COMANDO DE
ENSINO POLICIAL MILITAR
CEPMG -
VASCO DOS REIS
Divisão de
Ensino / Coordenação Pedagógica
TERCEIRO BIMESTRE
AULA 25 DE TCH DOS SEGUNDOS ANOS:
GOIÁS NA GUERRA DO PARAGUAI (1864 – 1870)
(Prof. José Antônio Brazão.)
Como foi visto na aula
anterior, a Guerra do Paraguai foi um evento que trouxe consigo consequências
maléficas para todos os países que dela fizeram parte, especialmente para o
Paraguai que perdeu mais da metade de sua população em seis anos. Muita gente
do Brasil, da Argentina e do Uruguai também morreu, seja por conta de lutas
diretas, seja por conta de doenças como cólera e malária, dadas as péssimas
condições de higiene nos acampamentos.
Goiás, nesse momento, era
uma província do Império do Brasil. Não era uma província de destaque, mesmo
porque ficava a considerável distância da capital – a cidade do Rio de Janeiro.
Mas que acabou entrando na guerra por conta das necessidades de contingentes
(agrupamentos) de soldados para os batalhões que vinham se formando desde 1864.
Com o Mato Grosso
invadido pelos paraguaios e a convocação dos Voluntários da Pátria, por Dom
Pedro II, ainda que, em um primeiro momento, essa convocação não tivesse sido
atendida, nos anos que se seguiram, a partir de 1865, a presença de goianos nas
formações dos quadros de soldados viria a ocorrer.
Goiás também veio a ter
gastos com a guerra, os quais impactariam diretamente suas finanças e a vida do
povo goiano. Zildete Martins afirma:
“Em 1865, em consequência da atuação das tropas
expedicionárias brasileiras no território mato-grossense, e a seguir, em
território paraguaio, onde o governo provincial de Goiás se empenhavam em
dar-lhes sustento de víveres, estimulou-se a produção agropastoril da região,
como medida destinada a garantir as fontes de abastecimento de gêneros, que
nessa hora crítica passaram a ser julgadas de suprema importância.
Apesar do esforço governamental, entretanto, ao
findar a guerra o tesouro provincial [de Goiás] estava exaurido [esvaziado ou
quase].
Isso aconteceu, muito embora o Ministério da Guerra
tivesse tomado, a 6 de abril de 1865, providências para auxiliar a economia
goiana, através da remessa de fundos do Tesouro, tendo visto que a débil
[fraca] arrecadação jamais conseguiria sustentar o contínuo fornecimento à
província vizinha, sem entrar em colapso. Durante o período em que se
processaram os envios de suprimentos a Mato Grosso, houve diminuição do volume
de gêneros para consumo local e um aumento descontrolado de preços.
Essa situação foi agravada com a quebra da produção
agrícola, verificada no ano de 1869. ‘Ao final da década de 60, apresentavam-se
em crise todos os setores básicos da vida da província’.” (MARTINS, Zildete
Inácio Oliveira. A Participação de Goiás na Guerra do Paraguai. Boletim Goiano
de Geografia, volume 3, número 1-2, janeiro/dezembro de 1983. P.4.)
O governo da Província de
Goiás teve sérias dificuldades para manter o fornecimento de víveres para
tropas e para o próprio povo que continuava. Claro que, com tudo isto, quem
mais sofreu foram os pobres da província e, no caso também de outras províncias,
de todo o Brasil. Inflação é aumento de preços e significa diminuição
significativa de poder de aquisição de produtos alimentícios.
Outro problema enfrentado
pela Província de Goiás: os transportes. Com efeito, para levar os víveres até
o Mato Grosso e outros locais onde havia acampamentos de soldados, as estradas
eram de má qualidade, o sistema de navegação fluvial (de rios) era ruim, como
no caso dos rios Tocantins e Araguaia. Faltavam pontes para juntar partes de
estradas. Tudo muito complicado.
No que diz respeito aos
efetivos de militares em Goiás e aos que seriam daqui enviados aos acampamentos
e às frentes de batalhas, Zildete também apresenta os seguintes pontos:
“A Guarda Nacional da Província de Goiás se
compunha de 8 comando superiores que abrangiam os municípios da Capital [Cidade
de Goiás], Rio Verde, Jaraguá, Pilar (1º Comando); Meia Ponte, São José do
Tocantins (2º Comando); Bonfim, Santa Luzia (3º Comando); Catalão e Santa Cruz
(4º Comando); Cavalcante e Arraias (5º Comando); Palma, Conceição e São
Domingos (6º Comando); Porto Imperial e Natividade (7º Comando); Formosa da
Imperatriz e Flores (8º Comando).
(...)
