler, escrever e contar (AHEG, caixa 401). Porém, a maioria desse pessoal era completamente destituída de qualificação.” (MAGALHÃES, Sônia Maria. Hospital de Caridade São Pedro de Alcântara: assistência e saúde em Goiás ao longo do século XIX. Disponível em: < https://www.scielo.br/j/hcsm/a/ctSPF6x6pQ6Szcy7zfC949z/ > Acesso em 16/09/2023.)

Como se pode claramente ver, uma parte significativa da população goiana, principalmente a população mais pobre, encontrava-se destituída de bens essenciais, enfrentando a falta de segurança, de formação educacional formal adequada e de cuidados de saúde, sofrendo com doenças que poderiam ser evitadas com saneamento básico, com estudos (aqui entra o peso da educação formal que faltava), com ações possíveis para aquele tempo.

Infelizmente, ainda não havia vacinas, como hoje há, disponíveis, o que aumentava a incidência de doenças provocadas por vírus, bactérias e outros microrganismos e parasitas, como os que provocam verminoses. Ainda que as pesquisas na Europa já estivessem em andamento, como as de Louis Pasteur (1822 a 1895), as mesmas tardaram a chegar, com resultados, no Brasil. Ademais, os investimentos nesta e nas outras áreas apontadas, se eram poucos, ficaram piores com a Guerra do Paraguai e com os esforços de guerra.

Dos autores citados, pode-se observar algo comum à educação e à saúde daquele tempo, em Goiás: a falta de profissionais qualificados, seja de professores, professoras, seja de médicos, enfermeiros e outras pessoas.

Quanto à saúde, cabe aqui lembrar do trabalho de parteiras (mulheres que faziam partos de crianças), benzedeiras e benzedores (mulheres e homens que faziam rezas para curar certas doenças), pessoas bastante procuradas, dependendo de cada caso.

Doenças ainda eram vistas por muitos como resultados de ações de seres espirituais, de quebranto (“suposta influência maléfica de feitiço, por encantamento a distância; efeito malévolo, segundo a crendice popular, que a atitude, o olhar etc. de algumas pessoas produzem em outras”, segundo o Dicionário Oxford Languages, do Google), espinhela caída (espinhela: ponta inferior do esterno, o osso no meio do peito), entre outros males.

Em termos de formação médica, no Brasil do século XIX, a Wikipédia aponta o seguinte:

“Com a chegada da família real portuguesa, em 1808, o médico pernambucano Correia Picanço implementa as duas primeiras escolas de medicina do país: a Escola de Cirurgia da Bahia em Salvador e a Escola de Medicina e Cirurgia no Rio de Janeiro. E foram essas as únicas medidas governamentais até a República.” (WIKIPÉDIA. Saúde Pública no Brasil. Disponível em: < https://pt.wikipedia.org/wiki/Sa%C3%BAde_p%C3%BAblica_no_Brasil > Acesso em 16/09/2023.).

Assim sendo, não havia médicos para todos, seja no Brasil, seja em Goiás. O texto deixa bem claro que, em termos de formação médica: “(...)E foram essas as únicas medidas governamentais até a República.” (Idem.).

Claro, quando a doença era grave, em muitos casos, infelizmente, morria-se sem cuidados médicos e hospitalares, quer fossem mulheres, homens, jovens, idosos ou crianças. Contribuíam ainda para isto as distâncias até locais de atendimento,

Nos séculos XX e XXI, como se verá no quarto bimestre, a situação foi melhorando, ainda que nem tudo seja perfeito. Avanços importantes e significativos, a somar poder político, ciência e educação que vai do nível elementar ao superior e até um pouco além, em alguns casos. Tudo a ser estudado no devido tempo.

No campo da educação formal, os séculos seguintes se mostrariam mais promissores para Goiás, oferecendo, cada vez mais, acesso ao aprendizado das letras a pessoas que, em séculos anteriores, não teriam tido acesso a ela. Destaque especial será dado, no campo público, para as escolas públicas militares, bem como o peso que estas viriam a ter e têm na formação de muitos estudantes, com uma preocupação inclusive cívica, com a formação de cidadãs e cidadãos capacitados para a vida social e o mundo do trabalho.

REFERÊNCIAS:

BATISTA, Igor E. GOIÁS E A GUERRA DO PARAGUAI (1865 – 1870). Disponível em: < https://repositorio.uft.edu.br/bitstream/11612/3872/3/Igor%20Euz%c3%a9bio%20Batista%20-%20Artigo.pdf > Acesso em 16/09/2023.

COMANDO DE ENSINO DA POLÍCIA MILITAR DE GOIÁS. Apostila de Cultura Goiana. Goiânia, [década de 2010].

MAGALHÃES, Sônia Maria. Hospital de Caridade São Pedro de Alcântara: assistência e saúde em Goiás ao longo do século XIX. Disponível em: < https://www.scielo.br/j/hcsm/a/ctSPF6x6pQ6Szcy7zfC949z/ > Acesso em 16/09/2023.

WIKIPÉDIA. Saúde Pública no Brasil. Disponível em: < https://pt.wikipedia.org/wiki/Sa%C3%BAde_p%C3%BAblica_no_Brasil > Acesso em 16/09/2023.

 

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