domingo, 3 de dezembro de 2023

TERCEIRO BIMESTRE - AULA 25 DE TCH DOS SEGUNDOS ANOS: GOIÁS NA GUERRA DO PARAGUAI (1864 – 1870) (Prof. José Antônio Brazão.)

 

SECRETARIA DE SEGURANÇA PÚBLICA/SECRETARIA DE EDUCAÇÃO

COMANDO DE ENSINO POLICIAL MILITAR

 CEPMG - VASCO DOS REIS

Divisão de Ensino / Coordenação Pedagógica

TERCEIRO BIMESTRE

AULA 25 DE TCH DOS SEGUNDOS ANOS:

GOIÁS NA GUERRA DO PARAGUAI (1864 – 1870) (Prof. José Antônio Brazão.)

Como foi visto na aula anterior, a Guerra do Paraguai foi um evento que trouxe consigo consequências maléficas para todos os países que dela fizeram parte, especialmente para o Paraguai que perdeu mais da metade de sua população em seis anos. Muita gente do Brasil, da Argentina e do Uruguai também morreu, seja por conta de lutas diretas, seja por conta de doenças como cólera e malária, dadas as péssimas condições de higiene nos acampamentos.

Goiás, nesse momento, era uma província do Império do Brasil. Não era uma província de destaque, mesmo porque ficava a considerável distância da capital – a cidade do Rio de Janeiro. Mas que acabou entrando na guerra por conta das necessidades de contingentes (agrupamentos) de soldados para os batalhões que vinham se formando desde 1864.

Com o Mato Grosso invadido pelos paraguaios e a convocação dos Voluntários da Pátria, por Dom Pedro II, ainda que, em um primeiro momento, essa convocação não tivesse sido atendida, nos anos que se seguiram, a partir de 1865, a presença de goianos nas formações dos quadros de soldados viria a ocorrer.

Goiás também veio a ter gastos com a guerra, os quais impactariam diretamente suas finanças e a vida do povo goiano. Zildete Martins afirma:

“Em 1865, em consequência da atuação das tropas expedicionárias brasileiras no território mato-grossense, e a seguir, em território paraguaio, onde o governo provincial de Goiás se empenhavam em dar-lhes sustento de víveres, estimulou-se a produção agropastoril da região, como medida destinada a garantir as fontes de abastecimento de gêneros, que nessa hora crítica passaram a ser julgadas de suprema importância.

Apesar do esforço governamental, entretanto, ao findar a guerra o tesouro provincial [de Goiás] estava exaurido [esvaziado ou quase].

Isso aconteceu, muito embora o Ministério da Guerra tivesse tomado, a 6 de abril de 1865, providências para auxiliar a economia goiana, através da remessa de fundos do Tesouro, tendo visto que a débil [fraca] arrecadação jamais conseguiria sustentar o contínuo fornecimento à província vizinha, sem entrar em colapso. Durante o período em que se processaram os envios de suprimentos a Mato Grosso, houve diminuição do volume de gêneros para consumo local e um aumento descontrolado de preços.

Essa situação foi agravada com a quebra da produção agrícola, verificada no ano de 1869. ‘Ao final da década de 60, apresentavam-se em crise todos os setores básicos da vida da província’.” (MARTINS, Zildete Inácio Oliveira. A Participação de Goiás na Guerra do Paraguai. Boletim Goiano de Geografia, volume 3, número 1-2, janeiro/dezembro de 1983. P.4.)

O governo da Província de Goiás teve sérias dificuldades para manter o fornecimento de víveres para tropas e para o próprio povo que continuava. Claro que, com tudo isto, quem mais sofreu foram os pobres da província e, no caso também de outras províncias, de todo o Brasil. Inflação é aumento de preços e significa diminuição significativa de poder de aquisição de produtos alimentícios.

Outro problema enfrentado pela Província de Goiás: os transportes. Com efeito, para levar os víveres até o Mato Grosso e outros locais onde havia acampamentos de soldados, as estradas eram de má qualidade, o sistema de navegação fluvial (de rios) era ruim, como no caso dos rios Tocantins e Araguaia. Faltavam pontes para juntar partes de estradas. Tudo muito complicado.

No que diz respeito aos efetivos de militares em Goiás e aos que seriam daqui enviados aos acampamentos e às frentes de batalhas, Zildete também apresenta os seguintes pontos:

“A Guarda Nacional da Província de Goiás se compunha de 8 comando superiores que abrangiam os municípios da Capital [Cidade de Goiás], Rio Verde, Jaraguá, Pilar (1º Comando); Meia Ponte, São José do Tocantins (2º Comando); Bonfim, Santa Luzia (3º Comando); Catalão e Santa Cruz (4º Comando); Cavalcante e Arraias (5º Comando); Palma, Conceição e São Domingos (6º Comando); Porto Imperial e Natividade (7º Comando); Formosa da Imperatriz e Flores (8º Comando).