Uma vez designado o número de contingentes a serem
enviados por cada província para a guerra, pelo decreto 3.383, de 21 de janeiro
de 1865, coube a Goiás um corpo de 490 Guardas Nacionais.
Porém, difícil foi a sua organização devido ao mau
estado da mesma em toda a província. Esse número de Guardas foi distribuído
pelas freguesias do sul. O corpo de Guardas Nacionais, além de auxiliar o
exército não somente na defesa das praças, fronteiras e costas do Império,
também deveria prestar serviço de guerra no Paraguai.
O presidente de Goiás teve dificuldades para
conseguir um oficial superior com habilitações necessárias para comandar tal
destacamento. Uma vez que não o encontrava na província, solicitou ao
Ministério da Guerra que fizesse a nomeação do comandante do corpo a ser
composto.” (Idem, p. 7).
Outro ponto importante
foi o recrutamento, com alistamentos. Uma parte já estava encaminhada, por
conta da Guarda Nacional presente na província, mas outra foi obtida pela
convocação dos Voluntários da Pátria. O apelo patriótico foi muito forte.
Apenas cidadãos válidos poderiam ir, acompanhados pela Guarda Nacional. E era
preciso armar, alimentar, fardar, municiar (prover munições para as armas)
constantemente, entre outras ações que exigiam gastos.
Vale lembrar que Dom
Pedro II pediu dinheiro emprestado a bancos ingleses, mais de vinte milhões de
libras esterlinas, para a compra de armas e manutenção dos soldados, o que
viria a ter consequências econômicas com o tempo. A Província de Goiás também teve
dificuldades em obter dinheiro, ainda que uma parte viesse do governo imperial.
Esse dinheiro (numerário, dinheiro em espécie) era solicitado pelos comandantes
superiores, que dele prestavam contas “com recibos em duplicata” (Ibidem, p.
10).
Além das dificuldades de
recrutamento, dificuldades de “obtenção de víveres necessários para a marcha,
gerada pela carência (...), e agravada sobremaneira pela seca que causou grande
mortandade nos rebanhos” (Id. Ibid., p. 11). Enfim, apesar das muitas dificuldades
e dos desafios, o batalhão goiano foi formado. Segundo Zildete:
“Formado o batalhão
goiano de Voluntários da Pátria, reuniu-se este na manhã do dia primeiro de
janeiro de 1866, às nove horas, no largo da Catedral [na capital], para que se
procedesse à solenidade de bênção de sua bandeira. Esta, finda a cerimônia e a missa,
foi entregue ao comandante interino designado, major Manoel Baptista Ribeiro de
Faria, após o que se ouviu o discurso do presidente provincial. (...)
Terminadas essas formalidades, os oficiais tomaram seus postos e foi dada a
ordem de marcha.” (Idem, ibidem, p. 16). Partiram para Coxim (no Mato Grosso,
hoje no Mato Grosso do Sul). A marcha não foi fácil, sendo alguns dias sob
chuva e durante muitas horas: bois emagreceram, queixas ocorreram, dificuldades
com cursos de água e outros desafios surgiram.
Além da preocupação com o
acúmulo devido de alimentos, uma outra também com a compra e a remessa desses e
outros víveres (exemplo, panos). A pressão era grande. O trabalho de levar tudo
isto estava a cargo de carreiros e tropeiros – no lombo de animais, carros de
bois, muito certamente com uso também de escravos, etc. Um dos depósitos foi na
cidade de Baús (escrita, naquela época Bahús).
Enfim, com muito custo,
os batalhões brasileiros designados para Mato Grosso conseguiram libertar esta
província da presença dos paraguaios. A autora Zildete, ao tratar do fim do
depósito de Baús (Bahús): “Tendo desaparecido a necessidade de preservação do
depósito de Bahús (1868), uma vez que a força existente na fronteira foi
recolhida à Capital e a província mato-grossense se livrara da invasão dos
paraguaios,
encerraram-se as suas atividades” (Idem, ibidem, p.32)(grifo meu). Entre
derrotas e vitórias brasileiras, finalmente, o Mato Grosso viu-se livre dos
paraguaios. Como se pode ver, foram, no mínimo, dois a três longos anos para o
fim da invasão paraguaia do Mato Grosso, em cujas lutas participaram e morreram
muitos goianos. Mas a guerra só teria fim, efetivamente, em 1870, com a morte
do Presidente e ditador paraguaio Francisco Solano López.
REFERÊNCIAS:
MARTINS,
Zildete Inácio Oliveira. A Participação de Goiás na Guerra do Paraguai. Boletim
Goiano de Geografia, volume 3, número 1-2, janeiro/dezembro de 1983.
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