(...)

Uma vez designado o número de contingentes a serem enviados por cada província para a guerra, pelo decreto 3.383, de 21 de janeiro de 1865, coube a Goiás um corpo de 490 Guardas Nacionais.

Porém, difícil foi a sua organização devido ao mau estado da mesma em toda a província. Esse número de Guardas foi distribuído pelas freguesias do sul. O corpo de Guardas Nacionais, além de auxiliar o exército não somente na defesa das praças, fronteiras e costas do Império, também deveria prestar serviço de guerra no Paraguai.

O presidente de Goiás teve dificuldades para conseguir um oficial superior com habilitações necessárias para comandar tal destacamento. Uma vez que não o encontrava na província, solicitou ao Ministério da Guerra que fizesse a nomeação do comandante do corpo a ser composto.” (Idem, p. 7).

Outro ponto importante foi o recrutamento, com alistamentos. Uma parte já estava encaminhada, por conta da Guarda Nacional presente na província, mas outra foi obtida pela convocação dos Voluntários da Pátria. O apelo patriótico foi muito forte. Apenas cidadãos válidos poderiam ir, acompanhados pela Guarda Nacional. E era preciso armar, alimentar, fardar, municiar (prover munições para as armas) constantemente, entre outras ações que exigiam gastos.

Vale lembrar que Dom Pedro II pediu dinheiro emprestado a bancos ingleses, mais de vinte milhões de libras esterlinas, para a compra de armas e manutenção dos soldados, o que viria a ter consequências econômicas com o tempo. A Província de Goiás também teve dificuldades em obter dinheiro, ainda que uma parte viesse do governo imperial. Esse dinheiro (numerário, dinheiro em espécie) era solicitado pelos comandantes superiores, que dele prestavam contas “com recibos em duplicata” (Ibidem, p. 10).

Além das dificuldades de recrutamento, dificuldades de “obtenção de víveres necessários para a marcha, gerada pela carência (...), e agravada sobremaneira pela seca que causou grande mortandade nos rebanhos” (Id. Ibid., p. 11). Enfim, apesar das muitas dificuldades e dos desafios, o batalhão goiano foi formado. Segundo Zildete:

“Formado o batalhão goiano de Voluntários da Pátria, reuniu-se este na manhã do dia primeiro de janeiro de 1866, às nove horas, no largo da Catedral [na capital], para que se procedesse à solenidade de bênção de sua bandeira. Esta, finda a cerimônia e a missa, foi entregue ao comandante interino designado, major Manoel Baptista Ribeiro de Faria, após o que se ouviu o discurso do presidente provincial. (...) Terminadas essas formalidades, os oficiais tomaram seus postos e foi dada a ordem de marcha.” (Idem, ibidem, p. 16). Partiram para Coxim (no Mato Grosso, hoje no Mato Grosso do Sul). A marcha não foi fácil, sendo alguns dias sob chuva e durante muitas horas: bois emagreceram, queixas ocorreram, dificuldades com cursos de água e outros desafios surgiram.

Além da preocupação com o acúmulo devido de alimentos, uma outra também com a compra e a remessa desses e outros víveres (exemplo, panos). A pressão era grande. O trabalho de levar tudo isto estava a cargo de carreiros e tropeiros – no lombo de animais, carros de bois, muito certamente com uso também de escravos, etc. Um dos depósitos foi na cidade de Baús (escrita, naquela época Bahús).

Enfim, com muito custo, os batalhões brasileiros designados para Mato Grosso conseguiram libertar esta província da presença dos paraguaios. A autora Zildete, ao tratar do fim do depósito de Baús (Bahús): “Tendo desaparecido a necessidade de preservação do depósito de Bahús (1868), uma vez que a força existente na fronteira foi recolhida à Capital e a província mato-grossense se livrara da invasão dos paraguaios, encerraram-se as suas atividades” (Idem, ibidem, p.32)(grifo meu). Entre derrotas e vitórias brasileiras, finalmente, o Mato Grosso viu-se livre dos paraguaios. Como se pode ver, foram, no mínimo, dois a três longos anos para o fim da invasão paraguaia do Mato Grosso, em cujas lutas participaram e morreram muitos goianos. Mas a guerra só teria fim, efetivamente, em 1870, com a morte do Presidente e ditador paraguaio Francisco Solano López.

REFERÊNCIAS:

MARTINS, Zildete Inácio Oliveira. A Participação de Goiás na Guerra do Paraguai. Boletim Goiano de Geografia, volume 3, número 1-2, janeiro/dezembro de 1983.

 

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